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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Violência e confusão marcam eleições na República Democrática do Congo


República Democrática do Congo, na África, realizou nesta segunda-feira (28) sua segunda eleição desde a guerra que matou mais de cinco milhões de pessoas entre 1998 e 2003; violência eclodiu em quatro locais de votação no sul do país, deixando quatro mortos 


Em um país onde tantas promessas nunca foram cumpridas, o atual chefe de Estado, Joseph Kabila, manteve sua palavra: as eleições presidenciais e legislativas de fato ocorreram, na última segunda-feira (28), na República Democrática do Congo (RDC). Mas a que preço? O de uma indescritível confusão, associada a atos de violência, letais em alguns casos, mas localizados, o que já levanta a questão da credibilidade ou até da validade dessa eleição pluralista, a segunda desde a independência da ex-colônia belga em 1960, ainda traumatizada por duas guerras devastadoras de 1996 a 2003.

Em Kinshasa, na segunda-feira, logo ao amanhecer, multidões de eleitores enfrentaram as trombas d’água que inundavam as ruas esburacadas. No pátio da escola Epelingomo do bairro superpovoado de Kingasani, eram centenas deles a se empurrar e gritar diante das portas dos postos de votação, brandindo seus títulos de eleitor acima da cabeça. "Os congoleses não gostam de ordem", constatava contrariado o presidente do centro de votação Israel Mbaya Tshimankinda.

Se os congoleses não gostam de ordem, eles devem então gostar da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI). Kiala Faustin, um professor de 48 anos, confirma a confusão. "Como vou votar?", ele se lamenta. Em junho, ele fora até essa mesma escola para se inscrever. "Disseram para mim que eu votaria aqui", ele lembra. Mas em seu título de eleitor figura um misterioso colégio Seneve para onde ele deveria ir, mas do qual nunca ninguém aqui ouviu falar, nesse labirinto de ruelas arenosas do tamanho de uma pequena cidade. "Teria sido um erro do computador, ou um posto fictício de votação?", ele se pergunta.

Antes do pleito, foram detectados endereços falsos de postos de votação na lista publicada pela CENI. A oposição viu ali uma manobra fraudulenta por parte de uma CENI dirigida por um aliado de Joseph Kabila. Dos postos de votação fictícios e, portanto, sem eleitores no dia da eleição, sairão relatórios contabilizados a favor do presidente atual, se alarmou a oposição.

Enquanto esperava por mais informações, Mbaya Tshimankinda procurou, sobretudo, evitar tumultos no seu pátio de escola. Seus postos abriram com três horas de atraso, quando a CENI finalmente lhe enviou a lista de eleitores e as cédulas, "em número insuficiente", ele diz. E as pessoas tiveram de votar sem a privacidade do biombo de papelão --"eles me explicaram que havia acabado".

Então os eleitores se sentaram em uma carteira escolar, alguns pela primeira vez, e sofreram para encontrar a foto de seu candidato em uma lista de 1.329 nomes concorrendo ao cargo de deputado nessa circunscrição (para 15 cadeiras) impressa em uma cédula de 53 páginas. Tampouco havia lâmpadas para a apuração dos votos, nesse bairro que costuma viver no ritmo do Sol. Nem tinta indelével para evitar votos múltiplos. "Imagine como não deve ser no interior?", suspira um observador.

Outro problema: os "esquecidos", congoleses com título de eleitor afiliados a um posto de votação, mas que não aparecem nas listas. A CENI permitiu de última hora que eles votassem em sua zona eleitoral. Assim, na sala número 4 do posto de votação do bairro de Masina II aberto nas instalações de uma paróquia presbiteriana, a lista de presença desses "esquecidos" já comportava cerca de trinta nomes escritos à mão em folhas avulsas. A ela se juntava a dos votos em trânsito. No total, quase 30% de eleitores extras que, na noite da apuração, poderiam fazer o índice de participação ultrapassar os 100%. O mais grave é que não há muito que impeça que um "esquecido" vá até outro posto de votação para repetir a operação.

Dito isso, os onze candidatos à presidência em votação de um turno --sistema imposto por Joseph Kabila para derrotar uma oposição dividida e compensar sua perda de popularidade-- estão em pé de igualdade. Uma igualdade democrática diante do caos que o chefe do Estado divide com o "opositor histórico" Étienne Tshisekedi (79 anos) e seus dois irmãos inimigos da oposição Vital Kamerhe (51 anos), ex-presidente da Assembleia Nacional e Léon Kengo (76 anos), presidente do Senado.

Diante de uma anarquia dessas, será quase um milagre se não forem relatados incidentes mais sérios na capital, na manhã desta quarta-feira. Não é o caso de Lubumbashi, capital de Katanga (sudeste), onde pelo menos dez pessoas foram mortas durante um ataque a um posto de votação. No Kasai Ocidental, domínio de Étienne Tshisekedi, postos de votação foram incendiados após a descoberta de urnas já lotadas. No Leste, brigas entre grupos armados levaram ao fechamento dos postos.

"É difícil dizer hoje que influência tudo isso terá sobre o resultado final", relativizava um observador americano. Preocupado, ele se preocupava se o mesmo caos iria dominar nas operações de apuração e de centralização de resultados. Muito mais pessimista, um membro estrangeiro do comitê técnico eleitoral (um órgão consultor da CENI) não via como "a CENI, que no domingo afirmava, contra todas as evidências, estar 100% preparada, poderá declarar essa eleição como transparente". E ainda: "Foi um fiasco total e ainda previsível que a comunidade internacional tenha permitido isso. E se descambar para uma guerra civil?"

Na segunda-feira à noite, na transmissão da rádio Okapi, Franklin Tshamala, um membro da maioria presidencial cujo candidato é considerado o favorito por sua força financeira, administrativa e securitária, declarou considerar a eleição "tranquila". Em compensação, Vital Kamerhe e Léon Kengo já cogitavam pedir a anulação da eleição. Uma opção descartada por Étienne Tshisekedi, que, desde o fim da votação, já alegava ter ampla vitória no leste do país, citando números não verificáveis. Os resultados da eleição presidencial são previstos para antes do dia 6 de dezembro. Os das legislativas, não antes de janeiro. A República Democrática do Congo está entrando em uma zona de alta turbulência.

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