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terça-feira, 29 de novembro de 2011

"Não nos intrometeremos na vida das pessoas", diz líder do partido vencedor no Marrocos

Abdelilah Benkiran

O secretário-geral do partido vencedor das eleições legislativas realizadas na sexta-feira passada no Marrocos, Abdelilah Benkiran, pode ser o novo primeiro-ministro. Do Benkiran que militou na Shabiba Islamiya, grupo terrorista que assassinou o estudante socialista Omar Benyelun em Uxda, em 1980, até o líder islamita validado nas urnas, foi um percurso tortuoso. Desde a fundação do PJD em 1998, admitiu a autoridade religiosa do rei e passou do conceito de Umma, a comunidade islâmica sem fronteiras, para querer definir os limites do território marroquino.

Muitas pessoas na Europa estão apreensivas, elas temem que o governo do PJD transforme o Marrocos em uma tirania fundamentalista.

O terreno da religião é uma das prerrogativas de sua majestade, de forma que não vamos poder fazer muito quanto a isso. Se a religião vai estar mais presente ou não, isso deve ser perguntado aos marroquinos. Cada um se comportará como melhor lhe parecer. Não estamos aqui para intervir na vida religiosa das pessoas. Isso é coisa de cada um. Nosso problema é cuidarmos da mulher que vai dar à luz e, por não ter dinheiro, é expulsa do hospital.

Quais são suas prioridades?
Há cinco áreas críticas: a educação, a justiça, a moradia, o emprego e a saúde. Se iniciarmos as reformas nesses âmbitos, o país funcionará.

Parece que David venceu Golias; vocês venceram o PAM, o partido do palácio.
Sou um político. Eu tinha diante de mim um partido que vinha do governo e que se opôs a mim. E eu me opus a ele. O que aconteceu é que a conjuntura não era favorável a ele, pelas primaveras árabes. Era um partido que queria copiar aqui o sistema de Ben Ali. Graças a Deus não conseguiu; não pelo PJD, mas por todos os marroquinos. O povo não o quer, só isso.

Por onde vai começar?
O PJD só terá uma luta: a da democracia e a da boa governança. Com as primaveras árabes e o 20 de fevereiro o PJD entendeu que o Marrocos precisa manter sua estabilidade, preservar sua monarquia e fazer reformas. Sempre foi o nosso discurso. Depois do 20-F nosso discurso ficou mais claro, mais forte. Penso que os marroquinos votaram maciçamente no PJD porque ele expôs essa necessidade de reformas e não quis sair às ruas porque isso teria provocado uma desestabilização do país. Por outro lado, tampouco disse que tudo estava bem e que não precisava mudar nada. Ele adotou a posição do meio termo.

O sr. mencionou também as prerrogativas do rei em questões religiosas. Ele também as tem no Exército e na soberania. Que margem sobra para os partidos?
Hoje, não é o PJD, mas sim o sistema que se encontra obrigado a ir no sentido das reformas e o PJD, junto com ele. Não contra a vontade da monarquia, mas sim junto com sua majestade. Não se pode governar contra a vontade do rei no Marrocos, e sim juntos, com sua majestade.

O sistema eleitoral os obriga a formar uma coalizão com outros partidos. Há algum que vocês rejeitem completamente? Considera uma aliança com a Qutla (USFP, Istiqlal e PPS)?
Por enquanto há somente um partido com o qual não falaremos; o PAM. É possível que nos aliemos à Qutla. Por ora o rei ainda não nomeou o chefe do governo. Quanto mais representada estiver a maioria, melhor. Talvez também entre o Movimento Popular, com o qual temos relações tradicionais. E também é possível o RNI.

Se fizerem esse tipo de coalizão, poderão ter como oposição seus irmãos do Justiça e Caridade.
O Justiça e Caridade é uma oposição particular, que discute a própria essência do Estado. Uma vez que aceite o jogo, que fale sobre as coisas de dentro e de fora, falaremos com eles. Mantemos com eles as melhores relações possíveis.

O Marrocos deixará de olhar para o Norte e para o Oeste para se orientar para o Oriente?
As alianças do Marrocos não são alianças do governo, são alianças de Estado, que obedecem a uma lógica filosófica. Desde a independência, o Marrocos é um aliado do Ocidente, dos Estados Unidos, da França. Nem o PJD, nem nenhum outro partido vai mudar isso. De qualquer forma, com quem vocês querem que nós nos aliemos? São questões estratégicas, e o PJD não pensa em mudá-las.

A luta contra o terrorismo foi especialmente dura no Marrocos e criticada por associações de defesa dos direitos humanos. Vocês continuarão nesse caminho?
Não quer que lutemos contra o terrorismo? Quer que deixemos que aterrorizem nosso povo? Nós defendemos a paz. O islã vem da paz. Agora só podemos comemorar por termos, para nós e nossos vizinhos, e para toda a humanidade, a maior segurança possível. É uma desgraça a forma que a violência adotou atualmente. Deveria ser proibida para toda a humanidade. Isso é outra coisa. Certamente sempre haverá excessos. Somos a favor de combater o terrorismo, mas dentro dos limites dos direitos humanos.

Como o sr. prevê as relações com a Espanha, com um novo governo do Partido Popular?
O Marrocos e a Espanha estão condenados a manter as melhores relações possíveis. Não há outra solução. Nosso problema com a Espanha não tem nada a ver com a Espanha em si. O problema é que na Espanha há muita gente que apoia a Frente Polisário. Espero que, com o que tem acontecido ultimamente, sobretudo a respeito da Líbia, eles tenham aberto os olhos. O Saara é marroquino. Isso eles sabem, porque quando vieram sabiam de quem era. A Argélia não era um país, e o Marrocos tinha sua história. Agora espero que as condições sejam melhores para que a Espanha ajude os dois países envolvidos. Se amanhã a Argélia se retirar dessa questão, estará resolvido em cinco minutos. Cinco minutos. Espero que a Espanha ajude o Marrocos e a Argélia a solucionar o problema.

As declarações dadas por Mariano Rajoy a partir da oposição, até hoje, não iam nessa linha...
Anteriormente, Rajoy deu declarações que não eram favoráveis ao Marrocos, mas agora ele tem uma responsabilidade diferente.

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