Memorial com nomes das vítimas do atentado de 11 de setembro, em Nova York |
Andreas Von Bülow diz que nunca temeu por sua vida. Isso, apesar de suspeitar que os ataques de 11 de setembro de 2011 não foram obra de 19 “muçulmanos suicidas”, e sim uma operação a sangue frio, engenhosa, de guerra psicológica organizada pelos próprios EUA e apesar do fato de ele ter publicado essa opinião na forma de livro.
Bülow não se compromete de forma definitiva com sua posição, mas acha que foi o governo Bush ou outros grupos muito mais poderosos operando por trás das cenas que permitiu que mais de 3.000 pessoas morressem para justificar operações geopoliticamente desejáveis, como as do Iraque e do Afeganistão.
São teorias chocantes por parte de um ex-ministro alemão, que passou 25 anos representando o Partido Social Democrático (SPD) no parlamento federal alemão, o Bundestag. Ele não está dizendo que suas teorias necessariamente representam o que realmente aconteceu, apenas propondo questionamentos, explica. “É apenas outra forma de pensar”, diz ele. Mas o ex-ministro acrescenta que é uma forma de pensar que parece bem plausível ao seu criador.
Outros também acham a teoria plausível. De acordo com o editor, o livro de Bülow, “Die CIA um der 11. September” (A CIA e o 11 de setembro), vendeu 200.000 cópias desde que foi lançado, em 2003. Uma nova edição do livro, publicada em tempo para o 10º aniversário dos ataques, inclui um longo epílogo que lança dúvidas sobre a alegação que Osama Bin Laden foi morto no Paquistão por forças especiais norte-americanas. A nova edição não consegue, contudo, mencionar que uma série das alegações originais do livro há muito foram refutadas. Um detalhe bem significativo foi a afirmação que sete dos 19 atacantes ainda estavam “muito vivos”, teoria que o “Spiegel” provou errada em 2003.
Comportamento comum
Dez anos após os ataques de Nova York e Washington, Bülow hoje está com 74 anos, mas parece mais perto de 60. Ele e a mulher têm uma casa charmosa ao Sul de Bonn, com rosas trepadeiras e piso de madeira de lei, tapetes orientais e antiguidades. Bülow tem cabelo curto e veste uma camisa de abotoar com calça de algodão. O casal serve café em xícaras de porcelana azul e branca.
Um piano de cauda, para a mulher e os netos, fica na sala, na frente da estante. Há pinturas a óleo e uma gravura de Picasso na parede. O próprio Bülow toca violoncelo em uma orquestra e em um quarteto de cordas. Com seu comportamento comum, ele serve de contraponto para outro alemão grande teórico da conspiração de 11 de setembro, Mathias Bröckers, ex-editor do jornal de esquerda “Die Tageszeitung”.
Bröckers, autor de “11.9. - zehn Jahre danach: Der Einsturz eines Lügengebäudes” (11/9 – Dez anos depois: o colapso de uma torre de mentiras), antes escrevera sobre os efeitos benéficos da maconha. Bülow, por outro lado, foi membro do parlamento, alta autoridade no Ministério da Defesa e até ministro de pesquisa sob o chanceler Helmut Schmidt. Bröckers e Bülow se conheceram e se deram bem, mas Bülow diz que não sabe muito sobre o que Bröckers faz.
Bülow ocasionalmente encontra-se com membros do SPD, mas diz que eles evitam tocar “no assunto” –no seu assunto- quando se reúnem. Bülow escreveu seu ex-funcionário, Peer Steinbrück, quando este se tornou ministro das finanças alemão, “mas ele nunca respondeu”. Bülow não conhece nenhum dos atuais líderes do SPD, mas o autor acredita que eles têm que tomar cuidado para que suas imagens não sejam associadas com a dele. “Entendi que eles têm que trabalhar junto com os EUA”, diz o ex-político.
Incrivelmente competente
Bülow nunca parece amargo ou resignado, apesar do fato da maior parte do público internacional acreditar na outra versão da história, a oficial: ou seja, que quatro grupos de terroristas islâmicos sequestraram aviões, dois dos quais destruíram o World Trade Center, um dos quais chocou-se contra o Pentágono e outro caiu nos campos na Pensilvânia.
Na versão oficial, segundo o relatório final da Comissão 11 de Setembro, os serviços de inteligência dos EUA fracassaram, ignoraram informações, não seguiram pistas e mostraram incompetência em geral.
Na versão dos eventos de Bülow, porém, os serviços de inteligência, particularmente a CIA, mostram um grau quase sobre-humano de precisão e competência. Não apenas eles teriam controlado os aviões dos terroristas usando tecnologia especial remota, mas também supostamente colocaram explosivos em vários andares das torres do World Trade Center para possibilitar aquele colapso peculiar, controlado e vertical. No caso do Pentágono, possivelmente dirigiram um míssil contra o prédio, enquanto ao mesmo tempo fizeram a tripulação e os passageiros do voo AA77, avião que oficialmente se acredita ter atingido o Pentágono, desaparecer sem deixar vestígios. E, neste processo, eles inventaram a história sobre os 19 terroristas, consubstanciando-a com falsos testemunhos e documentos e evidências estrategicamente plantados.
Na visão de mundo de Bülow, a CIA é uma organização de poder quase ilimitado e eficiência atemorizante, um organização capaz de forçar um enorme número de pessoas –cúmplices e participantes que tal operação precisaria- a se manter em silêncio por 10 anos ou mais, tudo em nome dos interesses nacionais.
Os fracassos americanos fornecem solo fértil para os teóricos da conspiração
Nas últimas décadas, sucessivos governos certamente forneceram amplo combustível para a formação de tais opiniões: a lenda das armas de destruição em massa no Iraque, o fato de ter sido a ajuda americana que fez dos mujahideen do Afeganistão uma força poderosa que mais tarde gerou o Taleban e a Al Qaeda; o escândalo Irã-Contra; a cooperação inescrupulosa do país com ditadores e golpes; a Guerra do Vietnã. O governo norte-americano e seus serviços de inteligência foram pegos na mentira e quebrando tratados internacionais tantas vezes que muitas pessoas hoje acreditam que tudo é possível. Este é o solo fértil que permite um interesse em autores como Bülow e Bröckers.
O próprio Bülow pode ter testemunhado muitas das confusões que o Ocidente permitiu que acontecessem durante a Guerra Fria. Ele teria tido inúmeras chances de fazê-lo durante seu período no Ministério de Defesa alemão de 1974 a 1980, como membro do comitê de controle parlamentar para servidos de inteligência e, em particular, como parte do comitê de investigações que tratou das maquinações de Alexander Schalck-Golodwkowski, político responsável pelo comércio da Alemanha Oriental com países capitalistas. Esse período informou o cenário desolador que Bülow ainda vê na vida diária, um cenário formatado por acordos duvidosos a portas fechadas, com deliberações de estratégia geopolítica executadas sem consideração às vítimas e com uma firme crença em poderes invulneráveis que trabalham em segredo.
Esse é um traço típico de homens mais velhos: uma tendência a combinar as próprias experiências de vida com uma boa medida de distância e um suposto realismo para formar uma espécie de cinismo confortável. A única diferença neste caso é o extremo ao que o cinismo foi levado.
Será que essa visão de mundo sombria causa dor ao autor? “Nããão”, responde, esticando a palavra. Ele se recosta na poltrona, xícara de café na mão. “Estou bem.”
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