Um Air Force MC-12 Liberty, que era um avião civil King Air e foi convertido em militar, retorna aos EUA após combate no Iraque |
Mas depois disso, um comprador misterioso ficou com o avião em 2008, retirou toda a decoração luxuosa, pintou-o com um cinza opaco e o enviou para uma missão mais perigosa. Sem que o médico soubesse, seu King Air 350 havia se tornado um avião de espionagem, um dos primeiros de um novo modelo militar que agora está aliviando o fardo dos aviões teleguiados dos EUA no Iraque e Afeganistão.
Para um poder militar que adora criar equipamentos novos do zero, entrar no mercado de aviões usados é uma raridade, que acontece apenas nas condições mais urgentes. Os aviões teleguiados têm sido as estrelas da inteligência nas guerras, mas o Pentágono não pode construí-los rápido o suficiente para atender à demanda.
Então a Força Aérea comprou outros King Air usados e os equipou com câmeras de vídeo e equipamento de escuta como parte de um esforço mais amplo para complementar, com aeronaves pilotadas, a frota de aviões teleguiados. O Exército também equipou aviões similares para localizar insurgentes que implantam bombas.
Ao escolher os King Air, o Pentágono se apropriou de uma aeronave que é mais associada com executivos de negócios que voam para reuniões e turistas ricos que saem para praticar esqui nos finais de semana. Os King Air também atraíram pilotos célebres como o ator e comediante falecido Danny Kaye.
Os militares usaram velhos King Air para carregar pessoas importantes e conduzir operações no passado. Agora, comandantes militares dizem que os aviões de dois propulsores, que carregam dois pilotos e dois operadores de sensor, abriram um nicho ao trabalhar mais próximos dos soldados em missões perigosas do que os aviões teleguiados.
As tripulações dos aviões, agora chamados MC-12, estão em constante contato via rádio com comboios e tropas. Eles podem falar com mais facilidade com eles do que as equipes dos teleguiados, que ficam sediadas nos Estados Unidos, para posicionar o equipamento de espionagem e interpretar dados sobre os movimentos inimigos.
Com os cortes no orçamento pairando, oficiais das Forças Aéreas dizem que a adoção rápida dos MC-12 também mostra como os militares podem fazer um melhor uso de produtos comerciais para reduzir os custos e atrasos na contratação. Além dos aviões usados, as Forças Aéreas adotaram mais 29 King Air novos com equipamento de vigilância, e o Exército gostaria de comprar 36.
“Para mim, isso é um precursor do que estamos tentando fazer em todos os níveis”, disse David M. Van Buren, alto oficial de compras das Forças Aéreas, embora isso possa ser mais facilmente dito do que feito com armas mais complexas.
Van Buren disse que as Forças Aéreas adotaram os aviões usados depois que Robert M. Gates, então secretário de defesa, ordenou que elas enviassem mais aviões de espionagem para o ar. Cada um dos aviões usados – alguns que pertenciam a firmas de direito e empresas – foi equipado de forma diferente.
Uma empresa contratada pelas Forças Aéreas, a L-3 Comunicações, encontrou oito aviões usados com menos danos. Ela então retirou os interiores decorados. A mobília de madeira deu lugar a mesas de computador para os especialistas de vigilância e quilômetros de fios para três redes de comunicação com diferentes níveis de segredo. Uma câmera foi pendurada na barriga do avião, e 16 antenas foram acrescentadas.
Enquanto isso, as Forças Aéreas deram um contrato de exclusividade para a Hawker Beechcraft construir 29 aviões de longo alcance por US$ 7,5 milhões cada, o preço médio com desconto para clientes comerciais. Uma fábrica de L-3 no Texas trabalhou dia e noite para instalar o equipamento de espionagem, que custa US$ 13 milhões por avião.
Pelo menos oito compradores de aviões corporativos deixaram os militares entrarem na frente deles na agenda de produção. Várias aberturas na agenda surgiram à medida que a recessão obrigou outros compradores a cancelarem os pedidos. Terry Harrell, vice-presidente da Hawker, disse que a companhia havia arriscado US$ 35 milhões a US$ 40 milhões de seu próprio dinheiro para começar a construir os aviões antes que o contrato fosse assinado.
“Foi um estudo de caso interessante no setor e as Forças Aéreas trabalhando junto para conseguir que algo fosse feito rapidamente, a um custo baixo, de uma forma muito pragmática”, disse ele.
O primeiro dos aviões convertidos começou a voar no Iraque em junho de 2009. Ele logo foi acompanhado por outros usados, a maior parte dos quais ainda está voando por lá.
Os aviões são populares com muitos soldados, porque enquanto os aviões teleguiados oferecem proteção e podem conduzir vigilâncias mais longas em bases inimigas, seus operadores e analistas estão a meio mundo de distância e se comunicam tanto por salas de bate-papo no computador quanto pelo rádio. Os MC-12, que não tem armas mas tem mais linhas de rádio, tendem a ficar em contato mais próximo com os comandantes em solo.
“Se você tem um comboio que sabe que está indo na direção do perigo, você vai precisar de muita interação com as forças em solo, e geralmente o MC-12 será o avião que você escolherá para isso”, disse o major general James O. Poss, alto oficial de inteligência das Forças Aéreas.
O Exército quer atualizar seus King Air, e um comitê do Senado sugeriu recentemente que as Forças Aéreas poderiam em vez disso transferir seus MC-12 para o Exército para evitar que eles tenham muitos aviões quando a guerra terminar. Mas tanto as Forças Aéreas quanto o Exército dizem que os aviões poderiam ser úteis em outros lugares turbulentos e estão resistindo à sugestão.
Hawker Beechcraft e a L-3 veem um mercado de exportação para os aviões, e outras empresas terceirizadas também estão vendendo aviões civis para espionagem. A Lockheed Martin tirou um bar de um jato executivo Gulfstream III e transformou o avião num laboratório para essas conversões.
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