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domingo, 1 de setembro de 2013

Bilionário testa a própria resistência ao se envolver na política russa

Mikhail D. Prokhorov
Em uma academia de caratê de Togliatti, cidade do interior da Rússia, a aula parece ter tanto a ver com política quanto com artes marciais. Mikhail D. Prokhorov, o bilionário russo que levava uma vida discreta, mas que agora lidera um partido político, estava participando, como instrutor convidado, de uma aula para jovens rapazes.

"O corpo de vocês deve ser flexível como a água", explicou Prokhorov, 48, enquanto arredondava seu corpo de 2 metros de altura. Em seguida, de maneira improvável, ele rolou de costas pela parte superior de um banco de madeira. Se ele fez alguma careta de dor, ninguém viu.

"Quando vocês eram crianças, vocês sabiam como relaxar e rolar", prosseguiu ele. "Se um único músculo ficar tenso, vocês vão se machucar. Sejam como a água. Na primeira vez, será desconfortável para vocês, mas, depois, será desconfortável para seus adversários".

Fora da aula de caratê, a flexibilidade, se não um autodomínio zen diante das graves afrontas impostas pelo Kremlin, definiram o papel discreto de Prokhorov na política russa neste verão.

O oligarca, que é mais conhecido nos Estados Unidos por ser proprietário da franquia de basquete Brooklyn Nets e por gastar grandes quantias na compra de jogadores, lidera um partido de pequeno porte na Rússia, que apoia o setor empresarial e foi batizado de Plataforma Cívica. Ele está lançando candidatos que participarão de 30 pleitos locais ou mais – concorrendo para cargos em conselhos municipais, assembleias legislativas regionais e prefeituras – aqui na Rússia no próximo mês de setembro.

A disputa mais importante será para o cargo de prefeito de Moscou, onde um dos líderes dos protestos de rua, Aleksei A. Navalny – figura estimulante e hipnotizante e que está disputando as eleições tanto para manter sua própria liberdade quanto para obter um cargo público – é o candidato mais observado.

Um tribunal condenou Navalny por acusações que foram amplamente tidas como falsas, mas o liberou após a apresentação de um recurso, permitindo que ele concorresse ao cargo de prefeito. Uma boa votação poderá influenciar as autoridades a comutarem a sentença de Navalny.

Prokhorov, ao contrário, diz que está testando o quanto pode ser alcançado dentro do sistema político do presidente Vladimir V. Putin sem precisar recorrer à desobediência civil nem correr o risco de ser processado – apesar de ele não descartar a possibilidade de ser preso.

"Na Rússia, ninguém está a salvo de se tornar mendigo ou prisioneiro", disse ele em entrevista a bordo de seu jato Gulfstream enquanto voava para um evento de campanha em Togliatti, na região central da Rússia.

O papel de Prokhorov na política parece definir principalmente a linha, um tanto invisível, móvel, de permissibilidade entre o que será ou não admitido de figuras políticas independentes na Rússia de hoje. E o retrato não tem sido encorajador. Até agora, a maior parte do seu desafio tem sido manter seus candidatos que concorrem a cargos políticos regionais fora da cadeia.

Um dia depois de Prokhorov ter escolhido o prefeito da cidade de Yaroslavl, Yevgeny R. Urlashov, para liderar uma chapa nas eleições regionais, a polícia prendeu Urlashov por acusações de corrupção. Ele lidou com a medida de maneira calma. Disse que um tribunal terá que decidir sobre o mérito do caso, mas que irá manter Urlashov no topo da lista de candidatos para as eleições de setembro, apesar de o candidato ainda estar na cadeia.

"É necessário apoiar seus companheiros", Prokhorov explicou a uma plateia de estudantes universitários durante uma viagem de campanha. Mas esse gesto logo se tornou irrelevante: as autoridades da cidade de Yaroslavl simplesmente desqualificaram toda a chapa de membros do partido, impedindo-os de participar da eleição devido a uma tecnicalidade.

Na região de Vladimir, nos arredores de Moscou, e no território de Zabaikal, na fronteira com a China, as autoridades eleitorais impediram que os candidatos de Prokhorov concorressem ao cargo de governador regional também se utilizando de pretextos burocráticos.

E, assim que seu candidato com mais chances, Yevgeny Roizman, anunciou sua candidatura a prefeito da cidade de Jekaterinburg, ele passou a ser investigado. A polícia está investigando se Roizman roubou imagens religiosas.

Segundo Prokhorov, o problema com a eleição na Rússia neste verão é que "o cumprimento da lei está se transformando num elemento do processo eleitoral".

E se há um homem na Rússia com algo a perder, esse homem é Prokhorov.

Um dos empresários mais ricos do planeta, com uma fortuna estimada pela a revista Forbes em US$ 13 bilhões, está vivendo seus sonhos de infância: ele é um amante dos esportes que é dono de seu próprio time de basquete, um fã de rock que voa para festivais de música quando sua agenda permite. Ele viaja com um mestre de artes marciais, uma figura estranhamente calma que se veste de preto, como se fosse um ninja, e que consegue fazer abdominais se equilibrando sobre uma bola de futebol.

Prokhorov é conhecido por gostar tanto de festas que sua comitiva chegou a chamá-lo de "o homem festa" e, alguns anos atrás, logo depois de vender sua mina siberiana Norilsk Nickel pelo melhor preço de mercado, ele alugou alegremente o encouraçado Aurora, em São Petersburgo, para dar uma festa para banqueiros. Na ocasião, os deques do navio ficaram lotados de modelos estonteantes.

No entanto, as intenções políticas de Prokhorov são sérias o suficiente para que ele transferisse a propriedade dos Nets a uma empresa russa este ano para cumprir a lei que limita os ativos estrangeiros que funcionários públicos russo podem possuir.

Igor M. Bunin, presidente do Centro de Tecnologias Políticas, uma consultoria política e empresarial de Moscou, disse que Prokhorov está calibrando suas ambições políticas para evitar desafiar Putin, apesar das irritantes prisões de seus candidatos.

Às vezes, a abordagem dele parece seca. A Plataforma Cívica, por exemplo, tem sido ridicularizada como um "partido de advogados". Ele está falando nas entrelinhas", disse Bunin. "Ele está dizendo que representa uma alternativa a Putin, um possível sucessor. Mas ele não é capaz de se comprometer com uma estratégia mais forte, mais belicosa. Isso está limitando seu potencial".

Prokhorov, por sua vez, disse que a Rússia dificilmente é tão monolítica quanto parece ser de longe, nem tanto quanto o Kremlin gostaria de fazer parecer. Segundo ele, é possível obter sucesso nas urnas e vale a pena ser paciente para esperar por isso. Prokhorov obteve 7% dos votos quando concorreu à presidência, em 2012.

"Um processo de cisão está em curso hoje em dia na elite da Rússia", disse Prokhorov. "No Kremlin, no governo, no parlamento, nas várias regiões e, por fim, nas cozinhas do país. A política retornou à Rússia".

A fragmentação, segundo Prokhorov, cria aberturas dentro do processo eleitoral, mesmo que elas sejam chutes de longa distância. Da política, disse ele, "eu gosto da estratégia. Eu gosto de estruturar programas sistemáticos e de criar soluções".

Prokhorov disse que seu objetivo nas eleições regionais é ser o segundo mais votado para a Câmara Municipal de Togliatti, além de obter resultados sólidos o bastante em outras localidades para ser capaz de formar coalisões em legislaturas regionais. Isso, segundo ele, estabelecerá as bases para um desempenho sólido de seu partido nas eleições parlamentares de 2016.

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