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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

História à parte, Obama aposta no Congresso

Segundo o presidente Barack Obama, o Congresso abriga um "desfile sem fim de distrações e poses políticas". É um lugar "desafiador", onde sua agenda do segundo mandato se encontra com o impasse de Washington, o forçando a emitir ordens executivas e fazer apelos públicos para que qualquer coisa seja feita.

Mesmo assim, o presidente optou por entregar uma de suas decisões mais urgentes de política externa para as mesmas pessoas que prometeram bloqueá-lo em todas as oportunidades.

Ao pedir ao Congresso autorização para atacar a Síria pelo uso de armas químicas, Obama se colocou à mercê de uma instituição que atormenta sua presidência há anos. Ele coloca sua credibilidade em risco --em casa e no exterior-- em uma aposta de que as divisões partidárias em Washington ficarão em segundo plano durante este debate. E ele cedeu à realidade de que os maiores pedidos para colocar a decisão sobre a Síria em votação vieram de seus aliados no Capitólio.

"Você vai à guerra com o Congresso que tem, não com o Congresso que gostaria de ter", disse Matt Bennett, um ex-assessor sênior do presidente Bill Clinton. "Ele não tem um Congresso em que confia, mas ele sente que isso é sério o bastante para exigir o envolvimento do Congresso."

A semana à frente contará com forte esforço de lobby por parte do governo a favor de uma ação militar, parte dele confidencial e atrás de portas fechadas, enquanto os legisladores voltam para Washington do longo recesso de verão.

Apesar das garantias do secretário de Estado, John Kerry, de que o Congresso aprovará a ação, os primeiros indícios sugerem que o debate a respeito da Síria pode enfrentar uma versão da política paralisante que bloqueou repetidas propostas legislativas de Obama para controle de armas, imigração, mudança climática, expansão da pré-escola, gastos em infraestrutura, impostos, habitação e orçamento federal.

Isso poderia ser especialmente verdadeiro na Câmara, onde uma coalizão de conservadores do Tea Party (movimento republicano inspirado na Festa do Chá de Boston, um protesto antitaxação do século 18), democratas liberais e libertários já parece estar preparando uma oposição ao uso de força militar na Síria. E até mesmo alguns senadores começam a se alinhar para anunciar sua oposição, bem antes do início do debate na Câmara.

O senador James M. Inhofe, republicano de Oklahoma, disse que votaria "não" e previu que os legisladores não darão ao presidente a autorização que deseja. "Eu não acho que darão", disse Inhofe em uma aparição no programa "Fox News Sunday".

A disposição de Obama de depositar sua fé nos legisladores é particularmente inesperada para um presidente que passou grande parte de seu segundo mandato tentando encontrar formas criativas de contornar o Congresso.

Quando o Congresso se recusou a aprovar novos gastos em projetos de infraestrutura, ele anunciou um processo mais rápido para obtenção das licenças federais. Quando o Congresso recuou diante de novas leis para armas, o presidente assinou mais de 20 ordens executivas para manter as armas longe de criminosos e pessoas com doenças mentais. Em seu discurso do Estado da União, o presidente prometeu aprovar novas leis para combater a mudança climática.

"Se o Congresso não agir em breve para proteger as futuras gerações, eu irei", disse Obama, prometendo ações executivas para redução da poluição.

Em discursos por todo o país sobre habitação e educação, toda menção de necessidade de aprovação de suas propostas pelo Congresso se tornava uma piada confiável. Em Scranton, Pensilvânia, no mês passado, o público riu quando Obama disse que algumas de suas propostas para mensalidades das faculdades exigiriam uma ação por parte do Congresso.

"Isso é sempre desafiador", concordou Obama.

Antes, em Galesburg, Illinois, ele apresentou sua visão econômica para seus últimos três anos e disse: "Nós faremos tudo o que pudermos, sempre que pudermos, com ou sem o Congresso, para fazer com que as coisas aconteçam".

Funcionários da Casa Branca estão apostando que um debate sobre atacar a Síria será diferente e que o Congresso não se esquivará do que Obama diz ser a necessidade do presidente sírio, Bashar Assad, responder por atacar seus próprios cidadãos com gás. Ao pedir uma votação, o presidente está basicamente pedindo ao Congresso que assuma a decisão de ir à guerra.

David Axelrod, um ex-alto assessor do presidente, disse que espera que membros do Congresso tratem a questão do ataque militar de modo diferente de como tratam as questões domésticas.

"Seria mais que trágico se, em uma questão como essa, as pessoas começassem a fazer cálculos políticos sobre como prejudicar o presidente", disse Axelrod. "Ele optou por depositar sua fé, não necessariamente no Congresso, mas em nossas leis e tradições. Será uma semana interessante ver como isso se resolverá."

Dan Pfeiffer, um assessor sênior do presidente, disse que "o fato de existir uma divisão do governo e uma política polarizada é exatamente o motivo para ser importante que o Congresso exerça um papel em uma decisão tão importante para nosso país".

Em 2011, Obama provocou críticas bipartidárias ao não pedir autorização do Congresso para participar da campanha aérea na Líbia, que durou semanas. O presidente e seus advogados argumentaram que a lei americana não exigia uma votação no Congresso para o esforço, que visava impedir Muammar Gaddafi, o líder líbio, de matar rebeldes em seu país.

Momentos depois do anúncio surpresa de Obama no sábado, até mesmo os legisladores que apoiam a ação militar contra a Síria expressaram dúvida quanto ao resultado da votação no Congresso. O deputado Peter T. King, republicano de Nova York, disse no programa "Fox News Sunday" que a hesitação do presidente representava um "claro fracasso de liderança".

O senador John McCain, republicano do Arizona, exigiu uma ação militar mais ousada contra a Síria do que a que Obama está contemplando. McCain disse que poderia se opor ao uso da força a menos que o presidente concordasse em um esforço militar mais amplo. Mas concordar com isso quase certamente minaria o apoio entre muitos democratas e alguns libertários.

E até mesmo o pedido de Obama por uma "ação estreita, limitada", deixa alguns libertários preocupados. O senador Christopher S. Murphy, democrata de Connecticut, disse que entrou no debate "como um cético" e afirmou não estar convencido de que seja uma boa ideia lançar mísseis contra o governo sírio.

"Um ataque americano tornará a situação melhor ou pior para o povo sírio?" ele perguntou no programa "Meet the Press".

O resultado desse debate poderá ajudar a determinar o legado de Obama na política externa, que agora está em parte nas mãos de seus adversários no Congresso. Em uma declaração no sábado, o senador Mitch McConnell de Kentucky, líder da minoria, insinuou o impacto político para o presidente caso o Congresso se recuse a lhe dar a permissão que deseja.

"O papel do presidente como comandante-em-chefe é sempre fortalecido quando ele desfruta do apoio expressado pelo Congresso", disse McConnell.

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