Mubarak |
Spiegel: Deeb, você representa um dos homens mais odiados no Egito.
Deeb: Talvez essa fosse a opinião generalizada sobre [o ex-presidente egípcio] Hosni Mubarak há dois anos e meio, quando ele foi deposto e, posteriormente, preso. Mas o clima mudou. Muitos egípcios o veem com olhos diferentes hoje em dia.
Spiegel: A maioria da população continua a condenar Mubarak atualmente. Ele é acusado de ser parcialmente responsável pelas mortes de centenas de manifestantes durante os protestos contra o seu regime. Ele também é acusado de ter enchido ilegalmente seus bolsos de dinheiro e de causar danos ao Tesouro Nacional.
Deeb: Eu sou advogado. Meu trabalho é defender o acusado e ajudá-lo a fazer uso de seus direitos. E estou especialmente satisfeito em fazê-lo no caso de Hosni Mubarak, pois eu o tinha em alta conta quando ele era presidente e também quando ele atuou como vice-presidente durante o governo do ex-presidente Anwar al-Sadat. Eu também o respeitava muito quando ele atuou como comandante de nossa Força Aérea.
Spiegel: Você está representando Mubarak devido a vínculos pessoais?
Deeb: Eu não o conhecia pessoalmente quando ele me pediu para assumir seu caso. Ele se aproximou de mim, porque, como advogado de defesa, eu sou um homem muito conhecido e bem sucedido. Eu venci a maioria dos casos em que atuei. Desde que eu o conheci, eu até posso dizer que também quero defendê-lo porque, no nível pessoal, eu gosto muito dele. Mas eu também estou profundamente convencido da inocência de Mubarak.
Spiegel: O anúncio de que o tribunal poderia soltar Mubarak causou um rebuliço internacional, e o governo de transição temeu que novas manifestações viessem a ocorrer como resultado da decisão.
Deeb: Estamos lidando principalmente com dois grupos neste país: o grupo que odeia Mubarak e um outro grupo, que não está familiarizado com as regras que regem o nosso sistema judiciário. O tribunal estava apenas agindo de acordo com as leis ao afirmar que ninguém pode ficar detido por mais de dois anos enquanto aguarda o veredito final.
Spiegel: O general Abdel-Fattah el-Sissi, o novo homem forte por trás do governo de transição, construiu sua carreira durante o governo de Mubarak. Apesar disso, é possível dizer que a nova estrutura de poder realmente não teve nada a ver com a soltura do ex-presidente agora?
Deeb: Mubarak não se beneficiou com essas mudanças. A decisão dos juízes não foi, de jeito nenhum, influenciada por motivações políticas. Há quatro processos diferentes contra Mubarak. Em três deles, uma decisão sobre a sua libertação da prisão já havia sido emitida quando a Irmandade Muçulmana ainda estava no poder. O quarto processo foi tratado há alguns dias. Esse caso estava se arrastando há mais de dois anos, o que significava que já era a hora de libertá-lo da prisão.
Spiegel: No início de junho de 2012, Mubarak foi condenado à prisão perpétua por seu papel na morte de manifestantes. Você obrigou o tribunal a reabrir esse caso. Quando esse processo vai começar?
Deeb : O tribunal quer ouvir o testemunho e obter as opiniões de especialistas. No entanto, eu acredito que as coisas vão correr de forma relativamente rápida agora. Eu realmente espero que o tribunal emita um veredito nos próximos três meses. Até lá, Hosni Mubarak é um homem livre, embora ele não tenha permissão para deixar o país.
Spiegel: Esse caso importante poderá se encerrar antes do final do ano?
Deeb: Sim, eu acredito que os juízes vão julgar o caso de maneira expedita e que eles chegarão rapidamente a um veredicto. E eu suponho que eles vão absolver Hosni Mubarak. Caso contrário, ele será, naturalmente, enviado novamente para a prisão. Mas nós também podemos apresentar um recurso. No final das contas, ele será um homem livre.
Spiegel: Há ainda outros processos aguardando uma decisão. Eles envolvem a aceitação de presentes no valor de aproximadamente 2 milhões de euros (US$ 2,6 milhões), acusações de enriquecimento ilícito por meio da venda de propriedades públicas e da utilização do orçamento presidencial para pagar os custos de construção de propriedades privadas.
Deeb: Esses julgamentos também começarão em breve, e eles também vão acabar em absolvição.
Spiegel: O fato é que Mubarak está em um hospital militar no Cairo, onde está sendo mantido em prisão domiciliar.
Deeb: Foi escolha dele ser admitido nesse hospital devido a sua saúde. No hospital, ele recebe os cuidados médicos de que necessita. Ele está com 85 anos. Ele está sendo mantido em regime de prisão domiciliar por ordem do primeiro-ministro, que invocou estado de emergência para o país. A prisão domiciliar vai acabar quando a situação se normalizar.
Spiegel: Você acredita seriamente que Mubarak será capaz de admirar novamente o Mar Vermelho a partir das janelas de sua casa de veraneio em Sharm el-Sheikh?
Deeb : Não agora, mas certamente no futuro. Por que não? Ele também poderá retornar para a sua casa aqui no Cairo. É claro que ele terá que comparecer ao tribunal nos dias do julgamento, mas fora isso, ele pode optar por ficar onde desejar dentro do país. Ele escolheu o hospital militar neste momento. Ele ocupa três salas do hospital, lê os jornais e recebe as visitas de sua família.
Spiegel: Como está o estado de espírito dele?
Deeb: Eu apenas o visitei. Ele está de bom humor, apesar de estar sofrendo com algumas doenças. Ele anda muito lentamente, pois tem dores nos joelhos. Ele passa muito tempo sentado. Ele fez cirurgias de grande porte --no coração e devido a um câncer. Ele talvez acredite que cometeu erros políticos. Mas ele está convencido de que não cometeu nenhum crime.
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