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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Caos do euro marginaliza o papel de Obama no G20


O presidente dos EUA, Barack Obama, chega ao aeroporto de Cote d'Azur, em Nice, na França, para a reunião do G20

Uma nova experiência aguarda o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na cúpula do G20 nesta semana em Cannes. Graças à crise do euro, ele provavelmente será apenas uma figura periférica nas reuniões. Ainda assim, com a campanha presidencial em pleno andamento em casa, ele não poderá negar a si mesmo o direito de dar ao menos alguns sábios conselhos.

Em sua primeira viagem ao exterior desde o primeiro semestre, o presidente Barack Obama chegará a Cannes, França, na manhã desta quinta-feira (3), para a cúpula do G20. Uma coisa já está clara: o homem mais poderoso do mundo não será o centro das atenções aqui.

"O anúncio surpreendente do referendo grego e potencial de colapso do governo grego ofuscarão completamente a cúpula, à medida que o fantasma do calote cresce a cada hora", diz Heather Conley, ex-vice-secretária assistente de Estado do Birô de Assuntos Europeus e Euro-asiáticos do Departamento de Estado e atualmente integrante do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington.

Não é que Obama não tenha alguma opinião a respeito da crise. Na verdade, ela pode afetá-lo diretamente, porque a recessão do euro também tem o potencial de arrastar os bancos americanos para o buraco. Isso teria um impacto negativo nas taxas de desemprego americanas e nas chances de reeleição de Obama no ano que vem.

O presidente fala regularmente com a chanceler alemã Angela Merkel. "Se a Europa não lidar com o problema dos bancos descapitalizados, isso poderia facilmente explodir e se transformar em outra conflagração mundial", disse o ex-assessor econômico-chefe de Obama, Austan Goolsbee, em uma recente entrevista para a "Spiegel". "A Europa como um todo certamente está hesitando demais. A Alemanha faz parte da liderança na zona do euro, mas ela ainda não interveio e fez o que precisa ser feito."

Obama quer intervir, mas discretamente

Quando os líderes da União Europeia concordaram recentemente em Bruxelas no que precisava ser feito, Obama divulgou rapidamente uma declaração: "Nós saudamos as importantes decisões tomadas... pela União Europeia, que estabeleceu uma fundação crítica para uma solução abrangente para a crise da zona do euro."

Mas Obama sabe que também não pode intervir com muito entusiasmo. Por mais que gostaria de ser, Washington não é a capital da Europa. De modo figurativo, ao menos, provavelmente seria Pequim no momento. Os europeus estão torcendo para que o presidente chinês, Hu Jintao, concorde em investir bilhões no Fundo Europeu de Estabilidade Financeira.

Os Estados Unidos já sofreram a dolorosa experiência das objeções às intervenções como de professor, depois que o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, pediu aos europeus para que adotassem medidas no combate à crise atual, além de convidar a si mesmo para uma reunião de seus pares europeus na cidade polonesa de Wroclaw, em setembro. Ele apenas queria compartilhar sua experiência em lidar com a última crise financeira global, ele disse na época.

Mas a resposta chegou perto de devastadora. A ministra das Finanças austríaca, Maria Fekter, disse que era “estranho” os Estados Unidos se sentirem obrigados a dar conselhos para a Europa, e Geithner foi excluído das consultas mais detalhadas sobre o futuro do euro.

Enquanto isso, os Estados Unidos, pais de origem da crise financeira de 2008, permanecem atolados em outra crise de credibilidade que inclui o presidente. "A posição de Obama será muito fraca", diz Jacob Kirkegaard, um pesquisador do Instituto Peter G. Peterson para Economia Internacional, em Washington. "Ele tem muito pouco a mostrar para os outros líderes quando pede por um estímulo coordenado no G20." Obama não teve sucesso nem mesmo em fazer com que suas próprias propostas de estímulo e criação de empregos, ou para redução do déficit nacional, fossem aprovadas pelo Congresso americano.

Além disso, seria estranho para um país que acabou de ter sua classificação de crédito rebaixada ensinar ao restante do mundo como sair da crise financeira. Particularmente quando as imagens das divisões sociais nos Estados Unidos, acentuadas pelos protestos Ocupe Wall Street, estão circulando por todo o mundo.

Críticas à Europa são convenientes

Todavia, é natural para os especialistas americanos expressarem suas opiniões. Goolsbee, o ex-assessor de Obama, por exemplo, disse à "Spiegel": "Eu não acho que a Europa conseguirá sair disto sem realizar o equivalente a um teste de estresse completo". Essa ação exigiria colocar às claras a situação financeira dos bancos e de sua recapitalização, ele acrescentou. "Há a sensação entre os investidores de que os bancos continentais europeus nunca fizeram isso nas crises anteriores", ele alertou. Mas não se sabe se os resultados da mais recente cúpula da União Europeia responderão a esses desafios.

Certamente não há dúvida de que o calendário político influenciará a retórica de Obama. O presidente está chegando à Europa como um candidato, quase exatamente um ano antes do dia da eleição nos Estados Unidos - e um pouco de críticas à Europa renderá a ele alguns pontos em casa.

Durante aparições nos últimos meses, o democrata não se esquivou de deixar implícito que se não fosse pela Europa, os Estados Unidos já teriam feito um maior progresso em sua recuperação econômica. O centro das críticas americanas à Europa costuma ser à Alemanha, o país mais influente na zona do euro. "Se os líderes da Europa não apresentarem um plano mais robusto, o julgamento dos mercados globais de ações e crédito será duro e rápido", comentou duramente no "New York Times" no mês passado. "É hora de Merkel reconhecer essa verdade –e fazer o que é melhor para a Alemanha e para toda a Europa."

Estímulo global é improvável

Mas Obama terá que conter suas críticas à Europa em Cannes. Devido à crise do euro, ele dificilmente terá oportunidade de realizar outros debates que são importantes para ele, como a questão fundamental sobre se a economia global precisa ser estimulada com mais dinheiro público para criar mais empregos, ou se a austeridade é mais importante.

Se Obama deseja ter uma chance decente de reeleição, ele precisará reduzir a taxa de desemprego americana abaixo de 9%. Um programa global de estímulo econômico certamente o ajudaria a conseguir isso.

Mas uma sugestão semelhante pelos americanos na cúpula do G20 em Toronto, em 2010, foi ignorada. Os especialistas têm pouca esperança de que uma proposta semelhante teria algum sucesso agora. "Não haverá nenhum grande confronto de estímulo contra austeridade porque ninguém tem interesse em fazer o G20 parecer dividido neste momento", diz Kirkegaard. Isso não só minaria a confiança do mercado, ele acrescenta, como levaria a mais incerteza. "Eles concordarão que todo mundo fará o que puder –se acordo com as circunstâncias nacionais, o que significa, é claro, potencialmente nada."

Heather Conley, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, tem uma posição semelhante. "O governo Obama gostaria de se concentrar em uma agenda de crescimento global liderada pelos Estados Unidos”, ela diz. “Será feita pressão sobre a China e a Alemanha para estimularem a demanda doméstica para reequilíbrio do crescimento global, mas eu acho que a Grécia também sobrepujará esse tema."

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