Votação na Conferência Geral da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), realizada no dia 31 de outubro, em Paris, provou o reconhecimento da Palestina |
As autoridades palestinas não estão se deixando amedrontar pela reação frontal de recusa dos Estados Unidos, gerada por suas manobras para ser membro de pleno direito das Nações Unidas. Os representantes da Autoridade Palestina se preparam para usar seu ingresso na Unesco, obtido na última segunda-feira, como o início de uma batalha diplomática mais ampla para entrar em outras agências.
As intenções dos palestinos foram deixadas muito claras por Ibrahim Khraishi, seu principal representante em Genebra. Em poucas semanas querem conseguir um reconhecimento similar para aderir a outros 16 órgãos que formam a rede da ONU. Trata-se, em suas próprias palavras, de "rentabilizar" o apoio que têm entre boa parte dos membros do organismo, onde a Palestina aspira ser membro da Assembleia geral.
"Estamos estudando ainda quando daremos o passo para sermos membros plenos em outras agências", disse Khraishi à agência de notícias Associated Press, ciente de que a votação de segunda-feira na Unesco criou um importante "precedente", ao permitir que a Palestina tenha uma participação muito ampla nas atividades de um dos órgãos que mais visibilidade dão ao trabalho da ONU.
A entrada na Unesco facilitaria aos palestinos o caminho para entrar no organismo da ONU que regula a escala global da propriedade intelectual WIPO (World Intelectual Property Organization). O que ainda deve ser visto é se o reconhecimento prévio de uma agência especializada o torna automático no resto dos órgãos.
Também em Genebra se encontra a sede da OMS (Organização Mundial de Saúde). Os porta-vozes do órgão lembram que qualquer Estado-membro pode fazer parte da agência. Não é o caso da Palestina, que para obter esse status deve contar com o referendo do Conselho de Segurança, onde os Estados Unidos ameaçam vetar qualquer ação. O pedido da Autoridade Palestina à OMS poderá prosperar se em sua reunião anual conseguir votos suficientes.
As outras grandes agências nas quais a Palestina estaria buscando ingressar são a Organização Internacional do Trabalho, a União Internacional das Telecomunicações e a Agência Internacional para a Energia Atômica. A votação na Unesco foi muito ampla. Contra a iniciativa palestina votaram os Estados Unidos, o Canadá e a Alemanha.
A primeira porta aberta na Unesco não foi por acaso. As competências dessa agência se concentram no âmbito da educação, da cultura, da comunicação e informação e da ciência. Mas sua missão é mais ampla, e consiste em criar as condições para um diálogo entre civilizações, culturas e povos, com o objetivo de reduzir a pobreza e fomentar o desenvolvimento.
A ideia da Palestina é enfrentar o processo passo a passo, agência por agência. Mas a ofensiva para ter a maior presença possível nas Nações Unidas é muito mais ambiciosa e, segundo o que foi dito por Khraishi, virá acompanhada de ações para ter voz própria em outras instituições internacionais. Uma estratégia que não agrada aos Estados Unidos.
Israel, principal aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio, acredita que essa ofensiva mina os esforços que estão sendo feitos no processo de paz e adverte que a presença da Palestina pode acabar prejudicando o trabalho da ONU. Os Estados Unidos, principal contribuinte para o orçamento da instituição, anunciou depois da votação que cortará o financiamento da Unesco.
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