Quando o presidente Barack Obama reabriu as negociações face a face entre israelenses e palestinos no mês passado, ele prometeu que seu governo seguraria as mãos deles, mas alertou: “Os Estados Unidos não podem impor um acordo e não podemos querê-lo mais do que as partes envolvidas”.
Com o impasse das negociações em torno da questão dos assentamentos judeus, vários veteranos dos processos de paz do Oriente Médio disseram que o alerta de Obama se concretizou –apenas semanas após o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, concordaram em se sentarem à mesa.
O governo Obama não está apenas segurando as mãos como está oferecendo concessões para cada lado, em uma tentativa de manter Netanyahu e Abbas à mesa. A generosidade das ofertas americanas e a relutância de israelenses ou palestinos em aceitá-las dizem muito.
Na terça-feira, os principais ministros do Gabinete de Netanyahu se reuniram em Jerusalém, disseram funcionários, e não aceitaram um pacote de garantias de segurança oferecido pelos Estados Unidos, em troca da prorrogação por 60 dias por Israel do congelamento da construção de assentamentos na Cisjordânia.
Os palestinos, por sua vez, rejeitaram uma proposta do governo de continuarem negociando mesmo sem a prorrogação, em troca de um endosso americano à posição deles a respeito das fronteiras de um futuro Estado palestino. Sem a prorrogação, insistem os palestinos, as negociações estão encerradas.
Poucos analistas discutem que Obama pode intermediar um acordo de paz sem negociar questões como estas. No final, a maioria acredita, ele terá que apresentar seu próprio plano para o acordo. A pergunta que alguns estão fazendo é se ele está arriscando muito cedo demais –e por tão pouco.
“Eu nunca imaginei que teríamos que fazer outra coisa”, disse Martin S. Indyk, um ex-embaixador americano em Israel e um negociador no governo Clinton. “Mas no processo, nós temos que ter cuidado para não pagar com moeda estratégica por mero espaço tático para respirar.”
No caso de Israel, disseram funcionários, os Estados Unidos ofereceram equipamento militar, apoio para presença israelense de longo prazo no Vale da Jordânia, ajuda no combate ao contrabando de armas para um Estado palestino, uma promessa de vetar resoluções do Conselho de Segurança da ONU que critiquem Israel durante as negociações e uma promessa de forjar um acordo de segurança regional para o Oriente Médio.
Por tudo isso, disseram pessoas informadas sobre os detalhes, os Estados Unidos buscavam uma única prorrogação não renovável de 60 dias.
“É um pacote extraordinário por basicamente nada”, disse Daniel C. Kurtzer, que também serviu como embaixador americano em Israel e foi um negociador no governo Clinton. “Dado o que já aconteceu, quem acredita que uma prorrogação de dois meses bastará?”
Após inicialmente recusar a oferta americana, Netanyahu agora parece inclinado a aceitá-la, disseram vários funcionários. Eles disseram que ele precisava de tempo adicional para obter os votos necessários entre os membros de seu Gabinete, vários deles contrários à prorrogação do congelamento.
Mesmo se ele aceitar, alguns analistas preveem que os dois lados voltarão ao mesmo beco sem saída em dois meses. Abbas, disseram várias pessoas, disse a associados que sente não ter escolha a não ser pressionar pelo congelamento, em grande parte porque o governo Obama transformou os assentamentos na peça central de seus primeiros 10 meses de diplomacia para o Oriente Médio.
Por ora, pelo menos, esse imperativo venceu até mesmo a oferta pelos Estados Unidos de endossar formalmente um Estado palestino com base nas fronteiras de Israel de antes da guerra de 1967, algo há muito desejado pelos palestinos. Alguns palestinos dizem que um endosso americano não vale muito caso os israelenses se recusem a reconhecê-lo.
“O pecado original foi colocar ênfase demais nos assentamentos, uma questão que não poderíamos resolver”, disse Robert Malley, o diretor do programa para Oriente Médio e Norte da África do International Crisis Group. “Nós passamos o último ano tentando desfazer os estragos desse passo.”
Alguns analistas argumentam que os Estados Unidos ainda têm uma vantagem crucial. Nenhum lado deseja alienar Washington –os israelenses precisam da ajuda americana para se defenderem do Irã e os palestinos precisam de apoio na questão do território. Na verdade, fazer lobby junto ao governo pode ser uma prioridade maior do que voltar à mesa de negociação.
“Há um desejo de ambas as partes de atrair a parte que não está na sala”, disse David Makovsky, um analista do Instituto Washington para Políticas do Oriente Próximo. “Ambas querem contar com apoio americano.”
O calendário político também pode estar levando o governo a prosseguir de qualquer jeito neste período, disseram analistas.
“Se conseguirmos estes 60 dias e passarmos das eleições de novembro, seria possível criarmos um momento de escolha para ambos os lados”, disse Daniel Levy, um ex-negociador que atualmente faz parte da Fundação Nova América.
A questão de quanto os Estados Unidos estão oferecendo, e o que estão pedindo em troca, está sendo ferozmente debatida dentro da Casa Branca e do Departamento de Estado, segundo funcionários. Parte disso reflete as fortes personalidades das pessoas que estão formulando as políticas para o Oriente Médio no governo.
O pacote de incentivos para Israel foi concebido em grande parte por Dennis B. Ross, um alto conselheiro sobre Oriente Médio no Conselho de Segurança Nacional e um negociador de paz veterano. Mas o dia a dia das negociações está aos cuidados de George J. Mitchell, o emissário especial do governo para a região, que liderou o esforço para Israel suspender a construção de assentamentos.
O governo espera que ao deixar claro que qualquer prorrogação dos assentamentos seria uma oferta única, ele espera evitar a perspectiva de que os palestinos ameacem abandonar as negociações daqui dois meses.
“Nós reconhecemos que para que as partes superem este obstáculo nós precisamos oferecer algo de valor para cada lado”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Philip J. Crowley. “Em troca, nós precisamos de um compromisso das partes de permanecerem nas negociações tempo suficiente para chegarem a um acordo. Nós não queremos passar por isto novamente.”
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