Soldados iemenitas |
Para esse ex-chefe da polícia motorizada de Sanaa, o controle da cidade pelo exército não teve efeito nenhum. "Hoje, nenhum bairro está protegido. Alguns estão até mesmo fora do controle da polícia, abertos aos criminosos e aos terroristas. Falta coordenação e meios de comunicação para as forças de ordem. Nada disso é muito profissional". Palco de um crescimento impressionante da violência nas últimas semanas, Sanaa, no Iêmen, se tornou uma capital muito perigosa.
Na sexta-feira (9), cinco militares foram mortos em um ataque sem precedentes contra o palácio presidencial, atribuído à Al-Qaeda. No mesmo dia, um atentado a bomba feriu onze policiais nas proximidades das embaixadas do Reino Unido e do Qatar. No dia 5 de maio, um francês que fazia a segurança de uma delegação da União Europeia foi executado no bairro diplomático de Hadda. No dia 21 de abril, dois oficiais iemenitas foram abatidos por comandos de motoqueiros.
Sucessos notáveis
Em 2013, mais de 70 militares foram assassinados, a maior parte em Sanaa, em circunstâncias similares. No início de fevereiro, dois britânicos foram sequestrados no centro da capital, e um alemão no subúrbio da cidade antiga. Hoje, oito estrangeiros ainda se encontram em cativeiro --o mais antigo, um diplomata saudita, desde 28 de março de 2012. Consequentemente, todas as missões diplomáticas ocidentais da capital foram colocadas em estado de alerta.
No entanto, no panorama pós-primavera árabe, o Iêmen podia reivindicar alguns sucessos. Durante dez meses, um amplo "diálogo nacional" reuniu em torno de uma mesma mesa os principais representantes dos partidos políticos e da sociedade civil para fincar os alicerces de uma nova governança, democrática e moderna. Mas certos caciques do antigo regime, sem querer perder suas regalias, são suspeitos de fomentar o caos através de bandos armados, com o intuito de implodir o governo de união nacional.
O exército iemenita, com o apoio de drones americanos, acumula sucessos notáveis contra a Al-Qaeda em seus redutos do sul e do leste do país. Mas longe de estar esgotado, o movimento terrorista adaptou sua tática à nova relação de forças. Foi-se o tempo da conquista territorial para estabelecer um emirado islâmico: a Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA) está apostando na guerrilha. O grupo ataca com audácia o que ele bem entende, como no dia 5 de dezembro de 2013, quando um comando atacou o hospital do Ministério da Defesa, em plena Sanaa, atingindo médicos, enfermeiros e pacientes. Saldo: 52 mortes.
Uma arma ao alcance
Agora, a equipe diplomática se refugia em loteamentos fortificados. Eles circulam em comboio, dentro de veículos blindados, com uma arma ao alcance e o olhos pregados no retrovisor. Antes de dar partida, os oficiais dos serviços de inteligência checam duas vezes embaixo de seus veículos. Já as personalidades políticas evitam ao máximo sair de casa. A deterioração da segurança em Sanaa vem desde 2011, o ano da revolução. "Durante a rebelião dos jovens, as autoridades privilegiaram somente os assuntos políticos", lamenta Abdel Ghani Ali al-Waji, ex-chefe da polícia. "Grupos terroristas e criminosos não tiveram dificuldade nenhuma para se estabelecer nas grandes cidades. Mas todo mundo deveria trabalhar para fazer de Sanaa uma cidade sem armas."
É um diagnóstico compartilhado pelos especialistas do Safer Yemen. Fundada em 2012, essa agência de segurança privada acaba de redigir um relatório muito detalhado sobre os sequestros de estrangeiros no Iêmen desde 2010. "Desde 1997 não se viam tantos sequestros como agora. Até o início da revolução, eles eram sobretudo de natureza tribal, para obter um resgate ou exigir a libertação de um parente. As motivações agora são claramente políticas", acredita Nabil al-Shafari, chefe de operações dessa empresa. "Alguns membros da elite iemenita infelizmente estão envolvidos nessa praga. Eles primeiro selecionam suas vítimas, de acordo com sua nacionalidade ou emprego, depois pagam grupos criminosos para sequestrá-las e transferi-las para a Al-Qaeda. Esses sequestros, sem motivações religiosas extremistas, servem como meios de pressão e de intimidação."
Ao volante de seu carro, Abdel Ghani Ali al-Waji prossegue seu itinerário noturno em uma capital sob tensão. No bairro de Museik, nas proximidades da embaixada dos Estados Unidos, ele para seu veículo. "Olha!" O ex-chefe da polícia aponta para um grupo de jovens de cabelo comprido e de uniforme de combate, "como se vê muito em Abya, um dos redutos da Al-Qaeda. O grupo recruta sem dificuldades nesse bairro tão pobre, abandonado pelo Estado e sem qualquer presença policial. A maioria dos suicidas dos últimos atentados vieram daqui."
Os melhores inimigos do mundo
Mais ao norte, no bairro de Guraf, o policial avisa: "Se uma guerra sectária estourar, será aqui". "Aqui" coabitam salafistas e houthis. Estes últimos, rebeldes xiitas em conflito com o governo central há anos, deixaram sua província de Saada, na fronteira saudita, para ganhar terreno até as portas da capital. Eles são suspeitos de deterem um verdadeiro arsenal. Ao final de violentíssimos combates, e de um cerco de cem dias, eles expulsaram os salafistas de seu centro de treinamento em Dammaj, ao norte do Iêmen. Sem tensão aparente, até o momento, os melhores inimigos do mundo ocupam um mesmo bairro, cada um deles justificando o uso de armas em nome da "tradição iemenita".
Apesar de tudo, Abdel Ghani Ali al-Waji se diz otimista. "Se ele puder agir livremente, talvez o novo ministro do Interior consiga melhorar a situação". Assim que assumiu o cargo no dia 7 de março, o ministro Abdou Hussein al-Tarb passou a fazer patrulhas incógnito na capital para surpreender policiais dormindo.
Dizem os rumores que ele desarmou um perigoso motoqueiro e que ele mesmo faz o recrutamento dos oficiais. Exatas, exageradas ou excêntricas, as façanhas midiatizadas do novo ministro já rodaram o país. Agora a população espera por resultados.
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