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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Rússia fornecerá mais 10 MiG-29M/M2 à Síria

A Rússia fornecerá mais 10 caças MiG-29M/M2 à Síria em virtude de um contrato entre Moscou e Damasco, anunciou hoje o diretor-geral da Mikoyan, Sergei Korotkov.

"A delegação síria está esses dias em Moscou, se concentrado nos detalhes do contrato", revelou Korotkov, citado pela agência de notícias russas Interfax.

Antes da Guerra Civil Síria, a Al Quwwat al-Jawwiyah al Arabiya as-Souriya (Força Aérea Síria) dispunha de 22 MiG-29M/M2.

Político linha-dura anti-Ocidente avança na disputa eleitoral do Irã

Saeed Jalili
Na sexta-feira, em seu primeiro comício de campanha, o candidato à presidência do Irã, Saeed Jalili, recebia os aplausos de milhares de jovens enquanto se arrastava até o palco. Seus movimentos são dificultados por uma perna mecânica, uma espécie de medalha de honra recebida durante seus dias como jovem membro da Guarda Revolucionária na grande guerra de trincheira travada entre o Irã o Iraque.

"Bem-vindo, Jalili, nosso mártir vivo", gritou a plateia em uníssono, formada, em sua maioria, por rapazes jovens demais para terem testemunhado o sangrento conflito, mas profundamente mergulhados na veneração nacional aos seus veteranos de guerra. Agitando bandeiras da "resistência" – a cooperação militar entre o Irã, a Síria, o grupo xiita libanês Hezbollah e alguns grupos palestinos –, a multidão gritava o slogan eleitoral do candidato: "Sem concessões. Sem submissão. Apenas Jalili".

Jalili, conhecido como o inflexível negociador do programa nuclear do Irã e protegido do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, está despontando como o suposto favorito na eleição presidencial do Irã, que se realizará no próximo dia 14 de junho – uma perspectiva inquietante para as relações futuras com o Ocidente. Jalili, 47, que segundo muitos analistas vem sendo preparado há muito tempo para assumir uma alta posição na hierarquia de poder do Irã, é de longe o linha-dura mais assumido entre os oito candidatos aprovados para participar do pleito.

Opondo-se "100% ao relaxamento das hostilidades na relação do Irã com o Ocidente" e prometendo não fazer "nenhuma" concessão ao Ocidente em relação a questões como o programa nuclear do Irã e o envolvimento na Síria, Jalili parece decidido a ampliar ainda mais impasse entre o Irã e os Estados Unidos e seus aliados caso seja eleito presidente.

"Ele parece ser Ahmadinejad, parte 2", disse Rasool Nafisi, especialista em Irã lotado no estado norte-americano da Virgínia, referindo-se ao atual presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. "Ele provavelmente não seria um parceiro para a negociação de questões nucleares, como vimos antes, quando ele estava liderando as delegações".

Um analista que vive no Irã, mas que pediu não ser identificado por medo de represálias, disse que Jalili é "o discípulo perfeito de Khamenei".

"Se ele for eleito, eu prevejo ainda mais isolamento e conflito, pois ele não se preocupa com as relações exteriores, a economia nem com coisa nenhuma", disse o analista.

Nas últimas semanas, Jalili tem atraído o apoio declarado do governo do Irã, formado por uma coalizão de clérigos conservadores e por comandantes da Guarda Revolucionária, conhecidos como tradicionalistas. Altos clérigos muçulmanos xiitas começaram a dar declarações favoráveis a Jalili, e uma rede nacional de paramilitares voluntários, a Basij, está atualmente ajudando na organização da campanha eleitoral do candidato.

Também nas últimas semanas Jalili tem sido descrito de maneira mais elogiosa pela agência de notícias semioficial Fars, que é ligada à Guarda Revolucionária, e por dezenas de sites e outros meios de comunicação. Em comparação, atualmente os outros candidatos têm tido algumas de suas apresentações de campanha canceladas por razões obscuras e, frequentemente, eles são submetidos a ataques violentos durante entrevistas concedidas à TV estatal iraniana, enquanto Jalili é saudado por perguntas bem camaradas.

"Ele vai obter facilmente 30% dos votos", disse Amir Mohebbian, analista próximo dos líderes iranianos, que ressalta a influência dos grupos bem organizados que apoiam Jalili. "O restante dos votos será dividido entre os outros candidatos".

Isso levaria a um segundo turno, durante o qual o governo se empenharia fortemente para favorecer Jalili e fazê-lo a vencer, uma vez que, sob a lei iraniana, o presidente deve receber pelo menos a metade dos votos.

As eleições presidenciais do Irã, na ausência de pesquisas de opinião independentes e não submetidas à manipulação, são notoriamente imprevisíveis. Em 2005, Ahmadinejad saiu do nada e venceu o pleito. Em 2009, milhões de pessoas saíram às ruas para protestar contra o que elas afirmavam ter sido uma fraude generalizada na eleição que levou Ahmadinejad de volta à presidência, em detrimento do candidato da oposição, Mir Hussein Moussavi, cuja popularidade era maior.

Mas as principais ameaças à candidatura de Jalili aparentemente foram eliminadas quando os representantes das duas facções políticas influentes no país, uma liderada por Ahmadinejad e a outra, pelo ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, tiveram suas candidaturas impugnadas pelo Conselho Guardião, dominado pelos conservadores. Essa decisão ressaltou não apenas a determinação dos tradicionalistas para se consolidarem no poder, como também sua capacidade de garantir o resultado.

Em um artigo de opinião publicado recentemente, Mohebbian disse que, embora a relativa inexperiência em política interna de Jalili o faça parecer um outsider, o apoio do governo do Irã a sua candidatura possibilitou que "as atuais condições criem uma atmosfera que colocará Jalili em uma posição de liderança".

Embora o aiatolá Khamenei seja oficialmente neutro, os discursos e pontos de vista de Jalili se assemelham à visão de mundo de seu líder, que pintam um Irã engajado em uma batalha multifacetada contra o Ocidente.

"O melhor presidente", disse Khamenei na segunda-feira passada, falando a estudantes em uma academia militar, "é aquele que resiste tenazmente ao inimigo e que transformará a república islâmica em um exemplo internacional para os povos oprimidos do mundo".

Jalili, que ostenta uma barba grisalha e prefere camisas sem colarinho, liderou o gabinete do Ayatollah Khamenei durante quatro anos, a partir de 2001, antes de surgir, nos últimos anos, como o principal negociador do programa nuclear do país. Mas pouco se sabe sobre seus pontos de vista relacionados a outras questões.

"Jalili é como uma melancia", disse Mohammad Khoshchehreh, economista e professor da Universidade de Teerã. "Ele parece maduro por fora, mas eu não sei de que cor ele é por dentro".

Em parte devido às sanções ocidentais, a economia do Irã tem sofrido com a alta inflação e o enfraquecimento de sua moeda – mas, durante a campanha, Jalili abordou esses problemas de forma apenas indireta. Durante uma entrevista de TV, transmitida no domingo passado, ele disse que o Irã deveria reduzir sua dependência das receitas geradas pelo petróleo e estabelecer uma "economia de resistência, a fim de frustrar as conspirações contra o Irã".

Esse tipo de argumento deixou os economistas perplexos. "A teoria de Jalili sobre uma economia resistência não significa nada", disse Khoshchehreh. "Se ela se basear numa maior atenção aos nossos pontos fracos, isso pode ser bom, mas nós não temos ideia se ele tem um conhecimento profundo (sobre economia). Nós estamos preocupados com ele".

Na sexta-feira passada, durante o evento de campanha em Teerã, Jalili optou por explicar suas políticas utilizando citações do primeiro imã dos xiitas, o mártir Ali.

"Por toda a região, podemos ouvir o nosso grito de guerra, 'Ya Ali'", disse Jalili, que escreveu uma dissertação sobre a política externa do profeta Maomé. "Nós ouvimos nosso grito de guerra no Líbano, com a vitória do Hezbollah. Nós o ouvimos em nossa resistência contra o regime sionista. Nós conseguimos provar repetidas vezes a nossa força por meio desse slogan".

Enquanto ouviam-se canções saudando as batalhas travadas na cidade fronteiriça de Shalamcheh durante a guerra Irã-Iraque, homens davam socos no ar e gritavam: "O sangue em nossas veias pertence ao nosso líder".

O objetivo do Irã e seus aliados, disse Jalili, é "erradicar o capitalismo, o sionismo e o comunismo, e promover o discurso do Islã puro pelo mundo".

Ele não mencionou diretamente as sanções ocidentais que foram impostas devido ao programa nuclear do país – que o Irã insiste destinar-se a fins pacíficos, mas que, para o Ocidente, é um disfarce para o desenvolvimento de armas nucleares – nem a possibilidade de que as sanções sejam ampliadas em resposta à intransigência de Teerã. Ele também não falou sobre a possibilidade de um maior envolvimento na guerra civil da Síria, onde o Hezbollah, que atua como um enviado de Teerã, recentemente interveio para apoiar o governo sírio.

Se os aliados de Jalili nutrem algum tipo de preocupação sobre o que essas políticas podem significar para a economia iraniana, eles a guardaram para si. "Estamos lutando uma guerra ideológica – ninguém se importa com a economia", disse Amir Qoroqchi, 25, um sorridente estudante de engenharia elétrica da cidade sagrada de Qum. "A única coisa que importa é a resistência".

Durante décadas, os presidentes iranianos estabeleceram um centro de poder alternativo, que frequentemente entrava em conflito com o poder do líder supremo do país e dos membros mais conservadores do governo. Com a ascensão de Jalili e a aparente eliminação dos mais fortes candidatos presidenciais da oposição, aqueles que ficarem do lado perdedor do espectro político iraniano temem pelo surgimento de um desequilíbrio de forças.

As facções republicanas e religiosas autoritárias do governo do Irã "estão e sempre estiveram em conflito dentro do governo", disse Nafisi, especialista em questões relacionadas ao Irã.

Fugindo da Síria, palestinos encontram superlotação no Líbano

Palestinos do campo de refugiado de Ain al-Hilweh
Com a guerra civil na Síria cada vez mais invadindo Damasco e seus arredores nos últimos seis meses, dezenas de milhares de refugiados palestinos que viviam na capital e arredores viram novamente suas raízes serem arrancadas por um conflito.

Segundo a ONU, mais de 56 mil palestinos vivendo na Síria, a maioria na região de Damasco, fugiram para o vizinho Líbano, juntando-se aos quase meio milhão de refugiados sírios, assim como a já estabelecida comunidade de refugiados palestinos, cuja estimativa é de que tenha entre 260 mil e 400 mil pessoas.

Já superlotado, o lamentável campo de refugiados palestinos de Burj al-Barajneh, no sul de Beirute, está recebendo parte do afluxo. Criado em 1948 para abrigar a onda inicial de palestinos deslocados pela criação do Estado de Israel, o campo agora é lar de dezenas de milhares espremidos em uma favela medindo cerca de um quilômetro quadrado.

Ao longo da rua principal do campo, uma das poucas com largura suficiente para a passagem de carros, guardas armados permanecem ociosos diante dos prédios das facções. De lá, um labirinto sinuoso de ruas estreitas leva ao coração do campo. Poças de esgoto produzem lama sob os pés, e um emaranhado de fios elétricos no alto está tão baixo que os pedestres precisam se abaixar para se desviarem deles.

Durante a brutal guerra civil do Líbano, de 1975 a 1990, os campos de refugiados de Beirute às vezes se tornavam grandes campos de batalha. Muitas das edificações de Burj al-Barajneh ainda exibem marcas de balas e peças de artilharia.

Sem espaço para expandir o campo com o crescimento de sua população, pisos construídos precariamente foram adicionados sobre outras edificações, mantendo algumas ruas envoltas permanentemente em sombras.

Uma mensagem forte, "2013 é o ano da morte", está pichada em um muro à beira do campo.

"O único espaço aberto que temos no campo é onde enterramos nossos mortos", disse Ahmed Mustafa, um representante de um conselho de facções palestinas que administra os campos no Líbano.

"A situação nos campos é de superlotação", disse Ann Dismorr, a alta representante no Líbano da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), responsável por lidar com os assuntos dos refugiados palestinos por todo o Oriente Médio. "Já era antes, mas agora a população total de refugiados palestinos aumentou 20% em poucos meses."

"No início, nós tínhamos palestinos da Síria retornando quando viam as condições nos campos", disse Dismorr, em uma entrevista neste mês.

Mas com a intensificação dos combates entre os rebeldes sírios e as forças do governo em Damasco, os palestinos se viram pegos no meio.

"Nós estamos sendo torturados por ambos os lados", disse Mahmoud Hamide, um refugiado de 39 anos de Yarmouk, o maior campo de refugiados palestinos na Síria, a vários quilômetros ao sul do centro de Damasco.

Certa noite em dezembro, disse Hamide, sua esposa, Leenda Habbash, 35 anos, estava lavando a louça na pequena residência deles, um apartamento construído de blocos de concreto no alto de um prédio. Unidades do Exército Livre da Síria assumiram posições dentro do campo e as forças do governo estavam bombardeando a área. "Nós não conseguíamos dormir na época, devido aos combates pesados e bombardeios", ele disse.

Por volta das 23h, um projétil de artilharia atravessou o telhado do apartamento, explodindo no quarto onde o filho deles de 9 meses, Ahmed, dormia. A parede ao lado do bebê ruiu e o matou. Hamide e sua esposa ficaram feridos.

"Minha esposa estava no hospital e ficava perguntando sobre o bebê", disse Hamide. "Eu ficava dizendo para ela que o bebê estava bem e que nada tinha acontecido."

Quando a esposa de Hamide descobriu o que aconteceu ao filho, ela ficou devastada. Do hospital, eles fugiram para um vilarejo que ainda não tinha sido atingido pela violência e depois cruzaram a fronteira para o Líbano. Agora eles vivem com outras oito pessoas em um cômodo lotado e mofado em Burj al-Barajneh.

Estilhaços do projétil que matou seu filho cortaram a mão direita de Hamide, danificando os nervos. Como muitos homens no campo, ele tenta ganhar a vida como trabalhador braçal, mas o trabalho é escasso e o ferimento atrapalha.

A vida da família agora é muito diferente daquela que tinha antes.

"O campo Yarmouk na Síria costumava ser como a rua Hamra no Líbano", disse Habbash, referindo-se a uma das principais ruas de Beirute, conhecida por suas lojas e cafés. "Era uma cidade, não um campo."

"Mas o que se pode fazer? Esse é nosso destino e essa é nossa sorte."

Outros repetem esses sentimentos: "Dentre os palestinos que vivem em campos em outros países árabes, nós éramos os mais felizes", disse Majida al Mahmoud Husseini, outro refugiado de Yarmouk. "Nós tínhamos uma vida extremamente boa antes da guerra."

Poucos palestinos no Líbano falam positivamente das condições aqui. As relações entre os libaneses e os refugiados palestinos sempre foram desconfortáveis, na melhor das hipóteses. Milícias palestinas tiveram um grande papel na guerra civil do país, uma participação que levou muitos libaneses a verem a comunidade com desprezo.

Os direitos legais dos palestinos são seriamente restringidos no Líbano. Eles são impedidos de exercer a maioria das profissões e não podem ter propriedade de terras. Há um amplo temor entre muitos libaneses de que a concessão de maiores direitos aos palestinos poderia servir como um passo para a naturalização, que poderia perturbar o sistema político sectário precariamente equilibrado.

A situação desvantajosa dos palestinos no Líbano manteve um grande número deles preso na miséria.

Os campos de refugiados palestinos no Líbano também são, há muito tempo, um campo de batalha de grupos domésticos e estrangeiros que buscam exercer influência. Em uma curta caminhada por muitos campos é possível ver cartazes do movimento militante muçulmano xiita Hezbollah; grupos jihadistas palestinos como a Brigada dos Mártires de Al Aqsa; antigos partidos comunistas; o presidente Bashar al-Assad, da Síria; Saad Hariri, o ex-primeiro-ministro do Líbano; e muitos outros. Em alguns campos há ondas regulares de violência entre o número vertiginoso de facções que operam dentro deles. Sem muito o que fazer, os jovens acabam ingressando nas milícias.

A vida ruim no campo significa que muitos palestinos que vieram da Síria voltarão assim que a guerra terminar, disse Dismorr.

"Nós acreditamos que eles retornarão quando a crise acabar –eles têm um conjunto muito diferente de direitos e padrões de vida na Síria", ela disse.

Mas por ora, o número de refugiados está crescendo e a ajuda humanitária é a prioridade.

Fora da proteção do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, os palestinos que chegam da Síria contam com ajuda de organizações não governamentais, da UNRWA e de facções locais. Há muito prejudicada por escassez de recursos, a UNRWA fornece pequenos pagamentos em dinheiro aos refugiados para aluguel e despesas, mas a organização só consegue oferecer esses pagamentos em intervalos de vários meses.

Enquanto a guerra síria incha as fileiras de deslocados no Oriente Médio, Dismorr pede para que os palestinos pegos no conflito não sejam esquecidos.

"Nós não podemos permitir que os palestinos sejam novamente marginalizados e caiam nas sombras", ela disse.

Nas escolas da Tailândia, vestígios do regime militar

Deixe de lado por um instante a imagem da Tailândia que os turistas costumam ver, um país descontraído, amistoso, com uma vida noturna libidinosa.

Os estudantes tailandeses têm uma impressão totalmente diferente. Nas escolas do país, com um sistema regimental que é o sonho de qualquer sargento, enraizado nas ditaduras militares do passado, predominam a disciplina e a obediência forçada.

Em uma escola pública neste subúrbio industrial de Bancoc, professores usam varas de bambu e repreendem os alunos por usarem cabelo comprido, ordenando que seja cortado no ato. Os estudantes são inspecionados por unhas sujas, meias coloridas ou qualquer outra violação do código de vestimenta escolar.

"Em um nível básico, todos os alunos deveriam ter a mesma aparência", disse Arun Wanpen, o vice-diretor, que presidiu a cerimônia matinal em um dia recente. Um mar de estudantes uniformizados com cabelos pretos curtos (não é permitido tingir o cabelo) cantou o hino nacional, recitou uma oração budista e repetiu a promessa de sacrificar sua vida pelo país, amar o rei e "não causar problemas".

Mas, ao mesmo tempo que o legado do regime militar se dissolve, alguns estudantes se erguem e desafiam com certo sucesso um sistema que dá ênfase à obediência inquestionável. Eles têm um aliado receptivo em um governo que busca reduzir o papel dos militares na vida cívica e propõe mudanças abrangentes no sistema educacional.

No final do ano passado, um aluno do segundo grau, Nethiwit Chotpatpaisan, que responde pelo apelido de Frank, começou uma campanha no Facebook pedindo a abolição do sistema educacional "mecanicista". Juntamente com amigos de mentalidade liberal, ele iniciou um grupo chamado Aliança pela Revolução Educacional na Tailândia. Ele conquistou proeminência nacional em janeiro, depois de se manifestar em um programa de televisão no horário nobre.

"A escola é como uma fábrica que produz pessoas idênticas", disse em uma manhã recente em sua escola, a Nawaminthrachinuthit Triam Udomsuksa Pattanakarn, a mesma onde Arun é o vice-diretor.

Frank descreveu os professores como "ditadores" que ordenam que os alunos "prestem reverência sempre" e nunca os questionem.

A mensagem do grupo ecoou, em parte porque ele encontrou uma certa causa comum com o ministro da Educação do país, Phongthep Thepkanjana, que estudou nos EUA. Ele prometeu permitir que os escolares tailandeses deixem o cabelo crescer e propôs uma série de mudanças educacionais para reduzir, segundo disse, a ênfase para a memorização no ensino e promover o pensamento crítico.

"Não queremos todos os alunos em um protótipo, especialmente um protótipo que os faz cumprir ordens", afirmou em uma entrevista. "Não queremos que eles fotocopiem o conhecimento em seus cérebros. Queremos que sejam indivíduos que raciocinam."

Ele propôs menos tarefas de casa e menos horas na sala de aula, e um currículo que se concentre nos fundamentos da língua, em matemática e ciência. Na era da Wikipedia, disse, não tem sentido decorar os nomes e a extensão de rios obscuros da África, como ele teve de fazer quando era estudante.

Um ex-juiz que estudou advocacia na Universidade George Washington, Phongthep disse que encorajar os alunos a formar opiniões e discutir seria bom para a democracia, em um país que teve diversos tropeços em sua jornada de oito décadas para sair da monarquia absolutista.

"Se os estudantes não puderem manifestar suas opiniões na classe, como poderão exercer a liberdade de expressão na sociedade?", perguntou.

No início deste ano, ele anunciou que relaxaria a regra sobre o comprimento dos cabelos, o que encerra um grande simbolismo, já que foi imposta pelo governo militar em 1972. A regra exige que as meninas cortem o cabelo logo abaixo das orelhas e que os meninos raspem os lados da cabeça, como cadetes. As novas regras ainda dependem de aprovação pelo gabinete de governo.

"Queremos que os alunos sejam pessoas racionais", disse o ministro. "Como podemos forçá-los a fazer algo sem um motivo adequado?"

As mudanças propostas vão ao cerne do funcionamento das escolas na Tailândia. Estudar por muito tempo e sem distração é considerado um dos principais ingredientes do milagre econômico asiático, modelo que a Tailândia, que pretende galgar a escada do clube dos países mais ricos da Ásia, tenta imitar.

Mas Phongthep disse que os estudantes estão sendo sufocados por esse modelo, e os boletins escolares mostram espaço para melhora. As notas nos exames nacionais têm caído, e os estudantes tailandeses em geral se classificam em 52º lugar em matemática no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, um parâmetro global, ficando abaixo da média dos países mais desenvolvidos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (os estudantes de Xangai e Singapura se classificaram em primeiro e segundo lugares na última avaliação publicada, em 2009).

Os defensores das mudanças dizem que o atual currículo, cheio de matérias para decorar, não dá tempo para que os estudantes tailandeses pensem por si mesmos.

"Venho dizendo há muito tempo que, quanto mais você estuda, mais burro fica", disse Sompong Jitradub, uma autoridade do sistema educacional que participa do comitê de revisão do currículo. "Tudo o que eles fazem é decorar. Nunca pensam de modo crítico. Nunca trocam opiniões."

Ele disse que a principal resistência à mudança vem dos funcionários públicos, para os quais revisar o currículo seria uma tarefa gigantesca. Depois disso, um novo currículo enfrentaria uma série de audiências públicas para que fosse aprovado.

No caso do código de vestimenta, já há sinais de que os administradores poderão reclamar. Arun, o vice-diretor e um disciplinador rígido, está considerando infringir as novas regras se elas forem brandas demais. Ele e outros dizem que manter a disciplina é essencial para combater os males sociais que convulsionam os jovens na Tailândia - drogas, a gravidez de adolescentes e brigas de gangues.

"O governo tem políticas, mas nós somos os aplicadores", disse ele em uma entrevista em seu escritório. "Se o governo lançar novas políticas, vamos examiná-las e decidir quais são adequadas para nós."

Ele resumiu a disciplina desta maneira: "Os militares precisam de armas; os professores precisam de varas. Às vezes você precisa bater neles um pouco, mas só no traseiro".

Os maiores torcedores pela mudança parecem ser os próprios estudantes.

"Os estudantes não estão se enriquecendo", disse Jirapat Horesaengchai, 16, membro da Aliança pela Revolução Educacional na Tailândia. "Eles esperam que a informação seja oferecida."

O grupo consiste em estudantes precoces que gostam de discutir. Um deles percorre sites científicos na Internet em busca de comentários que questionem a teoria da evolução, e os ridiculariza como anticientíficos. Outro membro invadiu o site do Ministério da educação, depois confessou e foi contratado pelo ministério para reforçar a segurança da rede.

Nutcha Piboonwatthana, 16, uma das poucas meninas do grupo, disse que tem uma dupla missão: pressionar por mudanças no sistema e fazer que as meninas tailandesas, que são treinadas desde cedo a obedecer, sejam mais aventureiras.

"As meninas pensam dentro de uma caixa", disse ela em voz baixa, com o cabelo preso por uma fita azul. "Elas são muito boas nos estudos. Eu só quero que as meninas percebam que existe um mundo fora da escola."

O estigma carcerário de Israel

O Estado admite que a lei tem um impacto negativo sobre a liberdade dos imigrantes africanos ilegais, mas acredita que seja por "uma boa causa". Ademais, essa emenda para a legislação de 1954 sobre a "prevenção da infiltração" está conforme "os valores do Estado de Israel como Estado judaico e democrático". Em uma palavra, ele é constitucional e "razoável". A "razão" é o fato de que o país não conseguia mais suportar o fato de estar se tornando um "polo de atração" para os milhares de africanos, homens, mulheres e crianças, que chegavam a cada mês do Sinai.

A resposta, introduzida em 2012 através dessa emenda, foi amontoá-los no centro de detenção de Saharonim, situado a 3 quilômetros da fronteira egípcia,  perto de Nitzana, na fornalha do deserto de Neguev. Durante um "período ilimitado", mas que não seria menor que... três anos. Sem julgamento. A menos, é claro, que eles aceitassem voltar para o lugar de onde vieram. Passado esse tempo, sua soltura poderia ser "considerada" por um juiz. É uma lei que as associações humanitárias consideram perversa, mas ela tem sua lógica: a ideia é dissuadir, através desse tratamento punitivo, outros candidatos atraídos pelo eldorado econômico que o Estado judaico representa para eles.

A legislação israelense é como um monstro frio: ela não quer ouvir falar em "refugiados" e não saberia distinguir entre os africanos que são originários de países onde correm o risco de perseguições, como a Eritreia e o Sudão, e os outros. É claro, os cerca de 2.400 prisioneiros de Saharonim podem fazer um pedido de asilo em Israel, mas o fato é que nenhuma requisição foi aceita desde que a prisão abriu suas portas em julho de 2007.

O Ministério Público, ao aconselhar em meados de março que o Supremo Tribunal negasse o recurso apresentado por diferentes organizações de defesa dos direitos humanos contra essa emenda nefasta, enfatizou a necessidade de se preservar a soberania do Estado judaico. Para isso, o governo israelense tem feito todo o possível. Saharonim é um exemplo disso, não o único: restam somente poucos quilômetros de obras para concluir a barreira metálica de cinco metros de altura, com arame farpado, que corre sobre os 240 quilômetros da fronteira com o Egito.

Amostras de DNA
E isso funciona: a imigração ilegal desapareceu quase que totalmente. A consequência é que milhares de migrantes africanos permanecem presos no Sinai, zona sem lei onde as tribos beduínas atacam muitos deles, fechados em verdadeiros campos de tortura, abusos e estupros, às vezes durante meses, para obter um resgate. Duzentos e cinquenta desses sobreviventes foram parar em Saharonim. A mobilização das associações humanitárias, que condenam essa confusão carcerária entre solicitantes de asilo e criminosos, não foi em vão: no dia 6 de maio, nove eritreus e seus dez filhos, com idades entre 18 meses e 7 anos, foram libertados depois de terem sido detidos por até um ano.

Foi a organização de defesa dos direitos humanos Hotline for Migrant Workers, cuja corajosa representante é Sigal Rozen, que conduziu essa luta vitoriosa contra a Justiça israelense: esta acabou reconhecendo que o fato de ser menor de idade pode constituir "uma razão humanitária especial" que justifica deixar o universo carcerário de Saharonim, onde permanecem presas cerca de 15 crianças com menos de 10 anos e cerca de 150 mulheres. Não se sabe o número das demais --crianças e adolescentes de 10 a 18 anos.

Seria possível acreditar que, com a nova impermeabilidade da fronteira egípcia, Saharonim não teria mais razão de existir. Ledo engano: entre os 55 mil africanos ilegais que vivem em Israel, várias centenas deles foram presos nos últimos anos por serem considerados "infiltrados que colocam em risco a segurança nacional". Em abril, a Knesset aprovou em primeira leitura uma lei que lhes proíbe transferir dinheiro para o exterior, que evidentemente seria destinado a suas famílias.

Em maio, descobriu-se que a polícia israelense havia reunido cerca de mil amostras de DNA de imigrantes africanos que entraram ilegalmente em Israel desde o início de 2012. Nada de grave: somente decorrências da política de dissuasão contra imigrantes clandestinos. É por isso que Saharonim, o estigma carcerário de Israel, está longe de fechar suas portas.

A administração Obama intimida a imprensa

O desencanto foi consumado entre a imprensa e o presidente americano. Em 2008, e em menor medida em 2012, a mídia enfatizava sobretudo o candidato "cool" que era Barack Obama. Hoje, seu governo é apresentado como adepto do segredo e da intimidação, perseguindo os autores de vazamentos com aquilo que Leonard Downie, o vice-presidente do "Washington Post", chama de "vigor sem precedentes desde a administração Nixon".

George W. Bush não era particularmente carinhoso com a imprensa, que lhe era recíproca. Mas, para os jornalistas, a surpresa foi ver que a administração Obama havia "continuado e até mesmo acentuado a repressão aos vazamentos", disse ao "New York Times" a repórter da "New Yorker" Jane Mayer, que revelou ao público os memorandos do departamento de Justiça que autorizavam o uso de tortura em 2002.

Associated Press monitorada
O auge da discórdia foi quando a agência Associated Press revelou, no dia 13 de maio, que o Ministério da Justiça havia obtido, um ano antes, as contas de 20 de suas linhas telefônicas (entre elas a central e a linha da sala de imprensa do Congresso). O FBI estava tentando localizar a origem de uma informação publicada no dia 7 de maio de 2012 pela agência sobre uma tentativa –frustrada-- de atentado contra um avião americano no Iêmen.

Antes da publicação, a AP havia consultado oficiais da administração, como geralmente faz a imprensa americana sobre os assuntos que envolvem a segurança nacional, e esperou por cinco dias pela autorização. Portanto, foi com grande surpresa que a direção da agência descobriu, através de uma carta datada de 10 de maio, que suas linhas telefônicas tinham sido alvo de um monitoramento secreto durante dois meses. Milhares de números de telefone foram apreendidos.

Uma semana mais tarde, o "Washington Post" revelou que um jornalista da Fox News, James Rosen, também havia sido alvo de um monitoramento sem precedentes em 2010 por ter publicado informações sigilosas sobre a preparação de um teste nuclear norte-coreano. Pela primeira vez, um jornalista foi processado como "coautor" de um vazamento e foi alvo de processos criminais. O FBI havia obtido do departamento de Estado o detalhamento de suas entradas e saídas do prédio e entrou em sua conta particular do Gmail. Mas eles são proibidos de vasculhar os documentos de jornalistas, a menos que sejam acusados de algum crime.

"Criminalização do jornalismo"
Os defensores da Primeira Emenda, que protege a liberdade de imprensa, condenaram essa "criminalização do jornalismo". Cinquenta e dois veículos de imprensa encaminharam um protesto ao ministro da Justiça, Eric Holder. Para David Brooks, do "New York Times", o Ministério da Justiça ficou "completamente maluco". A tecnologia agora facilita o rastreamento das fontes, ele ressalta. "É grande a tentação de olhar os e-mails dos repórteres. Será necessária uma autodisciplina", explica Brooks. Especialistas em investigação lamentaram o efeito dissuasivo dessas apurações. Suas fontes não se manifestam mais, ainda mais porque as autoridades se recusaram a revelar quem ainda está sendo monitorado.

O próprio Barack Obama percebeu que não podia ficar por muito tempo contra a imprensa, uma vez que sua administração é criticada por várias outras controvérsias. Em seu discurso sobre a segurança nacional, no dia 23 de maio, ele se declarou "perturbado" com as repercussões dessas investigações sobre a missão da informação. "Os jornalistas não deveriam correr riscos judiciários só por estarem fazendo seu trabalho", ele disse. "Devemos nos concentrar naqueles que infringem a lei."

O presidente pediu a Holder que consultasse os órgãos de imprensa e que lhe fizesse um relatório antes do dia 12 de julho, sem se preocupar com o fato de que foi o próprio ministro que assinou a autorização para monitorar o repórter da Fox News. No caso da AP, Eric Holder afirmou ter negado, sendo que ele mesmo questionou a origem do vazamento, mas ele não o fez por escrito --uma leviandade espantosa, que os republicanos pretendem investigar. Holder, cuja cabeça já vem sendo pedida pelos republicanos há anos, é o primeiro procurador-geral afroamericano. Ele faz parte do círculo mais próximo de Barack Obama.

"Marca Obama sofre um baque"
"A marca Obama sofre um baque", disse Carl Bernstein, ex-colega de Bob Woodward no caso Watergate. E o caso faz parte de um contexto cada vez mais conflituoso entre a imprensa e a administração. A mídia tradicional se queixa de estar sendo evitada pela Casa Branca, que privilegia as redes sociais e tem criado cada vez mais seu próprio conteúdo, sob forma de fotos e vídeos.

Barack Obama é o presidente que menos realizou coletivas de imprensa desde Ronald Reagan (79 durante seu primeiro mandato, contra 89 de George W. Bush e 133 de Bill Clinton). No lugar desse exercício sempre arriscado, ele prefere as entrevistas individuais a canais de TV, se possível regionais. "A ironia com Obama é que ele maltrata a imprensa, mas esta não contra-ataca", observa Tobe Berkovitz, professor de comunicação na Boston University. "É quase uma relação abusiva."

Mas os casos de escutas poderão mudar a situação. "O presidente deve entender que o comportamento comumente chamado de 'jornalismo' não pode ser confundido com 'espionagem'", repreende o cronista do "Washington Post", Eugene Robinson, que, no entanto, está entre os mais fiéis defensores de Barack Obama.

Bashar Al-Assad é entrevistado pelo canal Al-Manar e afirma que seu país já dispõe de baterias anti-aéreas S-300

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Rússia testa sistema para interferir nos radares e UAVs inimigos

A Rússia testou um novo sistema de guerra eletrônica destinado a interferir nos radares e nos aviões não-tripulados (UAV), comunicou hoje o jornal russo Izvestia.

Os testes foram realizados com o avião An-22, equipados com instrumentos de interferência que detectaram a atividade de aviões radares AWACS, sistema de mísseis anti-aéreos Patriot e postos de comando e controle de UAVs da OTAN.

Depois de detectar a atividade, o sistema envia interferências em direção a frequência determinada sem aferar o funcionamento dos próprios equipamentos de comunicação e observação.

A fonte revelou que o An-22 foi escolhido unicamente por falta de outros aviões com características requeridas. No entanto, o avião será submetido a testes estatais para ser incorporados à Força Aérea Russa.

Os militares russos deverão receber um total de seis aeronaves de interferência.

Rússia desenvolverá um novo tanque capaz de resistir a radiação nuclear

Acima o Object 279, projeto de tanque super-pesado russo; Esse tanque seria capaz de suportar a onda de choque gerado por uma explosão nuclear
O Ministério da Defesa da Rússia projetará em breve um "veículo de alta proteção" destinado a evacuação de zonas afetadas por ataques ou catástrofes nucleares, informa o jornal russo Izvestia.

O veículo será desenvolvido às bases do tanque Ladoga que foi utilizado para essa finalidade desde a época soviética e necessita ser atualizado com os últimos avanços tecnológicos.

O tanque, destinado para evacuação do ministro da Defesa e outros funcionários, poderá prover a segurança da radiação nuclear, mas também de ataques de artilharia e explosões de minas.

A tripulação e os passageiros poderão ficar no tanque por cerca de 36 horas em zonas de alta contaminação radioativa sem a necessidade de sair do mesmo. O blindado inclusive contará com um banheiro.

Algumas câmeras proporcionarão uma vista de 360º, enquanto os mais modernos sistema de comunicação permitirão o contato com os dirigentes do país.

Atualmente, o Ministério da Defesa da Rússia dispõe de vários veículos Ladoga, construídos a partir do tanque T-80, inclusive um exemplar foi usado com sucesso à época do desastre nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. Foi único veículo que pode se aproximar do reator danificado sem que a tripulação resultasse afetada pela radiação.

Nova versão do MBT Zolfaqar será dotada de um sistema de blindagem ativa

O Artesh (Exército Iraniano) anunciou seus planos de instalar em todos seus tanques de batalha um sistema de blindagem reativa para reduzir os danos em caso de ataque de mísseis ou granadas anti-taque.

O vice-comandante do Artesh, o general-de-brigada Kiumars Heidari, informou ontem que a nova geração dos tanques de batalha Zolfaqar estarão equipados com blindagem reativa.

"A armadura reativa significa que uma parte da carroceria atual de inteligentemente vis-à-vis com mísseis disparos contra o tanque, e assim um míssil passa através dessa etapa para impactar o corpo, a blindagem reativa pode neutralizar o impacto dos mísseis", explicou Heidari.

"Esse sistema será instalado em todos os veículos blindados do Exército a partir desse ano", concluiu o comandante.

Sistema "Guefest" triplica as capacidades do Su-24 "Fencer"

A Rússia instalou nos seus bombardeiros táticos Su-24 "Fencer" instalados na Região Militar Central de novos dispositivos de direção de tiro e navegação Guefest.

"Todos os bombardeiros Su-24, instalados na Região Militar Central da Rússia, foram equipados com novos subsistemas computadorizados especiais (SVP-24) Guefest, que incluem dispositivos de direção de tiro, nevação e controle", disse o porta-voz da Região Militar Central.

O porta-voz disse que o SVP-24 permite aumentar o poder de detecção, rastreamento e ataque em condições meteorológica adversas ou em condições de baixa visibilidade.

Ele também disse que o novo equipamento triplica a precisão do apontamento e do lançamento de bombas.

Obama volta à realpolitik de Henry Kissinger

Quando Henry Kissinger estava no auge de seu poder, a mídia dos EUA apelidou o então conselheiro de segurança nacional do presidente Richard Nixon de "o verdadeiro presidente". Na época, ele estava viajando ao redor do mundo num ritmo tão alucinante que os jornalistas especularam que devia haver cinco Kissingers (quatro dublês e um real). Naquela época, um repórter perguntou a ele: por que os norte-americanos estão tão fascinado por um jovem de Fürth, na Alemanha, que fugiu dos nazistas aos 15 anos de idade?

Kissinger respondeu: "Eu sempre agi sozinho. Os norte-americanos gostam imensamente disso. Os norte-americanos gostam do caubói que lidera o comboio de trem, cavalgando sozinho à frente."

Na Universidade de Harvard, o imigrante alemão escreveu sua tese sobre o estadista austríaco Clemens von Metternich. Com 388 páginas, a tese fez com que a universidade estabelecesse um limite para o número de páginas. Sua teoria era de que, embora Metternich possa ter destruído temporariamente os primórdios do liberalismo na Europa do século 19 com a ajuda de sua diplomacia secreta, ele também preservou o equilíbrio de poderes.

Kissinger, que celebra seu 90º aniversário em 27 de maio, tem mais em comum com Metternich do que gostaria de admitir, depois de ter deixado sua marca na história com uma série de ações diplomáticas frias. Ele balanceou o frágil equilíbrio do terror entre as potências nucleares da Guerra Fria. E, para seu crédito, as negociações secretas de Kissinger com os vietnamitas comunistas do Norte garantiram a retirada relativamente ordenada das tropas americanas do Vietnã.

Kissinger garantiu a China de Mao como um parceiro estratégico e praticou a realpolitik de Bismarck na América Latina. No sistema de Kissinger, a agitação era mais perigosa do que a injustiça, e um equilíbrio funcional do poder era mais importante do que os direitos humanos.

Suas políticas, no entanto, colidiram muitas vezes com a auto-imagem dos Estados Unidos. O país gosta de acreditar que pode salvar o mundo, quando não reinventá-lo de fato. Mas também quer ser amado, um desejo Kissinger não podia nem queria atender.

Realismo sem escrúpulos morais
Antes de retirada de Washington do Vietnã, Kissinger, junto com o presidente Nixon, bombardearam o Camboja praticamente de volta à Idade da Pedra. Ele também resistiu ao fim precoce da guerra por um longo tempo, e escreveu para Nixon: "a retirada de tropas norte-americanas será como oferecer amendoim torrado para o público americano: quanto mais soldados voltarem para casa, mais será exigido."

Kissinger apoiou o general chileno Augusto Pinochet, que ajudou a realizar uma recuperação econômica, mas Pinochet também provou ser um ditador brutal. A diplomacia de Kissinger abriu a China, mas também tornou as políticas do Partido Comunista de Pequim socialmente aceitáveis. Ele ainda admira abertamente o que considera como a sabedoria da China atual.

Por conta de tal realismo sem escrúpulos morais, ele foi repreendido até mesmo nos Estados Unidos como um monstro manipulador com sotaque alemão, e até mesmo como um criminoso de guerra que "mente da mesma forma que as pessoas respiram", como escreveu o jornalista investigativo Seymour Hersh.

Depois de Nixon, os presidentes norte-americanos, em vez de citar o interesse nacional, preferiram mais uma vez invocar a missão conferida por Deus aos EUA, principalmente o ex-presidente George W. Bush e seus neoconservadores. Eles até quiseram libertar o mundo do "eixo do mal". Mas os neo-cons são passado, enquanto o realismo de Kissinger, nascido no século 19, continua válido, como o presidente Barack Obama, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, demonstra hoje.

Durante a campanha eleitoral, o candidato democrata Obama se retratou como um "cidadão do mundo" idealista. Mas mal chegou ao poder e começou a seguir a máxima de que os idealistas fazem ótimos discursos, enquanto os realistas moldam a política.

Desta forma, o presidente se transformou num juiz solitário que pessoalmente aprova qual islamista deve ser morto com um ataque teleguiado em algum lugar do mundo. Ele inaugurou uma nova era de conflito com investimentos pesados na "guerra cibernética". E Obama processa os traidores de segredos de Estado de forma ainda mais implacável do que qualquer um dos seus antecessores.

O presidente reconheceu que a guerra friamente que os norte-americanos cansados da guerra preferem o progresso em seu país ao progresso em outras parte do mundo. Este é um dos motivos pelos quais ele ameaçou o ditador sírio Bashar Assad, mas fez pouca coisa em termos de ação concreta. Não muito diferente da abordagem de Kissinger no Chile, Obama faz vista grossa enquanto os aliados dos Estados Unidos, Bahrain e Arábia Saudita, subjugam seu povo, ou quando a China persegue dissidentes. O escritor norte-americano Jacob Heilbrunn chama essa abordagem de "neo-Kissingerismo", e observa: "Obama pode até começar a falar sobre assuntos internacionais com um sotaque alemão."

Kissinger é um realista com uma fraqueza: ele é vaidoso, e nunca foi indiferente à forma como as pessoas se sentem em relação a ele. Ele deve ficar com inveja ao ver que Obama é tão popular em muitas partes do mundo, apesar de suas ações a sangue frio. Mas à medida que completa 90 anos, Kissinger provavelmente aprecia a ideia de que o presidente se parece com ele cada dia mais.

Hamas e a sharia em Gaza

Silenciosamente, o Hamas voltou a pôr à prova a paciência dos moradores da faixa de Gaza. Um grupo de parlamentares afiliados a esse movimento propôs no início do mês, no Conselho Legislativo, um novo Código Penal de acordo com a sharia, ou lei islâmica. Em suas partes cruciais, propõe instaurar o castigo islâmico, com a amputação da mão direita por roubo e o chicoteamento por ofensas sexuais, e ficam eximidos de represálias aqueles que cometerem crimes se esses servirem para defender a imposição da própria sharia.

Seria um passo decisivo na islamização da Faixa, que não passou despercebido aos moradores laicos e moderados que ainda têm fé em uma reconciliação com a classe política que governa na Cisjordânia para pôr fim a essas incursões no extremismo.

Nos maltratados edifícios da cidade de Gaza, se observam nestes dias numerosas bandeiras amarelas da Fatah, o partido laico do presidente Mahmud Abbas, que foi expulso da faixa depois de uma guerra civil, há seis anos. Ele governa agora a Cisjordânia, enquanto Gaza ficou sob o controle do Hamas. As recentes pesquisas realizadas na faixa de Gaza sugerem que Abbas e a Fatah ganhariam terreno nas eleições, em detrimento do grupo islâmico.

Semanalmente, um grupo de moradores de Gaza se manifesta diante do Parlamento em favor da reunificação palestina. "O Hamas está tratando Gaza como se fosse seu feudo e propõe leis que afetam de forma negativa as mulheres e aqueles que não creem em sua forma de ver a vida", dizia em uma dessas concentrações, na terça-feira passada, Tahrir Al Haj, 45.

Al Haj, membro do Conselho Revolucionário da Fatah, é proibida pelo Hamas de viajar, seja para a Cisjordânia ou o Egito. Cobria seu cabelo com um véu, mas acredita que isso é algo que a própria consciência deve ditar, e não o governo. Ao seu lado, o jornalista Fathi Tobail, 59, estava proibido de cobrir a manifestação. Trabalhava para a Wafa, a agência de notícias da Autoridade Palestina, proibida em Gaza. Em novembro, ele foi preso. "O Hamas veio e me deteve. Acusaram-me de conspirar com as autoridades de Ramallah. Ocuparam meu escritório e o destruíram. Agora não posso trabalhar, por simpatizar com a Fatah. Os que pensam como eu são presos e interrogados, mas nunca nos enviam a julgamento. De que iriam nos acusar?", diz.

Aqueles que, como Al Haj e Tobail, não simpatizam com o Hamas detectam nestes dias um padrão no comportamento político do grupo islâmico: quando quer uma mudança, apresenta uma reforma por via legislativa ou executiva, ou nas ruas, através da polícia. Se não houver queixas, a medida fica em pé. Se houver indignação, é colocada entre parênteses, até que seja hora de retomá-la. Assim ocorreu com as patrulhas policiais que, em abril, detiveram e rasparam as cabeças de uma dúzia de jovens, acusados pela polícia de usar penteados pouco recatados. Ou quando se tentou proibir que as mulheres fumassem narguilé, o que continua sendo feito. E assim ocorreu agora com o Código Penal.

"Reunimo-nos recentemente com representantes do Hamas para falar sobre o assunto", afirma Khalil Abu Shamala, diretor da organização de direitos humanos Al Dameer. "Dissemo-lhes claramente que o que o Hamas está fazendo com as leis não é correto, e que não tem faculdade para editar leis, porque eleições legislativas deveriam ter ocorrido há tempos e não as convocaram. Operando em um vazio legal, não só tentam islamizar a sociedade. Querem transformar Gaza em um Hamastão."

No projeto de lei em questão, do qual este jornal obteve uma cópia, o Hamas penalizaria a sodomia, por exemplo, com "cem chicotadas e a possibilidade de prisão de até cinco anos". Para os reincidentes em duas ocasiões, contempla "pena de morte ou prisão perpétua".

"O Conselho Legislativo da Palestina não pretende promover essa lei. Foi, na realidade, um dos membros do Parlamento que a sugeriu, houve um debate a respeito e a maioria a rejeitou", replica Taher Al Nounou, porta-voz do governo palestino de Gaza, afiliado ao Hamas. "No governo, acreditamos que a sociedade está bem como está. Não precisamos de mais islamização. O islã é algo que se mantém com a ética e os hábitos, e as pessoas aqui já o cumprem. Não precisamos de nada mais, não desejamos o fundamentalismo", acrescenta.

Nem todos os problemas que separam o Hamas da Fatah são de índole moral ou se referem ao islamismo. Seis anos de divisões é muito tempo. Nas prisões de Gaza, há 12 pessoas afiliadas à Fatah, condenadas por crimes durante a guerra civil entre as duas facções, de 2006 a 2007. O Hamas acusa a Fatah de ter fechado na Cisjordânia até 300 organizações de caridade de linha islâmica, relacionadas ao Hamas. Em um acordo assinado no Cairo em 2011, ambas as partes se comprometeram a criar em 12 meses um governo interino de unidade, antes da convocação de eleições. Já se passaram 25 meses.

Em abril, demitiu-se o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, o tecnocrata Salam Fayyad, que o Hamas nunca reconheceu e que seus representantes detestam. Al Nounou, porta-voz do governo do Hamas, o tachou de corrupto em várias ocasiões durante uma entrevista a este jornal. Ambas as partes afirmam que, diante das circunstâncias, talvez este seja o momento de avançar para um governo de união nacional, que dizem desejar.

Há uma semana reuniram-se novamente no Cairo e concordaram em formar um novo Executivo interino em três meses. Esse foi o prazo fixado no Egito, mas nos relógios de Gaza os tempos políticos avançam em um ritmo muito diferente, impermeável às decisões tomadas no exterior.

Genro de Bin Laden procura novo advogado, mas há empecilhos

Quando um réu importante num caso de terrorismo apresentou-se na semana passada diante de um juiz federal de Manhattan, parecia que toda a associação de advogados estava lá para representá-lo.

"Boa tarde, meritíssimo", disse um advogado, defensor público federal, enquanto se apresentava e aos outros quatro advogados que defendiam o réu.

Em seguida, outro advogado, Stanley L. Cohen, falou. "Boa tarde, meritíssimo", disse ele, apresentando a si mesmo e a um colega como advogados do caso.

O réu, Sulaiman Abu Ghaith, que é genro de Osama bin Laden, foi levado para os Estados Unidos para ser julgado pela acusação de conspirar para matar norte-americanos. Quando ele foi acusado em março, o processo foi atribuído ao escritório da defensoria pública, que tem longa experiência em representar réus acusados de terrorismo.

Abu Ghaith, desde então, disse que quer manter Cohen, um ex-advogado eloquente da Legal Aid Society, que usa um rabo de cavalo cinza e também atuou em muitos casos de terrorismo ao longo dos anos.

Empecilho
Era o tipo de mudança de advogados que costuma ocorrer sem muita discussão. Mas a passagem do bastão no caso de Abu Ghaith foi complicada pelo fato de que Cohen está sob acusação federal, em Syracuse, NY, e sob investigação federal em Manhattan, disse um juiz no tribunal na semana passada. Cohen disse que as investigações estão relacionadas.

O juiz Lewis A. Kaplan, fez uma série de perguntas a Abu Ghaith para ter certeza que ele entende os riscos potenciais e os conflitos éticos que possam resultar da contratação de Cohen, por causa das dificuldades legais do advogado. Cohen foi acusado de obstruir a Receita Federal norte-americana e não apresentar alguns relatórios sobre transações em dinheiro. Ele se declarou inocente.

"Você entende que, se ele for considerado culpado por essas acusações, ele pode ser enviado para a prisão?", Disse Kaplan.

"Sim", respondeu Abu Ghaith.

E se isso acontecer enquanto o caso de Abu Ghaith estiver em andamento, disse o juiz, "você seria obrigado a encontrar um novo advogado no meio do caso."

"Eu entendo isso", disse Abu Ghaith, falando por meio de um tradutor. Ele observou que o colega de Cohen ainda estaria disponível para defendê-lo. Abu Ghaith disse que seu irmão no Kuwait estava pagando por sua defesa.

O juiz não se pronunciou sobre se Abu Ghaith poderia manter Cohen, dizendo que ele queria que o réu considerasse a questão e que abordaria o assunto novamente na terça-feira.

Combustível
A entrada de Cohen no caso poderia aumentar as tensões e o potencial de disputas legais. Ele tem um relacionamento longo e controverso com o governo, e disse recentemente que as acusações relacionadas com a Receita Federal são apenas o capítulo mais recente dessa batalha.

"O governo declarou guerra contra mim há vários anos atrás", disse Cohen, 62 anos, por telefone na sexta-feira, mas as investigações "não chegaram a lugar algum."

"E, quando tudo mais falha", diz ele, "chamem a Receita Federal".

"Eu servi durante muitos anos como uma voz poderosa para grupos e pessoas impopulares", acrescentou.

Em seu site, Cohen diz: "Esta perseguição tem como objetivo me desgastar, destruir meu escritório, punir os meus clientes e, por fim me silenciar. Ela não vai funcionar."

Seus clientes incluem Mousa Mohammed Abu Marzook, um líder político do Hamas que foi preso em 1990 em Nova York durante uma batalha de extradição com Israel antes de ser deportado para a Jordânia. Cohen desde então representou réus em casos de terrorismo em Minnesota, Nova Jersey, Oregon e Virgínia, e no exterior.

Ele também já trabalhou defendendo clientes com Lynne F. Stewart, uma advogada que depois foi condenada num caso de terrorismo; foi o filho dela, o advogado Geoffrey S. Stewart, que Cohen chamou para juntar-se a ele para representar Abu Ghaith.

Na segunda-feira, Cohen disse por telefone que casos como o de Abu Ghaith "desafiam o nosso sistema" e "apresentam uma oportunidade para uma defesa no mais alto nível, dentro e fora do tribunal."

A defensoria e a promotoria pública se recusaram a comentar o caso.

Conflito
Ao questionar Abu Ghaith no tribunal na semana passada, Kaplan observou que, como Cohen também é réu na justiça, ele pode "pelo menos teoricamente" colocar seus próprios interesses à frente dos de Abu Ghaith; ele pode conduzir a defesa de uma forma que ele acredite fará os promotores "pegarem leve com ele de alguma forma" em seu próprio caso.

Há também a possibilidade de que Cohen não consiga obter a permissão de segurança necessária para analisar os materiais confidenciais que são entregues à defesa, disse Kaplan.

Abu Ghaith disse que entendia os riscos, e que Cohen e os defensores públicos haviam revisto essas questões com ele.

"Estou convencido de que isso não é um risco", disse ele em determinado ponto, "mas eu estou pronto para correr esse risco."

Ataque a usina enfraquece abastecimento de urânio na França

Atentado contra o grupo nuclear francês Areva, no Níger, deixou ao menos um morto. Na foto, pedaços do carro explodido no ataque
O ataque perpetrado no dia 23 de maio por um comando jihadista contra uma das minas de urânio da Areva, no Níger, traz à tona mais uma vez a questão da segurança desse ponto estratégico e altamente simbólico para a França.

O atentado suicida dentro do complexo foi particularmente violento. O veículo continha tamanha quantidade de explosivos (cerca de 400 quilos) que não restou nada. Ele entrou na zona industrial seguindo um ônibus que transportava funcionários. Talvez ele tenha errado seu alvo ao explodir na zona elétrica da usina. O teto dos prédios se despedaçou. Quatorze funcionários ficaram feridos e um outro morreu em decorrência dos ferimentos.

O grupo nuclear francês afirmou no meio do dia que a unidade de produção de urânio havia sido atingida pela explosão e que seria interrompida por um período ainda indeterminado.

Reivindicado pelo Movimento pela Unidade e pelo Jihad na África Ocidental (Mujao), o ataque evidenciou uma falha no dispositivo de segurança desse problemático ponto. A segurança é feita essencialmente pelas forças nigerinas e pela empresa privada de segurança francesa Epée. Foi em Arlit que, em setembro de 2010, sete pessoas que trabalhavam na extração de urânio foram sequestradas. Quatro delas, de origem francesa, ainda estão detidas como reféns no Sahel.

A França afirmou seu apoio ao presidente nigerino Mahamadou Issoufou. Os feridos foram retirados com a ajuda de recursos militares franceses: os meios de inteligência da operação Serval no Mali foram colocados à disposição. A informação não foi confirmada oficialmente, mas homens das forças especiais haviam sido enviados no final de 2012 para proteger as zonas das principais instalações da Areva no Níger.

35 milhões de euros pagos ao Níger pela Areva
O Níger é um dos três países que recebem locais de produção de urânio da Areva no mundo (com o Canadá e o Cazaquistão). No Níger, onde a Areva é, segundo ela mesma, a maior empregadora privada (há cerca de 80 expatriados presentes em três pontos e na capital, Niamey), a gigante francesa do setor nuclear opera com suas parceiras nigerinas, mas também japonesa e espanhola, duas minas perto de Arlit no norte do país, por meio de duas empresas: a Cominak e a Somair. Sozinhas, essas empresas fornecem 3.600 toneladas de urânio para a Areva, ou seja, pouco mais de um terço de sua produção mundial total.

Instalada no Níger há mais de 40 anos, a Areva tem apostado muito nesse país e sobretudo em outra mina, a de Imouraren. Essa mina a céu aberto --a maior da África, da qual a Areva possui uma participação de 56%-- deveria produzir 5.000 toneladas de urânio por ano. Sua operação só deverá começar em 2015, em vez de 2012, como estava inicialmente previsto.

O governo nigerino lamentou esse atraso por diversas vezes, criticando também uma situação onde o país, quarto maior produtor mundial de urânio, não está ganhando nada. Em uma entrevista ao "L'Express", em 23 de maio, o presidente nigerino, Mahamadou Issoufou, insistiu nesse ponto, estimando que "esse setor do urânio deve nos fornecer mais receita".

Dois meses atrás, após a tomada de reféns na usina de gás argelina de In Amenas, o grupo francês havia indicado que aceitava pagar 35 milhões de euros para o Níger para ajudá-lo a fazer a segurança de suas usinas de urânio.

Com essa declaração, a Areva quis responder à acusação formulada pela associação L'Observatoire du Nucléaire, segundo a qual essa doação seria destinada a compensar o atraso na operação da mina gigante de Imouraren, adiada para 2015. No dia 11 de março, durante uma viagem ao Níger, o presidente da atividade mineradora da Areva, Olivier Wantz, afirmou que o conjunto das atividades da empresa no Níger representava 5.300 empregos extras criados --sendo 2.700 empregos diretos-- e quase 180 milhões de euros em compras. "Das receitas geradas pela atividade mineradora, 70% vão para o Estado do Níger, 27% para a Areva e 3% aos demais parceiros", disse ele.

Na Suécia, confrontos colocam a identidade em questão

Eva Bromster, diretora de uma escola de ensino fundamental, foi acordada subitamente por um telefonema tarde da noite de quinta-feira (23).  "Sua escola está pegando fogo", disse o chefe dela, diretor do departamento de educação local.

Bromster correu para a escola, no distrito de maioria imigrante de Tensta, ao norte de Estocolmo, e encontrou uma sala destruída pelo fogo e outra cheia de água até o tornozelo, depois que os bombeiros apagaram as chamas. Foi o segundo incêndio na escola em três dias.

Em Estocolmo e outras cidades na semana passada, bandos compostos na maior parte por jovens imigrantes incendiaram prédios e carros em uma onda de revolta destrutiva raramente vista em um país orgulhoso de sua sociedade normalmente tranquila e cumpridora da lei.

Os distúrbios, que fizeram lembrar as erupções urbanas na França em 2005 e no Reino Unido em 2011, levaram a Suécia para o centro de um debate acalorado em toda a Europa sobre a imigração e as tensões que causa, em uma época de profundo mal-estar econômico.

Os confrontos, que estão arrefecendo, produziram menos danos do que os anteriores em Paris e Londres, que também envolveram imigrantes. Mas a inquietação abalou a Suécia, que tem uma reputação de receber bem imigrantes e asilados, inclusive fugitivos da violência em países como Iraque, Somália e Síria, e regularmente é classificada em pesquisas como um dos lugares mais felizes do mundo.

"Não conheço ninguém que pudesse querer queimar nossa escola", disse Bromster. "Não posso compreender. Talvez não estejam tão satisfeitos com a vida".

Os confrontos não são novos aqui. Em 2008 e 2010, os imigrantes confrontaram a polícia na cidade portuária de Malmo, no Sul. Mas os ataques incendiários da semana passada em Estocolmo, a capital, e o espetáculo de adolescentes jogando pedras nos bombeiros deixaram muitos suecos se perguntando o que deu de errado em uma sociedade que investiu tão pesadamente para ajudar os menos privilegiados.

A violência se concentrou em bairros relativamente pobres, entretanto, a maior parte de seus moradores foi protegida contra a pobreza por um sistema de bem-estar social que é um dos maiores do mundo, apesar dos recentes cortes.

O primeiro-ministro de centro-direita da Suécia, Fredrik Reinfeldt, ridicularizou os confrontos chamando-os de "hooliganismo", enquanto membros do Partido Democrata sueco, de extrema-direita, aproveitaram-se da violência para promover sua postura anti-imigração e pediram a deportação dos suecos não nativos que descumpram a lei. "Esta não é apenas uma questão de polícia", disse Jimmie Akesson, líder do partido, mas "um resultado direto de uma política de imigração irresponsável que criou profundas rachaduras na sociedade sueca".

A esquerda, que dominou a política sueca por décadas e criou um sistema de bem-estar que vai do berço ao túmulo, culpou a redução dos benefícios do Estado e a modesta privatização dos serviços públicos pela inquietação, apontando para uma erosão da disposição moral igualitária e tolerante do país. Um relatório recente da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico revelou que a desigualdade de renda cresceu mais rapidamente na Suécia do que em qualquer outra nação industrializada entre 1985 e o final da última década, apesar de ainda ser muito mais igual do que a maior parte dos países.

"Os ricos estão ficando mais ricos, e os pobres, mas pobres", disse Barbro Sorman, ativista do Partido de Esquerda, da oposição. "A Suécia está começando a parecer-se com os EUA".

Mas os enclaves de imigrantes de Estocolmo, inclusive Tensta e o subúrbio próximo de Husby, onde os confrontos começaram no dia 19 de maio depois que a polícia matou um imigrante de 69 anos que segurava uma faca, mostram poucos sinais de privação.

Criados nos anos 60 como parte de um esforço público de construção para construir um milhão de novas moradias em uma década, os subúrbios do Norte de Estocolmo agora oferecem parques bem cuidados, moradias públicas sem graça, mas bem mantidas, escolas equipadas, centros para jovens, livrarias e legiões de assistentes sociais financiadas pelo Estado.

Dejan Stankovic nasceu na Sérvia e administra uma equipe de jovens trabalhadores do governo que se uniu aos pais e outros voluntários em patrulhas noturnas pelas ruas. Ele se lembra quando um grupo de assistentes sociais visitou área e ficou absolutamente intrigado. "Eles disseram: 'É verde e seguro, então qual é o problema?'"

Um grande problema é a falta de emprego. O desemprego nacional está em cerca de 8%, mas esse índice dobra nas regiões de imigrantes e é quatro vezes maior entre os que têm menos de 25. Entretanto, em regiões remotas no Norte da Suécia há mais pessoas desempregadas, "mas não estão jogando pedras nem queimando carros", disse Nima Sanandaji, autora curdo-sueca de vários livros sobre imigração que nasceu no Irã.

Stankovic disse ser simpático às reclamações dos imigrantes sobre a discriminação no mercado de trabalho. Mas ele acrescentou que muitos que buscam emprego, particularmente os jovens, têm demandas pouco realistas e esperam que o Estado encontre trabalho para eles em seus próprios bairros. "Há muitas pessoas entre 20 e 22 anos que dizem: 'Eu quero trabalhar, quero agora e quero ficar aqui'", disse ele. "Isso é problema deles, mas se torna um problema do governo".

Gabriel Bersham, aluno do ensino médio de 17 anos, nascido no Iraque, disse: "Os jovens queriam ser ouvidos, mas eram ignorados. Agora o que dizem está sendo ouvido". Mas queimar carros "é estúpido e triste", disse ele.

A raiva de jovens imigrantes espanta e alarma os mais velhos em suas comunidades. Depois que a tropa de choque foi tirada das ruas no final da semana passada, os imigrantes mais velhos montaram seu próprio esforço para aliviar as tensões. "Não há justificativa para essa violência", disse Abdullah Ahmed, professor que emigrou da Somália há 23 anos e hoje passa suas noites caminhando pelas ruas em busca de possíveis perturbadores da ordem.

O esforço parece estar funcionando. Pelo menos em Estocolmo onde poucos carros foram incinerados no final de semana, depois de ter registrado 50 incêndios na última terça-feira. Na noite de sábado (25), as ruas de Husby estavam silenciosas, e os jovens se reuniram para assistir à final da Champions League em um telão montado na estação de metrô.

Entre os imigrantes, existe um grande vão geracional em relação à noção da vida na Suécia. "Nossos pais dizem que devíamos ser agradecidos", disse Rami al-Khamisi, jovem ativista de Husby cuja família mudou-se para cá do Iraque. "Eles se sentem agradecidos porque passaram por guerras. Mas quem nasceu aqui não têm outra referência para poder comparar sua vida".

Husby, "parece bom de fora, mas por dentro não é legal", disse Khamisi. Aluno de direito na Universidade de Estocolmo que não entrou nos confrontos, Khamisi admitiu que a Suécia lhe deu "oportunidades que não tinha no Iraque", mas afirmou: "Não sou tratado da mesma forma que um cara branco".

"Sinto a discriminação o tempo todo", disse ele.

A recente violência foi um impulso para os Democratas da Suécia, partido que combate a imigração. As pesquisas de opinião sugerem que o partido está ganhando popularidade, em parte por causa da indignação que muitos suecos sentem por serem chamados de racistas, depois de aceitarem tantos refugiados. Imigrantes e filhos de imigrantes perfazem cerca de 15% da população e, no ano passado, a Suécia quase dobrou o número de asilos concedidos e tornou-se o principal destino europeu para refugiados da Síria.

Bromster, diretora da escola cujos 325 alunos são de origem imigrante, disse que não se pode esperar que as famílias "que escaparam de guerras terríveis no Iraque a na Síria" se adaptem facilmente a um ambiente inteiramente estranho. "Elas não conseguem trabalho e se sentem excluídas da sociedade", disse ela.

Já Michael Lundh, ex-policial, disse que "os suecos comuns estão diante de seus televisores e estão ficando muito revoltados com as cenas dos imigrantes jogando pedras". Lundh, que trabalhou por anos na organização de combate ao racismo montada por Stieg Larsson, autor de "A Garota com a Tatuagem de Dragão", disse: "Também estou revoltado, mas esta é a única forma pela qual conseguem chamar a atenção dos políticos e da mídia".

Lundh, que visitou áreas afetadas pelos confrontos na semana passada, disse que, apesar de ter extensa experiência em distritos relativamente pobres, "não tinha consciência que tantos jovens odeiam a polícia" e a consideram racista.

"A polícia está com medo, e os jovens estão com medo", disse ele. "Quando pessoas com medo se encontram, só dá problema".

Ex-premiê espanhol, Aznar sofre da "maldição do ex-presidente"

José María Aznar
"Está bem, rapaz, é assim que se fala."

"Vejo-o amanhã às 9h15."

A troca de torpedos entre Bernardino Lombao, 75, e José María Aznar, 60, na noite de quarta-feira, foi assim: rápida. O ex-primeiro-ministro acabava de ameaçar na televisão uma volta à política e seu treinador e amigo há 18 anos quis lhe dar uma palmada nas costas. Mas Aznar já estava em outra atividade: sair para correr seus 10,4 km diários pelos morros de Madri, antes de pegar um avião para Nova York, em sua enésima viagem pelos salões do grande mundo. Lombao não se ofendeu. Sabe que Aznar, quando propõe algo, cumpre o plano previsto. Outra coisa é que realmente queira voltar à arena.

"Minha recomendação é que não volte, mas ele fará o que tiver vontade", diz esse profissional, que pegou Aznar quando "jogava aquela frescura de squash" e lhe inoculou o vírus do esporte até que o aluno superou o mestre. "Está uma fera. Tem a resistência de um atleta olímpico. Nessa manhã, as pessoas paravam para cumprimentá-lo. Outros passavam, claro. Ele é assim: assustou meio país e encantou outro meio, colocando-os sobre a mesa."

Lombao é a única de cerca de 20 pessoas próximas ao ex-primeiro-ministro que concordou em falar sem reservas. A maioria nem respondeu ao convite. Só um punhado concordou em contar como veem Aznar, sob estrito anonimato. E o veem ensimesmado, aborrecido com o que considera a insuportável inutilidade do governo e obcecado por manter incólume o que ele considera sua reputação imperecível como o líder histórico que levou seu partido e seu país ao auge.

"Está bravo como uma macaca. E disse: Ei, estou vivo", resume um dos passageiros do legendário táxi de Valladolid --Ana Mato, Carlos Aragonés, Miguel Ángel Rodríguez e Miguel Ángel Cortés--, onde começou a ser gestada a chegada a La Moncloa do então presidente de Castela e Leão. "Ele fez uma prevenção, uma espécie de 'Cuidado, se vocês estão mortos, eu estou aqui, e pelo menos tenho sangue nas veias'", diz outro aznarólogo. É engraçado que todos, independentemente de sua sintonia, empregam termos parecidos para retratá-lo.

"Simpático não é", diz um. "Arrogante? Digamos que carece de empatia", salienta outro. "É íntegro, não sabe dissimular, por isso dá medo. Não como o galego, simpático, mas perigoso", acrescenta um terceiro. Todos lhe atribuem uma vontade de aço. Para aprovar as oposições. Para ligar-se a Ana Botella, a bela do grupo. Para se construir à imagem e semelhança de sua ideia de si mesmo. "Como não era bonito como Blesa, nem brilhante como Gallardón, se propôs ser o mais poderoso. É um espetáculo vê-lo trabalhar. E é um patriota; não é que a Espanha lhe faça mal, ela é sua própria trituradora. Veja-o: se autofagocitou, é um concentrado de energia, o homem-bala." Aznar é vaidoso, tem um alto conceito de si mesmo, concordam. E justamente agora, com o tórax esculpido que nunca teve. Tendo conseguido falar inglês "tão mal quanto o espanhol, e que o entendam".

Ganhando uma dinheirama como assessor e conferencista de luxo. Relacionando-se com homens e mulheres interessantes, mais fora que dentro da pequena e querida Espanha. Com sua esposa prefeita da capital do reino. Com dois de seus filhos casados, o terceiro ganhando dinheiro e rompendo corações, e cinco crianças chamando-o de vovô. Justamente agora, o homem com uma das melhores agendas do globo está, talvez, mais só, isolado e aborrecido que nunca.

"Sofre a maldição do ex-presidente", diz alguém. "Tocou o céu e não está morto." Além disso, está horrorizado. Assistiu ao que considera um fim de ciclo: a audiência em que Sáenz de Santamaría, Montoro e Guindos atiraram a toalha contra o desemprego. Rajoy, o homem que escolheu exatamente por ser seu oposto, para que sentissem saudade dele, o "decepcionou".

Mas, sobretudo ele, que vive de seu passado e a quem contratam por seu prestígio, não pode suportar que alguém entre no Google e associe seu nome a gratificações e presentes de casamento de um criminoso. Nem que "se diga que o famoso milagre Aznar foi uma bebedeira de espumante que explodiu e agora estejamos sofrendo uma tremenda ressaca", segundo desliza um crítico.

Que ninguém tenha saído em sua defesa o transtorna. Nessa tessitura, dizem os que o conhecem, "teve um momento de Gaulle". "Todos se consideram os fundadores, e ele não menos." O que fará, ninguém sabe. Nem ele, provavelmente. "Não é tolo nem incauto", advertem. Estará calibrando reações, ruminando seu mapa do caminho para depois aplicá-lo. Há 25 anos, este jornal convidou o então presidente de Castela e Leão a se retratar como seu personagem favorito. Aznar escolheu El Cid Campeador, o guerreiro que ganhou batalhas depois de morto. Segundo Lombao, "a fera" de Aznar tem 15 anos menos do que diz o calendário. Ainda dará muita batalha.

Itália enfrenta com a lei o pacto de silêncio da máfia

Membro da máfia italiana Vito Roberto Palazzolo (ao centro) é escoltado algemado por agentes penitenciários tailandeses em sua chegada ao Tribunal Penal de Bancoc (Tailândia), onde participa de audiência de extradição
Há 20 anos, entre a primavera de 1992 e o inverno de 1993, enquanto os juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino eram assassinados junto com seus guarda-costas, altos personagens do Estado italiano e da máfia siciliana estavam negociando. Quem? Para quê? Em troca de quê? São algumas das respostas que um tribunal de Palermo tenta responder desde segunda-feira (27).

No banco dos réus, pela primeira vez na história, sentam-se lado a lado representantes do Estado, pistoleiros, mafiosos arrependidos e grandes chefes da Cosa Nostra.

Os promotores que desde 2009 investigam a misteriosa "trattativa Stato-Mafia" (a negociação entre o Estado e a Máfia siciliana) também chamaram a depor 176 testemunhas. O número 63 é o próprio Giorgio Napolitano, atual presidente da República.

Napolitano foi citado porque durante 2011 Nicola Mancino, ministro do Interior entre 1992 e 1994, soube que estava sendo investigado pelos promotores de Palermo, sentiu-se encurralado e decidiu pedir ajuda ao presidente Napolitano.

Telefonou várias vezes para o Palácio do Quirinale e em algumas ocasiões falou com o assessor jurídico Loris D'Ambrosio, em outras com Napolitano. O que Mancino não sabia era que seu telefone já estava grampeado por ordem judicial.

As conversas com D'Ambrosio - que morreu de infarto no último verão - foram publicadas logo depois, enquanto Napolitano apelou à inviolabilidade do chefe de Estado e as fitas foram destruídas.

Mancino, que já passou sua primeira manhã no banco dos réus, pediu para ser julgado separadamente. "Não posso estar no mesmo processo junto com membros da Máfia." Em resposta, o promotor Nino Di Matteo disse: "O Estado não pode esconder sua responsabilidade".

Mas a verdade é que a esconde há duas décadas. A teoria dos promotores sicilianos é que no final de 1992, depois dos assassinatos do político Salvo Lima - próximo da Cosa Nostra e colaborador de Giulio Andreotti - e do juiz Giovanni Falcone, altos representantes políticos e policiais do Estado italiano tiveram conhecimento de que a Cosa Nostra tinha uma longa lista negra de alvos, entre os quais se encontravam alguns ministros.

Segundo essa versão, e com o fim de salvar a pele, o Estado propôs um pacto a Salvatore Totò Riina, chefe do sanguinário clã dos Corleonesi.

Em troca de conter os atentados, o Estado estaria disposto a suavizar as duras condições carcerárias de 400 detidos. Por isso, apesar dos protestos do ex-ministro Mancino, agora estão sentados no mesmo banco personagens como o senador Marcello Dell'Utri, grande amigo de Berlusconi e seu suposto contato com a máfia; os generais Antonio Subranni e Mario Mori junto de mafiosos como Giovanni Brusca - um dos assassinos do juiz Falcone - ou o próprio Totò Riina, o último "capo dei capi" (chefe dos chefes).

Também está imputado Massimo Ciancimino, filho de Vito, prefeito de Palermo, que levou à justiça uma série de documentos herdados de seu pai, graças aos quais os promotores puderam armar a acusação.

Em um desses documentos estavam os 12 pedidos que, ao que parece, Totò Riina fez ao Estado para ordenar o cessar-fogo. Com exceção do ex-ministro Mancino (acusado de falso testemunho) e Ciancimino (de associação mafiosa), os outros são acusados de violência contra o Estado e de favorecer a Cosa Nostra. O julgamento começará na sexta-feira (31). A Itália enfrenta com a lei à mão um de seus mais dolorosos mistérios.

Um chefe calmo no centro do caos de um campo de refugiados sírios

Assim é a vida das crianças refugiadas no campo de Zaatari
Kilian Kleinschmidt tinha um problema. Na tarde antes da visita agendada do embaixador do Kuait na Jordânia ao campo de refugiados sírios superlotado daqui, crianças vandalizaram os trailers doados pelo Kuait, roubando janelas, portas e pisos.

Kleinschmidt, que dirige o campo de Zaatari para o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, chamou a polícia, mas ela estava ocupada com um distúrbio, enquanto milhares de sírios tentavam se espremer em um punhado de ônibus que voltavam para sua terra natal em dificuldades.

"Crianças travessas --os melhores atiradores de pedras da Terra", disse Kleinschmidt, 50 anos, um alemão de rosto corado cujo currículo mais parece um verbete da Wikipédia das últimas décadas de desastres internacionais. "Eu não sei o que direi amanhã ao embaixador do Kuait. Ele vai ficar muito chateado. Ele deseja vê-los instalados e famílias felizes se mudando para eles."

Com aproximadamente metade do tamanho de um pequeno apartamento em Manhattan, os trailers de 15 e 18 metros quadrados –chamados de caravanas e custando entre US$ 2.500 e US$ 3.500 cada– são o commodity mais cobiçado em Zaatari, separando aqueles que têm pouco daqueles que têm ainda menos.

Transferir famílias das tendas para os trailers é a base do plano de Kleinschmidt para melhorar as condições em Zaatari, que ele assumiu em 12 de março, após uma série de diretores temporários. Até julho, ele promete, todos os mais de 100 mil refugiados espalhados pelos 13 quilômetros quadrados de Zaatari estarão em trailers, mais de 25 mil deles. Eles ainda não chegaram à metade.

Kleinschmidt também deseja dividir o campo caótico em 12 bairros, colocar placas de rua e dar um endereço para cada um. Ele prevê a emissão de licenças comerciais no vasto mercado não regulamentado de bancas de placas onduladas de metal. Ele também deseja instalar medidores de água e luz. Futuramente, ele espera um sistema de identificação biométrica e cartões de débito para cobrir alimentação, atendimento de saúde e outros serviços –como o sistema que ele supervisionou para mais de um milhão de pessoas deslocadas no Paquistão.

Primeiro, entretanto, uma cerca de segurança –ainda melhor, um muro– em torno da instalação dos trabalhadores de ajuda humanitária e do próprio campo Zaatari.

"Cercas não funcionam", ele disse para um representante da União Europeia um dia depois dos trailers terem sido saqueados. "Uma mensagem para a UE é, programa de recrutamento de um especialista em muro alemão-oriental. Eu quero construir um muro. Eu gosto de muros."

Filho de professores, Kleinschmidt cresceu em Berlim e trabalhou como telhador, depois trabalhou em uma cooperativa que criava 35 cabras para produção de queijo nos Pirineus. Aos 26 anos, em uma viagem de moto para Mali, ele conheceu um trabalhador de ajuda humanitária em um bar e acabou ajudando a construir uma escola perto de Timbuktu.

Ele trabalha basicamente para as agências de ajuda humanitária da ONU desde então. Ele ajudou a organizar um campo para os Garotos Perdidos do Sudão; esteve em Mogadício em 1993, durante a operação militar na qual 18 americanos foram mortos e que inspirou o livro e o filme "Falcão Negro em Perigo"; passou dois anos como uma espécie de contato junto aos rebeldes do Exército de Libertação dos Tigres do Tamil Eelam no Sri Lanka; coordenou uma das maiores pontes aéreas de ajuda humanitária na história para os ruandeses presos na floresta tropical no Congo; e, no ínterim, trabalhou em Kosovo, Quênia e Uganda. Seu apelido nos círculos de ajuda humanitária é "o Leão do Deserto".

"O que move Kilian é o mesmo que o torna difícil", disse Pilar Robledo, que trabalhou estreitamente com Kleinschmidt por quatro anos no Paquistão e agora serve como consultora de um projeto daqui da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional. "Ele é um homem que floresce quando está atolado no caos, e parece uma pessoa diferente quando uma situação de emergência se normaliza."

Kleinschmidt tem cinco filhos, um enteado e um neto de seis meses, de quatro relacionamentos. Sua esposa, uma designer de joias, é do Cáucaso e mora em Nairóbi; eles não se veem há dois meses.

Na Jordânia, o título oficial de Kleinschmidt é coordenador sênior de campo, com um salário de US$ 14 mil por mês. Ele chama a si mesmo de "prefeito internacional de Zaatari" ou, simplesmente, de chefe.

"Eu sou o chefe, sou o chefe, sou o chefe!" ele bradou ao telefone certa manhã. "Eu decido tudo", ele explicou posteriormente. "Seja o conserto de uma cerca ou a expulsão de um refugiado –tudo."

Decidir é uma coisa, fazer é outra. Kleinschmidt ainda não sabe exatamente quantos refugiados vivem em seu campo ou quantos trabalhadores de ajuda humanitária atuam lá. Quase diariamente há manifestações, frequentemente reprimidas com gás lacrimogêneo. No mês passado, um segurança jordaniano foi gravemente ferido, levando os moradores das cidades próximas do campo a bloquearem o acesso a ele por horas, ameaçando o suprimento de água para os refugiados.

"Este é um dos lugares mais indisciplinados que já dirigi", disse Kleinschmidt, que dorme várias noites por semana em um colchonete no piso do seu trailer. "Os refugiados estão em uma espécie de vácuo em termos de quem são as autoridades. Eles nos veem como os irmãos menores de Assad –a autoridade é o mal", ele disse, referindo-se ao presidente da Síria, Bashar Assad.

Um dos primeiros problemas tratados por Kleinschmidt foi a eletricidade. Por todo o campo, perigosas massas como espaguete de fiação pirata levavam eletricidade para as bancas do mercado. Ele disse que os refugiados "montaram sua própria companhia elétrica", com gangues mafiosas coletando pagamentos e controlando as conexões. "Eles disseram: 'Nós vamos destruir todo o campo se você desconectar a força'."

Então o chefe se reuniu com um refugiado ao qual ele se refere como o ministro da eletricidade, prometendo instalar um novo transformador mais poderoso se os gatos de força fossem retirados. Neste mês, entretanto, a companhia elétrica jordaniana cortou o fornecimento de eletricidade ao campo por quase oito horas, porque a conta dos primeiros quatro meses do ano, que chegava a US$ 1 milhão, não foi paga.

Quanto à crise dos trailers, o embaixador do Kuait acabou adiando sua visita. Posteriormente naquela semana, entretanto, enquanto mostrava ao embaixador sul-coreano as famílias felizes se mudando para 388 dos 1.700 trailers doados por seu país, Kleinschmidt foi coberto de queixas.

"Este homem, ele está aqui há quatro meses, e não recebe nada!"

"O toalete fica longe demais do meu trailer!"

"Eu tenho uma filha pequena, eu preciso de um trailer!"

Kleinschmidt reagiu. "Vocês todos são invejosos demais. Se eu der para você, então ele virá e ele virá."

O sol começou a se por e Kleinschmidt foi chamado para uma situação mais séria. Desde a manhã, seis famílias de refugiados ocuparam novos trailers destinados para outras. Isso significava que seis famílias que tinham devolvido suas tendas não tinham onde dormir.

O chefe tentou argumentar com um refugiado que representava os invasores. Se voltassem para suas tendas, prometeu Kleinschmidt, ele conseguiria trailers para eles depois do fim de semana.

Nada feito.

"Escutem, irmãos, todo mundo me escute", Kleinschmidt disse para a crescente multidão. "Todo mundo em Zaatari terá um trailer. Se todos vocês começarem a tomar, não funcionará e teremos que parar. Aí ninguém terá um trailer."

"Se eu aceitar que as pessoas simplesmente tomem o que quiserem, nós encerraremos aqui. Nós partiremos e vocês ficarão. Eles precisam sair."

Eles não saíram. Então, em vez de acelerar a entrega de trailers para eles, Kleinschmidt disse que cortaria seus cartões de ração.

Legado de ditador argentino está longe de ser definido, diz historiador

Jorge Videla governou a Argentina no período mais sangrento da ditadura militar, de 1976 a 1983
Jorge Rafael Videla, líder da primeira junta militar ditatorial que governou a Argentina entre 1976 e 1981, morreu na prisão em 17 de maio passado, mas seu legado histórico está longe de ter sido definido.

Apesar de, em sua época, ele ter sido incensado por alguns defensores da Guerra Fria como salvador da pátria argentina, os crimes de Videla não estão mais em questão, e muitos argentinos mais jovens, que nunca viveram sob seu domínio assassino, o consideram um símbolo do mal. O debate que persiste busca elucidar se ele, de fato, travou uma "guerra suja", que envolveu dois lados, ou se, como muitos historiadores profissionais concordam, ele simplesmente promoveu o terrorismo patrocinado pelo estado.

Durante o governo da junta, até mesmo uma criança de cinco anos de idade sabia o nome de Videla. Esse era o meu caso: até onde consigo me lembrar, eu nunca ouvi discussões sobre política na minha casa, um lar judeu da classe média argentina. Mas eu sabia quem era Videla.

Videla foi uma figura espectral com sua voz grave, olhar severo e bigode. Posteriormente, meus pais me disseram que eles consideravam perigoso demais discutir a junta na presença de uma criança. Eles conheciam muitas pessoas que tinham desaparecido.

Como muitos outros argentinos, eu ainda tento aceitar os crimes contra a humanidade cometidos durante o governo de Videla – os desaparecimentos, os campos de concentração, os cidadãos torturados, drogados e, depois, jogados no Oceano Atlântico a partir de aviões militares. As estimativas oficiais atestam que a ditadura argentina assassinou de 10 mil a 15 mil pessoas.

Houve também o roubo de bebês nascidos de mães detidas ilegalmente. Uma das razões pelas quais eu me tornei historiador está relacionada à minha vontade de tentar entender como a chamada guerra suja poderia ter se tornado realidade em uma nação moderna, com uma sociedade civil forte e progressista.

Hoje a Argentina, mais uma vez, tem uma sociedade civil forte, uma democracia eleitoral e uma cultura política dinâmica, sem lugar para os militares na política. O país avançou para além dos esforços de Videla em promover uma "reconciliação". A partir das reações à sua morte, ficou claro que na Argentina quase ninguém compra a ideia de Videla, segundo a qual os militares eram os salvadores da pátria.

Mas uma recente mudança na percepção do legado de Videla coloca novos desafios aos esforços da Argentina para tentar compreender seu passado violento. O atual governo peronista da presidente Cristina Fernández de Kirchner acusa regularmente – e, na maioria dos casos, de forma inverossímil – seus adversários de terem se associado à ditadura, ou, caso eles sejam jovens demais, de desejar o seu retorno.

A ditadura tornou-se, dessa forma, o insulto político definitivo, uma forma populista de polarização política. Igualmente problemáticos do ponto de vista histórico são os esforços do governo Kirchner em apresentar as vítimas como heróis.

Na realidade, isso marca uma mudança na percepção legal criada pela junta, que dividiu as pessoas em perpetradores e vítimas, para uma percepção moral, de uma "guerra" travada entre heróis e vilões. É exatamente dessa forma que Videla queria ser lembrado – como um guerreiro em uma disputa política violenta.

A presidente Cristina Kirchner e seu marido e antecessor, Néstor Kirchner, se veem do outro lado dessa guerra, na posição de guerreiros contra o mal absoluto, embora nenhum dos dois tenha tido nenhum papel visível na resistência à ditadura. Dessa forma, a história como melodrama populista apresenta as vítimas do passado como se fossem "pré-defensoras" da política atual.

Tais esforços para enfatizar as identidades políticas das vítimas como a principal razão de sua vitimização colocam, de forma retroativa, os crimes do estado na esfera política. No entanto, esses crimes não tinham a ver com política – a "guerra suja" constituiu terrorismo patrocinado pelo estado, e não uma luta entre diferentes visões políticas. As ações de Videla pertencem à história das genealogias fascistas da Argentina, para a qual ele escreveu o último capítulo.

Federico Finchelstein é professor adjunto de história e diretor do Programa Janey de Estudos Latino-Americanos na New School for Social Research e Eugene Lang College, em Nova York. Ele é autor de "The Ideological Origins of the Dirty War" ("As Origens Ideológicas da Guerra Suja"), que será lançado em breve.