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terça-feira, 30 de abril de 2013

Comandante da Marinha conhece novos equipamentos do GRUMEC

Comandante da Marinha conhece o novo minissubmarino do GRUMEC

No dia 18 de abril, o Comandante da Marinha, Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto, visitou o Grupamento de Mergulhadores de Combate (GRUMEC), na Ilha de Mocanguê Grande, em Niterói (RJ). Na ocasião, foram apresentados os novos equipamentos que serão empregados pelos Mergulhadores de Combate (MEC) durante a realização da Copa das Confederações e da Jornada Mundial da Juventude.

O Almirante-de-Esquadra Moura Neto, acompanhado do Chefe do Gabinete do Comandante da Marinha, Vice-Almirante Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, foi recebido na Base Almirante Castro e Silva (BACS), pelo Comandante de Operações Navais, Almirante-de-Esquadra Luiz Fernando Palmer Fonseca; pelo Comandante-em-Chefe da Esquadra, Vice-Almirante Sergio Roberto Fernandes dos Santos; pelo Comandante da Força de Submarinos, Contra-Almirante Glauco Castilho Dall’Antonia; e pelo Assessor-Chefe de Pessoal do Gabinete do Comandante da Marinha, Capitão-de-Mar-e-Guerra Carlos Eduardo Horta Arentz.

A visita, conduzida pelo Comandante do Grupamento de Mergulhadores de Combate, Capitão-de-Mar-e-Guerra Ítalo Gama Franco Monsores, teve início com a apresentação dos novos equipamentos adquiridos pelo GRUMEC. Entre eles, destacam-se o novo minissubmarino para a inserção dos MEC; utensílios para a desativação de artefatos explosivos; aparelhos especiais empregados nas abordagens não cooperativas em navios; equipamentos de mergulho de circuito fechado, que aumentam a discrição do mergulhador sem a emissão de bolhas de ar quando submerso e, ainda, fuzis de tiro de precisão, instrumentos de comunicação óticos e eletrônicos. Em seguida, o Comandante da Marinha visitou os demais departamentos da Organização Militar, como os Paióis de Embarcações e Mergulho, o Alojamento Operativo e, por fim, a Escoteria.

Vídeo mostra os últimos modelos da Izhmash

Rússia testará uma nova versão do míssil de cruzeiro anti-navio P-800 Oniks lançada por submarino

Acima o submarino nuclear de ataque K-329 Severodvinsk perto de sair para os testes de mar pela primeira vez 

O Comando da Marinha Russa e o estaleiro russo JSC PO Sevmash, realizarão no final de agosto um teste com uma nova versão do míssil de cruzeiro anti-navio P-800 Oniks a bordo do submarino nuclear de ataque K-329 Severodvinsk.

De acordo com o jornal Izvestia, o lançamento do míssil acontecerá com a utilização do sistema universal de combustão de bordo SM-343 com tubos de lançamentos verticais.


De acordo com uma fonte de Marinha Russa, se o teste for bem-sucedido, isso fará com que a nova versão do míssil P-800 Oniks também arme os submarinos nucleares de ataque da classe Yasen. Atualmente, os submarinos dessa classe estão previsto que usem o míssil de cruzeiro Kalibr. A Marinha Russa deseja muito utilizar uma versão do P-800 Oniks que possa ser utilizado alvos terrestres e marítimos.


Em dezembro de 2011, o submarino K-329 Severodvinsk realizou um lançamento com o míssil Kalibr bem-sucedido. Em seguida fora realizado um disparo com o míssil P-800 Oniks, mas o teste falhou. Em dezembro de 2012, fora realizado outro teste bem sucedido com o Kalibr em alvos terrestres, mas o sistema de tiro novamente se mostrou incapaz de gerir o disparo do míssil P-800 Oniks.

O submarino K-329 Severodvinsk foi lançado em 15 de junho de 2010 e em setembro de 2012 começou os testes de mar. Os submarino da classe Yasen são capazes de deslocar até 8,600 toneladas, desenvolver uma velocidade de 30 nós e mergulhar uma profundidade de 600 metros. Os submarinos são armados com 10 tubos de torpedos de 533mm, 8 lançadores de mísseis, mísseis P-800 Oniks, Kalibr, mísseis X-101, X-102 e 4 minas.

Novo bombardeiro estratégico americano terá características do B-2 Spirit


O futuro bombardeiro estratégico americano,  LRS-B (Long Range Strike ─ Bomber), outrora conhecido como NGB (Next Generation Bomber), terá características e capacidades semelhantes ao atual bombardeiro da USAF, o B-2 Spirit, assim revelou recentemente o secretário da USAF, Michael Bruce Donley.

Donley disse também que inicialmente o novo bombardeiro será tripulado, mas sua concepção de construção permitirá que o mesmo seja controlado remotamente.

O programa de desenvolvimento do LRS-B começou em 2012. Presumidamente, ele será construído pelas empresas americanas Northrop Grumman, Lockheed Martin e Boeing. De acordo com o plano atual, a unidade do novo bombardeiro deverá custar cerca de US$ 550 milhões.

De acordo com Donley, o novo bombardeiro deverá herdar características básicas de outras classes de aeronaves, por exemplo: comunicação, inteligência, reconhecimento, vigilância, guerra eletrônica e armas.

Uruguai irá fabricar 1.500 pistolas Glock 17 sob licença


O Ministério da Defesa do Uruguai assinou um acordo com a fabricante de armas austríaca Glock um contrato para montagem de 1.500 pistolas Glock 17 em calibre 9×19mm Parabellum. O valor da transação não foi informado.

Espera-se que depois de finalizada a montagem das 1.500 pistolas, o Uruguai faça um novo acordo com a Glock para a produção de mais pistolas Glock 17.

As primeiras pistolas serão entregues ao Exército Uruguaio, que irá substituir as obsoletadas pistolas Browning Hi-Power e Colt 1911.

De acordo com informações obtidas por esse blog, muito provavelmente irá poder exportar futuramente as pistolas Glock 17 para os países africanos.

Este acordo marca um rito no Uruguai, uma vez que o Serviço de Material e Armamento adquirirá know-how na montagem de armamento (até agora só produzia munições e realizava manutenção nas armas), o que permitirá em um futuro oferecer uma gama mais ampla de produtos tanto para o mercado interno como externo.

Principais jornais alemães ficaram sem credenciais para acompanhar julgamento de neonazistas

Karl Huber, presidente do Superior Tribunal Regional de Munique

O tribunal em Munique, Alemanha, onde o julgamento da célula terrorista neonazista NSU deverá começar em 6 de maio enfrenta nova controvérsia em torno das credenciais para a mídia, após vários jornais alemães não terem obtido assentos em uma loteria de passes para a imprensa. Foi a segunda tentativa de alocar assentos depois de a mídia turca ter ficado de fora na primeira tentativa.

O tribunal de Munique onde ocorrerá o maior julgamento neonazista na história da Alemanha enfrentou na segunda-feira novas queixas em torno de processo de credenciamento da mídia, quando os principais jornais alemães não obtiveram passes para os 50 assentos destinados à imprensa.

No mês passado, jornalistas turcos ficaram de fora quando o tribunal fez sua primeira tentativa de alocação de credenciais, com uma política de primeiro a chegar é o primeiro atendido. Isso causou protestos, porque a maioria das vítimas da célula terrorista Clandestinidade Nacional Socialista (NSU) é descendente de turcos. A última integrante sobrevivente da NSU, Beate Zschäpe, será julgada a partir de 6 de maio, juntamente com quatro supostos cúmplices.

O tribunal adiou o início do julgamento de sua data original de 17 de abril para resolver o problema, após o Tribunal Constitucional Federal, em resposta a uma queixa de um jornal turco, ordenar que ele alocasse assentos para jornalistas estrangeiros.

Em uma tentativa de ser justo, ele decidiu sortear os passes para a imprensa. O venerável "Frankfurter Allgemeine Zeitung" e outro jornal nacional, o "Die Welt", não conseguiram credenciais no sorteio realizado na segunda-feira. O "Die Tageszeitung", outro importante jornal alemão, também não conseguiu um assento.

Todos os três disseram na segunda-feira que consideram uma ação legal contra a alocação. Entre as publicações que obtiveram assentos no sorteio estão jornais menos conhecidos, como o jornal local "Hallo Munich" e a revista feminina "Brigitte".

"O julgamento mais importante deste ano e os três grandes jornais de qualidade ficam de fora, diferente do jornal de classificados 'Hallo München' –isso é um absurdo", disse Jan-Eric Peters, editor-chefe do grupo "Die Welt". "Nós estamos considerando uma ação legal para esclarecer isso."

Quatro assentos foram reservados exclusivamente para a mídia turca. Nenhuma grande organização de mídia de língua inglesa, com a exceção da "Al Jazeera" e da agência de notícias alemã, teve um assento reservado.

Jornal sírio entra na guerra da informação


Absi Smesem se tornou o editor-chefe de um novo jornal semanal sírio com a esperança de deixar para trás o que chama depreciativamente de a "fase Facebook" da rebelião.

Ele disse que, com excessiva frequência, não acreditava no noticiário de canais por satélite populares, como a Al Jazeera e a Al Arabiya, fortemente favoráveis à oposição.

Os dois canais dependiam muito de relatos de ativistas locais contratados como correspondentes ou, na falta disso, noticiavam qualquer coisa que a oposição postasse no Facebook.

Smesem contou que, quando o Exército sírio sitiou sua cidade, Binnish, um ativista/correspondente empregou uma expressão árabe que significa literalmente "estamos sendo abatidos", mas que as pessoas no norte da Síria usam com o sentido de "não conseguimos respirar".

Em poucos minutos, rolava na tela do canal um letreiro informando que as forças governamentais sírias estavam cometendo um massacre em Binnish.

"Não há fontes de informação objetivas em nenhum lado, nem no regime nem nos rebeldes", disse Smesem, 46, que é repórter veterano.

Ele considera que os exageros causaram dano à rebelião. "Quando o regime simplesmente desmentia as notícias, e eles estavam certos, isso dava mais credibilidade a Bashar Assad", afirmou.

Para analistas da mídia, a cobertura da guerra civil síria abalou a reputação de canais de TV como Al Jazeera e Al Arabiya.

O jornal de Smesem, chamado "Sham" (outro nome árabe para a Síria), começou a circular em fevereiro, junto com várias outras publicações surgidas na mesma época. Outro, o "Síria Livre", promove o pluralismo, o islamismo moderado e a democracia.

O "Sham" é, sob muitos aspectos, o mais profissional deles, com uma diagramação ágil e bem organizada. Ele é uma extensão da Sham News Network, entidade noticiosa e centro de pesquisas dos ativistas.

Smesem trabalha em uma redação acanhada e esfumaçada com apenas dois outros editores. Eles recebem, segundo ele, textos de 15 repórteres espalhados pela Síria. Seu compromisso em não usar ativistas como correspondentes torna a cobertura esparsa em algumas cidades conflagradas, como Deir al Zour, no leste.

A distribuição do jornal na Síria, segundo Smesem, "é um pouco aleatória" e depende de quais estradas são consideradas seguras no momento. Até 4.000 exemplares são distribuídos gratuitamente no país.

Smesem usa o jornal para confrontar o clima de intimidação que, segundo ele, contaminou cidades como Binnish, onde partidários do movimento fundamentalista salafista aproveitaram seu sucesso no campo de batalha para tomar conta da prefeitura.

Em um editorial, ele criticou o tom dos protestos das sextas-feiras na cidade desde que a Frente Nusra, um grupo extremista islâmico, passou a organizá-los. As pessoas que gritam pela morte de todos os alauítas, escreveu ele, antes participavam do Comitê de Coordenação de Binnish e faziam passeatas semanais em apoio à sociedade civil.

Os editores do "Sham" temem que a liberdade de expressão que emerge das áreas rebeldes não perdure se a ditadura de Bashar Assad cair.

"A revolução começou a dar aquilo para o que ela foi iniciada", disse o editor-executivo do jornal, falando sob anonimato para evitar repercussões para seus familiares ainda na Síria. "O que não sabemos é o que acontecerá depois que o regime cair."

ELBIT equipará o Sisfron


A multinacional israelense ELBIT equipará o Sistema Integrado do Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) do Brasil com câmeras e sensores optrônicos, uma complexa rede de radares, sensores, aviões não tripulados e sistemas de comunicação destinados a garantir a vigilância das fronteiras do país.

Os equipamentos serão desenvolvidos pela AEL Sistemas, uma subsidiária da ELBIT no Brasil, informaram fontes da companhia brasileira nesta segunda-feira à Agência Efe.

O contrato, cujo valor ainda não foi divulgado, se compromete especificamente com a AEL International, uma companhia vinculada à AEL Sistemas e também com sede em Porto Alegre.

Os equipamentos foram encomendados pela Savis Tecnologia e Sistemas, uma das subsidiárias da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), que venceu no ano passado uma licitação do Exército do Brasil para desenvolver e montar o Sisfron.

O Sisfron foi concebido pelo Exército como um sistema de defesa integrado por radares fixos, radares móveis em aviões, sistemas de comunicações, imagens de satélite, câmeras, sensores e veículos aéreos não tripulados, todos totalmente conectados e comunicados com os centros de operações das Forças Armadas.

Esta rede, uma vez implementada, permitirá uma fiscalização remota dos 16.886 quilômetros de fronteira terrestre do Brasil com 11 países vizinhos.

A AEL International será responsável por desenvolver e oferecer os sistemas de observação electro-ópticos que equiparão o sistema de vigilância em sua primeira fase.

Os chamados sistemas optrônicos ou electro-ópticos são câmeras e sensores digitais com capacidade para detectar e identificar objetos a grandes distâncias, seja de dia ou de noite, por poder observar imagens tanto na luz visível como em infravermelho.

Os sistemas também são capazes de informar uma central sobre a geolocalização exata dos objetos observados.

A AEL Sistemas se comprometeu a entregar os equipamentos em um prazo de um ano, a partir de 2014.

A subsidiária brasileira da ELBIT informou igualmente que, como parte do contrato, se comprometeu a realizar investimentos no Brasil para melhorar sua capacidade, sua infraestrutura e suas tecnologias no país.

Isso aconteceu pois a licitação do Exército para a montagem do Sisfron exige uma elevada porcentagem de tecnologia desenvolvida no Brasil.

A fase inicial do Sisfron, contratado em novembro do ano passado por um valor de R$ 840 milhões, prevê a montagem do sistema de vigilância em cerca de 650 quilômetros de fronteira terrestre no Mato Grosso do Sul, que é limítrofe com o Paraguai e Bolívia.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

AK-12: Militares russos podem receber em breve o novo fuzil de assalto Kalashnikov

AK-12

O destino do novo fuzil de assalto russo, o Kalashnikov AK-12, desenvolvido para o Exército Russo, será decidido durante os testes de aceitação do Estado, testes esses que começarão em 2013, informou em comunicado a maior fabricante de armas da Rússia, a Izhmash.

“No interesse do Ministério da Defesa, a Izhmash está trabalhando na modernização dos fuzis de assalto AK-74 e nos fuzis da série AK-100 que atualmente estão em serviço no Exército Russo, bem como o desenvolvimento de um fuzil (novo) de assalto padrão na plataforma AK-12, que passará por testes de aceitação do Estado em junho de 2013”, disse o projetistas de armas da Izhmash, Vladimir Zlobin.

Se os testes forem bem-sucedidos, o novo fuzil de assalto será colocado em produção e será adotado como a arma padrão dos militares.

O desenvolvimento do AK-12 começou em meados de 2012. A nova arma mantem o “layout” e alguns recursos do AK-74, fuzil esse em serviço nas Forças Armadas Russas desde 1970. No entanto, o novo fuzil apresenta várias modificações e mudanças ergonômicas.

O AK-12 apresenta quase 2012 modificações em comparação com o AK-74. A nova arma pode ser municiada até com calibres utilizados pela OTAN, caso do 5.56×45mm e  7.62x51mm.

De acordo com os projetistas da Izhmash, o AK-12 atende as exigências do campo de batalha moderno, mas que o mesmo preserva as qualidades únicas de um verdadeiro Kalashnikov com a simplicidade, confiabilidade e baixo custo de produção.

O AK-12 terá 3 modos de tiro: único, brust de 3 tiros e automático. A recarga do fuzil pode ser feita em tempo recorde e o AK-12 pode ser manuseado tanto por destros, como canhotos. O novo fuzil terá um novo tipo de coronha e poderá ter o cano mudado em um regime modular. O novo fuzil aceitará uma vasta gama de acessórios, uma vez que terá três trilhos Picatinny para a instalação de acessórios.

Tal como acontece nas versões anteriores do Kalashnikov, o AK-12 também poderá receber baionetas . O AK-12 terá carregadores com capacidade para 30, 60 e 100 projéteis, mas será vendido para os civis com carregadores com capacidade para 20 projéteis.


Atiradores russos receberão em breve novos rifles


Os atiradores das Forças Especiais do Exército e Marinha Russa, bem como as unidades de reconhecimento e inteligência, receberão em um futuro próximo novos rifles de precisão, anunciou última sexta-feira (27) o vice-premiê da Rússia, Dmitry Rogozin.

Rogozin fez esse comentário durante uma visita ao KBP Instrument Design Bureau Tula.

Rogozin disse que os novos rifles foram um dos últimos projetos supervisionados por Arkady G. Shipunov, que morreu no último dia 25 de abril.

Rogozin não deu maiores detalhes sobre as novas armas.


Em maio de 2012, o mesmo Rogozin informou que a Rússia começariam em breve a produção de 4 novos conjuntos de armas para seus atiradores de elite.

O primeiro conjunto é projetado para propicia ao atirador um excelente disparo a uma distância superior de 800 metros, o segundo conjunto propiciará um excelente disparo a uma distância superior a 1.500 metros, o terceiro conjunto será destinado às forças policias urbanas e o quarto será usado na formação de novos atiradores.

Os conjuntos estão sendo desenvolvidos por uma equipe especial do Centro de Pesquisas de Tochmash. O time é composto de instrutores das Forças Especiais Russas, esses supervisionam acompanham de perto o processo de desenvolvimento para garantir que as exigências estão sendo cumpridas.

Os militares russos estão planejando implantar até 2016 pelo menos 1.000 atiradores nas brigadas de rifle motorizado e nas brigadas de tanque. Esses atiradores serão capazes de abater um inimigo a distância entre 1 a 2 km de distância.



"Atentado contra a embaixada da França foi uma mensagem", diz ministro líbio

Mohamed Abdelaziz

Nomeado ministro das Relações Exteriores em janeiro dentro do governo dirigido por Ali Zeidan, Mohamed Abdelaziz recebeu o "Le Monde" na quinta-feira (25), dois dias após o atentado que destruiu a embaixada da França em Trípoli, o primeiro na capital líbia desde a queda do regime de Muammar Gaddafi.

Le Monde: Como o senhor analisa o atentado contra a embaixada da França e quais são os elementos de investigação dos quais o senhor dispõe hoje?     
Mohamed Abdelaziz: Esse tipo de atentado pode acontecer em qualquer lugar, vimos isso com o que se passou recentemente em Boston, nos Estados Unidos. Mas somos um país que está se construindo e temos dois grandes desafios a enfrentar. Um desafio interno, com a criação de um Exército e uma polícia de verdade. Só que isso leva muito tempo. E um desafio externo, imposto pelos partidários do antigo regime de Muammar Gaddafi, que hoje são muito ativos. Eles têm relações no exterior e fizeram alianças.
Para nós, o objetivo desse atentado visa claramente prejudicar relações bilaterais que estão muito avançadas entre a França e a Líbia. É preciso manter essa cooperação e estamos felizes pelo fato de que a mensagem da França, dada com a vinda para cá de Laurent Fabius, tenha sido de que não haveria nenhuma consequência negativa sobre essas relações. O segundo aspecto desse atentado é uma mensagem: os autores querem nos dizer que estão aqui, bem presentes e que podem influenciar no processo de democratização que estamos conduzindo. Foi um ato criminoso e terrorista. Por enquanto, sabemos que o explosivo que foi utilizado, entre 100 e 150 quilos, é muito sofisticado e que não foi fabricado na Líbia. O método também dá indicações. A operação foi bem preparada e, considerando a hora matinal em que aconteceu, ela não fez vítimas. Foi uma mensagem.

Le Monde: O senhor parece dizer que uma das possibilidades consideradas aponta para partidários de Muammar Gaddafi?
Abdelaziz: Seria precipitado tirar conclusões, as investigações estão em andamento, mas não se deve descartar essa hipótese. Nossa inteligência estabeleceu, sobretudo através de escutas telefônicas,  relações entre os partidários do antigo regime aqui, no Egito e em outros países. Talvez eles tenham se associado a grupos terroristas como a Al Qaeda para desestabilizar a Líbia. Eles conhecem bem o país, e têm meios financeiros, US$ 150 bilhões, talvez mais, pois não se sabe completamente qual a verba do regime Gaddafi. Nós criamos uma comissão para recuperar esses fundos e fechamos uma parceria com uma empresa americana, pois precisamos de formação especializada.

Le Monde: Um projeto de lei que prevê expulsar todos aqueles que trabalharam no antigo regime tem suscitado muita polêmica nesse momento na Líbia.
Abdelaziz: Pessoalmente, sou contra. Se os critérios atuais fossem aplicados, isso resultaria na expulsão de 80% dos líbios que trabalharam com o antigo regime. Seria preciso praticamente fechar o Ministério das Relações Exteriores! Expulsão por expulsão não funciona. Nós ratificamos acordos sobre direitos humanos e o resultado seria muito negativo. Não, devemos nos concentrar no aspecto penal e criminal. Por trás desse debate, na verdade existe uma dimensão emocional, pois muita gente sofreu durante os 42 anos da ditadura. Mas o futuro da Líbia não se pode basear na emoção.

Le Monde: Após o ataque contra o consulado americano em setembro de 2012 em Benghazi, o envolvimento de islamitas radicais líbios no atentado de Trípoli lhe parece plausível, em razão da intervenção militar francesa no Mali?
Abdelaziz: Existem extremistas que contribuiram para a revolução líbia. Entre 200 e 250 estavam ligados à Al Qaeda antes de serem libertados. Agora, eles dizem que têm a legitimidade para participar do processo democrático, mas 90% da população líbia é moderada. O problema existe. A solução é ter um diálogo com eles e buscar uma política de integração com as famílias. Usar da força não é a abordagem certa no contexto de reconciliação nacional necessária para reconstruir a Líbia. Espero que o Congresso aprove em breve uma lei para a justiça transicional. Após o sucesso da intervenção francesa no Mali, é preciso agora pensar em uma missão de manutenção da paz aliada a um apoio político e humanitário no Mali.

Le Monde: Grupos jihadistas vindos do norte do Mali conseguiram se refugiar na Líbia?
Abdelaziz: Muitos mercenários que combateram pelo antigo regime de Gaddafi partiram para o norte do Mali. Até o momento, não temos confirmação de que existam jihadistas em nosso território, mas isso não é impossível. Aumentar a segurança de nossas fronteiras, com 4.000 quilômetros de extensão, sem contar quase 2.000 quilômetros de costa, é muito difícil. Precisamos para isso da assistência técnica da União Europeia.

Le Monde: As brigadas de combatentes (katibas) que nasceram durante a revolução são onipresentes na Líbia. Será que elas não constituem também um risco para a segurança?
Abdelaziz: Agora dispomos de um estudo muito completo sobre 18 mil desses combatentes, é uma boa base para tomar decisões. Não se pode desmilitarizar sem um plano econômico e social. Alguns começaram a entrar para a polícia e o Exército, mas o número dessas milícias permanece alto, pois elas não confiam na polícia, que elas querem ajudar, ou no Exército, que continua muito insuficiente. Mas é preciso ser objetivo sobre essa questão. Foram essas katibas que mantiveram durante um ano e meio a segurança. Graças a elas, não há muitos crimes. Lembro que entre 16 mil e 18 mil criminosos de direito comum haviam sido soltos das prisões por Gaddafi.

Não temos a capacidade completa, por exemplo, de proteger as embaixadas, mas o Ministério do Interior criou, três meses atrás, um serviço especializado na proteção dos corpos diplomáticos. A vontade política está lá. O problema é tempo.

Combatentes na Síria também contam com jihadistas alemães


As autoridades de segurança da Alemanha acreditam que vários alemães se uniram aos radicais islâmicos nas linhas de frente da Síria. O que mais as preocupa são o treinamento e os laços que eles adquirem no exterior - e se vão continuar a "jihad" quando voltarem para casa.

A trilha de Ibrahim R. esfriou em março de 2013. O jovem da cidade de Pforzheim, no sudoeste da Alemanha, já tinha aparecido no radar da agência de inteligência interna alemã quando ele participou de demonstrações com outros salafistas. Mas então ele entrou em um ônibus rumo à Turquia e desapareceu. As autoridades suspeitam de que hoje esteja combatendo na Síria. A polícia conseguiu bloquear sua primeira tentativa de entrar na Síria com um grupo de extremistas muçulmanos. Mas agora ela o classifica entre aqueles que conseguiram chegar ou estão em trânsito para a Síria.

O caso de Ibrahim R. é um dos muitos movimentos precários seguidos de perto pelas autoridades de segurança alemãs. Embora fora da vista do público, a questão há muito tempo é tratada como uma prioridade doméstica. Em uma entrevista ao "Spiegel Online" na quinta-feira (26), o ministro do Interior, Hans-Peter Friedrich, confirmou oficialmente pela primeira vez que há "jihadistas" alemães na Síria. Friedrich expressou uma especial preocupação sobre "pedidos para que esses europeus treinados em batalha [na Síria] voltem para casa e prossigam com a jihad".

As descobertas das autoridades alemãs refletem o quadro geral das agências de inteligência internacionais, segundo o qual extremistas muçulmanos estão afluindo para a Síria com mais rapidez que qualquer outro lugar. Desde o início da revolução, em março de 2011, o país se tornou um campo de treinamento virtual para simpatizantes da Al Qaeda. Lá eles aprendem a usar armas e explosivos - e forjam laços perigosos com indivíduos de mentalidade semelhante do mundo inteiro.

As autoridades alemãs acreditam que 20 alemães estão atualmente combatendo na Síria. Alguns supostamente teriam levado suas mulheres para lá e viveriam diretamente nas linhas de frente. Em julho de 2012 o Departamento de Estado dos EUA estimou que entre algumas dúzias e cem jihadistas estrangeiros estariam combatendo na Síria. Mas um estudo recém-publicado afirma que esse número desde então cresceu para entre 2.000 e 5.500, e as principais autoridades contraterroristas da UE declararam que pelo menos 500 deles vêm de países europeus. Destes, alguns seriam imigrantes com passaportes europeus, enquanto outros são europeus nativos convertidos ao islamismo.
Salafistas alemães se mobilizam pela Síria

Há meses pregadores do salafismo, um ramo ultraconservador do islã, vêm defendendo na Alemanha a causa síria, mais que qualquer outra. Eles aparecem em grandes eventos beneficentes realizados regularmente, onde pedem doações para ajuda humanitária. Ao mesmo tempo, os pregadores não deixam dúvidas de que não se opõem aos muçulmanos que querem fazer mais que apenas doar dinheiro. "Nossos irmãos e irmãs no islã estão sendo mortos em todo o mundo porque são muçulmanos. Nossos irmãos e irmãs na Síria precisam de nosso apoio", disse o conhecido pregador salafista Ibrahim Abou-Nagie em dezembro. Para ele, a guerra civil na Síria faz parte de uma guerra global entre religiões.
Outro astro do cenário salafista na Alemanha pode já ter partido para a Síria: o rapper jihadista Denis Cuspert, mais conhecido entre seus fãs como Deso Dogg. Depois de fugir para a Síria por medo de ser preso, Cuspert teria feito várias tentativas de entrar na Síria juntamente com outros muçulmanos. As autoridades não podem confirmar se Cuspert já está combatendo na frente síria. Alguns meses atrás circularam rumores de que ele tinha sido morto durante uma luta em Aleppo. Desde então, porém, aparentemente restabeleceu contato com pessoas ligadas a ele na Alemanha.

As autoridades alemãs estão particularmente preocupadas com a capacidade de Deso Dogg servir como propagandista. Analistas dizem que um vídeo que ele fez antes de ir para a frente, no qual pediu que os muçulmanos vão combater na Síria, levou alguns membros hesitantes de seu entorno na Alemanha a seguir seu exemplo. Se ele começar a disseminar vídeos da Síria, as autoridades temem que o material possa ter um efeito ainda maior.

Os jihadistas internacionais demoraram muito antes de aderir à rebelião na Síria. De fato, foi só em fevereiro de 2012, quase um ano depois do início da revolta, que importantes figuras da Al Qaeda o mencionaram em público. Foi quando o chefe da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, disse em um vídeo: "Peço a todos os muçulmanos para ajudarem seus irmãos na Síria o máximo que puderem". Em março deste ano surgiu a primeira convocação à luta na Síria em alemão. Hajan M., que morou durante vários anos na cidade de Kassel, no centro da Alemanha, pediu aos alemães em um vídeo para se unirem à "guerra santa" na Síria.

Mais fácil ir à Síria do que ao Waziristão   
As autoridades de segurança alemãs estão seriamente preocupadas há vários meses com a capacidade de a Síria atrair jihadistas alemães. No final de 2012, Gerhard Schindler, diretor do serviço de inteligência exterior da Alemanha (BND), disse a um pequeno grupo de autoridades de segurança em Berlim que unir-se à rebelião contra o ditador sírio, Bashar  Assad, e ainda mais às brigadas do grupo extremista muçulmano Frente Al-Nusra, tornou-se muito mais interessante para combatentes voluntários do que viajar para a árida região montanhosa na fronteira do Afeganistão com o Paquistão. A Frente Al-Nusra é uma filial do ramo iraquiano da Al Qaeda, e o Departamento de Estado dos EUA diz que o grupo também está em contato regular com líderes da Al Qaeda no Paquistão.

Um dos principais motivos pelos quais jihadistas europeus e alemães estão seguindo para a Síria é simples: a viagem para essa frente é consideravelmente mais fácil do que para o Waziristão. Muitas pessoas que rumaram para campos terroristas dos taleban ou outros grupos militantes no Paquistão e no Afeganistão foram detidas no Irã e países vizinhos. Mas os combatentes voluntários na Europa podem, na maioria dos casos, voar para a Turquia sem visto. Do sul do país, é uma curta distância até a Síria, cuja fronteira é fácil de atravessar.


Diante do grande número de extremistas veteranos já presentes na região, as autoridades alemãs hoje acreditam que os jihadistas da Alemanha não tenham um papel de destaque na Síria. No entanto, elas notam que pelo menos uma parte dos fundos que os rebeldes estão usando para se armar e equipar vem da Alemanha. A polícia tem conhecimento, por exemplo, das frequentes viagens que Reda Seyam, natural de Berlim, tem feito à frente de batalha. Em cada vez ele teria carregado na bagagem vários milhares de euros em dinheiro coletado de membros de círculos radicais em toda a Alemanha.

O que mais preocupa os analistas alemães é a experiência que esses combatentes adquirem na Síria, assim como os contatos que fazem lá. Como foi o caso com o Afeganistão e o Paquistão, eles temem que esses combatentes convidados - especialmente diante da utilidade de seus passaportes para todos os planos terroristas - voltem para seus países natais ou adotivos na Europa com missões terroristas concretas. "Existe uma série de pessoas desiludidas", advertiu Hans-Georg Maassen, diretor do Departamento Federal para Proteção da Constituição, a agência de inteligência interna da Alemanha, algumas semanas atrás. "Precisamos ficar especialmente de olho nessas pessoas, já que elas podem estar voltando com conhecimentos para fabricar armas."

Em meio a reduções de orçamento, Otan vive crise de identidade


É uma angústia profunda, talvez o prelúdio para uma verdadeira crise existencial. Ela resulta de uma questão às vezes enfrentada pelas organizações: "Mas para quê nós servimos, realmente?" E essa questão está começando a ser levantada na sede da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em Bruxelas.

De reuniões ministeriais sem pauta até cúpulas sem decisões, a organização sobrevive, tenta se encontrar e "redefinir" isto ou retomar aquilo. Na verdade, o fim de sua missão afegã em 2014 – com incertezas sobre o que virá depois -, conjugado a uma crise econômica e orçamentária sem precedentes que mina seus membros europeus, tem a mergulhado em consternação. E não são os comentários, abafados ou explícitos, dos dirigentes americanos sobre aquilo que o "International Herald Tribune" do dia 12 de abril chamava de risco de "falta de relevância militar coletiva" dos europeus que devolverão moral ao secretário-geral Anders Fogh Rasmussen e a seus adjuntos... Mais um sinal das dificuldades atuais: uma cúpula dos chefes de Estado e de governo da Aliança foi cancelada, pela incerteza quanto à presença de Barack Obama.

Desde 2010-2011, quase todos os europeus reduziram seus orçamentos militares, alvos bastante fáceis, evidentemente. As opiniões públicas são menos sensíveis a essas medidas do que a outras, que as atingem mais diretamente. No total, o continente dedica hoje à sua Defesa 15% a menos que em 2001. Nem a França, nem o Reino Unido atingem mais a norma da Otan de 2% do PIB dedicado ao domínio militar. O esforço francês deverá se aproximar de 1% em 2025. E embora hoje a Alemanha disponha, no que diz respeito ao armamento convencional, de um orçamento comparável ao da França, ela ainda hesita em tomar a iniciativa que a levaria a um outro status que não o de potência econômica.

Os europeus estão assumindo somente um terço das despesas da Otan, em breve um quarto, ao passo que dez anos atrás eles bancariam metade delas. Nações pequenas e médias estão simplesmente fora do jogo, incapazes de trazer à organização meios militares significativos.

Assim, é difícil continuar funcionando, a longo prazo, como um suposto conjunto unido e consensual. Ainda mais se, como aconteceu na guerra da Líbia, surgirem divergências políticas: oito membros participaram da guerra, mas a Alemanha, a Polônia e a Turquia ficaram de fora. E a Otan, atraída um pouco contra sua vontade para a ação, não deixou de evidenciar as lacunas e as falhas da operação. Que foram muitas, é verdade: reabastecimentos aéreos, meios para inteligência ou técnicas de supressão das defesas antiaéreas inimigas foram insuficientes. Aos soldados dinamarqueses faltou munição; a abstenção de Berlim por um tempo paralisou a frota de aviões de controle Awacs administrada pelas forças armadas alemãs…

A Otan esteve ausente no Mali, onde também não lhe pediram nada ainda que ela se gabasse de ser também uma força antiterrorista; ficou bastante feliz por seu papel no conflito sírio se limitar a enviar mísseis para a Turquia e a fazer planejamento "em todo caso"; e desde 2002 dispunha de uma Força de Reação Rápida que nunca foi acionada; ela buscava uma razão de ser, e um meio de acalmar suas tensões internas. Ela acreditava ter encontrado, com a "smart defence": uma "defesa inteligente" à base de mutualização e divisão de despesas, com uma melhor coordenação dos investimentos e a esperança de economias de escala beneficiando o conjunto.

Os grandes contribuidores da Aliança, hoje pressionados financeiramente, poderiam aceitar a continuar pagando por aqueles que recebem verbas conjuntas ao mesmo tempo em que contribuem muito pouco. E Washington, em dúvida sobre a verdadeira vontade dos europeus de participarem mais, mas também sobre sua real utilidade na solução de conflitos no Oriente Médio ou na Ásia futuramente, talvez visse com bons olhos o aspecto econômico do projeto: expandir as cooperações e os financiamentos conjuntos poderia significar uma maior venda de material americano e uma imposição a todos da norma "made in USA".

Hoje estão sendo lançados projetos concretos de cooperação. Quantos darão em algo? É difícil de dizer, levando em conta sua extensão, as dificuldades financeiras dos europeus e do pouco entusiasmo de alguns deles. Sem falar na concorrência com as iniciativas da sempre quimérica "Europa da Defesa". Esta última lançou projetos de "pooling and sharing", e tanto a França quanto a Alemanha – esta última com mais ambiguidade – se perguntam se, em vez de considerar uma nova divisão de papéis dentro de uma Otan que envelhece, não seria melhor expandir a potência de capacidade da União.

É um belo tema de reflexão para o sucessor de Catherine Ashton, a alta representante da diplomacia europeia encarregada das questões de segurança, em teoria. E para o sucessor de Anders Fogh Rasmussen, que também deixará seu posto em 2014. A menos que, até lá, o Congresso dos Estados Unidos encontre um consenso entre todos ao reorientar de uma vez por todas a participação americana em uma Aliança frequentemente considerada por Washington como definitivamente em declínio.

Economista propõe que países europeus em crise adotem moedas paralelas


Um novo partido de protesto alemão está propondo a gradual reintrodução das moedas nacionais de países altamente endividados da zona do euro. Embora o porta-voz do partido insista que a ideia é capaz de resolver os problemas de todo mundo, ela tem um grande problema: os economistas concordam que ela não vai funcionar.

Bernd Lucke, porta-voz do recém-criado partido Alternativa para a Alemanha, não é um professor de economia comum. Dar as respostas mais complicadas para as perguntas mais simples costuma ser uma das marcas registradas de sua profissão. Mas o economista de Hamburgo adota uma abordagem exatamente oposta. Ele tem uma solução simples até mesmo para o problema mais complicado do momento.

Lucke e seu bando de seguidores acreditam que a crise do euro pode ser resolvida se os países do Sul da Europa saírem da união monetária - não como um big bang, mas lenta e calmamente. O professor quer ver esses países ejetados da união monetária de forma civilizada, de modo que sua retirada ocorra tão suave e harmoniosamente quanto a saída de um integrante do coral da escola.

E qual é a cura milagrosa de Lucke para uma ruptura sem efeitos colaterais? Ele propõe que os países do Sul da Europa introduzam moedas paralelas – ou seja, que ressuscitem o dracma, a peseta, o escudo e a lira, ao lado do euro. Os bancos centrais desses países então atrelariam essas moedas ao euro a taxas fixas. O professor essencialmente quer combinar o melhor dos dois mundos, permitindo que a Grécia, Espanha, Portugal e Itália permaneçam conectadas à zona do euro e ainda recebam suas próprias moedas. Isso lhes permitiria desvalorizar suas moedas e ainda ter uma forma calculável de pagamento à sua disposição. Ao mesmo tempo, defende Lucke, isso reduzirá o custo de seus produtos nos mercados mundiais, sem que os seus títulos percam valor da noite para o dia.

É um remédio com o qual o professor e porta-voz do partido quer evitar o cenário de horror que a maioria dos economistas associam a um rompimento repentino da zona do euro: falências bancárias, colapsos financeiros e demissões em massa. Em outras palavras, uma crise financeira e econômica que muitos acreditam que poderia superar facilmente as consequências catastróficas da falência do Lehman Brothers. Mas moedas paralelas forem introduzidas, sugere Lucke, os riscos podem ser reduzidos. A retirada do euro seria feita "de forma ordenada e certamente cautelosa", e poderia ser revertida após alguns anos com o retorno total à união monetária.

O plano que Lucke defende é certamente atraente, mas tem uma desvantagem: ele não funciona. "A moeda paralela é a pior maneira concebível para resolver a crise do euro", diz Peter Bofinger, membro do Conselho Alemão de Especialistas em Economia, que aconselha o governo. E Clemens Fuest, chefe do Centro para Pesquisa Econômica Europeia (ZEW), vê "desvantagens consideráveis" no conceito.  

É impossível ficar "meio grávida"  
Para começar, o plano de Lucke é extremamente confuso. Para garantir que ambas as moedas podem coexistir de forma ordenada, o plano prevê o uso de euros apenas para pagamentos em dinheiro. Metade de todas as transferências bancárias, no entanto, seriam feitas nas novas moedas. Isto significa que um comerciante grego que cobra 100 euros por seus serviços receberia 50 euros e 50 dracmas no futuro. Todos os acordos de crédito nacionais também seriam divididos entre as moedas paralelas no futuro. Só os saldos bancários existentes dos cidadãos provavelmente ficariam isentos da conversão, e todas as relações de empréstimo transnacionais continuariam sendo acertadas em euros.
Ao mesmo tempo, os bancos centrais teriam de se comprometer a desvalorizar gradualmente os novos dracmas, escudos, pesetas e liras em relação ao euro. Isto faria com que os bens produzidos pelos países em crise ficassem mais baratos e portanto mais atraentes nos mercados globais. Lucke espera que isso leve a um aumento das exportações e a um novo boom econômico.

Esta pode ser sua intenção, mas não vai acontecer. "Lucke age como você se houvesse a possibilidade de ficar meio grávida", diz Bofinger.  Os cidadãos do sul da Europa sabem muito bem que uma desvalorização gradual está longe de ser o suficiente para fazer suas economias domésticas competitiva novamente. O verdadeiro valor da dracma ou do escudo é muitas vezes menor do que o do euro. Assim, o que poderia acontecer é o que sempre acontece quando duas moedas diferentes, com valores estáveis circulam numa economia: as pessoas vão tentar trocar suas divisas nacionais por euros o mais rápido possível, ou vão simplesmente transferir suas economias para o exterior. Em vez de estimular a economia, o novo regime monetário poderia muito bem provocar uma expansão da economia paralela.

Como resultado, ocorreria o oposto do que Lucke e seus colegas críticos da zona do euro querem alcançar. Em vez de mais certeza, a suposta cura milagrosa só criaria mais incerteza. As pessoas teriam de manter duas contas, e ninguém poderia prever o valor de seu dinheiro no dia seguinte. As consequências seriam fatais.

A principal razão pela qual o dinheiro foi bem-sucedido como uma forma de pagamento é que ele torna a compra e venda de bens e serviços calculáveis. Mas, se metade da fatura de cada comerciante tiver de ser paga numa moeda volátil no futuro, este benefício logo se perderia. "Um sistema monetário que ninguém entende está fadado ao fracasso", diz Fuest, presidente do ZEW. "Quando duas moedas competem num país, a mais fraca sempre fica para trás."    

Meio a meio só em teoria   
Isto também é corroborado por experiências históricas. Moedas paralelas foram estabelecidas em muitos países no passado. O marco alemão era uma moeda comum nos Balcãs na década de 1990, e o dólar norte-americano é popular em vários países latino-americanos hoje. El Salvador até mesmo declarou o dólar como sua moeda oficial em 2001.

Quer se trate de dólares ou marcos alemães, a moeda forte sempre prevaleceu sobre a moeda fraca. Os cidadãos dos Bálcãs e da América Latina  estavam apenas seguindo uma regra econômica: moedas estáveis são preferidas para poupar, enquanto as fracas são gastas o mais rápido possível – ou simplesmente trocadas.

Não se deve assumir que os gregos, italianos, espanhóis e portugueses ficarão satisfeitos quando  suas antigas moedas, viciadas em inflação, retornarem, especialmente uma vez que o dracma e outras moedas nacionais têm uma desvantagem psicológica: elas são imediatamente estigmatizadas como moedas da pobreza. Parte do propósito da proposta de Lucke é reduzir os custos trabalhistas no sul da Europa. Se implementada, isso significaria que alguém na Grécia que recebia 2.000 euros por mês no passado, teria que se virar com mil euros e mil dracmas no futuro – e aceitar a desvalorização do dracma.

Mas isso também exacerba os desequilíbrios sociais. Aqueles que conseguirem transferir seus ativos em euros para o exterior em tempo serão poupados da desvalorização da moeda flexível. Mas aqueles que recebem metade de sua renda em dracmas serão feitos de tolos. Isso só poderia ser evitado com rigorosos controles de capital, que dificilmente poderiam ser permanentemente aplicados na União Europeia.

E mesmo que todos os cidadãos se comportem na prática da forma que Lucke imagina, os bancos do sul da Europa estariam ameaçados por cancelamentos substanciais de dívidas, talvez até mesmo pela falência. Porque os saldos das contas de seus clientes, bem como as suas dívidas com clientes estrangeiros, ainda seriam denominadas em euros, enquanto metade das quantias recebíveis no país consistiria de uma moeda em desvalorização, os bancos rapidamente veriam grandes buracos se desenvolvendo em seus balanços. Os euros ficariam de um lado, enquanto metade do outro lado poderia ser de dracmas ou escudos. Até mesmo os credores mais estáveis logo se veriam oprimidos por este princípio contábil.

Estados acabariam com dívidas maiores
Os governos do sul europeu também seriam duramente atingidos. Enquanto o tesouro nacional de Atenas, Roma, Madri e Lisboa têm grandes dívidas em euro no exterior, metade de suas receitas fiscais futuras consistiria ou dracmas ou escudos, que gradualmente perderiam valor. Empresas que emprestaram dinheiro de credores estrangeiros, como o Deutsche Bank ou o Commerzbank, enfrentariam os mesmos problemas.

O fracasso previsível dos bancos, empresas e governos do sul da Europa afetaria a indústria financeira mundial, mas especialmente na Alemanha. Reivindicações dos credores alemães contra mutuários da Península Ibérica, Itália e Grécia chegam a mais de 200 bilhões de euros. Uma parte considerável desse dinheiro provavelmente seria perdido.

No final, isso mostra que as consequências do conceito de moeda paralela de Lucke são comparáveis aos da saída da união monetária, tanto para os próprios países quanto para os outros membros da zona do euro. Só com uma sorte grande essas consequências poderiam ser pelo menos um pouco atenuadas.

Até Lucke provavelmente percebe que sua proposta não resolveria realmente os atuais problemas. No que diz respeito aos efeitos colaterais de sua receita, ele responde com uma ressalva típica: "Não é preciso dizer", escreve ele, "que a transição para uma segunda moeda nacional implica uma série de problemas técnicos."

Embraer vira inspiração


Após a privatização, em 1994, governo federal manteve poder de veto no conselho da fabricante de aviões

A transição da Ceitec de uma empresa pública para a gestão privada tem até um modelo de trajetória. A inspiração é outra organização que começou estatal, gerou tecnologia e formou mão de obra no setor onde atua e hoje é uma das maiores fabricantes de aeronaves do mundo.

– O meu sonho de consumo para a Ceitec é que venha a ser uma espécie de Embraer. É uma empresa na qual o governo preserva o controle estratégico, mas a operacionalização é privada – compara o presidente da Ceitec, Cylon Gonçalves da Silva, ponderando existirem diferenças, como o fato de o ramo da Embraer ter poucos concorrentes.

Criada em 1969 pelo governo federal em São José dos Campos (SP), a Embraer nasceu como uma companhia de capital misto mas de controle estatal, com 500 funcionários e capacidade de produzir apenas duas aeronaves modelo Bandeirante por mês. Foi privatizada em 1994 e hoje é a terceira maior fabricante de aviões do mundo, com R$ 12,2 bilhões de receita líquida no ano passado e 18 mil colaboradores. Apesar de ser sócia minoritária por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a União mantém direito a veto em questões estratégicas, como transferência do controle acionário da companhia.

Secretário estadual da Ciência e Tecnologia durante o governo Olívio Dutra (1999-2003), quando um convênio com a Motorola esboçou o primeiro desenho da Ceitec, o deputado estadual Adão Villaverde (PT) é outro filiado à tese de que a empresa precisa de uma alteração no regime jurídico para ganhar agilidade e competir em um setor com transformações tão rápidas.

– Estou convencido de que o norte da Embraer é um bom caminho. Amplifica a dinâmica da Ceitec, mas é mantida a relação com o Estado. É um negócio de tecnologia de ponta, necessita de grande agilidade para se movimentar rápido, ainda mais em um setor em que as mudanças ocorrem de forma acelerada, mas precisa de algum suporte do governo – avalia o deputado, que não acredita em oposição ideológica a uma eventual privatização da estatal.

Para Villaverde, a Ceitec ainda tem o potencial de representar para o Rio Grande do Sul o mesmo que o polo petroquímico simbolizou na década de 1970 – outro exemplo de empreendimento que nasceu pela mão estatal e criou musculatura após passar para a gestão privada.

Verba pública ajuda a impulsionar o setor
Um pouco mais resistente é o deputado federal Beto Albuquerque (PSB), uma das lideranças políticas que lutaram por recursos para a Ceitec quando coordenava a bancada gaúcha e o Ministério da Ciência e Tecnologia era comandado pelo seu partido. Apesar de concordar que o engessamento estatal não serve para a empresa, prega a manutenção do controle pelo governo federal, nos moldes do que ocorre com a Petrobras.

– A Ceitec poderia abrir o seu capital e conquistar parceiros, mas deve manter o controle estatal – sugere Beto.

Para o parlamentar, a Ceitec precisa ser centrada no design de chips e na formação de mão de obra e não concorrer globalmente como uma fábrica.

Jacobus Swart, especialista em semicondutores da Unicamp, avalia que, a despeito das dificuldades para deslanchar, a Ceitec teve a contribuição de forçar o país a ingressar em uma área que precisa de uma política de apoio persistente.

– O valor investido ainda não trouxe recompensa se considerar apenas o financeiro, mas é um caminho para chegar num cenário com retorno financeiro e tecnológico para o país. Trata-se de uma fábrica não no estado da arte, mas que certamente poderá cobrir um nicho de mercado importante e estratégico para o país – define Swart.

Glock volta a negociar com o EB a abertura de uma fábrica no Brasil

Sede da Glock em Deutsch-Wagram, Baixa Áustria, Áustria

A empresa austríaca Glock, fabricante das famosas pistolas automáticas que levam seu nome, está negociando com o Exército a instalação de uma fábrica de armas no Brasil. A companhia já teria escolhido o Rio de Janeiro como sua base de produção local. Além de abastecer o mercado nacional, em especial o das Forças Armadas, a Glock deve usar a unidade brasileira para atender os demais países da América Latina. Em e-mail enviado à DINHEIRO, a fabricante confirmou seus planos, mas não definiu uma data para começar a operar. Sua maior dificuldade, no entanto, será superar o lobby da gaúcha Taurus, que atualmente equipa a maioria das forças policiais do País e que, no passado, impediu os austríacos de darem seus tiros por aqui.

Em 2006, a empresa chegou a anunciar a construção de uma fábrica em Minas Gerais, na qual seriam investidos R$ 30 milhões. De início, os planos contavam com o apoio do Exército. A ideia era fazer uma sociedade com a estatal Imbel, fabricante de fuzis e pistolas vinculada às Forças Armadas. Um ano depois, as negociações azedaram por conta das exigências feitas pelo governo para autorizar a construção da fábrica. Na época, o presidente da Glock na América Latina, o brasileiro Luiz Antônio Horta, em entrevista à revista ISTOÉ, afirmou que seria a fábrica mais moderna do mundo. "Mas o lobby da Taurus não deixa o projeto andar", disse o executivo. O esforço austríaco para construir sua fábrica no Brasil e não se explorar a via da exportação se justifica.

Por lei, as Forças Armadas só podem comprar armamentos de fabricantes estabelecidos no País. É verdade que as polícias civis e militares podem importar pistolas. Mas a Glock tem tido pouco sucesso nesse mercado. É um cenário bem diferente do que acontece nos Estados Unidos, onde suas armas equipam mais de 65% das forças policiais. Em Hollywood, elas também são cultuadas e ganharam frases de efeito, como a do austríaco Arnold Schwarzenegger, no filme Fim dos Dias (1999): "Só confio em Deus e na minha Glock". No Brasil, por enquanto, apenas o cinema parece ter se rendido ao carisma dos austríacos. No filme Tropa de Elite 2, os integrantes das temidas milícias cariocas ostentavam com orgulho suas pistolas Glock 17. Procurada, a Taurus não deu entrevista.

Venda de armas para EUA sobe 187,5% na gestão Lula


Acima o revólver RT 410 da Taurus; Ele é um dos mais vendidos nos EUA
Os Estados Unidos, que discutem restrições ao comércio de armamentos, adquiriram 7,9 milhões de armas de fogo do Brasil nos últimos 40 anos, e 59% desse total foi exportado durante o governo Lula (2003-2010).

É o que indica um levantamento inédito do Comando do Exército obtido pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação, com o registro detalhado de vendedores e compradores de 9,9 milhões de revólveres, pistolas, carabinas e espingardas, entre outras armas, enviadas para fora do Brasil de 1971 a 2011.

Em 2011, o Brasil foi o líder das exportações para os EUA, com 846 mil armas de fogo, à frente da Áustria (a segunda colocada com 522 mil) e da Alemanha (a terceira, com 313 mil).

O raio x das exportações revela que três empresas criadas nos EUA pelas fabricantes brasileiras Forjas Taurus e Amadeo Rossi adquiriram a maior parte das armas que entraram naquele mercado.
As fabricantes não informam ao governo brasileiro o destino final dessas armas, o que afastaria a hipótese de que estejam sendo redirecionadas a outras países.

Alegando sigilo comercial, a Taurus se recusou a informar à Folha quem são os clientes das suas subsidiárias norte-americanas.

Para especialistas no tema, a reexportação é um fenômeno bastante conhecido. De acordo com eles, centenas de armas fabricadas pela Taurus foram achadas num depósito em Trípoli após a queda do ditador Muammar Gaddafi.

Contudo, no levantamento obtido pela Folha há o registro da venda de apenas duas armas para a Líbia.
Maria Laura Canineu, diretora da ONG Human Rights Watch para o Brasil, afirmou que o país chegou a defender, nas discussões do novo tratado global para comércio de armas, aprovado neste ano na ONU (Organização das Nações Unidas), a exigência de que o exportador emita um certificado de "utilizador final" da arma, mas a versão final do tratado acabou ficando "frágil nesse sentido", sem "uma exigência clara".
Segundo Maria Laura, a nova Lei de Acesso representa um avanço, mas o Brasil "tem enfrentado severas críticas pela falta de transparência na exportação de armas".

A quarta maior compradora nos EUA dos produtos brasileiros foi a Springfield Incorporation, uma conhecida apoiadora da Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês). Há duas semanas, uma proposta de regulação do presidente Barack Obama foi recusada pelo Congresso.

O poder de fogo político das fabricantes brasileiras também se revela em tempos de eleição. Duas empresas e uma associação do setor doaram R$ 3 milhões a candidatos diversos na disputa eleitoral de 2010, incluindo R$ 500 mil para a direção nacional do PT e R$ 200 mil para a campanha que elegeu Dilma Rousseff.

Abaixo dos EUA, os principais destinos das exportações brasileiras foram, em números aproximados, a Argentina (215 mil armas), Paraguai (154 mil), Iêmen (112 mil) e Alemanha (109 mil).

Com uma receita de R$ 701 milhões e lucro líquido de R$ 42 milhões em 2012, a Taurus, sediada no Rio Grande do Sul, foi responsável por mais de 50% das exportações brasileiras nos últimos 40 anos. No relatório de administração do ano passado, a empresa informou que 60% de sua produção foi para o exterior. Desse volume, 88% teve como destino os EUA, o que correspondeu a cerca da metade de sua receita no período. A exportação dos armamentos brasileiros para os EUA aumentou 187,5% nos oito anos do governo Lula em comparação com o mesmo período do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). De 2003 a 2010, as indústrias brasileiras destinaram ao território norte-americano um total de 4,6 milhões de armas, o suficiente para armar a população inteira de países como Noruega e Croácia.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Shipunov morre aos 86 anos

O famoso projetistas de armas russo, Arkady G. Shipunov, morreu ontem, quinta-feira (25) aos 86, em Tula, Rússia.

Sob a supervisão de Shipunov, o KBP Instrument Design Bureau Tula criou vários tipos de armas para o Exército, Marinha e Força Aérea Russa.

Shipunov tinha no currículo 548 artigos científicos e 772 invenções.

Shipunov ficou famoso por desenvolver em conjunto com Vassily P. Gryazev o canhão automático GSh-6-30 e subsequentes.

Shipunov e Gryazev também desenvolveram o canhão GSh-30-1, usado até hoje nos caças MiG-29, Su-34, Su-27, Su-30, Su-33 e Su-35. Muito provavelmente uma variante desse canhão irá armar o caça de 5ª geração russo, o PAK-FA T-50.

Shipunov também ajudou a desenvolver o ATGM Kornet-E, o projétil guiado Krasnopol-M2, o sistema antiaéreo Tunguska e o CIWS Kashtan.

Um dos últimos projetos que Shipunov participou, foi o sistema antiaéreo Pantsir-S1.

Arkady G. Shipunov nasceu em 7 de novembro de 1927, na cidade de Livny, na província de Oriol. Graduou-se em 1950 em Engenharia Mecânica do Instituto Tula de Mecânica.

Shipunov comandou o KBP Instrument Design Bureau Tula de 1962 a 2006. Em 1991, ele se tornou membro da Academia Russa de Ciências. Em 1993, se tornou membro pleno da Academia Russa de Engenharia e 1994, membro da  Academia Russa de Ciências de Mísseis e Artilharia.

Pelos serviços prestados a URSS e a Rússia, Shipunov várias condecorações, incluindo  Herói do Trabalho Socialista, a Ordem de Lenin, a Ordem da Revolução de Outubro e a Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho. Além disso, recebeu os prêmios: Prêmio Lenin, Prêmio Estatal da URSS, Prêmio do Governo Russo em Ciência e Tecnologia.

Arkady G. Shipunov será enterrado no dia 29 de abril, no cemitério Troyekurovskoye, em Moscou.

PQDs saltam no mar

Assista neste vídeo os militares da Brigada de Infantaria Pára-quedista saltando no mar.

Forças Armadas Russas encomendam o primeiro lote de RPG-30 "Kryuk"


As Forças Armadas Russas incorporarão aos seus respectivos arsenais o novíssimo lançador de granadas auto-propelida anti-tanque RPG-30 "Kryuk", comunicou uma fonte militar ao jornal russo Izvestia.


De acordo com o Ministério de Defesa da Rússia, o RPG-30 "Kryuk" é uma arma eficaz contra blindados pesados. O RPG-30 "Kryuk" foi desenvolvido em resposta a criação dos modernos sistemas proteção ativa para blindados como o "Trophy" israelense e o russo Arena.

O RPG-30 "Kryuk" é armada com duas munições: uma real de 105mm e uma "falsa", lançada por um canhão adicional e tem como objetivo ludibriar os sistemas de proteção ativa. Em seguida a munição impacta contra a blindagem do veículo blindado.

A munição do RPG-30 "Kryuk" é compatível com o RPG-29 "Vampir". O RPG-30 "Kryuk" é mais compacto que o RPG-29 "Vampir": O primeiro mede um metro de cumprimento, enquanto o outro mede dois metros. No entanto, o RPG-30 "Kryuk" é mais caro, visto que falso da munição falsa.

Os militares russos encomendaram cerca de 1.000 lançadores RPG-30 "Kryuk" ao custo de US$ 1.7 milhões. O acordo foi assinado com o Ministério da Defesa da Rússia no final de 2012.

Os Distritos Militares Central e Sul serão os primeiros a receberem o RPG-30 "Kryuk", em seguida a arma será distribuídas para os outros distritos militares.



O caos na Síria pode durar por muitos anos


"Basta". O derramamento de sangue na Síria precisa parar, dizem cinco funcionários de alto escalão da ONU. Em um breve texto publicado no dia 16 de abril pelo "New York Times", eles observam: "Depois de 70 mil mortos, incluindo milhares de crianças, depois de 5 milhões de deslocados, sendo que um milhão deles foram obrigados a fugir para fora do país, depois que bairros inteiros foram arrasados, escolas, hospitais viraram ruínas, sistemas de água foram destruídos, depois de tudo isso, os governos ainda não se deram conta da urgência que há em cessar essa carnificina."

É uma constatação amarga, mas correta. A maior parte dos líderes mundiais está assistindo ou acertando contas na Síria. Os chefes das cinco grandes agências humanitárias da ONU não podem declarar isso tão cruamente. No entanto, de forma subentendida é exatamente isso que estão dizendo.


Durante a Guerra Fria, afirmava-se que a ação coletiva ficava paralisada devido ao confronto entre EUA e URSS. Seguiram-se alguns anos de uma preponderância quase absoluta da hiperpotência americana, que logo foi encoberta pelos escombros do colapso iraquiano. Juntamente com outros, a França clamava então pelo advento de um mundo multipolar: o equilíbrio nasceria da coexistência de quatro ou cinco grandes polos de poder. E aqui estamos. Por enquanto, é um mundo de impotência ou de caos.

A guerra na Síria é prova disso. Ela pode ainda durar alguns meses, alguns anos. O regime de Bashar Assad controlaria hoje aproximadamente 40% do território. Mas ele tem o monopólio das armas pesadas, da artilharia, dos mísseis, da aviação e não hesita em usá-los contra seu povo, uma barbárie com prováveis poucos precedentes na História. Fiel aliada, a Rússia garante o abastecimento contínuo do regime em material militar. Outro cúmplice, o Irã também fornece armas e conselheiros, quando não combatentes.

Mesmo derrotado em Damasco, Bashar Assad tem conseguido se segurar com o apoio de sua comunidade. A queda do regime não marcará necessariamente o fim da guerra. Esta já ultrapassou muitos limites considerados intoleráveis pela "comunidade internacional". O exército israelense confirmou por diversas vezes esta semana o uso de armas químicas pelas forças de Assad. Presidente do CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha), Peter Maurer acusa os dois lados de impedirem o envio de ajuda humanitária. Ele denuncia o uso de metralhadoras contra ambulâncias, comboios de enfermeiros e médicos. Mais tarde será feita a contagem dos crimes de guerra. Possivelmente serão encontrados muitos deles.

O que está em jogo com essa guerra vai bem além de uma mudança de direção política em Damasco. O fluxo de refugiados desestabiliza os vizinhos da Síria. A desintegração do país, segundo linhas comunitárias, exacerba também as divergências étnico-religiosas no Líbano e no Iraque – onde volta a despontar o fantasma da guerra civil. O destino das armas de destruição em massa acumuladas pelo regime – graças a seu fornecedor russo – desperta todo tipo de preocupação. Israel já bombardeou um comboio na fronteira com o Líbano: ele tentava encaminhar algumas dessas armas, ou alguns de seus componentes, para os extremistas xiitas do partido Hezbollah. A possibilidade de que essas armas, químicas ou biológicas, caiam nas mãos de jihadistas ativos na rebelião tem tirado o sono de muitos estados-maiores. Em uma hipótese mais sombria, a guerra daria à luz um Estado desmembrado, falido, sob influência islamita no coração do Oriente Médio. Nada animador.

Nenhuma das grandes potências quer esse desenlace, sejam os Estados Unidos, a Rússia, a China ou a União Europeia. Isso iria de encontro a seus objetivos estratégicos a longo prazo. Washington quer um Oriente Médio estabilizado, para se voltar para a Ásia. A Europa tem tudo para temer um foco islamita em sua periferia ao sul. Moscou teme perder junto com a Síria um de seus poucos pontos de apoio na região. Pequim também teria muito a perder: com o tempo, a economia chinesa será a maior dependente do petróleo do Oriente Médio e por isso a estabilidade da região é muito importante.

Todos deveriam trabalhar para uma solução negociada entre o regime e a oposição em seu componente (ainda majoritário?) mais moderado. Todos deveriam trabalhar por um cessar-fogo e apadrinhar uma transição política. Os chefes de agências da ONU citados acima exortam que os grandes líderes mundiais exerçam "uma influência coletiva" nesse sentido. Eles imaginam que os protagonistas não resistiriam por muito tempo a uma pressão conjunta da China, dos Estados Unidos e da Rússia. Mas ela não existe, e aqueles que ainda a esperam são taxados de ingênuos.

Ao final de alguns dias de confrontos árabe-israelenses, em 1967 e em 1973, em plena guerra fria, o Kremlin e a Casa Branca intervinham e anunciavam o fim dos combates após um vaivém intenso de seus diplomatas estrelados. Dessa vez não tem sido assim. No caso da Síria, "onde estão os telefonemas de chefe de Estado para chefe de Estado, as consultas entre Estados-maiores, onde estão os enviados especiais de emergência, com carta branca do presidente, para preparar uma cúpula de alto nível e organizar uma solução para a crise?", pergunta o analista Nader Mousavizadeh, ex-colaborador de Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU ("International Herald Tribune", 17 de abril).

Herdeiro de aventuras militares fracassadas, tanto no Afeganistão quanto no Iraque, Barack Obama se mantém cauteloso. Chineses e russos carregam a maior parte da responsabilidade: eles são contra tudo aquilo que lembre uma ingerência nos assuntos externos de um país fora da UE; ao apoiar Damasco, eles irritam o Ocidente, o que é sempre bom; por fim, por razões diplomáticas, chineses e russos temem a ascensão do islamismo sunita, que movimenta parte da rebelião síria.

A soma dos interesses conjunturais de todos os lados é o que se chama de mundo multipolar, que se mostra incapaz de dar um fim à tragédia síria, assim como de conter a ascensão do programa nuclear iraniano e a chantagem atômica da Coreia do Norte.

Iraquianos vivem ameaça de guerra civil no país


Pouco a pouco, o Iraque está afundando em uma crise política e religiosa que parece estar levando o país inexoravelmente de volta ao auge da guerra civil, entre 2006 e 2009, quando milícias xiitas e combatentes da Al Qaeda cometiam massacres diariamente.

Ainda não é certo que o pior vá acontecer, mas os incidentes de Huweijah, na terça-feira (23), nos quais 25 manifestantes sunitas e dois soldados morreram, são preocupantes em vários aspectos. Esse ataque do Exército, ordenado pelo primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki, contra um protesto de manifestantes sunitas na turbulenta província de Kirkuk, levou a uma espiral de violência que causou a morte de 110 pessoas em dois dias.

Esses atos de violência são os mais graves desde que começou a "intifada" sunita no Iraque, no fim de dezembro de 2012. Esse movimento de manifestantes, desencadeado após a tentativa de prisão de Rafa al-Issawi, ministro da Fazenda e figura em ascensão do cenário político sunita, pretendia denunciar a política de opressão e de discriminação conduzida por Maliki em relação a seus adversários políticos e religiosos.

O "movimento popular" também expressava o mal-estar dos sunitas, os maiores perdedores no Iraque pós-Saddam Hussein desenhado pela administração Bush, que havia optado por se apoiar nos xiitas e nos curdos.    

Radicalização do movimento      
Mas o agravamento da crise política e a recusa do chefe do governo em dar uma resposta global às frustrações exprimidas pelos manifestantes contribuíram para deteriorar e radicalizar o movimento. Pouco a pouco, os extremistas, partidários da Al Qaeda ou da seita religiosa dos Naqshbandi, estão se impondo no lado sunita, arrastando-o para uma escalada de violência de resultado incerto.

Na terça-feira (23), o Exército tentou dispersar à força um acampamento de manifestantes em Huweijah, após um ultimato que os ordenava a entregarem os responsáveis pelo assassinato de um soldado na semana anterior. A intervenção sangrenta dos militares suscitou uma onda sem precedentes de represálias nas províncias de Ninive (Mosul), Salaheddine (Tikrit) e Anbar, principais bastiões da presença sunita no Iraque. Em Ramadi, por exemplo, capital da província de Anbar, seis soldados foram mortos e um caminhão militar foi incendiado.

Mais grave ainda, insurgentes se apossaram da cidade de Souleimane Pak, nos territórios do Norte disputados entre árabes e curdos. Enquanto isso, ataques a mesquitas sunitas em Bagdá e em seu subúrbio trazem o temor de que voltem à ação milícias xiitas que até então estavam dormentes.    

Ruptura acentuada entre xiitas e sunitas      
Também no plano político, o ataque de Huweijah acentuou a ruptura entre xiitas e sunitas. Dois novos ministros sunitas pediram demissão do governo Maliki, dentro do qual Saleh al-Mutlak, um ex-membro do partido Baath, próximo de Saddam Hussein, agora aliado do novo governo, é praticamente o único representante dessa comunidade. "Em vez de jogar o jogo da divisão de poder, Nuri al-Maliki procurou radicalizar os sunitas para unir atrás de si o lado xiita, apavorado com uma possível volta da guerra civil", analisa seriamente um diplomata. Isso é ainda mais preocupante pelo fato de que os partidos curdos também suspenderam sua participação no governo.

Enquanto em 2009-2010 Nuri al-Maliki e Iyad Allawi, ambos xiitas – o primeiro, um islamita moderado, o segundo, laico - , disputavam os votos sunitas, o palco político iraquiano agora se casa quase que perfeitamente com as linhas de ruptura religiosas. Maliki se tornou um líder xiita, apoiado por seu inconveniente vizinho e aliado iraquiano, ao passo que Allawi sumiu do cenário político.

Quanto aos políticos sunitas, ou eles foram sendo dispensados um a um pelo hábil Nuri al-Maliki, ou eles foram forçados a se radicalizar por uma "turba sunita" incandescente e liderada por ulemás, tais como os xeques Abdelmalik al-Saadi, refugiado em Amã, e Rafa al-Rifai, instalado em Souleimaniyé, no Curdistão do Iraque. "São nossos marjas", declarou recentemente em Ramadi um manifestante que estava no protesto, retomando um termo religioso próprio dos xiitas do Iraque.      

"Virada"    
Em Falluja, o xeque Khaled Hammoud al-Joumaili lidera os protestos e o acampamento instalado na entrada da cidade. É um naqshabandi, uma confraria sufi originária do subcontinente indiano, que defende uma visão salafista e radicalmente antipolítica.

"Com os acontecimentos de Huweijah, pode-se falar que houve uma virada", analisa Myriam Benraad, pesquisadora associada ao instituto Science Po Paris e ao Iremam de Aix-en-Provence. Para ela, o incidente ilustra sobretudo "a deriva autoritária do primeiro-ministro Nuri al-Maliki, empenhado em um vale-tudo militar crescente à medida que a situação da segurança vai escapando de seu controle".

Em conflito aberto com o líder curdo Massoud Barzani, detestado pela opinião pública sunita e menosprezado até pelos xiitas – sobretudo pelos partidários de Moqtada al-Sadr - , Nuri al-Maliki está mais isolado, mas também mais poderoso do que nunca. Ou ele acabará renunciando, ou ele se manterá a qualquer preço no poder, arrastando seu país para uma guerra civil.

Região dos Bálcãs busca reafirmação e identidade dentro da Europa

Sarajevo, a capital da Bósnia-Herzegóvnina, se abriu para o turismo e em 2011 foi visitada por 231 mil pessoas

Como em qualquer lugar da Europa, a história recente dos Bálcãs ocidentais foi escrita com sangue. Desde o seu papel no estouro da Primeira Guerra Mundial, passando pela ocupação e resistência durante a Segunda Guerra Mundial e chegando até as batalhas e a barbárie que se seguiram à dissolução da Iugoslávia, as pessoas da região já sofreram o suficiente.

Na semana passada, Ivica Dacic e Hashim Thaci decidiram fazer as coisas de forma diferente. Após seis meses de negociações diretas, os primeiros-ministros da Sérvia e do Kosovo chegaram a um acordo para normalizar suas relações.

Eles estabeleceram uma série de medidas práticas que devem ajudar suas populações a eliminar o medo, aumentar a prosperidade e desempenhar um papel pleno como membros da família europeia.

Mas não devemos exagerar. Esse não é o fim da estrada. É uma bifurcação no meio do caminho – e, na semana passada, dois homens corajosos escolheram o caminho da paz.

Esse não era o resultado que muitos esperavam há seis meses, quando eu reuni Thaci e Dacic em meu escritório em Bruxelas, na Bélgica. Eles nunca tinham se encontrado.

Durante anos, meu escritório havia intermediado discussões técnicas sobre questões do dia-a-dia, como o que exatamente deveria acontecer na fronteira entre a Sérvia e o Kosovo. Essas negociações tinham chegado ao ponto em que era necessário um novo impulso político – e isso significava engajar os dois primeiros-ministros no processo.

Na tarde de 19 de outubro do ano passado, Thaci e Dacic entraram em meu escritório, localizado na sede do recém-inaugurado do Serviço Europeu para a Ação Externa. Nenhum dos dois tinha certeza de como a notícia da reunião seria recebida em seus próprios países. Quando o nosso fotógrafo tirou uma única foto dos dois juntos, eu a segurei até os dois primeiros-ministros se sentissem confortáveis com sua divulgação.

A tarefa deles era encontrar uma maneira de ajudar dezenas de milhares de sérvios kosovares que vivem no norte do Kosovo. Muito tem sido escrito sobre a história dessa disputa. A questão era como acabar com ela.

Esse primeiro encontro durou apenas uma hora. Seu objetivo não era resolver diferenças, mas descobrir se o momento era propício para a manutenção de um diálogo sustentado. Eu percebi que era. E, o mais importante: os dois primeiros-ministros também detectaram a mesma coisa.

Outras nove reuniões se seguiram. Elas foram, por vezes, longas – com encontros de até 14 horas –, muitas vezes detalhadas e, ocasionalmente, tensas. Em diferentes momentos, eu convidei os vice-primeiros-ministros e outras pessoas de ambos os lados para se juntarem a nós. Um acordo só seria alcançado caso fosse endossado por amplas coalizões, tanto na Sérvia quanto no Kosovo.

No final, ambos os lados encontraram pontos em comum em relação ao nível de autonomia que os sérvios kosovares devem desfrutar. De volta a Belgrado e Pristina, o acordo firmado por eles foi bem recebido por membros de todo o espectro político.

Ainda há muito a ser feito para que seja possível implementar o acordo de fato. No entanto, eu acho que é possível refletir sobre as quatro grandes lições que aprendemos durante os últimos seis meses.

Uma liderança corajosa é vital para que se alcancem mudanças duradouras. Em seu estado normal, a política sempre busca explorar as linhas que dividem as pessoas e incitar as diferenças. A principal demanda dos processos de paz é buscar pontos em comum e projetar um futuro compartilhado. Nos últimos seis meses, eu vi homens de Belgrado e Pristina evoluírem e passarem de políticos a pacificadores. Eles sabiam que estavam correndo riscos, mas não se intimidaram – e o crédito é todo deles.

A Europa de hoje – na verdade, grande parte do mundo atual – está desordenada. Temos múltiplas identidades que nem sempre se encaixam facilmente nas simples noções de estado-nação do século 19. Um dos grandes desafios em muitos dos conflitos atuais é reconhecer essa desordem e ajudar as pessoas de diferentes identidades a encontrarem maneiras de compartilhar o mesmo espaço dentro de um espírito de respeito mútuo. Assim, nós temos a chance de ganhar o verdadeiro prêmio: a celebração da nossa gloriosa diversidade.

A EU (União Europeia) pode fazer uma grande diferença. A UE é um grande experimento para fazer a diversidade funcionar em benefício de todos nós. Sim, ela tem suas falhas. Atualmente, a UE está enfrentando desafios econômicos difíceis. Mas, no geral, ela funciona. É por isso que os povos da Europa Oriental queriam se tornar membros da UE assim que se libertaram do domínio soviético. Agora, Sérvia e Kosovo desejam se tornar membros também. O acordo da semana passada iniciou um processo que lhes permitirá entrar para a UE no futuro.

O "hard power", ou o poder da força bruta – que é constituído da força econômica e, às vezes, da força militar –, tem seu lugar, mas o "soft power" tem um grande papel a desempenhar. A UE continua atraindo novos membros, e não apenas porque ela apoia o comércio, a criação de empregos e os investimentos, mas porque ela representa valores como a liberdade e a democracia, que inspiram as pessoas ao redor do mundo.

O poder em estado bruto convida a adoção de medidas calculistas; o "soft power" recompensa a imaginação. O que Ivica Dacic e Hashim Thaci mostraram quando vieram ao meu escritório foi que tiveram a coragem de imaginar um futuro melhor para seus povos.

Aqui, então, está a minha esperança. (E eu sublinho "esperança", pois essa ainda não é uma certeza.) Durante os últimos cem anos, os Bálcãs ocidentais têm sido conhecidos como o berço da guerra. A partir de agora, eles poderão ser conhecidos como o berço da paz.

*Catherine Ashton é a alta representante da União Europeia para relações exteriores e política de segurança.

Além da crise financeira, a Itália precisa enfrentar a estagnação política

O presidente italiano Giorgio Napolitano

Com o passar do tempo, Giorgio Napolitano foi se parecendo cada vez mais com Sísifo, o personagem mitológico condenado pelos deuses a empurrar eternamente para o topo de um monte uma rocha que sempre voltava a cair ao vale. Napolitano dedicou sua vida pública a empurrar a Itália para maiores alturas, para uma política decente a serviço dos interesses da coletividade. Mas na época republicana a política italiana nunca conseguiu caminhar muito fora dos lamaçais.

A missão de formar governo de Enrico Letta é a enésima tentativa de Napolitano de empurrar a Itália para a frente. Vem depois de uma hábil jogada: um duro discurso no Parlamento em que o respeitado mandatário censurou os partidos, diante de todo o país, por seu egocentrismo e imaturidade. Essa bronca limita muito a margem de manobra para novos joguinhos partidários.

Napolitano sabe que a Itália precisa virar essa página política para sair da estagnação em que se encontra. A nomeação do governo técnico de Monti tinha essa intenção. Mas sabe também que a elite do fórum torpedearia qualquer tentativa de mudança radical. A eleição de Letta responde a esses dois elementos. O encarregado de formar governo tem 46 anos, e em um país tão gerontocrático quanto a Itália representa uma mudança geracional, depois da qual seria muito difícil voltar atrás. Mas ao mesmo tempo é um homem do fórum, muito próximo de Prodi e sobrinho de Gianni Letta, executor de ordens políticas de Berlusconi.

O ex-primeiro-ministro vê como um bom escudo ser parte imprescindível de um governo de coalizão. O PD (Partido Democrático), por sua vez, precisa de tempo para se reorganizar depois de seus múltiplos fracassos recentes. Isso aumenta as opções de Letta.

Mas Letta por sua parte tem pouca margem de manobra, porque o fórum se encontra literalmente cercado. O mal-estar dos italianos está em autêntica ebulição, como demonstra o grande sucesso de Beppe Grillo - carismático e populista antissistema - e de Matteo Renzi, jovem prefeito de Florença, do PD, conhecido como o demolidor (do antigo regime). Ambos cavalgam o mesmo poderoso sentimento de cansaço da cidadania para com uma classe dirigente colada com cimento às poltronas do poder.

As classes dirigentes italianas desenvolveram desde a Idade Média uma diabólica capacidade para conservar sua posição e seus privilégios, por meio de eficazes tramas de corporações, legislações, pactos. Mudanças e reformas de calado raramente acontecem de forma natural. São necessários terremotos: o surgimento do fascismo, que arrasou o frágil sistema liberal do início do século; a Segunda Guerra Mundial, que deu lugar à República democrática; Tangentopoli, que acabou com quatro décadas de domínio democrata-cristão.

De modo significativo, embora Tangentopoli fosse um autêntico sismo - em seu clímax, uma turba de gente enfurecida chegou a atirar moedas contra Bettino Craxi, que se exilou na Tunísia -, depois do vendaval subiram ao poder muitos lugar-tenentes da classe dirigente anterior.

O mal-estar de hoje lembra o de então. Mas hoje há, além disso, uma crise econômica que obscurece ainda mais o cenário. Se voltar a cair, a rocha que Napolitano empurra para cima mergulhará em um abismo muito profundo.

Na Venezuela, projeto bolivariano mostra-se inviável sem Chávez

Nicolás Maduro (esq.) e Diosdado Cabello (dir.) param ao lado do caixão do presidente da Venezuela Hugo Chávez (6/3)

O veredicto das eleições na Venezuela, com uma pequena diferença de votos para o vencedor, mostrou claramente as limitações do sonho chavista sem Hugo Chávez. O mandato de Nicolás Maduro foi cimentado sobre a suspeita das flagrantes violações denunciadas pela oposição. As recentes explicações da presidente da Comissão Eleitoral a propósito da revisão exigida por Henrique Capriles - "a auditoria não será uma recontagem de votos nem tem como objetivo a revisão dos resultados" - projetam sérias e graves dúvidas sobre o alcance do procedimento e as intenções reais de um organismo crucial que, assim como as demais instituições venezuelanas, perdeu sua independência durante 14 anos de autocracia.

Maduro, com menos de 2% de vantagem sobre o centrista Capriles, não pode reclamar honestamente um mandato popular para aprofundar a "irreversível revolução socialista". A Venezuela precisa imperativamente de uma mudança de rumo econômico e das regras do jogo político que seu novo presidente não poderá evitar sem arriscar-se a uma violenta convulsão social, por mais que anuncie a seus recém-nomeados ministros um "novo ciclo da revolução".

O veredicto das eleições na Venezuela, com uma pequena diferença de votos para o vencedor, mostrou claramente as limitações do sonho chavista sem Hugo Chávez. O mandato de Nicolás Maduro foi cimentado sobre a suspeita das flagrantes violações denunciadas pela oposição. As recentes explicações da presidente da Comissão Eleitoral a propósito da revisão exigida por Henrique Capriles - "a auditoria não será uma recontagem de votos nem tem como objetivo a revisão dos resultados" - projetam sérias e graves dúvidas sobre o alcance do procedimento e as intenções reais de um organismo crucial que, assim como as demais instituições venezuelanas, perdeu sua independência durante 14 anos de autocracia.

Maduro, com menos de 2% de vantagem sobre o centrista Capriles, não pode reclamar honestamente um mandato popular para aprofundar a "irreversível revolução socialista". A Venezuela precisa imperativamente de uma mudança de rumo econômico e das regras do jogo político que seu novo presidente não poderá evitar sem arriscar-se a uma violenta convulsão social, por mais que anuncie a seus recém-nomeados ministros um "novo ciclo da revolução".

O projeto bolivariano é inviável sem seu inventor. A mistura de carisma, populismo radical, desperdício e repressão com que Hugo Chávez construiu seu modelo - ajudado pelo petróleo que teve seu preço multiplicado por seis na última década e por seu absoluto controle das forças armadas - não está ao alcance de seu pálido herdeiro. Com a economia em ruínas, assim como as infraestruturas, a inflação disparada, duas desvalorizações em quatro meses e escassez de produtos básicos nos supermercados, o novo governo venezuelano enfrenta uma crise tentacular contra a qual a retórica, por mais exaltada que seja, é uma arma descarregada.

Longe de acentuar seu autoritarismo e continuar parodiando a contragosto seu falecido mentor, Maduro deveria se concentrar em soldar um país partido em duas metades aparentemente irreconciliáveis e devolver a credibilidade e a neutralidade às instituições do Estado. Nada seria mais conveniente para o presidente venezuelano e os fiéis que integram seu gabinete do que iniciar sua titânica tarefa livres de toda suspeita de manipulação eleitoral.