Chineses evacuam 3000 trabalhadores chineses no porto de Vung Ang, no Vietnã, após protestos anti-China no país |
Em abril, a Cnooc, uma companhia petroleira chinesa, havia decidido colocar em funcionamento uma plataforma de perfuração nas águas disputadas do arquipélago de Paracel, no Mar do Sul da China, sem nenhum diálogo prévio com Hanói. Essa provocação patente despertou uma reação exaltada do governo vietnamita, no dia 7 de maio: ele enviou navios da guarda-costeira ao local para dizer poucas e boas ao "invasor". Então, se sucedeu uma espécie de batalha naval, com navios chineses aspergindo a flotilha vietnamita com canhões d'água antes de golpear suas embarcações. Estas replicaram brincando também de "navios de bate-bate".
No entanto, seis meses atrás, durante uma visita a Hanói do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, a República Popular da China e a República Democrática do Vietnã indicaram que procurariam se entender quanto a uma possível exploração conjunta das jazidas de petróleo e de gás.
Mais uma vez, os vietnamitas, cientes da necessidade de manter indispensáveis relações econômicas com a China, calcularam que o caminho do diálogo era melhor que o do confronto. Tempo perdido: a repentina instalação da plataforma de perfuração, que o especialista chinês em questões estratégicas Shi Yinhong acredita ser resultante de uma "decisão tomada nas mais altas esferas", acaba de provocar uma visível degradação das relações sino-vietnamitas. Provavelmente uma das mais significativas desde que os dois países embarcaram em uma breve e sangrenta guerra de fronteira em 1979.
Após o incidente naval, manifestações pacíficas de protestos ocorreram em Hanói e na Cidade de Ho Chi Minh, no dia 11 de maio. Elas foram seguidas por violentos ataques contra tudo aquilo que poderia lembrar empresas chinesas em 22 das 63 províncias do Vietnã. Resultado: dois chineses mortos, 140 feridos, centenas de fábricas incendiadas e saqueadas. O Vietnã, que havia deixado passar a manifestação de Hanói, ficou muito constrangido por não ter conseguido impedir que os protestos de operários vietnamitas degringolassem em outras partes contra seus colegas chineses.
Esses terríveis atos de violência são as consequências desastrosas do comportamento de Pequim. A ascensão da China não é somente econômica. Ela tem se afirmado cada vez mais em um modo nacionalista que vem acompanhado da modernização de suas forças militares, sobretudo de sua marinha.
Inflexível vontade chinesa
Desde que foi nomeado ao posto de chefe do Estado, em 2013, o presidente Xi Jinping --que acumula as funções de chefe do Partido Comunista e de chefe da Comissão Militar Central-- se impôs como um dirigente mão de ferro, imperial e voluntarista. Em certo sentido, após os anos de governo do apagado Hu Jintao, Xi tem encarnado politicamente a inflexível vontade chinesa de se impor como uma potência regional. A China reivindica todo esse mar do Sul que leva seu nome, sem falar em sua querela contra o Japão, no Mar da China Oriental.
Será que os vietnamitas acabarão mudando de política em relação à China, que até então eles pretendiam tratar com cuidado? Além disso, isso às vezes rendia duras críticas contra o governo vietnamita por parte de uma opinião pública tradicionalmente muito sinófoba, como ilustrado pelos últimos acontecimentos. Como diz o analista político vietnamita Nguyen Quang A, "os chineses têm o desejo de invasão no sangue. Nós temos a resistência". Exato, uma vez que os vietnamitas acabam de comemorar com grande pompa o 60º aniversário da queda de Dien Bien Phu!
O presidente vietnamita, Truong Tan Sang, elevou o tom após os tumultos dos dias 13 e 14 de maio. "A China diz que o Vietnã deveria se retirar [da zona onde a companhia chinesa instalou a plataforma de perfuração]. Mas ali estou em casa! Por que eu deveria me retirar?", ele declarou.
Até hoje, eram os filipinos que se mostravam mais ofensivos em relação aos chineses. Um mini-confronto em torno de um atol disputado por Manila e Pequim, dois anos atrás, havia beneficiado os chineses: os filipinos tiveram de se retirar, deixando aos pescadores chineses a possibilidade de explorar as águas piscosas do atol de Scarborough.
O presidente Benigno Aquino agora pede por uma arbitragem internacional. Mas a China pouco se importa. Ela despreza todos esses "pequenos" que têm o azar de se encontrarem em sua zona de influência geográfica. Segura de si e dominadora, ela está convicta da potencial supremacia de seu império. Há quem diga que o século 21 será o da China. O que não é uma boa notícia.
Seria deliciosamente irônico se os EUA armassem (direta ou indiretamente) o Vietnã até os dentes e depois ficassem assistindo de camarote um (muito) possível e (muito) sangrento confronto militar com a China! Até imagino os militares no Pentágono, com saquinhos de pipoca na mão, assistindo via satélite o Vietnã enviando os chineses de volta para casa dentro de sacos plásticos pretos!
ResponderExcluirOu verem uma China extendida com uma nova provincia...
Excluir