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domingo, 11 de maio de 2014

Apesar dos obstáculos, jovens ucranianos revelam otimismo com o futuro

Nataliya Gumenyuk, 30, cofundadora do canal Hromadske que transmitiu a revolução do país
O barulho gerado pelas notícias terríveis sobre as regiões rebeldes do leste e do sul da Ucrânia tendem a obscurecer pessoas como Nataliya Gumenyuk, uma energética moça de cabelos espetados que é uma das cofundadoras de um canal de TV online que transmitiu a revolução do país. Apesar da crise, do caos e dos conflitos diários, ela e outros jovens entre 20 e 30 e poucos anos de Kiev insistem que a Ucrânia tem um futuro brilhante à frente --e afirmam que são capazes de construir esse futuro.

Gumenyuk, 30, cobriu as revoltas da Primavera Árabe durante dois anos como jornalista. Por isso ela sabe em primeira mão como até mesmo a revolução mais promissora pode desembocar em uma amarga decepção. Ainda assim, ela diz que está "mais otimista do que há seis meses".

Raios de esperança podem parecer difíceis de encontrar na Ucrânia nos dias de hoje. O país já perdeu um grande naco de seu território após a anexação da Crimeia pela Rússia e pode perder ainda mais. A economia e as finanças públicas ucranianas estão na UTI. E o governo de transição parece incapaz de restaurar a ordem no leste do país, onde os insurgentes pró-Rússia invadiram prédios do governo e ameaçam inviabilizar as eleições nacionais deste mês.

Ucranianos como Gumenyuk veem essas eleições como a próxima e crucial fase da revolução que depôs o presidente pró-Rússia Viktor F. Yanukovych --e que eles esperam que acabe com mais de 20 anos de governos corruptos.

Apesar da bagunça dessa fase pós-deposição de Yanukovych, Gumenyuk e outros jovens dizem estar satisfeitos com a mudança observada em Kiev. O que existia antes era "feudalismo", disse ela. Agora, "meu país talvez não seja capaz de me defender, mas ele não está mais trabalhando contra mim como antes".

Irena Karpa, 33, escritora e música que faz sucesso entre os jovens ucranianos, compartilha o otimismo e o alívio gerados pelo fato de seu país ter se livrado da velha ordem. "Durante muito tempo eu pensei estar sozinha", disse ela. "Finalmente, tudo aconteceu. E as pessoas deixaram de ser tão passivas."

Ela levou os dois filhos, de 2 e 3 anos, para a Maidan --a praça de Kiev que foi o epicentro dos protestos que destituíram Yanukovych-- para explicar o que estava acontecendo. E Karpa descobriu, para sua própria satisfação, que "eu não era nem de longe a mãe mais radical de nosso jardim de infância".

Segundo Karpa, as pessoas da geração de seus pais se concentraram em suas próprias vidas após o desmantelamento da União Soviética, em 1991, e a Ucrânia foi premiada com o que se mostrou uma independência confusa. Os negócios eram realizados na base do "eu te conheço, você me conhece", disse ela, prejudicando o crescimento das empresas e das instituições privadas. Agora "a União Soviética finalmente desmoronou", disse Karpa. "É um prazer viver em outro momento histórico".

Uma lição que ela diz ter aprendido foi a importância do voto. Como muitos de seus contemporâneos, ela não se preocupou em depositar seu voto na urna na eleição de 2010 e lamentou o resultado.

"Eu digo agora que eu fui culpada pela eleição de Yanukovych", disse ela. "Governos ruins são eleitos por pessoas boas que não votam."

Como dezenas de outros jovens ucranianos de Kiev e Donetsk que foram entrevistados ou tiveram suas opiniões citadas durante as duas últimas semanas, Karpa disse que agora está determinada a moldar seu próprio futuro e a dizer o que pensa.

Observadores externos também perceberam o estado de espírito do país. Mikhail B. Khodorkovsky, o magnata russo e adversário político do presidente Vladimir V. Putin, que foi solto em dezembro do ano passado, depois de dez anos na prisão, disse ter visto na Ucrânia "uma disposição para assumir a responsabilidade pelo próprio destino".

Khodorkovsky disse recentemente a ativistas em um centro de artes em Donetsk, uma das maiores cidades do leste do país, que essa disposição distingue a Ucrânia da Rússia comandada por Putin. E Dmitri Oreshkin, um dos comentaristas liberais russos que acompanhavam Khodorkovsky, disse aos ucranianos: "se vocês não gostam das pessoas que estão no poder, vocês podem mudar isso". E acrescentou: "nós não podemos".

Quase todos que estavam presentes no centro de artes disseram acreditar que as eleições nacionais acontecerão como previsto no próximo dia 25 de maio, apesar de a Rússia e de seus aliados do leste desejarem perturbar ou invalidar o pleito. Mas todos se mostraram nervosos sobre o que poderá acontecer até lá, especialmente na próxima sexta-feira, dia em que é comemorada a vitória sobre a Alemanha nazista em 1945 --um feriado anual que assumiu conotações sinistras depois de Moscou começar a acusar as autoridades de Kiev de "fascismo".

Savik Shuster, um veterano da TV russa durante o período em que esse meio de comunicação era, em grande parte, livre do controle do Estado, se mudou em 2005 para Kiev, onde ele agora media debates populares com políticos e cidadãos, que são transmitidos ao vivo. Ele expressou tanta confiança quanto qualquer outra pessoa de que, desta vez, a Ucrânia conseguirá garantir as conquistas da revolução e que não as verá evaporar como ocorreu após a pacífica Revolução Laranja de 2004 e 2005.

Segundo ele e outras pessoas, uma das razões para que isso aconteça é que, dessa vez, sangue foi derramado e a Maidan está pronta para se revoltar novamente caso seja necessário. Ainda há centenas de pessoas acampadas na praça, quase todas elas homens.

Irina Minkova, 44, web designer que foi apresentada como porta-voz na tenda do Comitê da Maidan que fica na praça, falou com fervor sobre defender as conquistas da revolução e apresentar projetos de lei ao parlamento para por fim à corrupção crônica e à má gestão vigentes no país.

Yanukovych "se foi, mas nós ainda não conseguimos quebrar o regime dele" e precisamos continuar lutando para fazer isso, disse ela.

Hanna Hopko, uma jovem ativista que conduziu o vice-presidente norte-americano Joe Biden em um tour pela praça em abril passado, é uma das dezenas de pessoas que têm trabalhado nos projetos de lei. O grupo, que inclui advogados e ex-ministros do governo, apresentou um pacote de propostas no início deste mês.

Gumenyuk disse que o paradoxo da Maidan não está sendo desperdiçado com as forças de segurança ucranianas: segundo ela, como a polícia parece ser corrupta e ineficiente, especialmente no leste, "as únicas pessoas dispostas a defender o Estado são os antigos inimigos da polícia", como ela --gente que está trabalhando para construir uma nova Ucrânia.

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