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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Expansão de gasodutos permitiria à Alemanha diminuir dependência russa

A região que cerca o Mar Cáspio, que acredita-se ter reservas imensas de gás natural, é um primeiro lugar lógico para procurar em uma tentativa de reduzir a dependência da Rússia. Vários campos de gás já estão em desenvolvimento, incluindo Shah Deniz, localizado a cerca de 70 quilômetros ao sudeste de Baku. Países como o Azerbaijão estão de fato muito dispostos a fornecer gás para a Europa. O único problema no momento é que não existe nenhum gasoduto na área que não seja controlado pelos russos.

É um problema que um consórcio de empresas internacionais de energia agora diz querer resolver. Os investidores incluem a empresa alemã de energia E.on, a norueguesa Statoil e a britânica BP. O projeto prevê a expansão de um gasoduto existente do Mar Cáspio e que cruza o Azerbaijão e a Geórgia, a construção de um gasoduto passando pela Turquia e outro que então levaria o gás pela Albânia e Grécia até a Itália. O projeto, conhecido como Gasoduto Transadriático, tem sua conclusão prevista para 2019 e prevê o transporte de cerca de 10 bilhões de metros cúbicos de gás para a Europa por ano. Mas com a hesitação dos bancos, não se sabe se o projeto será concluído.

De fato, um projeto semelhante, o gasoduto Nabucco, foi cancelado em 2013, apesar da participação de grandes empresas de energia como a RWE alemã. Até mesmo a Comissão Europeia se ofereceu para bancar o projeto. Mas no final, o consórcio jogou a toalha em frustração após anos de planejamento.

Um fator no fracasso foi a interferência de Miller, o presidente-executivo da Gazprom, que sentiu que o empreendimento ameaçava seu lucrativo modelo de negócios. A Gazprom pode vender seu gás na Europa a preços comparativamente baratos devido a décadas de investimento significativo em um sistema de gasodutos que se estende por milhares de quilômetros. O Nord Stream, o gasoduto ligando diretamente a Rússia e a Alemanha, concluído em 2011, até mesmo possibilita a Miller contornar países que considere politicamente não confiáveis, como a Polônia e a Ucrânia.

Um gasoduto alternativo do Azerbaijão tem o potencial de desafiar todo seu sistema. Mas Miller agora está dando andamento à construção do gasoduto de sua própria empresa para gás do Mar Cáspio. Quando concluído, o gasoduto South Stream atravessará o Mar Negro pela Bulgária e chegará à Áustria. Na última terça-feira, Miller e a produtora austríaca de petróleo e gás OMV chegaram a um acordo para prolongamento do gasoduto planejado Áustria adentro.

Miller não planeja apenas usar o gasoduto para transportar gás russo para a Europa. Ele também quer transportar gás natural comprado pela Gazprom na região do Cáspio –das mesmas áreas onde os europeus ocidentais atualmente buscam explorar as reservas.

A opção do biogás
Dado que gás não é encontrado exclusivamente no subsolo, outras alternativas também estão disponíveis. Por exemplo, plantas ricas em polpa como milho ou sorgo também podem ser usadas pára produção de gás natural. A cerca de 40 quilômetros a noroeste de Berlim, na cidade de Oranienburg, a KTG Energie opera uma de suas 21 usinas de biogás.

Na usina, uma pá carregadeira despeja compostos orgânicos de cheiro ligeiramente sulfúrico em um tanque de aço em intervalos regulares. Uma esteira transportadora em espiral então leva a massa para o fermentador. "A forma como alimentamos a usina se assemelha a engordar ganso", diz o presidente-executivo da empresa, Thomas Berger, sorrindo.

A KTG Energie tem como proprietária majoritária a KTG Agrar que, com cerca de 40 mil hectares de terras cultiváveis, é uma das maiores empresas agrícolas da Europa. A empresa usa grama e outros grãos de baixo valor para produzir energia ininterruptamente. Duas unidades combinadas de calor e energia transformam parte do biogás em eletricidade, produzindo o suficiente para atender as necessidades de cerca de 4 mil lares. Mas uma parcela muito maior do biogás é purificada para torná-lo compatível com o gás natural e então é injetada em alta pressão na rede do fornecedor local de gás.

Atualmente, o volume de biogás sendo produzido na Alemanha é equivalente a cerca de 20% do que o país está importando da Rússia. Berger estima que tecnologia moderna poderia ser usada para dobrar esse número a curto prazo. "Seriam necessários apenas poucos meses para aumentar a produção", ele diz.

Uma expansão como essa também não significaria automaticamente que os operadores da usina aumentariam repentinamente a quantidade de milho que usam, um dos pontos importantes de críticas à produção de biogás, já que coloca o gás concorrendo com a produção de alimentos. A KTG Energie trabalha principalmente com culturas secundárias como grama ou sorgo, que não servem para produção de alimentos. explica Berger. "Nós estamos criando uma solução para o tanque de gás e o prato do jantar." Ele diz que o lixo orgânico também pode ser usado para produção de biogás.

Ele argumenta que só há um problema: os planos do ministro da Economia alemão, Sigmar Gabriel, de eliminar gradualmente os subsídios federais ao biogás. A mais recente emenda à Lei de Energia Renovável do país já introduz reduções à tarifa atual –particularmente para as usinas altamente eficientes. Com isso, Gabriel busca estabelecer um teto mais alto para os subsídios. "Ela pune o desempenho", diz Berger.

Apesar dessa mudança poder ajudar a conter a escalada dos custos dos subsídios para energias renováveis na Alemanha, é improvável que contribua para reduzir a dependência do país de gás russo.

Alternativas possíveis, porém mais caras
Todavia, a redução da dependência é uma meta ainda possível com a ajuda de esforços modestos, incluindo maior produção de biogás, importação adicional de GNL, exploração das reservas domésticas e a perspectiva de importar gás da região do Mar Cáspio. É claro, nenhuma dessas alternativas estará disponível da noite para o dia. Mais importante, custos mais altos são inevitáveis.

Também há outra alternativa que poderia ser implantada de modo relativamente rápido. A Alemanha poderia estabelecer uma reserva estratégica de gás natural. O país conta com abundância de instalações de armazenamento de gás, e o Ministério da Economia alemão também já tem planos que permitiriam ordenar aos operadores que mantivessem reservas mínimas de gás.

A questão é quem pagaria por esse armazenamento. Os custos seriam pagos pelas empresas de gás natural ou repassados aos consumidores ou contribuintes?

O governo alemão já tomou essa decisão anos atrás em relação a outra fonte importante de energia. Após a crise do preço de 1973, ele obrigou os fornecedores nacionais a criarem reservas em suas instalações de armazenamento para óleo cru e derivados de petróleo, para assegurar uma oferta mínima de 90 dias em caso de uma emergência. Desde então, os custos foram repassados aos consumidores, que são obrigados a pagar US$ 0,27 por litro de gasolina pelo serviço. Esse é o preço por um pouco mais de independência.

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