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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Os riscos que Xi Jinping, o próximo dirigente chinês, enfrentará


Governar a China ao longo da próxima década poderá ser uma das tarefas mais difíceis do planeta.

Xi Jinping, cotado para ocupar a Presidência da China, é observado por Hu Jintao, atual presidente do país
O crescimento econômico em desaceleração, tensões sociais profundas e um crescente nacionalismo militar, centrado na controversa reivindicação de praticamente todo o Mar do Sul da China, fornece um cenário cada vez mais instável para as escolhas difíceis que precisam ser feitas para equilibrar riqueza, estabilidade e justiça, de acordo com analistas chineses. O povo – não só a nova classe média endinheirada, mas também os agricultores e os pobres das zonas urbanas – está clamando o direito de ter voz em vários assuntos, entre eles a corrupção, o direito sobre a terra, moradia, saúde, poluição e, recentemente, até os abortos forçados, que são uma consequência terrível da política de filhos únicos.

Por este motivo, dizem alguns integrantes do governo, criar um senso de igualdade social será um dos maiores desafios à frente do homem que deverá ocupar o mais alto posto do país – Xi Jinping.

Muito dependerá da personalidade do próximo líder. Como será Xi? “Xi Jinping será um pequeno Deng Xiaoping”, diz Wang Zhanyang, um acadêmico bem relacionado do Instituto Central de Socialismo em Pequim.

Adivinhando que as pessoas podem perguntar como é que Xi, que tem mais de 1,80 m de altura, poderá ser um “pequeno Deng” – que tinha 1,50 m –, Wang continuou: “Quer dizer, Xi será um jovem Deng Xiaoping”.

Para Wang, que passou vários anos estudando Deng, a comparação é um elogio. Outros podem entendê-la de uma forma mais ambígua. Deng, o último homem forte da China, que morreu em 1997, era um pragmatista que encorajou o acúmulo de riquezas e convocou uma reforma política (embora nunca tenha estabelecido um cronograma claro para ela). Mas também se agarrou ao poder de forma brutal, tendo notoriamente apoiado o massacre militar de manifestantes pela democracia e cidadãos comuns desarmados em Pequim em junho de 1989. Numa entrevista no mês passado, Wang se concentrou nas qualidades pessoais de Xi. “Ele tem profundidade. É inteligente. Ele lê livros. Isso é muito importante. Uma pessoa que lê pode entender coisas complicadas”, disse.

“Ele pode entender coisas que uma pessoa que só lê artigos ou documentos não pode”, diz ele. Wang diz que, entre os livros que Xi estaria lendo, estão alguns sobre as “contradições sociais” da China – um eufemismo para a crescente inquietação criada por décadas de rápido crescimento econômico em um estado partidário onde os abusos de poder são comuns. Muitos esperam que Xi tente resolver essas questões concentrando-se no bem-estar social.

Diz-se que Xi também leu “A Onda Chinesa” de Zhang Weiwei, professor da Universidade Fudan em Xangai e da Escola de Diplomacia Pública e Relações Internacionais de Genebra. O livro oferece um sumário vigoroso da teoria do “modelo chinês”, que sustenta que a China pode mesclar com sucesso um governo autoritário com uma economia de estilo capitalista. (Entre os títulos dos capítulos estão: “O Modelo Chinês Pode Ter Sucesso” e “Reforma Política, ao Estilo Chinês”.) Ele retrata a ascensão da China como a ascensão de uma civilização – algo maior do que uma nação.

Se Xi ficar com os principais postos do país, como se espera – ele deve se tornar o secretário-geral do Partido Comunista no final desde ano no 18º Congresso do Partido e presidente da China no próximo mês de março –, alguns acadêmicos preveem que o ritmo da reforma acelerará.

Que tipo de reforma? “Reformas gerais. A abertura entrará numa nova fase”, disse um acadêmico muito ligado aos líderes. Ele insistiu em permanecer anônimo, por conta da atmosfera de tensão crescente antes do congresso do partido, que alertou seus integrantes a não falar com repórteres estrangeiros.

Grandes atores políticos, incluindo Xi, estão “unidos para acelerar as reformas que contribuirão para a estabilidade social”, disse o acadêmico.

Grupos poderosos de interesses econômicos estatais, notavelmente nos setores imobiliário, energético e de telecomunicações, exercem uma influência enorme sobre a política, reduzindo o espaço para a reforma, concordam muitos analistas. É aí que as esperanças para Xi são grandes em alguns setores, e onde a comparação com Deng pode ser significativa.

“A China ainda é um país governado por personalidades, não pela lei”, disse o acadêmico que pediu anonimato. “Então é crucial e extremamente importante quem é o líder. Tudo flui a partir disso.”

“A próxima liderança estará cheia de pessoas muito fortes, e embora os grupos de interesses sejam um problema, se o líder for forte o suficiente, ele poderá ser capaz de mudá-los”, disse. Xi pode ter o necessário para isso, diz ele.

Muitas pessoas representando diferentes pontos de vista dentro do partido estão competindo pela atenção de Xi, dizem analistas. Mas os 2.270 delegados que devem se reunir no congresso em Pequim estão basicamente unidos em dois pontos, diz o acadêmico.

“Temos que expandir a demanda doméstica” na economia, para fortalecer o crescimento e diminuir o impacto dos caprichos da economia global, diz ele.

E complementou: “Qualquer que seja a visão deles no futuro, todo mundo concorda que a estabilidade social é uma prioridade. A situação já é consideravelmente urgente.”

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