Acima o MLRS (Artillery SaTuration ROcket System) brasileiro em uso pelo Exército da Malásio |
Venda de armamento convencional pelo país equivale a somente 0,1% do total mundial
Lista de compradores já teve Saddam Hussein e Gaddafi; lei recente prevê regime tributário especial para indústria
Apesar de mitos recorrentes, o Brasil não é nem nunca foi grande exportador de armas, embora tenha uma indústria bélica diversificada e que está de novo otimista quanto ao futuro do setor.
O que dava -e ainda dá- visibilidade à exportação de armas pelo Brasil é o ecletismo dos compradores e a ocasional descoberta de um negócio feito com clientes pouco recomendáveis.
No auge das exportações, dois dos melhores clientes eram os finados ditadores árabes Muammar Gaddafi (Líbia) e Saddam Hussein (Iraque). Também se descobriu agora venda de bombas ao ditador Robert Mugabe, no poder no Zimbábue desde 1980.
No ano passado, segundo o Sipri (Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo), o Brasil foi o 27º maior exportador de armas convencionais. Mas isso é só 0,1% do mercado mundial de armamento. Apenas um país, os EUA, exporta um terço das armas do planeta, com Rússia e França logo depois.
Mesmo no auge do comércio de armas pelo Brasil, de 1980 a 1992, a melhor colocação do país no mercado foi 10º, em 1985. Ainda assim, isso significava menos de 1% do total mundial nesse ano.
O país exportou para 28 nações nesse período, a maioria do Terceiro Mundo, mas incluindo França e Reino Unido, clientes de aviões da Embraer como o versátil Tucano.
O Sipri, porém, analisa só as vendas de armas importantes, como tanques, caças e navios, deixando de lado produtos como armas portáteis e munições. Se o conceito for ampliado para materiais de defesa em geral -incluindo fardamento, rações etc.-, a posição da indústria brasileira já não fica tão feia.
A Abimde (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança) tem 170 empresas associadas, das quais 35 exportam produtos e 20 o fazem com regularidade. Segundo a associação, elas geram cerca de 25 mil empregos diretos e 100 mil indiretos, movimentando mais de US$ 2,7 bilhões/ano, dos quais US$ 1 bilhão em exportação.
O otimismo da associação vem em parte da lei 12.598, sancionada em 22 de março passado. Essa lei criou o conceito de "empresa estratégica de defesa", que, por produzir equipamento considerado fundamental para a defesa do país, tem direito a regime tributário especial e financiamentos para projetos.
O documento que expõe a visão do governo sobre o tema, o Livro Branco de Defesa Nacional, foi enviado ao Congresso faz poucos dias. Nele se lê que, antes da lei 12.598, "as políticas do governo para o setor não se mostravam compatíveis com o crescimento da economia nem com as necessidades de equipamentos das Forças Armadas".
MERCADO INTERNO
Mais que nas exportações, a indústria de defesa está de olho na substituição de importações. Tradicionalmente, as Forças Armadas locais são os principais clientes de uma indústria de defesa.
Entre os principais projetos no Brasil estão o Sistema de Vigilância da Fronteira, o KC-390 (avião de transporte) e o Guarani (blindado sobre rodas), além de várias modernizações de aviões e navios.
"Cada vez mais as empresas brasileiras estão se apresentando como capazes de oferecer produtos e serviços com a qualidade requerida pelas Forças Armadas e órgãos de segurança pública", afirma Carlos Afonso Pierantoni Gambôa, vice-presidente executivo da Abimde.
A associação espera que a demanda gere 60 mil novas vagas diretas e 240 mil indiretas em 2030. Mas mesmo esse cenário só colocaria a indústria brasileira de defesa em 15º lugar no ranking, ao mesmo tempo em que o país seria o 5º ou 6º PIB mundial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário