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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Coreia do Norte se reaproxima da Rússia para atenuar dependência em relação à China

O dirigente norte-coreano Kim Jong-il, em vista à Rússia, quer reforçar os laços econômicos entre os dois países

Kim Jong-il chega à Rússia
O dirigente norte-coreano Kim Jong-il, que chegou à Rússia no sábado (20), a bordo de um trem blindado, deve se encontrar, provavelmente nesta terça-feira, com o presidente Dmitri Medvedev na cidade de Ulan-Ude, a cerca de cem quilômetros do Lago Baikal.

Recebido em Khasan, cidade próxima da fronteira, pelo governador da região de Primorye [Província Marítima], Kim Jong-il visitou, no domingo, a usina hidrelétrica de Bureiskaya.

Esperada desde junho, essa primeira visita, desde 2002, teria por objetivo reforçar os laços econômicos entre os dois países, sobretudo para um projeto de dutos para o transporte de gás liquefeito entre a Rússia e a Coreia do Sul, que passariam pela Coreia do Norte.

Esse encontro deverá também abordar a retomada das negociações multilaterais sobre a questão nuclear. A ajuda russa a um país que tem enfrentado uma nova escassez alimentar será outro tema das conversas. Moscou anunciou o envio de 50 mil toneladas de grãos para a Coreia do Norte.

No plano diplomático, ressaltam os observadores em Seul, essa visita poderia indicar a vontade de Moscou de exercer um papel mais ativo na estabilização da península. A Rússia, que junto com a China, as duas Coreias, o Japão e os Estados Unidos faz parte das conversas de seis lados sobre a desnuclearização da Coreia do Norte (suspensas desde 2008), até hoje se manteve afastada sobre a questão coreana. Se ele se concretizar, o gasoduto teria um impacto econômico e diplomático significativo.

A Coreia do Sul é uma grande importadora de gás natural (32,6 milhões de toneladas em 2010). Em 2008, a Kogas (empresa sul-coreana) e a Gazprom (russa) assinaram um acordo para o fornecimento anual de 10 milhões de toneladas de gás liquefeito a partir de 2015. Como o transporte por mar é caro, um gasoduto atravessando a Coreia do Norte, proposto por Moscou e por Seul, seria mais econômico.

Para a empobrecida Coreia do Norte, a passagem do gasoduto sobre seu território garantiria uma renda sólida (US$ 500 milhões ao ano, segundo analistas em Seul). A Coreia do Sul pretende, por sua vez, obter garantias sérias. Esse gasoduto a tornará, de fato, dependente de Pyongyang para um terço de seu abastecimento em gás liquefeito – do qual ela poderia ser privada se o regime fechar as comportas em caso de tensões, frequentes entre os dois países.

Em sua mensagem a Kim Jong-il para a comemoração, no dia 15 de agosto, do final da colonização japonesa da península (1910-1945), Medvedev afirmou que esse projeto é “um exemplo de reforço de cooperação” entre os dois países e “uma contribuição para a estabilização da península”.

Enquanto a China tem aumentado o número de projetos econômicos ao longo dos 1.300 quilômetros de sua fronteira com a Coreia do Norte (novas pontes, zona industrial conjunta em uma ilha do Rio Yalu) e pretende associá-la ao desenvolvimento de suas três províncias (Heilongjiang, Jilin e Liaoning), a Rússia, que possui somente 17 quilômetros de fronteira com a Coreia do Norte, está bem atrás. Grande aliada de Pyongyang até o colapso da União Soviética, Moscou deixou esse lugar para Pequim. Para o regime de Pyongyang, uma reaproximação com a Rússia permitiria atenuar a dependência em relação à China.

Como é favorável à não-proliferação e não pretende reconhecer a Coreia do Norte como uma potência nuclear, a Rússia aplica, em princípio, as sanções adotadas pelo Conselho de Segurança da ONU em janeiro de 2009. Moscou acredita, no entanto, que uma desnuclearização desse país só seria possível dentro de um acordo global de segurança e de um pacto de não-agressão com os Estados Unidos.

Mas Moscou permanece moderada em suas críticas ao regime norte-coreano. Durante a segunda crise nuclear em 2002, ela havia pedido a Washington que fornecesse provas de que Pyongyang havia violado seus compromissos.

Moscou também poupara a Coreia do Norte, em 2010, após as sérias denúncias levantadas por uma investigação internacional, que acusava um submarino norte-coreano de ter afundado, no dia 26 de março de 2010, o navio sul-coreano Cheonan (46 mortes).

Por fim, a Rússia teve um papel de intermediária na restituição a Pyongyang dos US$ 25 milhões (R$ 40 milhões) congelados pelo Tesouro americano nas contas do Banco Delta Asia em Macau.

Graças ao projeto do gasoduto – pouco provável de ser realizado no momento, por falta de avanços na questão nuclear - , Moscou poderá voltar a se tornar um ator de primeiro plano no jogo diplomático na Ásia oriental, acredita Andrei Lankov, professor da Universidade Kookmin, em Seul.

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