As grandes empresas ocidentais – ENI, BP e Total – esperam retomar suas atividades rapidamente
Rebelde líbio monta guarda em refinaria tomada em 27 de favereiro em Brega |
As companhias petroleiras estão impacientes para retomar o caminho da Líbia: as refinarias são loucas por esse petróleo de baixo teor em enxofre, difícil de substituir com outras produções. Será que as “grandes” dos países mais engajados contra o regime de Muammar Gaddafi (a França, na linha de frente) aproveitarão esse apoio militar?
O chefe do Estado, Nicolas Sarkozy, se revolta em off com o fato de que possam imaginar que ele tenha conduzido “uma guerra pelo petróleo”, sendo que para ele tratava-se de uma campanha militar contra um ditador. Nada impede, no entanto, que as empresas francesas acabem se beneficiando desse apoio político e militar à rebelião.
A começar pela Total. O grupo ainda é pouco presente na Líbia, que representa somente 2,3% de sua produção mundial de hidrocarbonetos. Mas embora não se trate de um país estratégico, todas as áreas de prospecção são importantes para uma companhia que quer aumentar sua produção em 2% ao ano entre 2010 e 2015, considerando que o petróleo é cada vez mais difícil de descobrir e extrair.
Teriam seus dirigentes entrado em contato com os rebeldes durante o conflito? “Somos previdentes”, conta-se na sede do grupo, onde lembram que “conversas estavam acontecendo antes da guerra” para adquirir novos blocos de exploração. Mais direta, a americana Marathon Oil reconhece “conversas preliminares” com os anti-Gaddafi. A BP voltará a enviar expatriados “tão logo as condições locais permitam”. A italiana ENI, a mais bem instalada, também está pronta para voltar ao trabalho.
Nova explosão
A recuperação e reativação da infraestrutura serão longas, sendo que as companhias deverão ter de trabalhar com um persistente risco de instabilidade. Antes da guerra, Trípoli havia estabelecido para si a meta de produzir 3 milhões de barris por dia em 2013.
Voltar aos 1,6 milhão de barris já seria um feito e tanto. “Temos gente de qualidade no setor petroleiro desde os anos 1950”, declarou o ex-diretor do Banco Central, na terça-feira (23), à rede Al-Arabiya. Farhat Omar Guidara “acredita que três a quatro meses bastarão para retomar a produção petroleira”.
Mas e depois? Para a consultoria Wood MacKenzie, uma volta ao estado normal poderia levar até três anos. Foram necessários quatro anos para que o Iraque reencontrasse o nível de produção de antes da invasão americana de 2003, observam os especialistas. O banco de investimentos Goldman Sachs acredita que o país conseguirá produzir somente 585 mil barris por dia até o final de 2012, uma vez que ele não tem fornecido mais do que 60 mil.
Os mercados petroleiros estão comemorando o final da guerra na Líbia. Ela garantia somente 2,2% da produção mundial, mas detém 3,3% das reservas petroleiras do planeta, o que a coloca como número um entre os países africanos.
O “problema” líbio havia feito disparar os preços do petróleo bruto do Mar do Norte até US$ 125 no final de abril. Após o início do conflito, os ocidentais iniciaram conversas secretas com a Agência Internacional de Energia (AIE) para avaliar o risco de escassez. E na terça-feira (23) a AIE decidiu, para surpresa geral, retirar 60 milhões de barris de suas reservas estratégicas para “responder ao desequilíbrio que afeta o abastecimento de petróleo da Líbia”.
O fim do conflito não é uma garantia de relaxamento nos preços. A solidez do crescimento mundial será mais determinante. Durante negociações eletrônicas na Ásia, na quarta-feira, o barril de petróleo se aproximava dos US$ 110. Mas a queda de Muammar Gaddafi também pode alimentar a esperança de outros povos, precipitar o colapso de outros ditadores e desencadear uma nova explosão do ouro negro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário