Cairo ameaça chamar o embaixador pela morte de cinco policiais no Sinai
Egípcios direcionam as solas de seus sapatos em direção à bandeira de Israel na embaixada israelense no Cairo; O ato é uma clara demonstração de indignação com a morte de cinco policias egípcios |
O estopim da crise foi um incidente, ainda confuso, durante os combates entre soldados israelenses e milicianos palestinos que penetraram na quinta-feira em Israel para cometer uma série de atentados. Os israelenses entraram no território egípcio para perseguir os palestinos e na batalha foram alcançados e mortos três policiais egípcios (dois outros gravemente feridos morreram ontem).
Em um primeiro momento, o governo de Benjamin Netanyahu acusou por essas mortes um terrorista suicida palestino. Mas essa versão não se sustentou. Tampouco da parte egípcia as coisas estavam claras: alguns diziam que os policiais tinham sido atacados por soldados do lado israelense da fronteira, outros diziam que tinham sofrido um ataque de metralhadora de um helicóptero e uma terceira versão culpava os palestinos que tentavam escapar para o interior do Sinai.
O chefe do exército egípcio, general Sami Enan, se deslocou até a fronteira para recolher informações sobre o incidente. Na sexta-feira, o primeiro-ministro Essam Sharaf convocou seu gabinete para falar sobre a situação no Sinai, um deserto pelo qual circulam com crescente liberdade guerrilheiros e terroristas, e mais concretamente sobre a morte dos policiais. "O Egito apresentou um protesto formal a Israel pelos incidentes na fronteira e exige uma investigação urgente sobre as razões e as circunstâncias que cercaram a morte de membros das forças egípcias", anunciou um porta-voz militar.
O governo egípcio, que cooperou com os israelenses durante os ataques de quinta-feira, só desejava que Netanyahu ou seu ministro da Defesa, Ehud Barak, apresentasse desculpas e oferecesse alguma explicação pública. A população egípcia nunca se mostrou entusiástica diante da existência de Israel e tende a pensar que Mubarak foi demasiado servil com seu vizinho poderoso. Por isso a junta militar e o governo que assumiram o poder depois da queda do ditador, em fevereiro, precisavam mostrar uma imagem de firmeza. A situação não era muito diferente da da Turquia depois do assalto ao navio Mavi Marmara. Bastava uma declaração mais ou menos compungida de Israel para salvar a face e a aliança. Mas Israel, como com a Turquia, ignorou olimpicamente as queixas.
Milhares de manifestantes furiosos se reuniram diante da embaixada israelense no Cairo. Em Alexandria um manifestante arrancou a bandeira com a estrela de Davi do consulado e a substituiu por bandeiras egípcias e palestinas.
Diante da situação, o governo egípcio elevou o tom. A televisão oficial anunciou que o embaixador em Tel Aviv seria retirado por tempo indeterminado. O embaixador israelense foi convocado com urgência (na realidade o embaixador vive em Israel por razões de segurança e a legação é dirigida pelo encarregado de negócios) para ser informado de que o Egito considerava os fatos "uma infração aos acordos de paz de 1979". As relações pareciam à beira da ruptura.
A ameaça surtiu efeito. Netanyahu se reuniu com seus principais ministros para buscar um remédio para a crise e optou por fazer o que poderia ter feito na véspera. Barak fez uma declaração conciliadora: "Israel expressa seu pesar pelas mortes de três agentes egípcios durante o ataque na fronteira", disse. Acrescentou que a paz entre Israel e Egito era "de grande importância e valor estratégico para a paz no Oriente Médio" e elogiou a "discrição e responsabilidade" das autoridades do Cairo. Também tentou satisfazer uma das exigências egípcias e anunciou que o incidente seria investigado. "Faremos o necessário para evitar que o embaixador egípcio vá embora", explicou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em Jerusalém.
O gesto de Barak, entretanto, foi insuficiente para o Cairo. Um porta-voz diplomático egípcio manifestou à BBC que a declaração não bastava e que eram necessárias "desculpas formais", assim como o compromisso oficial de que qualquer investigação sobre o incidente seria compartilhada por militares do Egito e Israel.
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