Para conseguir uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, o Brasil tem que ser reconhecido como potência militar, diz o pesquisador da Unicamp e coronel da reserva do Exército Geraldo Cavagnari. Leia a íntegra da entrevista concedida à Folha.
Folha - Por que a Índia recebeu apoio dos EUA para entrar no Conselho de Segurança e o Brasil não?
Geraldo Cavagnari - A capacidade militar da Índia já é significativa e a do Brasil, não. E ainda, para agravar, a Índia domina a tecnologia nuclear para fins militares. Não temos isso, não adianta, esse clube é muito fechado.
Folha - O Brasil tem chance de conseguir uma vaga permanente?
Geraldo Cavagnari -Tem, mas não agora. Para ser membro permanente no Conselho de Segurança, o país tem que ser reconhecido como potência militar, o que não é o caso.
Todos os membros permanentes são. Não basta ser uma potência econômica. O Conselho de Segurança da ONU não é um órgão com atribuições econômicas, ele tem atribuições políticas e por isso exige grande capacidade militar.
As vagas permanentes em uma eventual reforma do Conselho de Segurança da ONU poderiam ser escolhidas de forma representativa, com membros da América do Sul de da África, por exemplo?
Isso é uma proposta de países mais fracos, que não têm capacidade militar.
Folha - Então para entrar no conselho o Brasil tem que investir nas Forças Armadas?
Geraldo Cavagnari - O Brasil tem que começar a investir nisso ou não vai ser reconhecido como grande potência. Mas não acho que isso deva ser uma prioridade hoje, primeiro o país tem que ser uma potência econômica para depois poder conquistar a outra posição. Não interessa para o Brasil no curto e no médio prazo o investimento militar, mas o país tem que pensar no seu perfil militar a longo prazo, porque tem as condições de ser uma potência mundial, não como EUA ou Rússia, mas uma potência.
Folha - O Brasil está usando a estratégia de participar de missão de paz da ONU para ganhar prestígio mundial. Isso é suficiente para conseguir a vaga permanente no Conselho de Segurança?
Não. O que funciona é ter capacidade física militar. O resultado é que o Brasil passa a ser um país confiável porque contribui para a estabilidade e a paz mundial. É um pais que pode se contar com ele em determinadas situações de crise. O Brasil tem que se convencer de que é um país que vai crescer, vai se tornar uma potência econômica, mas ser um país que vai ter um papel significativo nas decisões políticas mundiais é outra coisa.
Folha - A importância regional da Índia também pesa no apoio dos EUA?
Geraldo Cavagnari - Sim, pela proximidade com a China. Na região, o único país que faz um contraponto com a China em termos militares é a Índia. Ela está em uma teatro potencial de guerra, que é o sul da Ásia. Já o Brasil está em uma das regiões mais estáveis do mundo, que é a de América Latina, Atlântico e Pacífico sul.
O fato da Índia ter armas nucleares pesou muito na escolha?
Geraldo Cavagnari - Claro que pesou.
O senhor acha que os EUA quiseram mandar algum recado implícito ao Brasil?
Geraldo Cavagnari - Não acho que exista algum recado ao Brasil. Os EUA preferem ter a Índia como uma aliada e não deixá-la como uma potência solta. Ela foi privilegiada no campo estratégico.
Se o Brasil não começar com um plano estratégico além END de investimento pesado em tecnologia de inovação e nuclear. Seremos sempre uma potencial potência.
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