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domingo, 7 de novembro de 2010

Bush lança livro em que conta a história de suas decisões pessoais e no governo

O livro de memórias de George W. Bush, “Decision Points” (pontos de decisão), poderia muito bem se chamar “O Decididor Decide”: é uma autobiografia concentrada “nas decisões mais importantes” de sua presidência e de sua vida pessoal, começando pela decisão de parar de beber em 1986 até sua decisão de invadir o Iraque, em 2003, e as decisões relacionadas à crise financeira, em 2008. É um livro que é parte propaganda, parte mea culpa, parte livro de recortes de família, parte esforço consciente de mudar seu legado político.

Uma obra de lembranças atrapalhada por um autor não dado naturalmente à introspecção, “Decision Points” carece da precisão emocional e do poder evocativo do livro de sua esposa, Laura, “Spoken from the Heart”, publicado neste ano, apesar de ser um esforço consideravelmente mais substancial do que seu livro de memórias de campanha de 1999, “A Charge to Keep”.

Certamente é o livro de memórias presidencial mais casual: quantas obras no gênero começam com uma espécie de confissão evangélica de 12 passos (“Será que eu poderia me aproximar do Todo-Poderoso ou o álcool estava se transformando no meu deus?”), incluem algumas piadas sujas e concluem com um aparte sobre cocô de cachorro?

A prosa em “Decision Points” é utilitária, a linguagem é direta. O modo natural de Bush é de um político/pessoa comum, e seus humores oscilam principalmente entre defensivo e diligente –irreverência de garoto de fraternidade, certeza religiosa e esquecimento quase deliberado.

O Bush que surge nestas páginas será altamente familiar para os leitores do quarteto de livros de Bob Woodward sobre o governo ou “Dead Certain”, o livro de Robert Draper de 2007: um presidente com gosto por grandes ideais e pequenos confortos (como o cooper diário); um chefe do Executivo conhecido por seu otimismo, teimosia e falta de curiosidade. Ao mesmo tempo, “Decision Points” –às vezes de modo deliberado, às vezes inadvertidamente– dá ao leitor um senso excepcional de como personalidade e a interação fatídica de personalidades dentro de um governo pode afetar as políticas que afetarão o mundo.

Ao longo do caminho, Bush reconhece vários erros. Quanto à forma com que seu governo lidou com o furacão Katrina, ele diz: “Como líder do governo federal, eu deveria ter reconhecido as deficiências mais cedo, intervindo mais rápido”. Em relação ao Iraque, ele lamenta “não termos respondido de forma mais rápida ou agressiva quando a situação da segurança começou a se deteriorar após a queda do regime de Saddam”, que a “redução muito precoce de tropas foi o erro mais importante na condução da guerra”, e que ele ainda se sente mal toda vez que pensa a respeito do fracasso em encontrar as armas de destruição em massa no Iraque.

Ainda assim, ele insiste que a “remoção de Saddam do poder foi a decisão certa”: “apesar de todas as dificuldades que se seguiram, a América está mais segura sem um ditador homicida em busca de armas de destruição em massa e apoiando o terror no coração do Oriente Médio”.

Ao longo de seu livro, Bush pula e evita muitas questões sérias levantadas pelos críticos, incluindo a seleção de inteligência que apoiava sua posição por parte dos falcões do governo antes da invasão ao Iraque; o esforço da Casa Branca para aumentar o poder do Executivo na guerra contra o terror; e ignorar o conselho dos militares e do Departamento de Estado em relação ao número de tropas e no planejamento do pós-guerra.

O ex-presidente não trata do papel que a decisão de desviar recursos para a guerra no Iraque teve no ressurgimento do Taleban no Afeganistão, argumentando que “a abordagem multilateral para a reconstrução, saudada por muitos na comunidade internacional, estava falhando”. Ele tenta minimizar os problemas de Guantánamo, escrevendo que os detidos receberam “uma cópia pessoal do Alcorão” e acesso a uma biblioteca, onde um dos livros mais populares era “uma tradução em árabe de’Harry Potter’”. E afirma que “se eu não tivesse autorizado a simulação de afogamento contra os líderes da Al Qaeda, eu teria que aceitar um maior risco de ataque ao país”.

Bush não lida com o papel que suas políticas de desregulamentação, de livre mercado, tiveram no colapso econômico no final de seu segundo mandato. Nem ele assume qualquer responsabilidade pelo feroz partidarismo e divisão política que se enraizou em seu governo.

Várias vezes no livro Bush usa o termo “ser pego de surpresa” para descrever seus sentimentos a respeito de uma crise, que seus conselheiros e membros do Gabinete aparentemente não o informaram. Ele diz que foi pego de surpresa por Abu Ghraib: o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, “me informou que os militares estavam investigando relatos de abuso na prisão, mas eu não tinha ideia de quão explícitas e grotescas eram as fotos”, ele escreve. “A primeira vez em que as vi foi no dia em que foram ao ar no (programa de TV) ’60 Minutes II’.”

Bush diz ter dito aos seus assessores que “não quero mais ser pego de surpresa desse jeito”, após um confronto entre a Casa Branca e o Departamento de Justiça sobre um programa secreto de vigilância. E ele diz que “fomos pegos de surpresa por uma crise financeira que vinha se formando há mais de uma década”. Seu foco, ele escreve, “era assuntos econômicos corriqueiros como empregos e inflação. Eu presumia que qualquer grande problema de crédito seria apontado pelos reguladores e agências de rating”.

Muitos livros por jornalistas e ex-membros do governo delinearam o governo Bush como dado a improvisar na tomada de decisão, temeroso de que os processos tradicionais de revisão de políticas e inclinado a preferir a lealdade em vez da perícia. Em “The Assassins’ Gate”, o escritor George Packer, da revista “New Yorker”, citou Richard N. Haass, um ex-diretor de planejamento de políticas do Departamento de Estado, como tendo dito que uma verdadeira reflexão sobre os prós e contras da guerra no Iraque nunca ocorreu. E em “The Next Attack”, Daniel Benjamin e Steven Simon escreveram que o planejamento dos esforços de guerra frequentemente não eram coordenados, que muitas autoridades trabalhavam fora dos canais, “emitindo diretrizes sem terem seus planos analisados pelo tipo de processo iterativo, tedioso, geralmente empregado pelo governo para assegurar que está pronto para qualquer contingência”.

Em muitos aspectos, este volume confirma essas observações. Bush, famoso por agir de modo “instintivo”, escreve que ao avaliar os candidatos para os cargos do governo, ele procurava por “caráter e personalidade” em um esforço para criar uma cultura que “fomentasse a lealdade –não a mim, mas ao país e nossos ideais”. Em 2006, um assessor lhe disse que “várias pessoas usaram espontaneamente o mesmo termo pouco lisonjeiro para descrever a estrutura da Casa Branca”, ele escreve, assim como “brigas dentro da equipe de segurança nacional” e como “nada funcionava” para acalmar essas batalhas territoriais, incluindo suas próprias conversas como Rumsfeld, com o secretário de Estado, Colin L. Powell, com o vice-presidente Dick Cheney e com a conselheira de segurança nacional, Condoleezza Rice.

Apesar da disposição de Bush de retratar a si mesmo como um líder resoluto, moderno, o livro às vezes tem o efeito de mostrar o ex-presidente como sendo estranhamente passivo e indiferente.

Por exemplo, Bush escreve sobre os fracassos para conter a deterioração das condições de segurança no Iraque, as contínuas brigas entre o Pentágono e o Departamento de Estado, e suas frustrações com Rumsfeld. Mas apesar de dizer que “planejava promover mudanças na Defesa como parte de uma nova equipe de segurança nacional” em 2004, ele acrescenta que não conseguia encontrar um substituto para Rumsfeld. Ele considerou e rejeitou as ideias de colocar Rice ou o senador Joseph I. Lieberman no cargo, que foi recusado pelo ex-secretário de Estado, James A. Baker 3º, que “estava desfrutando de sua aposentadoria”.

A situação no Iraque continuou deteriorando ao longo dos dois anos seguintes, com mais e mais soldados e civis sendo mortos e feridos, e em 2006 um grupo de generais reformados se manifestou contra Rumsfeld.

“Apesar de que estava considerando uma mudança de pessoal”, escreve Bush, “eu não deixaria um grupo de oficiais reformados me pressionarem a demitir o secretário civil de Defesa. Pareceria um golpe militar e estabeleceria um precedente perigoso”.

E assim Rumsfeld permaneceu no cargo até que um velho amigo de Bush do colégio e da faculdade (que ele nomeou para Conselho de Inteligência Estrangeira do presidente) sugeriu Robert M. Gates como substituto. “Por que não pensei no Bob?” se pergunta Bush.

O retrato de Cheney por Bush reafirma a descrição de muitos repórteres como sendo a força motriz por trás da intervenção militar no Iraque. E a descrição de Bush do impulso para a guerra lembra o encontrado no livro “Plan of Attack” de Woodward, no qual havia uma pressão crescente para uma ação: Bush diz que o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Alan Greenspan, lhe disse que “a incerteza está prejudicando a economia”, e que o príncipe Bandar bin Sultan da Arábia Saudita lhe disse: “O Oriente Médio quer uma decisão”.

Mas apesar de muitos livros, como “The Bushes”, de Peter Schweizer e Rochelle Schweizer, e “The Bush Tragedy”, de Jacob Weisberg, enfatizarem as diferenças entre George W. Bush e seu pai –e a necessidade do 43º presidente se diferenciar do 41º– o Bush mais jovem não mede esforços em suas memórias para ressaltar o quanto é próximo de seu pai.

Ele diz que durante o Natal em família em 2002, seu pai disse: “Filho, você sabe quão dura é uma guerra, então você precisa tentar tudo o que puder para evitar uma guerra”, e então acrescentou, “mas se o homem não ceder, você não terá outra escolha”. Posteriormente, após o Bush mais novo ter dado a ordem para ir à guerra, ele diz que seu pai lhe enviou uma nota dizendo: “Você está fazendo a coisa certa. Sua decisão recém tomada é a mais difícil que você já tomou até agora. Mas você a fez com força e compaixão”.

Bush diz que deixou o cargo satisfeito por “sempre ter feito o que acreditei ser certo”. De lá para cá, ele diz, ele vive confortavelmente uma vida comum. Logo após se mudar para Dallas, ele escreve, ele levou seu cão Barney para um passeio matinal: “Barney viu o gramado de nosso vizinho, onde prontamente cuidou de seus negócios. E lá estava eu, o ex-presidente dos Estados Unidos, com um saco plástico na mão, recolhendo aquilo que eu tinha evitado nos últimos oito anos”.

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