Policial corre em busca de proteção contra tiros durante operação na favela da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro |
Veio então o intervalo comercial. E, com ele, a propaganda de uma empresa de blindagem de automóveis. Anunciava "proteção ao seu alcance", a partir de R$ 18.950, um precinho supostamente "popular" para os padrões do serviço.
Tratava-se de uma autêntica propaganda de guerra, do tipo "adapte seu carro aos novos tempos" de terror urbano. Não deixa de ser mais um capítulo, cruelmente irônico, de uma tradição brasileira: problemas públicos, soluções privadas.
Mas deixemos de lado a proteção fantasiosa do anúncio comercial. Há outra propaganda de guerra nas ruas. Ela parte do governo fluminense e ecoa em toda a mídia: a onda de violência e caos que tomou o Rio não passa de uma reação desordenada, um sintoma de desespero do tráfico, que começou a ser desarticulado e desalojado pelas UPPs.
Deve-se mesmo acreditar nisso?
O governador Sérgio Cabral é antes de tudo um grande marqueteiro. Diante de tudo o que estamos vendo, à luz das cenas de uma cidade conflagrada, é preciso no mínimo desconfiar do discurso do êxito da política de segurança. Sua conexão com a realidade parece bem tênue.
O uso de blindados da Marinha para ajudar a polícia a "subir o morro" certamente impressiona. Se alguém ainda hesitava em chamar isso de guerra, às favas com o pudor. A população, exausta ou aterrorizada, aprova tais operações militares.
Porém, no dia em que as Forças Armadas se envolverem no combate ao tráfico, serão inevitavelmente contaminadas por ele. Estaremos então mais próximos de um cenário colombiano de narcobarbárie ou de uma cidade, enfim, pacificada?
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