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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Estados Unidos saem do Iraque sem deixar legado


Soldados americanos baixam bandeira americana em Bagdá e encerram guerra no Iraque


Os óculos espelhados, o lenço no pescoço e o chiclete na boca, a pose dos soldados iraquianos lembra os instrutores americanos que os treinaram. Mas nos inúmeros controles que salpicam Bagdá quase ninguém mais fala inglês. Seus uniformes e suas rotinas de segurança são a influência mais visível depois de quase nove anos de ocupação. Não há McDonald's nem Starbuck's, nem os shoppings centers que há tempo contam com franquias na maioria dos países vizinhos.

Perguntados sobre que marca os americanos deixaram no país, a maioria dos iraquianos responde com um olhar de perplexidade. A insegurança e a destruição da paisagem urbana são as primeiras coisas que vêm a sua mente. Nenhum dos entrevistados menciona a chegada da democracia, a liberdade ou o consumismo que se desatou com a abertura das fronteiras. É preciso insistir um pouco para que reconheçam algumas mudanças que chegaram pela mão do invasor, mas não parece que a cultura americana tenha calado muito fundo.

"Já estudávamos inglês e víamos filmes de Hollywood antes da invasão", afirma Haider, engenheiro informático. "Que eu saiba, só há uma universidade americana em Suleimaniya, e não aqui em Bagdá", indica por sua vez Suha, convencida de que, sem segurança, a liberdade que os ocupantes trouxeram é irrelevante. No entanto, a sociedade se transformou em muitos aspectos.

Husam tinha 20 anos quando os americanos chegaram em 2003. Havia crescido durante os anos da guerra contra o Irã, primeiro, e depois as sanções econômicas. "Não posso dizer que me faltasse nada básico, mas também não tínhamos nenhum estímulo", admite.


O relato das viagens que seus pais haviam realizado ao exterior antes de ele nascer parecia uma fantasia. O Iraque estava fechado com dois cadeados, o da ditadura que dificultava sair do país e o de um mundo exterior que também não facilitava vistos. A televisão nacional, três cadeias que competiam em tédio com suas reiteradas imagens de Saddam Hussein, também não traziam muita distração. O acesso à Internet, que havia sido autorizado apenas dois anos antes, era absolutamente controlado e só era possível com cartões pré-pagos que saíam muito caro.

"Essa foi a maior mudança", admite Husam. Ele e seus amigos abraçaram as novas tecnologias com o fervor do convertido. Passavam as noites zapeando as centenas de canais que as parabólicas trouxeram como por magia, ou conectados à web nas primeiras "lan houses" que ofereceram conexões baratas. Também descobriram com fascínio os telefones celulares, até então proibidos. E perderam o curso acadêmico.

As tentações foram demasiadas. Husam demorou vários anos para encontrar o norte e, com a ajuda do pai, colocar-se em uma empresa de serviços no aeroporto. Ali trabalhou lado a lado com os americanos e descobriu uma ética do trabalho diferente, mas também relações pessoais mais frias e reguladas. O pior? "A comida", responde sem hesitar, convencido de que "onde houver uma 'chawerma' [cordeiro ou frango assado em fogo baixo], que tirem os hambúrgueres". Talvez seja essa a razão pela qual não proliferaram os restaurantes de comida rápida tão populares nos EUA.

Mas não só os jovens foram tentados pelo mercado de consumo que se abriu ao mesmo tempo que as fronteiras. O pai de Husam trocou rapidamente seu velho Brasili, como eram conhecidos aqui os Volkswagen Passat fabricados no Brasil, por um BMW de segunda mão. Todo mundo comprou um carro novo. E televisores, aparelhos de ar condicionado, eletrodomésticos...

Nem sequer na roupa se percebe a influência. Enquanto em outros países da região se veem jovens que, mesmo vestidos com as túnicas tradicionais, adotam o boné de beisebol como complemento, nas ruas de Bagdá impera a vontade de passar despercebido. O objetivo é não chamar a atenção para evitar sequestros e extorsões. Por isso as cores preferidas são diferentes tons de cinza e marrom, e o visual popular é mais Teerã que Nova York.

Dá a impressão de que os iraquianos quisessem se afastar de um hóspede que chegou sem convite e ficou mais que o tolerável. Inclusive o antigo hotel Sheraton tirou de sua fachada o símbolo da cadeia, que manteve durante duas décadas depois de deixar sua gestão.


Um comentário:

  1. Deixaram um legado de destruição, carnificina, torturas e humilhações. Os iraquianos serão eternamente agradecidos ao Tio Sam por livrar-lhes do malvado Sadam, promover a destruição e o caos social. Certamente ocorrerá uma guerra civil pelo controle do que sobrou do pais.


    Bem, seja lá como for, missão cumprida!! Mais um país redemocratizado!
    Palmas para os EUA!!

    E agora, irão redemocratizar o Irã ou a Siria?

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