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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A doutrina do silêncio do governo Obama: pouco se fala nas mudanças da estratégia dos EUA


Barack Obama

O governo Obama tem uma doutrina. É a chamada doutrina do silêncio. Uma mudança radical em relação à guerra ao terror do presidente Bush, ela nunca foi explicitada para o povo norte-americano. Poucas vezes houve uma mudança tão grande na abordagem da política estratégica norte-americana com tão pouca explicação.

Eu aprovo a mudança embora ela me deixe inquieto. Um dia, eu suspeito, esta política e este silêncio cobrarão seu preço. O presidente Obama está agindo encoberto.

Pode-se imaginar que um dia alguém em Teerã, Islamabad ou Sana acordará e dirá: “Ei, esse cara Obama fez a guerra em nosso país, mas esqueceu de dizer isso. Será que devemos entrar em guerra com o país dele?”

No Irã, uma grande explosão numa base militar perto de Teerã matou recentemente o general Hassan Tehrani Moghaddam, uma figura central no programa de mísseis de longa distância do país. Cientistas nucleares morreram nas ruas de Teerã. O vírus de computador Stuxnet provocou o caos nas instalações nucleares iranianas.

Seria uma ingenuidade tremenda acreditar que esses acontecimentos não são resultado de uma iniciativa encoberta norte-americana-israelense para sabotar os esforços do Irã em desenvolver sua capacidade militar nuclear. Uma guerra cibernética intensa e com farto financiamento contra Teerã está em andamento.

A raiva do Paquistão em relação a uma onda de ataques de aviões teleguiados autorizados por Obama explodiu em fúria com a morte de pelo menos 25 soldados paquistaneses num ataque da Otan contra dois postos militares perto da fronteira afegã.

O governo paquistanês ordenou que a Agência Central de Inteligência (CIA) interrompesse dentro de 15 dias as operações com aviões teleguiados que ela comanda a partir de uma base no oeste do Paquistão. Os ataques teleguiados se tornaram a marca do domínio de Obama. Eles mataram duas vezes mais suspeitos de pertencer ao Talebã e a Al Qaeda do que já foram presos em Guantánamo.

Um desses ataques de aviões teleguiados, é claro, matou um cidadão norte-americano, o propagandista da Al Qaeda Anwar al-Awlaki, no Iêmen há algumas semanas.

O governo dos EUA diz poucas coisas sobre essas novas formas de lutar contra os inimigos. Mas a mudança de direção estratégica é clara: os EUA decidiram que as guerras convencionais de resultado incerto no Iraque ou Afeganistão, que podem, de acordo com um estudo da Universidade Brown, acabar custando pelo menos US$ 3,7 trilhões, são uma maneira ruim de lutar contra os terroristas e que é preferível usar maneiras bem mais baratas e mais precisas de eliminar inimigos – mesmo que a legalidade desses assassinatos seja questionável.

A defesa norte-americana da legalidade se baseia no ato de Autorização do Uso da Força Militar de 2001, que permite ao presidente usar “toda a força necessária e apropriada” contra pessoas, organizações ou nações ligadas ao ataque de 11 de setembro, e em várias interpretações do direito de autodefesa de acordo com a lei internacional.

Mas matar um cidadão norte-americano levanta questões constitucionais particulares; a legalidade dos ataques de aviões teleguiados continua sendo uma questão difícil. E o Irã não participou do 11 de setembro.

Em geral, é difícil resistir à impressão de que há uma tendência para o extrajudicial na política externa norte-americana – uma espécie de “Likudização” de como lidar com os inimigos. Israel nunca hesitou em matar inimigos e sujar as mãos de sangue onde quer que estivesse.

Nenhum norte-americano se sente totalmente confortável com essa consequência.

Então por que eu aprovo isso tudo? Porque a alternativa – o imenso custo em sangue, dinheiro e reputação da guerra ao terror do governo Bush – era horrível. Da mesma forma, os resultados de uma guerra de bombardeios convencional contra o Irã seriam horríveis, quer fosse realizada por Israel, os Estados Unidos ou a combinação dos dois.

As escolhas políticas normalmente precisam ter duas opções pouco apelativas. Obama fez exatamente isso. Ele ficou encoberto – e tomou a decisão certa.

Então por que estou tão inquieto? Porque essas opções encobertas e na fronteira da legalidade – guerra cibernética, assassinatos por aviões teleguiados e explosões estranhas em bases militares – são um convite à vingança, prejudicam o compromisso norte-americano com a lei, e deixa os aliados desconfortáveis.

Obama poderia ter dado mais explicações. É claro que ele não quer falar muito sobre operações secretas. Ainda assim, à medida que o exército norte-americano se prepara para sair do Iraque (deixando um punhado de guardas na embaixada), e a guerra do Afeganistão entra em seu último ato, ele deve ao povo norte-americano, aos aliados dos EUA e ao mundo um discurso que estabeleça porque os Estados Unidos não embarcarão novamente neste tipo de guerra inconclusiva e em vez disso adotaram uma nova doutrina que substituiu a luta contra o terror pelo assassinato de terroristas. (Ele também pode explicar porque Guantánamo continua aberta.)

Só porque é impossível falar sobre algumas operações realizadas dentro desta doutrina não significa que toda a doutrina deva ficar coberta pelo silêncio.

A política externa tem sido o forte de Obama. Ele merece um grande crédito por matar Osama bin laden, atuar pela libertação da Líbia, apoiar a busca por liberdade no mundo árabe, tirar a força da guerra no Iraque, dar repetidos golpes na Al Qaeda e restaurar a prejudicada imagem dos EUA.

Mas o fracasso da doutrina do silêncio está ligado ao seu fracasso mais amplo na economia: ela evidencia a reticência, a frieza e a distância do presidente, o que deixa os norte-americanos desconfortáveis.

Um comentário:

  1. Quando o EUA ou aliados sofrem ataques, com explosões e assassinatos isto é chamado de "terrorismo", já quando o EUA faz o mesmo tipo de ação, só que com muito mais meios e sofisticação (e número de vítimas infinitamente maior), chamam isto de guerra assimétrica, "combate ao terrorismo" e blá-blá-blá.... certo, certo....

    E esta guerra assimétrica tem um defeito insuperável para o loby da indústria de armas...é muito economica, gasta pouco! Isto não pode!

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