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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Comando da Marinha Russa avalia a classe de corvetas “Gremyashchy” como desnecessária e custosa


O comando da Marinha Russa não está muito contente com as corvetas furtivas do Project 20385 (classe Gremyashchy).

Segundo o jornal russo Izvestia, que cita uma fonte do comandando da Marinha Russa, os militares não concordam com o alto custo dos navios, bem como o poder excessivo de suas armas.

Em geral, o comando da Marinha Russa chegou à conclusão de que a nova forma do Project 20385 não necessário e mais: Das 8 corvetas dessa classe idealizadas, somente a a primeira, a Gremyashchy, será finalizada e as demais canceladas.

O custo estimado de uma corveta do Project 20385 (versão modificada do  Project 20380 - classe Steregushchy) é de US$ 457 milhões e pode chegar a US$ 588 milhões. Para efeito de comparação, uma fragata do Project 11356R/М desloca uma tonelagem duas vezes maior que uma corveta do Project 20385. Assim, a Marinha Russa concluiu que os custos de utilização de uma corveta da classe Gremyashchy são demasiadamente caros, mesmo com a tecnologia stealth.

Além disso, a Marinha Russa crê que os mísseis de cruzeiro Kalibr projetados para destruir alvos terrestres são armas excedentes e não são armas necessárias para um navio que atua perto do litoral. Esses mísseis são mais adequados para submarinos que se aproximam secretamente do litoral inimigo para realizar disparos de mísseis. Em particular, os mísseis Kalibr serão utilizados nos submarinos do Project 636 Varshavyanka.

Por petróleo e contra o Irã, Turquia busca aumentar influência no Crescente Fértil

Primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdoğan (esq.) se encontra em Teerã com o presidente do iraniano Mahmoud Ahmadinejad (dir.)

O segredo mais aberto em Ancara é o de que a Turquia detesta o Irã, que ele vê como minando seus interesses na Síria e no Iraque. Os líderes turcos não reconhecerão isso publicamente, pois seu país precisa desesperadamente do petróleo e do gás natural iranianos para dar continuidade ao seu crescimento econômico fenomenal.

Mas Ancara cada vez mais considera tanto o Iraque quanto a Síria como arenas de um conflito indireto com o Irã; no primeiro, a Turquia apoia os árabes sunitas e os curdos contra o governo central em Bagdá, sob o primeiro-ministro xiita Nuri Kamal al Maliki, visto pela Turquia como um fantoche iraniano; no segundo, Ancara apoia os rebeldes contra o regime Assad apoiado por Teerã.

A Turquia respondeu ao desafio do Irã desenvolvendo influência no norte tanto do Iraque quanto da Síria. Isso sinaliza a ascensão de uma política turca ainda não declarada no Oriente Médio: antecipando a descentralização da Síria pós-Assad e esperando tirar proveito do norte curdo autônomo do Iraque, a Turquia está criando um "cordão sanitário" por todo o norte do Crescente Fértil, construindo influência entre a população curda assim como em grandes centros comerciais como Aleppo e Mosul.

Quando a Turquia decidiu estreitar seus laços com seus vizinhos muçulmanos há cerca de uma década, ela esperava que essas relações ajudariam a reforçar a estabilidade no Iraque e melhorar os laços políticos com a Síria e o Irã.

Mas as rebeliões árabes tornaram esses planos obsoletos. Inicialmente, Ancara deu ao regime Assad o conselho de amigo para que parasse de matar civis. Mas o regime de Damasco se recusou e a posição da Turquia mudou em agosto de 2011: Ancara passou de uma vizinha amistosa de Assad a sua principal adversária. A Turquia começou a fornecer refúgio para a oposição síria e, segundo reportagens da mídia, até mesmo a armar os rebeldes.

Essa política colocou Ancara e Teerã, o benfeitor de Assad, como principais rivais na Síria. Isso, por sua vez, exacerbou a disputa no Iraque, onde Ancara apoiou o bloco secular Iraqiya de Ayad Allawi nas eleições de 2010, envenenando as relações com Maliki.

Após a reeleição de Maliki, Ancara buscou laços mais estreitos com os árabes sunitas e curdos no norte do Iraque. O volume de comércio da Turquia com o norte do Iraque subiu para US$ 8 bilhões por ano, em comparação a apenas US$ 2 bilhões com o sul do país, e Ancara está buscando acordos lucrativos de petróleo com os curdos iraquianos.

Resumindo, apesar de todos os propósitos práticos, o norte do Iraque se tornou parte da esfera de influência turca. Isso é especialmente surpreendente, considerando que há apenas poucos anos a hostilidade turca em relação aos líderes curdos iraquianos parecia prestes a resultar em uma invasão turca na região.

Hoje, entretanto, a Turkish Airlines oferece voos diários para Sulaymaniyah e Erbil, dentro do Governo Regional do Curdistão no norte do Iraque, e os curdos iraquianos passam férias em Antalya, um resort turco no Mediterrâneo.

Mosul, uma província de maioria sunita no norte do Iraque, também está se inclinando para Ancara. A Turquia atualmente fornece refúgio para Tariq al Hashimi, o vice-presidente sunita do Iraque, cujo mandado de prisão se tornou motivo de mobilização para muitos sunitas. Ao mesmo tempo, os laços históricos entre Mosul e a Turquia, que datam do Império Otomano, estão sendo ressuscitados: quando visitei Gaziantep, uma cidade no sul da Turquia, meu hotel estava cheio de empresários árabes de Mosul.

Antes do início do levante sírio, um desdobramento semelhante estava ocorrendo em Aleppo, outra cidade do Crescente Fértil que desfrutava de laços comerciais profundos com a Turquia durante o Império Otomano.

Localizada a apenas 42 quilômetros da fronteira, Aleppo se tornou um centro de empresas turcas no norte da Síria, e sem dúvida o forte apoio fornecido pelos turcos aos rebeldes no norte da Síria aumentará a influência da Turquia na cidade após o fim do regime Assad (e não é por acaso que as maiores áreas contíguas controladas pelos rebeldes na Síria ficam em torno de Aleppo).

A parte que faltava para a influência potencial da Turquia no norte do Crescente Fértil era os curdos sírios –até o anúncio pela Turquia de negociações de paz com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Esse grupo, que está em guerra com a Turquia há mais de três décadas, também é conhecido como sendo o movimento mais bem organizado entre os curdos sírios.

Ancara espera que as negociações de paz com o PKK ajudem a sanar a animosidade com os curdos sírios. De fato, a Turquia alterou sua política para o Oriente Médio: ela agora vê os curdos como a base de sua zona de influência por todo o norte do Crescente Fértil.

Mas nem tudo é um mar de rosas para a Turquia. As negociações de paz com o PKK podem fracassar, levando os rejeicionistas do PKK para os braços do Irã ou até mesmo de Bagdá. Também há a ameaça emergente de permitir a presença de radicais no norte da Síria. Trata-se de um jogo perigoso, pois assim que o regime Assad cair, a Turquia poderia se ver com um problema de jihadistas em sua recém adquirida esfera de influência.

*Soner Cagaptay é diretor do Programa de Pesquisa Turca do Instituto Washington para Políticas do Oriente Próximo e autor de "Turkey Rising: 21st Century's First Muslim Power".

Uma fragata francesa que chega para impressionar


Navio militar será apresentado ao governo brasileiro para renovar frota

Acima a fragata Aquitaine
No lugar onde atracam monumentais transatlânticos turísticos, uma fragata militar francesa atraía os olhares de quem passava ontem em frente ao Píer Mauá. Com 142 metros de comprimento, a embarcação, batizada de Aquitaine (uma região daquele país) causa impacto de outra forma: possui oito mísseis antinavios Exocet, 16 mísseis antiaéreos Aster, 16 mísseis de cruzeiro naval, três canhões, quatro metralhadoras, 19 torpedos e helicóptero de combate.

O poder de fogo e a tecnologia de ponta representam o que há de mais moderno hoje na frota militar francesa. Com tantas qualificações, a fragata se tornou o "carro-chefe" da proposta apresentada pela França, de olho no projeto de renovação da frota militar brasileira, que se aproxima dos 30 anos de vida útil e, portanto, em vias de renovação.

Por reunir sistemas de defesa e ataque para mar, terra e ar, Aquitaine é classificada de multimissão. Outro ponto a favor do navio é que pode ser operado por uma tripulação de apenas 98 pessoas. Ele pertence à nova frota militar encomendada pelo governo francês ao grupo fabricante DCNS, por 7 bilhões de euros.

Agora, a França quer mostrar essa tecnologia ao governo brasileiro. No próximo dia 4, a fragata zarpa com integrantes das duas marinhas para exercícios conjuntos em águas brasileiras. A Aquitaine irá, após a passagem pelo Brasil, para Estados Unidos, Canadá, Islândia e, então, retornará à França. O percurso faz parte da missão de avaliação do navio, construído em 2011, por águas quentes e gélidas.

O diretor-presidente da DCNS no Brasil, Eric Berthelot, diz que ainda é cedo para fechar o custo de cada fragata para o Brasil, pois as negociações incluirão uma cadeia de fornecedores e estaleiros brasileiros na construção da embarcação. Porém, especialistas da área naval calculam que a fragata custa entre 600 e 700 milhões de euros. O navio não será aberto à visitação.

Embraer ganha concorrência para fornecer Super Tucanos aos EUA

Acima uma Embraer A-29 Super Tucano (EMB-314) da Força Aérea da Indonésia 

A Embraer foi selecionada para o fornecimento de 20 Super Tucanos de ataque para a Força Aérea dos Estados Unidos. E a segunda vez que a empresa brasileira vence a escolha da aeronave do programa de apoio aéreo leve-LAS, nas iniciais em inglês.

O contrato de US$ 427 milhões estava suspenso desde o início de 2012 por causa de uma ação judicial movida pela única outra concorrente, a americana Hawker, que discordava da seleção da Embraer Defesa e Segurança, em dezembro de 2011. A subseçretaria da aviação militar tes, como a possibilidade de atingir um volume maior, envolvendo 55 aeronaves, no valor de US$ 955 milhões. Todo o empreendimento, destaca Luiz Aguiar, é conduzido com o parceiro americano, a corporação Sierra Nevada, de Sparks, no estado de Nevada.

O anúncio foi feito ontem, por americana decidiu então, primeiro suspender e depois reabrir a concorrência. Os aviões serão repassados para as forças de autodefesa do Afeganistão, compondo uma nova aeronáutica de combate no país.

Segundo Luiz Carlos Aguiar, o presidente da Embraer Defesa, a escolha tem outras vertenvolta das 17 horas, no briefmg eletrônico do Departamento de Defesa, o Pentágono, em Washington. Em Brasília, a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Defesa, Celso Amorim, foram informados logo em seguida pelo subsecretário de Defesa americano, Ashton Carter.

A encomenda cobre o lote dos 20 aviões, mais as estações terrestres de treinamento, os componentes e peças, mais a instrução do pessoal técnico. A venda habilita o Super Tucano e a própria EDS no muito restrito mercado de Defesa dos Estados Unidos e alavanca as possibilidades : de outros negócios. Para Aguiar, o potencial desse produto no mercado mundial - estimado em US$ 4,5 bilhões - agora crescerá muito. "Precisamos redimensionar o tamanho do salto."

Entregas. O A-29 Super Tucano ganhou nome novo nos EUA, onde é tratado de Super-T. A Embraer vai produzir os aviões localmente, na fábrica de Jacksonville, na Flórida. As primeiras entregas estão previstas para meados de 2014. A montagem regular começa entre agosto e setembro.

De acordo com Eren Ozmen, o presidente da Sierra Nevada Corporation, o contrato LAS manterá 1,4 mil empregos diretos e indiretos em território dos EUA, envolvendo perto de 100 empresas do setor aeroespacial em 20 Estados.

O Super-T ganhou novidades importantes durante o ano do impasse na seleção. Desde julho, ele passou a incorporar sistemas de armas de avançada tecnologia da Boeing Defesa, Espaço e Segurança, o que eleva significativamente o perfil do produto. A empresafoi selecionada pela Embraer para participar do plano destinado a adicionar novas capacidades ao turboélice.

A Boeing fornecerá determinados equipamentos de ponta, como o Joint Direct Attack Munition (JDAMS), espécie de kit que transforma bombas ""burras" em versões "inteligentes", para ataques de precisão.

Cotado a US$ 25 mil a unidade, o conjunto será acompanhado do JDAM Laser, um acessório que permite expandir o raio de ação e reduzir a margem de erro. O pacote inclui as Small Diarrieter Bombs (SDB), modelos menores, mais leves, de última geração. Sem perda de poder de destruição, mas com maior alcance: 50 a 110 quilômetros. Cada uma sai por US$40 mil.

Os recursos passarão a ser oferecidos em todas as ações de vendas internacionais do avião.

A empresa brasileira venceu a disputa do programa da aeronave de Suporte Aéreo Leve (LAS, na sigla em inglês) em dezembro de 2011. Finalista derrotada, a Hawker Beechcraít, iniciou um processo judicial contestando o resultado.

Em fevereiro, antes da decisão da Justiça, a administração da aeronáutica militar dos EUA decidiu cancelar o contrato. Houve grande repercussão negativa.

Pouco depois, um novo procedimento foi iniciado, habilitando as duas corporações, e solicitando novas informações.

O T-6, produto da Hawker, ainda está em desenvolvimento e não se enquadrou nos requisitos da LAS. O Super Tucano é usado por forças de nove países e acumula pouco mais de 180 mil horas de voo, das quais cerca de 28,5 mil cumprindo missões de combate. Toda a frota em atividade soma 172 turboélices de ataque e treino. A aeronave emprega 130 diferentes configurações de armamento.

Mercado
US$ 427 mi é o valor do contrato vencido pela consórcio formado pela brasileira Embraer e pela americana Sierra Nevada para 0 fornecimento de 20 Super Tucanos à Força Aérea dos Estados Unidos

US$4,5bi é a projeção de negócios em todo o mundo dentro do setor em que atua 0 Super Tucano.

Para a Embraer, com o contrato com o governo americano, o produto brasileiro ganha mais projeção e aumenta o potencial de concorrer nesse mercado

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Forças Armadas Russas aposentam o obuseiro 2A18 (D-30)

Um artilheiro do 205º Corpo do Exército Nacional Afegão realiza disparos com um obuseiro D-30 

O Ministério da Defesa da Rússia renunciou o uso dos obuseiros 2A18 (D-30) de 122mm, incorporados às Forças Armadas Soviéticas em 1963 e usado em muitos conflitos armados contemporâneos, informou o jornal russo Izvestia.

Segundo o jornal, o ministro da Defesa da Rússia, Sergey Kuzhugetovich Shoygu, ordenou a retirada de serviço de todos os obuseiros 2A18 (D-30) e que esses sejam substituídos pelos obuseiros rebocados "Msta" e canhões autopropulsados Akatsia de 152mm.

Os 2A18 (D-30) foram aposentados por diversas razões: Em primeiro lugar, porque os militares querem adotar um calibre único, o 152mm. A munição desse calibre é mais potente que o 122mm. O fato do 2A18 (D-30) não ser mais fabricado desde o começo da década de 1990 tornou a manutenção desse sistema muito difícil.

Atualmente, o Exército da Rússia dispõe da versão D-30A, que difere da versão básica do D-30. A versão D-30A (2A18M) tem freio de boca de duas câmaras e um sistema de recuo modificado.

Com exceção da Rússia, o 2A18 (D-30) foi incorporado por 56 países, dentre eles Israel, Coréia do Norte, Líbia, Finlândia e Estônia. Em 2012, a Rússia forneceu obuseiro 2A18 (D-30) à Mongólia.

A China apresentou um novo submarino para exportação na IDEX-2013


A China Shipbuilding Corporation (CSOC) apresentou na IDEX-2013, no Emirado dos Árabes Unidos, um novo submarino convencional, o S20, baseado na classe Type 041 (Yuan na classificação OTAN).

De acordo com o Jane's, os chineses revelaram alguns detalhes do novo submarino, uma vez que foram forçados em face a concorrência acirrada do setor no mercado internacional. O mercado de submarinos convencionais é dominado pelos estaleiros alemães e russos.

O submarino S-20 mede 66 metros de comprimento e 8 metros de altura. Desloca 1.850/2.300 toneladas. O submarino ascende a uma velocidade máxima de 18 nós. A sua tripulação é composto por 38 homens e pode permanecer em missão por 60 dias. O casco duplo do submarino faz com que o mesmo mergulhe até 300 metros de profundidade. Em contraste com os submarinos Type 041, os submarinos da classe S20 não serão equipados com AIP (air-independent propulsion), mas essa tecnologia pode ser solicitada previamente.

O S20 está equipado com um sonar de detecção de frequência variável e com um sistema de supressão de ruídos. Além disso, o novo submarino é capaz de utilizar um sonar de arrasto.

O S20 é armado com torpedos e mísseis anti-navio. O tipo de armas não foi abordado pela CSOC, mas a empresa disse que o comprador tem uma vasta gama de armas para escolher.

Arábia Saudita compra armas da Croácia e as envia para rebeldes sírios


A Arábia Saudita financiou uma grande compra de armas de infantaria da Croácia e as enviou discretamente para os combatentes antigoverno na Síria, em um esforço para romper o impasse sangrento que permitiu ao presidente Bashar Assad se manter no poder, segundo autoridades americanas e ocidentais familiarizadas com as compras.

As armas começaram a chegar aos rebeldes em dezembro, através da Jordânia, disseram as autoridades, e foram um fator para os pequenos ganhos táticos dos rebeldes nos últimos meses contra o exército e as milícias leais a Assad.

As transferências de armas parecem sinalizar uma mudança de postura entre vários governos para uma abordagem mais ativa no auxílio à oposição armada na Síria, em parte como um esforço para responder aos envios de armas do Irã para as forças de Assad. A distribuição de armas foi feita principalmente para os grupos vistos como nacionalistas e seculares, e parece contornar os grupos jihadistas, cujo papel na guerra alarmou as potências regionais e ocidentais.

Por meses, as capitais regionais e do Ocidente evitaram armar os rebeldes, em parte pelo temor de que as armas caíssem nas mãos de terroristas. Mas as autoridades disseram que a decisão de enviar mais armas visa tratar de outro temor no Ocidente, o do papel dos grupos jihadistas na oposição. Esses grupos eram vistos como mais bem equipados do que muitos combatentes nacionalistas e, potencialmente, mais influentes.

A ação também sinaliza o reconhecimento entre os apoiadores árabes e ocidentais dos rebeldes de que o sucesso da oposição em afastar os militares de Assad de grande parte do norte da Síria até meados do ano passado, deu lugar a uma campanha lenta, desgastante, na qual a oposição continua em inferioridade de armas e os custos humanos continuam aumentando.

O papel de Washington no envio de armas, se é que há algum, não está claro. Autoridades na Europa e nos Estados Unidos, incluindo as da CIA, citaram a sensibilidade do envio de armas e se recusaram a comentar publicamente.

Mas um alto funcionário americano descreveu os envios como "um amadurecimento dos canais logísticos da oposição". O funcionário notou que a oposição continua fragmentada e operacionalmente incoerente, e acrescentou que a compra recente pelos sauditas "não representa um ponto de virada".

"Eu continuo convencido de que não estamos próximos desse ponto de virada", disse o funcionário.

O funcionário acrescentou que o Irã, com seus envios de armas para o governo sírio, ainda supera o que os países árabes enviaram aos rebeldes.

As transferências de armas iranianas alimentam preocupações entre os países árabes sunitas sobre perderem terreno para Teerã, no que se tornou uma disputa regional pela primazia na Síria entre os árabes sunitas e o governo Assad e o Hizbollah no Líbano apoiados pelo Irã.

Outra autoridade americana disse que o Irã envia aviões carregados de armas para a Síria de modo tão rotineiro a ponto de se referirem a eles como "entrega de leite". Vários voos foram feitos por um Boeing da força aérea iraniana usando o nome de Maharaj Airlines, ele disse.

Apesar dos países do Golfo Pérsico enviarem equipamento militar e assistência adicional aos rebeles há mais de um ano, a diferença entre os envios é, em parte, de escala. As autoridades disseram que múltiplos voos carregados de armas partiram da Croácia desde dezembro, quando muitas armas iugoslavas, antes não vistas na guerra civil síria, começaram a aparecer nos vídeos postados pelos rebeldes no YouTube.

Muitas das armas –que incluem um tipo específico de arma sem recuo de fabricação iugoslava, assim como fuzis de assalto, lançadores de granada, metralhadoras, morteiros e lançadores portáteis de foguetes para uso contra tanques e outros veículos blindados– foram extensamente documentadas por um blogueiro, Eliot Higgins, que escreve sob o nome de Brown Moses e mapeou a disseminação das novas armas no conflito.

Ele começou a notar as novas armas no início de janeiro, nos choques na região de Daraa, próxima da Jordânia, mas em fevereiro ele passou a vê-las nos vídeos postados pelos rebeldes combatendo nas regiões de Hama, Idlib e Aleppo.

Autoridades familiarizadas com as transferências disseram que as armas fazem parte de um excedente não declarado na Croácia das guerras dos Bálcãs dos anos 90. Uma autoridade ocidental disse que os envios incluem "milhares de fuzis e centenas de metralhadoras", assim como uma quantidade desconhecida de munição.

O Ministério das Relações Exteriores da Croácia e a agência exportadora de armas negaram a ocorrência de qualquer envio. As autoridades sauditas recusaram os pedidos de entrevista sobre os envios por duas semanas. Autoridades jordanianas também se recusaram a comentar.

Danijela Barisic, uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores croata, disse que desde o início da Primavera Árabe, a Croácia não vendeu nenhuma arma nem para a Arábia Saudita e nem para os rebeldes sírios. "Nós não fornecemos armas", ela disse por telefone.

Igor Tabak, um analista militar croata, disse que após um período em que muitos países da antiga Iugoslávia vendiam armas das guerras nos Bálcãs no mercado negro, a Croácia, que deverá ingressar neste ano na União Europeia, agora cumpre rigidamente as regras internacionais para transferências de armas.

"Eu não consigo imaginar a transferência de grandes quantidades de armas sem aprovação do Estado", ele disse. "Não é impossível, mas é bastante improvável." Ele acrescentou que é possível que as armas possam ter sido transferidas por meio dos serviços de inteligência, apesar dele não dispor de evidência de que se trata disso.

Os rebeldes na Síria adquiriram suas armas de várias formas, incluindo contrabando pelos países vizinhos, captura no campo de batalha, compras junto a oficiais e autoridades sírias corruptas, patrocínio por governos e empresários árabes, e fabricação local de foguetes e bombas rudimentares. Mas eles permanecem pouco equipados em comparação às forças armadas convencionais do governo, e são propensos a escassez.

Uma autoridade em Washington disse que a possibilidade de transferências dos Bálcãs foi apresentada no ano passado, quando um autoridade croata visitou Washington e sugeriu às autoridades americanas que a Croácia dispunha de muitas armas caso alguém estivesse interessado em transferi-las para os rebeldes sírios.

Na época, os rebeldes estavam avançando lentamente em partes do país, mas tinham dificuldade em manter o momento em meio à escassez de armas e munição.

Washington não demonstrou interesse na ocasião, disse o funcionário, apesar de na mesma época já haver sinais de assistência militar árabe e estrangeira limitada.

Tanto cartuchos de fuzil de fabricação ucraniana comprados pela Arábia Saudita quanto granadas de fabricação suíça fornecidas pelos Emirados Árabes Unidos foram encontrados pelos jornalistas entre os rebeldes.

E fuzis de fabricação belga, de um tipo não conhecido, foram comprados pelas forças armadas da Síria e foram repetidamente vistos em mãos rebeldes, sugerindo que um dos compradores anteriores dos fuzis belgas transferiu as armas populares para os rebeldes.

Várias autoridades disseram não ter visto um afluxo tão visível de novas armas como viram nas últimas semanas.

Em dezembro, enquanto os refugiados atravessavam a fronteira síria para a Turquia e Jordânia, em meio a crescentes sinais de uma crise humanitária no inverno, as armas croatas voltaram a aparecer, disse uma autoridade familiarizada com as transferências.

Uma autoridade ocidental familiarizada com as transferências disse que os participantes hesitam em discuti-las porque a Arábia Saudita, que a autoridade disse ter financiado as compras, insiste no sigilo.

O "Jutarnji list", um jornal croata, noticiou no sábado que nos últimos meses foi visto um número incomumente elevado de aviões de carga jordanianos no Aeroporto Pleso, em Zagreb, a capital da Croácia.

O jornal disse que os Estados Unidos, os principais aliados políticos e militares da Croácia, possivelmente foram os intermediários, e mencionou a presença por quatro vezes do avião Ilyushin 76, de propriedade da Jordan International Air Cargo, no Aeroporto Pleso. Ele disse que o avião foi visto em 14 e 23 de dezembro, em 6 de janeiro e 18 de fevereiro. Ivica Nekic, diretor da agência encarregada pelas exportações de armas na Croácia, negou a reportagem croata como sendo especulação.

Sírios voltam para Aleppo, cidade controlada por rebeldes e bombardeada por Assad


Depois de quase dois anos de guerra civil, grande parte da Síria não está mais sob controle do autocrata Bashar Assad, inclusive metade de Aleppo. Apesar dos bombardeios aéreos e dos ataques de foguetes, os moradores estão fazendo o que podem para estabelecer uma sociedade civil operante. Uma justiça incipiente resolve as disputas por aluguel enquanto os islâmicos fornecem farinha e pão.

Aleppo é uma cidade desalentadora, especialmente na metade leste, que é controlada pelos rebeldes e bombardeada pelo regime. Nesta vasta e sombria extensão urbana, arruinada pela guerra, as ruas estão cheias de silhuetas quebradas de prédios meio desmoronados e quartos rachados ao meio, entremeadas por fachadas intactas.

Muitos bairros só têm eletricidade intermitente e raramente têm água potável. O preço do gás de cozinha subiu 17 vezes. Em um parque da cidade, vê-se uma senhora usando uma espátula para cortar pedaços de madeira de um toco de árvore. Crianças vasculham o lixo em busca de garrafas plásticas.

Ainda assim, as pessoas estão voltando para essa cidade arrasada pela guerra, que já teve mais de 2 milhões de habitantes. Dezenas de milhares voltaram porque a Turquia recusou-se a aceitar mais refugiados, ou porque exauriram sua poupança ou porque preferem morar em casa, esperando que a próxima bomba caia em outro lugar, em vez de morar em tendas encharcadas no frio. À noite, grupos de pessoas se reúnem em torno de fogueiras nas calçadas e caminhonetes com metralhadoras montadas na traseira patrulham as ruas, enquanto se ouve ao longe dos bombardeios das forças aéreas sírias.

Não há uma pessoa no comando aqui, não há ninguém para evitar que as milícias rivais transformem a cidade em uma segunda Mogadício, mas até agora isso não aconteceu. As lojas e restaurantes ficam abertos até à noite e há menos ataques e sequestros do que havia pouco antes da guerra.

Há também algo de inquietante nessa normalidade, como se a cidade fosse um monstro sonolento que pudesse despertar a qualquer momento.

Reduzida a ruínas
Dois anos depois das primeiras manifestações por mais liberdade, a rebelião contra a ditadura de Bashar Al-Assad tornou-se uma guerra que está destruindo a Síria de duas formas: reduzindo as cidades a ruínas –e ameaçando destruir a coexistência pacífica dos grupos religiosos e étnicos por muitas décadas.

No final de fevereiro, a Organização das Nações Unidas registrou 900.000 refugiados nos países vizinhos à Síria e outros milhares fogem pelas fronteiras a cada dia. Mais do que isso, 2,5 milhões de pessoas foram desabrigadas dentro do país. Doenças como tifo, hepatite e leishmaniose, uma infecção de pele também conhecida como "bolha de Aleppo", estão se espalhando pelo país. Cerca de 70.000 pessoas morreram no conflito, e outras 100 ou 200 perdem a vida a cada dia. Houve mais mortes entre civis do que entre combatentes rebeldes ou soldados do regime.

Dois anos é um tempo muito longo para se passar na linha de tiro de um regime que, desde o início deste ano, além de tanques e caças, agora recorreu ao lançamento de mísseis Scud contra as partes do país que estão tentando escapar de sua opressão. Os mísseis em geral são lançados a partir de Damasco, Eles têm notavelmente pouca precisão e muitas vezes meramente deixam para trás enormes crateras em áreas não habitadas. Na segunda-feira dia 18, porém, um Scud voltou a atingir Aleppo, destruindo prédios semiabandonados e matando uma dezena de pessoas. Este foi seguido na sexta-feira por outro ataque de míssil que matou pelo menos 12 civis.

Dois anos é um tempo perigosamente longo quando o resto do mundo não consegue se decidir como lidar com o horror crescente deste conflito. Enquanto o ministro de relações exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, pede contenção, Moscou está fornecendo armas ao regime, o Irã envia Guardas Revolucionários de elite em apoio a Assad e um clérigo iraniano está publicamente referindo-se a Síria como a "35ª província do Irã".

Dado que centenas de milhares de pessoas participaram das maiores manifestações contra Assad em Hama e nos subúrbios de Damasco em 2011, é justo afirmar que a maioria dos sírios preferiria viver em um sistema livre e democrático sob um Estado de direito.

Enorme e complexa
Mas como a sociedade civil vai sobreviver diante da violência excessiva dos governantes do país? Cada ataque aéreo, cada massacre pela famosa milícia Shabiha de Assad leva mais pessoas a resistirem, inclusive aquelas que não tomaram as ruas para se manifestar em favor da democracia e da liberdade, mas que agora estão pegando em armas para vingar seus mortos. Elas estão inchando as fileiras dos rebeldes. Mas também estão mudando a natureza de seus objetivos: os que só estão interessados em vingança, em geral, ligam menos para o que acontece depois que Assad for derrubado.

Aleppo é um bom indicador da devastação, em todos os aspectos. Esta é uma cidade enorme e complexa: não foi a população local que protestou e pegou em armas em primeiro lugar, como em Homs e Deir Al-Zor. Apenas os estudantes e advogados se rebelaram, mas na maioria, a cidade permanecia calma, mesmo depois das pessoas nas cercanias já terem mudado de lado. Os clérigos leais ao regime, empresários e clãs mafiosos locais ajudaram a manter esse centro financeiro e comercial firmemente sob o controle de Assad.

Foram os rebeldes do campo, das cidades e aldeias vizinhas que lideraram o ataque em julho do ano passado e, em semanas, capturaram metade da cidade –ou a liberaram, dependendo do ponto de vista. Assim, querendo ou não participar das batalhas, os moradores desta metade da cidade tornaram-se vítimas dos contra-ataques do regime, que usou artilharia, tanques e aviões para arrasar quarteirões inteiros.  A fronteira entre o mundo dos rebeldes e a antiga Aleppo corre em ziguezague do Sudeste ao Norte –e continua quase sem mudanças há meses.

Mas como esta metade da cidade funciona e o que a mantém unida? Rafat Rifai, um dos organizadores do conselho transicional da cidade, lista os agentes mais atuantes na seção liberada: os rebeldes da Brigada Tawhid, o conselho da cidade, a Associação de Advogados da Síria Livre (Fsla), os tribunais, a associação de médicos e os islâmicos da Frente Al-Nusra.

De acordo com Rifai, pode-se dizer que não há ninguém no comando: "O que mantém Aleppo unida é o contrato social entre seus moradores  –o respeito mútuo e a capacidade de diálogo –ao menos por enquanto", diz ele.

Em busca de justiça
Equipes de eletricistas remendam constantemente as linhas de energia rompidas. Hospitais subterrâneos continuam em operação, mantêm bancos de sangue e fazem campanhas de vacinação. O Estado não fornece mais farinha, mas ainda se assam entre 30 e 70 toneladas de pão por dia. Esses são os primeiros sinais de um governo civil operante.

Marwan Kaïdi foi um dos primeiros juízes em Aleppo a mudar de lado. Nos últimos quatro meses, presidiu o tribunal no distrito de Ansari, um trabalho que parece mais fácil do que é. "Primeiro tivemos que conseguir que todas as unidades rebeldes nos reconhecessem como corpo legal para impedi-los de prenderem-se uns aos outros quando brigam", disse ele. "Queremos salvar o Estado –mas com que sistema de justiça?"

Eles estão improvisando uma mistura de normas jurídicas defendidas pela Liga Árabe e os preceitos da lei islâmica. "Mas nós dependemos primariamente da mediação", admite. "Não podemos colocar um ladrão atrás das grades por três anos!"

Quando perguntamos se havia algum processo em curso que pessoas de fora pudessem observar, ele deu de ombros e olhou seus papéis. Depois acenou e guiou o caminho em meio ao prédio lotado até um pequeno escritório, onde um juiz civil barbado e um juiz de sharia sem barba, um secretário, o querelante e seu irmão estavam sentados em cadeiras coloridas de camping em torno de uma mesa.

Surpreendentemente, o caso tem a ver com uma briga por causa do aluguel –em uma cidade onde se ouve tiroteios a cada poucos minutos e onde os corpos dos mortos descem pelos rios todos os dias da zona ocupada pelo regime. Uma briga por aluguel.

O querelante havia alugado um apartamento em seu prédio até 31 de dezembro de 2012. Semanas antes disso, porém, o locatário simplesmente desapareceu sem pagar –mas tampouco levou seus bens. O senhorio poderia simplesmente arrombar o apartamento e mudar a chave, ao menos nesses tempos de guerra e agitação. "Mas isso poderia ser desastroso", diz um dos dois juízes. "Depois, o locatário poderá dizer que seus bens foram roubados e vir atrás do senhorio com uma arma. Temos que manter a ordem, especialmente agora!"

Grandes pilhas de lixo
O juiz então diz que decidiram dar um prazo de sete dias, pregando uma advertência na porta do apartamento. Quando o prazo expirar, o apartamento será aberto na presença de dois homens da polícia revolucionária e todos os pertences do locatário desaparecido serão registrados.

Mais cedo, o juiz Kaïdi disse que manter a ordem pública é um problema menor do que o número crescente de devotos dos radicais. "Além de combater Assad, eles querem combater os infiéis", alega. "Mas aos seus olhos, isso inclui 99% das pessoas aqui".

Jabhat Al-Nusra, o grupo radical vago mas proeminente ao qual Kaïdi se refere, é significativamente menos impressionante militarmente em Aleppo do que o grupo rebelde principal, bastante organizado, o Exército da Síria Livre (FSA). A Frente Al-Nusra tem entre 500 e 1.000 combatentes, comparados com os 20.000 do FSA. A popularidade do grupo radical se baseia em dinheiro, não em vitórias militares.

O grupo islâmico tem dinheiro suficiente para comprar centenas de toneladas de farinha de um comandante local do FSA –o suficiente para abastecer as padarias de Aleppo por semanas. Eles também têm dinheiro para distribuir gás e diesel pelo preço antigo subsidiado e, no início de fevereiro, para fazer o sistema de coleta de lixo voltar a funcionar, que desde então removeu enormes pilhas de lixo e destroços.

Ninguém sabe de onde vem o dinheiro, nem mesmo um antigo membro da organização, que diz que "provavelmente vem da Arábia Saudita ou do Kuwait", onde os pregadores coletam grandes quantidades de doações. Mas nem mesmo o próprio pessoal da organização sabe exatamente de onde vem o dinheiro, nem quem lidera a Frente Al-Nusra: "Os dois emires em Aleppo mudam de nome constantemente e ninguém sabe se tem alguém acima deles", diz ele.

O antigo membro do grupo revela que a maior parte dos oficiais vem do círculo de islamistas sírios que foram combater na jihad no Iraque em 2003, foram presos ao voltarem e depois liberados novamente em março de 2011. Os emires não falam com jornalistas.

A Al-Nusra tem grupos em outras cidades também, mas Aleppo é seu reduto –para o desapontamento dos comandantes do FSA que esperaram um longo tempo por ajuda do Ocidente que nunca chegou. "Tivemos várias reuniões com os americanos", disse Abu Jumaa, segundo mais alto oficial na Brigada Tawhid, a maior unidade rebelde de Aleppo, com mais de 8.000 homens.

"O que o Ocidente quer?"

"Eles nos disseram que devíamos formar uma liderança militar conjunta e reconhecer a coalizão da oposição síria no exílio. Fizemos isso", observa. "Depois disseram que iam nos fornecer armas, mas não forneceram, nem mesmo equipamento civil. Eles não querem que a gente ganhe. Talvez eles não queiram que percamos tampouco –mas qual é o objetivo deles?"

Jumaa, que tem 50 e muitos anos e foi proprietário de uma fábrica antes da revolução, confirma as experiências dos outros comandantes: "Os americanos alegam que querem deter os radicais", diz ele. "Mas enquanto eles recebem dinheiro da Arábia Saudita e de outros lugares, eles se tornam mais fortes, e nós, mais fracos". Ele salienta que esta não é uma questão ideológica. Quem paga manda.

No dia 7 de fevereiro de 2013, em uma audiência no Senado em Washington, o secretário de defesa Leon Panetta, em vias de ser substituído, deu uma explicação para os muitos meses de inação política. Ele disse que defendia o envio de assistência militar para os grupos rebeldes, assim como a secretária de Estado Hillary Clinton e o diretor da CIA na época, David Petraeus. Mas que o presidente Barack Obama, no final, decidiu contra.

Washington aparentemente prefere negociar com Moscou. Mas isso não levará a uma interrupção nas batalhas ou colocará fim à guerra. Os dois lados na Síria estão exaustos. Os rebeldes não têm armas, enquanto o regime de Assad está ficando sem tropas. A situação está evoluindo lenta e gradativamente em uma direção: aldeia por aldeia, distrito por distrito, posto militar por posto militar, os rebeldes estão ganhando controle do país e apreendendo armas.

Em vez da guerrilha, os rebeldes estão usando seu controle de grandes áreas do campo para fazer táticas de cerco quase medievais, cortando rotas de fornecimento e matando as tropas de fome. Elas não sofrem com falta de munição, mas estão ficando sem pão. Por enquanto, nenhuma capital de província caiu, mas Idlib, Deir Al-Zor, Rakka e Aleppo estão cercadas.

"O que o Ocidente quer?", pergunta o comandante rebelde Juamma. Sem esperar a resposta, ele diz: "Neste momento, eles meramente estão prolongando o banho de sangue. Mas por quê?"

Conflitos agravam crise da produção de gás e petróleo no norte da África


O ataque mortal desferido por militantes em uma unidade produtora de gás natural na Argélia, no mês passado, provocou um grande revés para um grupo de países do norte da África cujas perspectivas como produtores de petróleo e gás já se mostravam nebulosas.

Alguns anos atrás, Argélia, Líbia e Egito pareciam representar grande parte da solução para a decrescente produção de gás natural da Europa e sua dependência desconfortável da Rússia em relação ao fornecimento de um combustível amplamente utilizado na indústria, na geração de energia elétrica e no aquecimento doméstico.

Mas, bem antes de dezenas de invasores atacarem, nas primeiras horas da manhã, a instalação de gás de In Amenas – localizada nas profundezas do Saara –, a difícil realidade política da região já provocava dúvidas sobre a dimensão do papel que a África do Norte poderia desempenhar na equação energética mundial.

A produção de petróleo e gás natural está em declínio na Argélia, país que é o maior produtor de gás da região, desde meados da década de 2000. Na Líbia, a insurreição que derrubou o coronel Muammar Gaddafi, seguida por seu resultado caótico, tem atrapalhado a exploração de petróleo e gás. No Egito, o aumento do consumo interno, estimulado por políticas governamentais, reduziu as exportações do país.

"Até o final desta década haverá uma grande dúvida sobre o quanto a Europa poderá contar com o gás proveniente do norte da África", disse Jonathan P. Stern, presidente do programa de gás no Instituto Oxford para Estudos sobre Energia, referência no campo de pesquisa. "A Europa certamente não poderá contar com a expansão do fornecimento de gás por parte do norte da África. O mais provável é que ocorra uma contração".

Durante o ataque dos militantes às instalações de In Amenas e a ação das Forças Armadas argelinas para retomar a planta, 40 trabalhadores e 29 insurgentes foram mortos. A unidade – que pertence às empresas BP, Statoil, da Noruega, e Sonatrach, empresa estatal de energia da Argélia – ainda não retomou suas atividades. O campo de gás e o centro de processamento da planta respondiam por cerca de 10% da produção da Argélia, mas até agora a paralisação teve pouco efeito sobre as exportações do país.

"A Argélia ainda tem capacidade para aumentar ou diminuir sua produção durante curtos períodos de tempo", disse Femi Oso, analista da Wood Mackenzie, empresa de consultoria para o setor de energia de Edimburgo, na Escócia.

A Argélia reinjeta uma parte substancial do gás que explora em seus campos de petróleo e de gás para manter a pressão. Oso disse que atualmente a Sonatrach já estava desviando parte desse gás para as exportações, mas, segundo ele, isso era apenas uma correção de curto prazo.

A Sonatrach está pressionando para que a planta que foi danificada durante a explosão seja reparada e reaberta.

Mas se grande parte da planta permanecer fechada durante muito tempo, ou se houver outro ataque à infraestrutura de produção de energia da Argélia, as exportações vão ser prejudicadas e isso possivelmente gerará uma alta nos preços praticados na Europa, dizem analistas.

"O que verificamos em regiões geopolíticas problemáticas é que a infraestrutura de gasodutos e oleodutos são os alvos mais vulneráveis", disse Rob West, analista da Bernstein Research de Londres. "Dutos são muito difíceis de proteger".

A principal preocupação para a Argélia e para outros países do Norte da África é que o ataque em In Amenas, ocorrido após dois anos de instabilidade política, continue desestimulando os investimentos estrangeiros de que os países da região precisam para manter sua posição de exportadores de petróleo e de gás.

As empresas ocidentais do setor de energia já estavam torcendo o nariz para as duras cláusulas contratuais praticadas pela Argélia, que concedem ao governo do país mais de 90% das receitas de produção de petróleo e gás natural e exigem que a Sonatrach tenha uma participação majoritária em todos os projetos.

No mais recente leilão para a concessão de blocos de exploração de petróleo e gás na Argélia, em 2011, apenas 2 dos 10 blocos de exploração encontraram compradores – e um deles ficou com a Sonatrach.

"Os termos fiscais são tão duros que as petrolíferas internacionais não acreditam que serão capazes de ganhar dinheiro", disse Oso, analista da Wood Mackenzie.

Chakib Khelil, ex-ministro da Energia da Argélia, tentou transformar os investimentos nos campos de petróleo e gás de menor porte do país mais atraentes para as empresas internacionais, permitindo que elas obtivessem participações maiores nesses projetos de produção de energia.

Mas as alterações implementadas por ele foram revertidas, e um imposto sobre lucros extraordinários foi estabelecido para a produção de petróleo e gás. No final da década passada, a Sonatrach foi abalada por uma investigação relacionada a corrupção, que levou à saída de seu principal executivo, Mohamed Meziane, e de vários de seus principais assessores.

Recentemente, a investigação se disseminou para a Saipem, subsidiária de serviços petrolíferos da Eni, a petrolífera estatal italiana. Promotores italianos e argelinos estão investigando para descobrir se a Saipem pagou propina (na forma de contratos de bilhões de dólares) aos executivos da Sonatrach. Executivos de empresas petrolíferas dizem que a burocracia argelina para o setor foi paralisada pelo inquérito.

A produção de gás da Argélia diminuiu cerca de 12% desde 2005, enquanto o consumo interno cresceu rapidamente graças, em parte, aos preços subsidiados. Isso ajudou a corroer as exportações do país. A Argélia viu a sua fatia do mercado mundial de gás natural liquefeito, no qual foi pioneira em 1960, recuar para menos de 5%, de acordo com a PFC Energy, empresa de pesquisa de energia de Washington. Esse percentual é bem inferior aos 19% registrados em 2002.

A fatia da Argélia nas importações de gás da Europa também caiu para 9% em 2012, a partir de cerca de 12% em 2002. Os maiores clientes da Argélia são a Itália e a Espanha, cujas debilitadas economias minaram a demanda por gás.

Depois de assistir a Primavera Árabe varrer do mapa regimes de países vizinhos, o governo argelino está fazendo um exame de consciência. O novo primeiro-ministro do país, Abdelmalek Sellal, está tentando reconstruir a reputação do país diante dos investidores estrangeiros. Ele conseguiu aprovar mudanças no regime de tributação de petróleo e gás para aliviar seus aspectos mais punitivos.

"Até os acontecimentos registrados em In Amenas, 2013 parecia que seria um bom ano", disse Geoffrey D. Porter, da North Africa Risk Consulting, empresa de Nova York que assessora companhias que atuam no Norte da África.

A Líbia também tem sido uma decepção para a preocupação ocidental relacionada à oferta de petróleo. Os executivos do setor acreditam que o país pode ter enormes reservas de petróleo e gás, mas eles ficaram decepcionados com os resultados das explorações realizadas nos anos anteriores à queda de Gaddafi, em 2011.

Atualmente, a produção do país está em um patamar que equivale a 90% da produção pré-revolução, mas há uma atmosfera de desconforto no ar. A BP adquiriu o direito de explorar enormes faixas de deserto em 2007, mas recentemente decidiu adiar a perfuração de seu primeiro poço exploratório em uma área não muito distante da planta de In Amenas. Quatro empregados da BP foram mortos em In Amenas.

O Egito, país localizado a leste da Líbia, com a qual faz fronteira, entrou forte na produção de gás em meados da década de 2000. Mas as exportações egípcias atingiram seu pico em 2009 e, em seguida, caíram rapidamente.

Mas a política do governo, e não a segurança, é a principal preocupação no Egito. O preço do gás para a venda no mercado interno, estipulado pelo governo, corresponde a cerca de 20% do preço praticado na Europa. Isso incentiva o consumo interno, deixando pouco disponível gás para a exportação.

Alguns executivos acreditam que há reservas abundantes nas águas mais profundas do Mar Mediterrâneo, mas dizem que o regime de preços do Egito não lhes oferece retorno suficiente.

Consideradas em conjunto, essas circunstâncias "solidificam o ponto de vista da Europa de que o Norte de África não vai ser uma fonte confiável e barata para o fornecimento (de combustíveis)", disse Mariam Al-Shamma, analista da PFC Energy.

Os Estados Unidos agora estão próximos da autossuficiência em gás, como resultado do boom do gás de xisto, mas a Europa depende fortemente das importações. Essa dependência tende a aumentar nos próximos anos, à medida que a produção doméstica diminuir e – quando a economia do continente se recuperar – a demanda começar a subir novamente. A Agência Internacional de Energia prevê que, em 2030, a União Europeia terá que importar 80% das suas necessidades de gás natural, contra cerca de 60% atualmente.

Se a Europa não puder recorrer ao norte de África, poderá buscar combustível em outro lugar.

O mercado mundial de gás natural liquefeito tende a crescer, pois os Estados Unidos e o Canadá devem se tornar grandes exportadores. Grandes e novos campos foram encontrados no mar de Israel, e a exploração na costa do Chipre está começando.

Mas a fonte mais óbvia é a Rússia, que já detém 54% do mercado europeu de importação de gás.

A Gazprom, gigante do setor de gás controlada pelo governo russo, está sendo investigada pela Comissão Europeia, que pretende verificar se a empresa impõe preços abusivos a clientes da Europa Central e Oriental. Mas a capacidade da Gazprom de influenciar o mercado só deve aumentar.

"A Rússia terá, durante um períodos de tempo significativos, poder substancial para impactar os preços caso decida fornecer ou reter volumes de combustível para o mercado", disse Stern, do Instituto Oxford.

Entrevista com Dmitry Medvedev, primeiro-ministro da Rússia

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Armada Russa receberá 3 submarinos nucleares em 2013

Submarino Vladimir Monomakh

A Armada Russa incorporará antes do final de 2013 dois submarinos estratégicos da classe Borey e um submarino de ataque da classe Yasen, comentou hoje uma fonte do setor militar-industrial da Rússia.

A fonte recordou que em 2012, a indústria deveria entregar os submarinos K-550 Aleksandr Nevskiy (Project 955 "Borey") e o K-329 Severodvinsk (Project 855 "Yasen), mas por distintas razões a entrega foi adiada para 2013.

"De maneira que este ano a Marinha deverá receber o Aleksandr Nevskiy e o Severodvinsk, assim como o Vladimir Monomakh", disse a fonte.

A fonte disse que antes de serem entregues à Armada Russa, os submarinos Aleksandr Nevskiy e Vladimir Monomakh deverão realizar os últimos lançamentos de teste com os mísseis balísticos Bulava.

"O primeiro lançamento deverá efetuar-se desde o submarino Aleksandr Nevskiy em junho ou julho', disse a fonte.

Em tempo, ainda esse ano a Rússia deverá incorporará o submarino convencional B-585 Saint Petersburg do Project 677 Lada, depois de finalizar os testes no norte da Rússia.

VDV receberá veículos blindados nacionais

O veículo blindado "Ris" é a versão nacional do IVECO LMV "Lince" 

O comandante das Tropas Aerotransportadas da Rússia (VDV), o general Vladimir Shamanov, declarou que hoje os veículos blindados IVECO LMV "Ris" (Lince), fabricados com tecnologia italiana, são pouco uteis às condições da Rússia.

"O ministro da Defesa apresentou a ideia de apoiarmos a indústria nacional. Por suas características técnicas, os blindados italianos Ris resultam pouco uteis às condições da Rússia", disse Shamanov em coletiva de imprensa.

Shamanov disse que ao invés dos veículos Ris, as unidades da VDV irão receber veículos de combates desenvolvimentos a partir do veículo blindado russo de alta mobilidade "Tigr", assim como os veículos Typhoon da fábrica de caminhões Kamaz.

"As tropas, em primeiro lugar as forças especiais, receberá os modelos Tigr-M. No caso dos Typhoons, eles não correspondem todas as exigências das Tropas Aerotransportadas", disse o comandante da VDV.

As Forças Navais da China recebem uma nova fragata furtiva


A Forças Navais da China receberam uma nova fragata do projeto Type 056 Jiangdao, fragata essa que é construída com tecnologia "stealth", comunicaram hoje os meios noticiosos locais.

A China planeja construir 20 fragatas da classe Type 056 Jiangdao para substituir os navios das classes Type 053 e Type 037.

Por mais que a China denomina os navios da classe Type 056 Jiangdao como fragatas, elas mais se parecem com corveta, uma vez que metem 95,5 metros de comprimento, 4,4 de calado e deslocam 1.400 toneladas.

A velocidade máxima das fragatas Type 056 Jiangdao é de 26 nós, sua autonomia é de 2.000 milhas náuticas e sua tripulação é composto de 60 homens.

O armamento das Type 056 Jiangdao incluem: mísseis anti-navio YJ-83, sistema antiaéreo FL-3000N, canhão antiaéreo AK-176 de 76mm, canhões de 30mm e tubo lançada-torpedos de 533.

Sukhoi está desenvolvendo uma versão do Su-25 capaz de transpor a defesa aérea inimiga

Acima um Sukhoi Su-25UB da VVS
A Força Aérea Russa (VVS), em 2014, adotará uma nova versão Sukhoi Su-25 "Frogfoot", versão essa será destinada a transpor os sistemas de defesa aérea inimigos, tal como o sistema de mísseis antiaéreos americanos "Patriot".

Segundo o jornal russo Izvestia, que cita uma fonte do comando de testes de vôo da Força Aérea Russa, essa nova versão concluirá os testes de vôo em maio deste ano e em seguida os militares decidirão se a nova aeronave será produzida em série.

Somente os EUA dispõe hoje de aeronaves que podem suprimir sistemas antiaéreos: O F-16CJ e o EA-18G Growler. A diferença dos modelos americanos do novo Su-25, é que a nova aeronave poderá penetrar na própria zona de defesa antiaérea e atacar os sistemas de defesa aérea e outros alvos terrestres do adversário. Isso os caças americanos não fazem.



O diferencial dessa nova versão do Su-25 é uma antena que ela carrega, a qual é capaz de determinar a direção da radiação dos radares dos sistemas de defesa antiaaérea e classificar o tipo de fonte. Ou seja, o piloto saberá se seu avião está exposto a um radar de aquisição de alvos ou de pontaria. Com isso o piloto poderá optar pela guerra eletrônica passiva ou ativa.

O futuro caça incorporará sistemas para detectar raios laser e infravermelhos, assim como um sistema para combater a ameaça de mísseis, incluindo um sistema de proteção ativa para ocultar o calor de seus motores.

A nova aeronave será capaz de trabalhar de forma independe ou em esquadrões.

Cyber-espionagem pesa no relacionamento entre Alemanha e China

A chanceler alemã Angela Merkel observa o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao

Poucas empresas na Europa são tão estrategicamente importantes quanto a Companhia Europeia de Defesa Aeronáutica e Espacial (Eads). Ela fabrica o caça Eurofighter, sondas não tripuladas, satélites espiões e até foguetes para as armas nucleares francesas.

Não surpreende que o governo alemão tenha reagido com alarme no ano passado quando os diretores da Eads informaram que sua empresa, cuja sede administrativa na Alemanha fica perto de Munique, tinha sido atacada por hackers. A rede de computadores da Eads contém projetos secretos de design, cálculos aerodinâmicos e estimativas de custo, assim como a correspondência com governos em Paris e Berlim. Obter o acesso a esses documentos seria como ganhar na loteria para um competidor ou uma agência de inteligência estrangeira.

Há anos que as proteções digitais da empresa são expostas a ataques por hackers. Mas os funcionários dizem que, há alguns meses, houve um ataque "mais ostensivo", que alarmou de tal forma a empresa que a diretoria decidiu informar ao governo alemão. Oficialmente, a Eads só informa que houve um "ataque padrão" e insiste que não sofreu dano algum.

O ataque não é apenas embaraçoso para a empresa, que opera em uma indústria na qual a confiança é muito importante. Ele também afeta a politica externa alemã, porque os atacantes aparentemente eram de um país que teve índices de crescimento espetaculares por anos: a China.

Durante uma visita a Guangzhou, em fevereiro de 2012, a chanceler alemã, Angela Merkel, elogiou o sucesso da China, dizendo que "que pode ser descrito como uma situação clássica em que todos ganham". Contudo, a chanceler pode estar errada.

Há algum tempo que o relacionamento entre a China e o Ocidente parece estar produzindo um vencedor e muitos perdedores. A China em geral é a vencedora, enquanto os perdedores são da Alemanha, França e Estados Unidos: empresas mundiais que são evisceradas por hackers chineses e aprendem a dura lição de como informações delicadas podem parar rapidamente no Extremo Oriente.

O dilema de Berlim
O ataque digital incessante leva o governo alemão a um dilema político. Nenhum governo pode ficar passivo enquanto outro tenta inescrupulosamente roubar seus segredos nacionais. Ele tem que proteger o centro do governo e o know-how da sua economia, algumas vezes com métodos severos, se a abordagem diplomática se prova ineficaz. Berlim deve ameaçar Pequim com sérias consequências, como as que o governo americano anunciou na semana passada.

Por outro lado, o governo alemão não quer prejudicar as relações com um de seus parceiros internacionais mais importantes. A China tornou-se a terceira maior parceira comercial da Alemanha e, da perspectiva de Merkel, hoje o país é muito mais do que um grande mercado para os produtos alemães e um fornecedor de produtos baratos. Berlim agora vê Pequim como seu mais importante parceiro político não ocidental.

Isso talvez explique porque Merkel está lidando com o problema chinês de forma abstrata, e não direta. Nas reuniões de alto nível em agosto, ela lembrou os chineses da importância de "obedecer as leis internacionais". Quando ela enviou um representante a Pequim em novembro para dizer que a Alemanha condenava a espionagem digital, foi algo informal e não oficial. No final, Merkel aceitará as tentativas atuais de espionagem como uma praga que a Alemanha simplesmente tem que aguentar.

Quando o "Spiegel" revelou pela primeira vez o vulto dos ataques chineses, há cinco anos e meio, o então primeiro-ministro, Wen Jiabao, assegurou que seu governo ia "tomar medidas definitivas para impedir ataques de hackers". Mas o problema só piorou desde então.

Em 2012, 1.100 ataques
No ano passado, a agência de Inteligência doméstica da Alemanha, o Escritório Federal para a Proteção da Constituição, registrou perto de 1.100 ataques digitais contra o governo alemão por agências de inteligência estrangeiras. A maior parte foi direcionada contra a Chancelaria, o Ministério de Relações Exteriores e o Ministério de Economia. Na maioria dos casos, os ataques consistiram de e-mails com anexos contendo cavalos de troia. Membros da segurança observaram que os ataques foram especialmente severos logo antes da reunião do G-20, tendo como alvos membros da delegação alemã e como foco a política fiscal e energética. O Partido Verde também foi alvo.

Em meados de 2012, os hackers atacaram a ThyssenKrupp com uma veemência sem precedentes. As tentativas para a infiltração na rede corporativa do grupo de aço e defesa foi "massiva" e de "especial qualidade", disseram os funcionários da empresa. Internamente, o assunto foi tratado como altamente secreto. Os hackers aparentemente haviam penetrado tão fundo nos sistemas da empresa que os executivos sentiram necessidade de notificar as autoridades. A ThyssenKrupp disse ao "Spiegel" que o ataque ocorreu "localmente nos EUA" e que a empresa não sabia os invasores haviam copiado alguma coisa e o que seria. Sabia, contudo, que os ataques vinham associados a endereços de Internet da China.

Aparentemente, os hackers também atacaram a gigante farmacêutica Bayer e a IBM, apesar de a IBM preferir não comentar. No final de 2011, uma empresa de alta tecnologia alemã, líder no mercado mundial em sua indústria, foi alertada por membros da segurança que grandes volumes de dados haviam sido transferidos ao exterior, segundo informações recebidas de um serviço de inteligência aliado.

As investigações mostraram que dois pacotes de dados de fato foram transmitidos em rápida sucessão. O primeiro aparentemente foi um teste, enquanto o segundo foi um grande pacote contendo um conjunto virtualmente completo de dados: arquivos de desenvolvimento e pesquisa, assim como informações sobre fornecedores e clientes. Um fornecedor de tecnologia externo havia copiado os dados e aparentemente vendido para indivíduos chineses.

Setenta por cento das empresas alemãs estão sob ameaça
"Setenta por cento de todas as grandes empresas alemãs estão ameaçadas ou são afetadas" por ataques, disse Stefan Kaller, diretor do departamento responsável por segurança digital do Ministério do Interior da Alemanha, no Congresso de Polícia Europeu na semana passada. Os ataques se tornaram tão intensos que o governo alemão, em geral reservado, hoje discute a questão abertamente. "Um número avassalador de ataques detectados na Alemanha contra agências do governo vêm de fontes chinesas", disse Kaller na reunião. Mas os alemães ainda não têm provas definitivas de quem está por trás dos ataques.

As pistas levam a três grandes cidades chinesas: Pequim, Xangai e Guangzhou. Da perspectiva da Alemanha, eles apontam para a Unidade 61398, que foi identificada em um dossiê da empresa de segurança norte-americana Mandiant na semana passada.

No dossiê, que aparentemente se baseou em informações de inteligência, a firma de tecnologia da informação de Washington descreve em detalhe como uma unidade do Exército da Libertação do Povo da China invadiu 141 empresas no mundo todo desde 2006. De acordo com a Mandiant, as pistas levam a um prédio de 12 andares discreto no distrito de Pudong, em Pequim, que abriga a Unidade 61398 do exército.

A Mandiant alega que a unidade de elite opera pelo menos 937 servidores em 13 países. Um dos principais chineses envolvidos trabalhou sob o codinome "UglyGorilla" desde 2004, enquanto dois outros usam os nomes "SuperHard" e "Dota". De acordo com a Mandiant, as evidências deixam poucas dúvidas que soldados da Unidade 61398 estão por trás dos ataques de hackers. A Casa Branca, que foi notificada de antemão, confirmou as conclusões do relatório privadamente, enquanto os chineses negaram. "Os militares chineses nunca apoiaram qualquer atividade de hacking", disseram os porta-vozes dos Ministérios de Defesa e Relações Exteriores da China, acrescentando que a China é de fato "uma das principais vítimas de ataques teleinformáticos".

O dossiê enfatiza pela primeira vez publicamente  o que há muito se fala nos círculos de inteligência: que o aparato do poder do governo chinês está por trás de pelo menos parte dos ataques. Depois da publicação do relatório, embaixadores europeus em Pequim passaram a dar máxima importância ao assunto. Os diplomatas concordaram que a China se tornou grande e poderosa demais para ser abordada por um único país da União Europeia.

O governo norte-americano agora definiu os ataques como uma questão chave, e a segurança digital passou a constar da agenda do Diálogo de Segurança Estratégica entre Pequim e Washington. A espionagem de TI da China é a maior "transferência de riqueza da história", disse o general Keith Alexander, diretor do Comando Militar de Teleinformática dos EUA. Entre as empresas atacadas, segundo a Mandiant , há uma que tem acesso a mais de 60% dos dutos de petróleo e gás natural da América do Norte. "Um hacker na China pode adquirir o código fonte de uma empresa de software na Virgínia sem sair de sua escrivaninha", diz o advogado geral dos EUA, Eric Holder.

No verão passado, Holder lançou um programa de treinamento para 400 de seus advogados investigarem especificamente ataques digitais feitos do exterior. E, na semana passada, Holder apresentou o plano do governo para impedir o roubo de propriedade intelectual. Depois do relatório da Mandiant, há cada vez mais pedidos nos EUA para a adoção de medidas mais duras, inclusive a proibição de entrada de hackers condenados e leis para aumentar as opções disponíveis para as empresas combaterem o roubo de dados sob o direito civil. Referindo-se a Pequim, James Lewis, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, disse ao "Wall Street Journal": "É preciso manter a pressão sobre eles".

A Alemanha parece um país em desenvolvimento
A Alemanha está longe de aumentar a pressão sobre os chineses. De fato, no que concerne à tecnologia digital, a Alemanha algumas vezes parece um país em desenvolvimento. Quando empresas como a Eads são atacadas, é uma questão de sorte o governo alemão ficar sabendo. O projeto da nova Lei de Segurança em TI, que o ministro do interior Hans-Peter Friedrich, membro da União Social Cristã (CSU), revelou no início de fevereiro, pelo menos exige que as empresas informem as autoridades quando forem atacadas. Mas há fortes chances que os ministérios envolvidos na legislação proposta destruam o projeto antes das eleições nacionais alemães em setembro.

O governo aprovou uma estratégia de segurança nacional em TI há dois anos e o novo Centro de Defesa Digital da Alemanha recebeu uma dúzia de funcionários desde então, mas é praticamente um antivírus do governo. O centro não tem autoridade e não há políticas claras de como o governo pretende lidar com ameaças originadas na Internet. As agências federais "não são capazes de se defender contra um ataque", zomba um alto executivo da indústria de defesa.

A agência de inteligência estrangeira do país, a BND, tem maior experiência com os ataques de hackers. A agência, que fica perto de Munique, também está envolvida em espionagem digital e usou cavalos de troia e os chamados "keyloggeres" em mais de 3.000 casos. O presidente do BND, Gerhard Schindler, quer unir o pessoal que ficava espalhado em uma única subseção e já aprovou os novos cargos necessários. Um membro da chancelaria provavelmente chefiará o novo grupo.

A BND quer ter a capacidade não apenas de se infiltrar em um sistema de computador externo, mas também de desenvolver uma espécie de contra-ataque digital para fechar o servidor de um atacante particularmente agressivo.

Isso aconteceria no pior dos casos.

Cerca de 395 mil refugiados sírios na Jordânia sobrevivem quase sem comida e atendimento médico


Ficar na Síria significaria para muitos a morte. Fugiram do inferno da guerra e dos bombardeios incessantes do governo para ver-se agora encerrados por cercas no meio do deserto, sem comida suficiente, com a água racionada, carentes de cuidados médicos decentes e com pouco mais que fazer além de esperar que o regime de Bashar Assad caia, como já caíram mais de 70 mil pessoas no conflito. Na Jordânia há 395 mil refugiados sírios, segundo o governo (231.751 registrados pela ONU). Este não pode lhes oferecer toda a assistência alimentar e médica de que necessitam, e pediram ajuda à comunidade internacional para evitar uma crise humanitária.

A vida no campo de Zaatari não é boa para os refugiados, que na maioria procedem de Deraa, a cidade no sul da Síria onde começou a revolta em 2011. A fronteira fica a 22 quilômetros. Em algumas noites, como a da última sexta-feira, quando 2.851 pessoas a cruzaram, ouvem-se explosões ao longe, a prova de que o regime resiste. Para entrar e sair pelos postos de controle de Zaatari é preciso uma autorização. A comida - caixas com arroz, lentilhas, óleo, açúcar e latas - é distribuída a cada 15 dias. A água se administra em botijões de plástico.

Pelal Hajali, 22 anos, cruzou a fronteira com o pé destruído. Quase o perdeu em um bombardeio do regime. Fugia "dos ataques, dos incêndios e das chacinas", segundo diz. Agora vai ao hospital de campanha e só lhe dão analgésicos. Ele não esconde: quer ir embora. Incomoda-o sobretudo não poder tomar uma ducha diária. Mas não tem aonde ir fora desse campo. "E pelo que sei Assad poderá ficar no poder 20 anos", diz com amargura.

Os privilegiados do campo vivem em contêineres de metal. São o menor número. A imensa maioria dorme em tendas de campanha doadas pela ONU, que fervem no calor do dia, são uma peneira para o frio da noite e parece que vão voar quando sopram os ventos do deserto. Famílias inteiras dormem nessas tendas. Para se aquecer, o único remédio é acender à noite uma lamparina a gás, pouco amiga da lona. Na terça-feira uma menina de sete anos morreu depois que a tenda onde dormia se incendiou.

A maioria desses refugiados não tem outras posses além dessas tendas, espalhadas por seis quilômetros quadrados de deserto. Muitos fugiram para a Jordânia porque Al-Assad destruiu seus lares com bombardeios. Em julho de 2012 esse campo foi aberto formalmente, com capacidade inicial para 30 mil pessoas. Hoje abriga 100 mil, das quais 75% são mulheres e crianças.

"Isto não é um lar. Estávamos muito melhor vivendo na Síria", afirma Mahdi Taani, 42 anos, que vive em um dos contêineres de metal de cerca de 5 m², junto com sua família de nove membros. Começou a planejar a fuga para a Jordânia quando as explosões foram aumentando em frequência. Tomou a decisão ao ver que os filhos de seus vizinhos, muitos deles crianças, morreram nos ataques. "Assad é covarde por natureza. Acabará deixando o poder", prevê. "Durante 40 anos vivemos com medo em meu país. Por medo não protestamos, mas esse tempo acabou."

Mais de 900 mil pessoas já fugiram da guerra na Síria. A Jordânia é o país que recebeu mais desalojados. Um terço deles vive em três campos de refugiados. O governo está construindo o quarto. Um consórcio de organizações humanitárias pediu à comunidade internacional ajuda para os deslocados no valor de 1 bilhão de euros, dos quais só receberam 3%.

Nesta cidade de miséria o pior inimigo é o clima. Em janeiro, uma tempestade transformou os caminhos em lodaçais. Ventos de 60 quilômetros por hora carregaram muitas moradias. Quando os cooperantes internacionais entregavam pão, a frustração dos refugiados se transformou em raiva e acabaram atacando-os com pedras e paus. Os distúrbios são frequentes, sobretudo quando ocorre a distribuição das tendas, que tão precariamente protegem do frio e do calor.

"A comunidade internacional precisa agir. Não se pode depender só de boas intenções. E se não fizerem nada agora, quando será?", afirma Anmar al Nimer al Hamud, coordenador do comitê especial do governo da Jordânia para os refugiados sírios. "A economia da Jordânia já está por si só em uma situação difícil. Na medida em que chegam mais refugiados, as queixas dos cidadãos aumentam. Há protestos sobretudo quando há revoltas nos campos. A polícia destacada foi agredida, alguns agentes ficaram feridos. Já se ouviram inclusive pedidos de castigo por parte das tribos que vivem perto do campo", explica.

A metade dos residentes no campo tem menos de 20 anos. Entre as condições de vida deploráveis e o excesso de tempo livre, nasce a vontade de voltar para a Síria. Hamad Haraki, 19 anos, não pode mais esperar. Fugiu para a Jordânia com sua mãe e cinco irmãos para garantir que estes chegariam bem. Hoje passa os dias percorrendo o campo sem ocupação. Sonha em unir-se ao Exército Livre da Síria. "Serei um mártir da liberdade", afirma. Diz que pediu a autorização de saída há 15 dias, mas ainda não obteve resposta. Quando a tiver, cruzará a fronteira de novo e se disporá a dar a vida na resistência.

As vias de escape
Se no início da revolta os sírios preferiam agarrar-se a sua terra e não deixar o país, dois anos depois a violência deixou sua marca e mais de 900 mil já cruzaram as fronteiras (as agências da ONU registraram oficialmente 724.698).

A Jordânia é o destino principal, com 231.751 sírios registrados nos campos do norte do país. No Líbano a ONU documentou a chegada de 195.098 sírios, enquanto a Turquia recebe em Hatay 182.621. O vizinho Iraque, outrora emissor de refugiados, já recebeu 96.270 refugiados sírios.


Plano dos EUA de reduzir drasticamente tropas no Afeganistão até 2014 preocupa Otan


Os Estados Unidos preveem apenas uma presença mínima de soldados norte-americanos no Afeganistão quando a missão da Otan chegar ao fim, no final de 2014. A Spiegel Online apurou que menos de 10 mil soldados norte-americanos devem ficar no país para além desta data. Douglas Lute, assistente especial do presidente dos EUA no Paquistão e Afeganistão, informou a embaixadores da Otan sobre o plano na sede da aliança em Bruxelas na segunda semana de fevereiro. Ele disse que apenas metade das unidades que estão hoje no Afeganistão ficarão disponíveis depois de 2014 para treinar soldados afegãos.

A conversa confidencial de Lute foi a primeira confirmação oficial de que os EUA preveem uma presença extremamente limitada no país no futuro. E os números apresentados por Lute alarmaram a aliança. Embora o apoio pós-missão e a missão de treinamento no Afeganistão – que será realizada pela Otan em conjunto com oito países de fora da aliança – esteja em desenvolvimento há meses, o número extremamente limitado de soldados norte-americanos disponíveis coloca a aliança numa situação difícil.

O objetivo da missão – agora chamada de Apoio Resoluto depois de algumas mudanças de nome – é assegurar que o exército afegão, construído com grande esforço nos últimos anos, não desmorone imediatamente uma vez que a missão da Otan, conhecida como Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf), chegue ao fim. Mas a apresentação de Lute deixou claro que o presidente dos EUA, Barack Obama, está determinado a diminuir radicalmente a presença norte-americana no Afeganistão depois de 2014. Em seu discurso do Estado da União neste mês, Obama divulgou sua intenção de trazer para os EUA metade dos 60 mil soldados norte-americanos atualmente estacionados no Afeganistão até o final do ano.

Os detalhes dos planos pós-2014 de Washington não eram conhecidos até entrevista de Lute. Semanas antes, a mídia dos EUA havia descartado uma "opção mínima" que demandava que menos de 10 mil soldados continuassem no país, mas o governo norte-americano não fez nenhum comentário oficial. Isto porque Chuck Hagel ainda não foi confirmado pelo Senado, o secretário da Defesa Leon Panetta, que está deixando o cargo, viajou para a Europa em seu lugar.

Dificultando a tarefa da Alemanha e da Otan
O assessor presidencial Lute não deixou dúvidas durante seu encontro com os embaixadores da Otan de que Washington quer levar a impopular missão a uma conclusão rápida. Nesta primavera, todas as operações de combate deverão ser lideradas por militares afegãos e pessoal de segurança, enquanto as forças da Isaf devem assumir um papel de apoio. Os EUA disseram aos parceiros europeus que tomar esta medida agora é uma condição necessária para alcançar uma retirada no final de 2014.

A estratégia não é isenta de risco. Uma mudança tão rápida de responsabilidade poderia sobrecarregar o exército afegão, reconheceu Lute durante sua visita a Bruxelas.

A mini-força de Washington dificulta a tarefa para a Alemanha e outros países membros da Otan. Lute disse que os EUA esperam que o exército alemão continue responsável pelo Comendo Regional do Norte e dirija as operações de treinamento militar lá para além de 2014. Os EUA, disse ele, coordenariam as operações de treinamento e apoio no sul e no leste. A Itália deve continuar responsável pelo oeste.

Mas os EUA preveem uma divisão de suas forças. Apenas 5 mil dos 10 mil soldados norte-americanos previstos pelo plano deverão ser disponibilizados para a missão de treinamento. A outra metade será destinada para as operações contra células terroristas e acampamentos da Al-Qaeda, bem como para a proteção de instalações norte-americanas no país, tais como a embaixada em Cabul.

No total, a missão de treinamento pós-2014 deve abranger 15 mil soldados. Os EUA esperam que seus parceiros da Otan preencham quaisquer lacunas que possam resultar de sua presença limitada. Para a Alemanha, é provável que o número se mantenha alto, mesmo depois de 2014, principalmente devido à operação do campo de Mazar-e-Sharif.

Motivo de preocupação
Os comentários de Lute a respeito dos números futuros de soldados de Washington não foram a única parte de sua apresentação que deixaram seus aliados europeus pensando. Embora os EUA estejam preparados para continuar oferecendo apoio aéreo depois de 2014, capacidades táticas, como a evacuação de feridos por helicópteros, serão interrompidas.

Isso é motivo de preocupação. Quase todos os países presentes no Afeganistão, inclusive a Alemanha, dependem da aeronave Medevac norte-americana. Os militares alemães só conseguiram estabelecer um sistema eficiente de evacuação e tratamento de soldados feridos no norte com a ajuda dos EUA. Médicos norte-americanos conseguiram várias vezes salvar as vidas de soldados alemães. Mesmo se a missão pós-2014 excluir as operações de combate, é indispensável ter um sistema eficaz para tratar os feridos.

Apesar das linhas gerais dos planos dos EUA apresentadas por Lute, o governo alemão ainda espera que detalhes sejam revistos, observando que os números finais ainda não foram aprovados por Obama. Mas em seu recente discurso do Estado da União, o presidente deixou claro que "a natureza do nosso compromisso vai mudar".

Estrategistas militares em Berlim agora sabem o que ele quis dizer. Os EUA reduzirão ao máximo sua presença futura no Afeganistão.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

"Sequestro de clérigo muçulmano pela CIA foi uma desgraça", diz promotor alemão que não conseguiu denunciar suspeitos

Abu Omar 

Na semana passada, um tribunal italiano condenou vários ex-agentes da agência inteligência italiana a sentenças de até 10 anos de prisão devido ao fato de eles terem apoiado a CIA no sequestro do clérigo muçulmano egípcio Abu Omar, ocorrido em 2003.

A CIA sequestrou Abu Omar na Itália e o transportou de avião até a base aérea de Ramstein, na Alemanha. Em seguida, Omar foi levado ao Egito, onde ele diz ter sido torturado.

Juízes do tribunal de recursos de Milão condenaram Niccolo Pollari, ex-chefe da agência de inteligência militar italiana Sismi, a 10 anos de prisão. O ex-vice de Pollari, Marco Mancini, pegou nove anos de prisão.

O ex-chefe do escritório da CIA em Roma e dois outros oficiais norte-americanos foram condenados à revelia e é improvável que eles cumpram suas penas.

Já na Alemanha, nenhuma acusação foi apresentada contra os agentes da CIA que atuaram em território alemão. As investigações conduzidas pelo promotor Eberhard Bayer, 62, foram encerradas porque ele não conseguiu determinar quais agentes da CIA estavam envolvidos no caso.

Bayer falou à Spiegel sobre suas frustrações relacionadas com o caso.

Spiegel: O sistema judicial italiano investigou com sucesso o papel das pessoas envolvidas no caso de Abu Omar na Itália. Será que o sistema judicial alemão falhou?
Bayer: Nós realmente tentamos de tudo, mas, no final das contas, não conseguimos descobrir quais agentes da CIA estavam em Ramstein. Nós sabíamos qual avião pousou, nós tínhamos uma lista dos pilotos norte-americanos que pilotavam esse avião e até chegamos a verificar os pagamentos feitos com cartões de crédito e as reservas de hotel realizados ao redor da base aérea para descobrir quem poderia ter estado lá em 17 de fevereiro de 2003. Mas não conseguimos nada . E Abu Omar infelizmente não conseguiu identificar nenhum de seus sequestradores.

Spiegel: O avanço nas investigações obtido na Itália ocorreu após a verificação das ligações telefônicas realizadas pelos membros da CIA envolvidos no caso.
Bayer: Na Alemanha nós não temos acesso a dados tão antigos. O sequestro aconteceu em 2003.

Spiegel: Até onde você conseguiu chegar na investigação que realizou nos EUA?
Bayer: Nós entramos em contato com a base aérea de Ramstein, que no início cooperou conosco. Mas, depois, o pessoal da base nos informou que nenhuma informação seria divulgada pelos EUA. E o Ministério da Justiça da Alemanha nos disse que não tinha nenhuma informação além das que estavam nos jornais.

Spiegel: Quando Condoleezza Rice, secretária de Estado dos EUA à época, visitou Berlim, você perguntou ao Ministério das Relações Exteriores alemão se o assunto foi discutido. Qual foi a resposta do governo alemão?
Bayer: O Ministério das Relações Exteriores apenas nos disse que não houve nenhuma troca de informações sobre esse assunto.

Spiegel: Será que o governo alemão não queria ajudar ou será que não podia ajudar?
Bayer: Eu não quero arriscar um palpite sobre isso.

Spiegel: Por que você não investigou George Tenet, que era o chefe da CIA à época e foi o responsável pela operação?
Bayer: Essa opção não existia. Juridicamente, eu só posso investigar as pessoas que estiveram fisicamente em Ramstein.

Spiegel: Você lamenta o fato de Abu Omar não ter obtido justiça na Alemanha?
Bayer: É claro. O que aconteceu em Milão e em Ramstein é uma desgraça e deveria ter sido levado aos tribunais. Se tivesse sido possível, nós teríamos apresentado denúncias contra os suspeitos.

Eleições no Quênia expõem chaga do conflito étnico no país


Em um quarto perto da escada, está Shukrani Malingi, um agricultor pokomo, retorcido em uma maca de metal, com a pele das costas toda queimada. Descendo o corredor, a uma distância segura, está Rahema Hageyo, uma menina orma, olhando pela janela sem expressão, com uma grande cicatriz no alto do pescoço. Ela foi quase decapitada por um facão –e tem apenas nove meses de idade.

Desde que os conflitos étnicos violentos eclodiram entre os pokomos e os ormas há vários meses em uma parte pantanosa e desolada do Quênia, o hospital Tawfiq instituiu em uma política estrita para as vítimas que são trazidas até aqui: pokomos de um lado, ormas do outro. A antiga rivalidade, que os dois lados dizem ter sido inflamada pela eleição para governador, tornou-se tão explosiva que os dois grupos continuam segregados mesmo enquanto recebem cuidados vitais. Quando os pacientes deixam seus quartos para usar o banheiro, eles passam uns pelos outros em suas camisolas manchadas de sangue, algumas vezes empurrando os suportes de soro velhos, sem falar uma palavra.

"Há três razões para esta guerra", disse Elisha Bwora, ancião pokomo. "Tribo, terra e política".

A cada cinco anos, este país estável e tipicamente pacífico, um oásis de desenvolvimento em uma região muito pobre e turbulenta, sofre uma transformação assustadora na qual antigas rivalidades são reacendidas, milícias étnicas são mobilizadas e vizinhos começam a matar vizinhos. A razão são as eleições, e agora uma enorme que se aproxima –uma das mais importantes na história deste país e definitivamente a mais complicada.

Em menos de duas semanas, milhões de quenianos farão fila aos para escolher seus líderes pela primeira vez desde a eleição desastrosa em 2007, que fomentou confrontos que mataram mais de 1.000 pessoas. O país passou anos agonizando ferido e tomou algumas medidas para corrigir esses males, sendo a mais notável a aprovação de uma nova Constituição. Mas a justiça tem sido difícil de alcançar, a política continua tendo um viés étnico e líderes acusados de crimes contra a humanidade podem vencer as eleições.

As pessoas aqui tendem a votar em blocos étnicos e, durante as eleições, os políticos quenianos costumam fomentar essas divisões, algumas vezes até financiar ondas de homicídios, de acordo com documentos da justiça. Desta vez, os discursos corrosivos parecem mais restritos, mas em algumas áreas onde a violência irrompeu depois das últimas eleições, a mensagem subjacente de "nós contra eles" ainda é abundantemente clara.

Agora, o país está fazendo uma pergunta simples, mas urgente: a história vai se repetir?

"Esta eleição desperta o que há de pior em nós", disse uma coluna na semana passada do "The Daily Nation", o jornal de maior circulação do Quênia. "Todo o preconceito tribal, todas as brigas e ressentimentos antigos, todos os insultos reais e imaginados, todos os ódios e aversões, tudo isso está andando pelas ruas, como hordas de mortos-vivos sedentos procurando inocentes para devorar".

Com a aproximação das eleições, os alarmes estão soando. Sete civis foram emboscados e mortos no Nordeste do Quênia na quinta-feira (21/02), no que foi amplamente considerado um ataque politicamente motivado. No dia anterior, o presidente do Supremo disse que um grupo criminoso notório o havia ameaçado com "duras consequências", se ele decidisse contra um importante candidato presidencial. Agricultores no vale do Rift dizem que o roubo de gado está aumentado e acusam os políticos de instigar os crimes para gerar brigas entre as comunidades.

Como o Quênia é um país líder no continente, o que acontecer por aqui nas próximas semanas poderá determinar se os anos de tênue compartilhamento de poder e reconciliação política –um modelo que também foi usado após as eleições violentamente contestadas no Zimbábue- valeram a pena.

"O resto da África quer saber se é possível aprender com as últimas eleições e garantir que a violência não retorne", disse Phil Clark, palestrante da Escola de Estudos Africanos e Orientais em Londres. "Com cinco anos de antecipação, será possível tratar as causas do conflito e transferir o poder pacificamente?"

Movido por intelectuais quenianos e aliados ocidentais, o Quênia reformou seu judiciário, a comissão eleitoral e a natureza do próprio poder. Dezenas de novos cargos, como governadores e senadores, foram criados para garantir que os recursos fossem divididos de forma mais equitativa, uma tentativa de reduzir o sistema no qual o vencedor levava tudo, o que premiava alguns grupos étnicos com recompensas e oportunidades enquanto outros eram relegados para a periferia.

Mas em lugares como o delta do rio Tana, onde os confrontos entre pokomos e ormas já matou mais de 200 pessoas, a nova ênfase no governo local se traduziu em mais espólios pelos quais brigar. E há quase 50 eleições de governadores pelo Quênia, muitas delas bastante esquentadas.

"Os ormas estão tentando nos expulsar para não podermos votar", disse Bwora, o ancião pokomo. "Eles queimaram nossas aldeias, até nossas certidões de nascimento. Como podemos votar assim?"

Os ormas acusam os pokomos de fazerem exatamente a mesma coisa, inclusive de queimar as certidões de nascimento.

No palco nacional, dois dos políticos mais contenciosos do Quênia –Uhuru Kenyatta e William Ruto- estão concorrendo na mesma chapa para presidente e vice-presidente. Os dois foram acusados pela Corte Criminal Internacional por crimes contra a humanidade na última onda de violência. Kenyatta, vice-primeiro-ministro e filho do primeiro presidente do Quênia, é acusado de financiar esquadrões da morte que iam de casa em casa no início de 2008, matando membros da oposição e suas famílias, inclusive crianças pequenas.

É bem possível que Kenyatta seja eleito o próximo presidente do Quênia e torne-se o primeiro chefe de Estado a ter que ir e voltar de Haia, potencialmente complicando o relacionamento tipicamente caloroso entre o Quênia e o Ocidente.

Há uma sensação crescente entre muitos membros do grupo étnico de Kenyatta e de Ruto, os kikuyus e os kalenjins, respectivamente, que precisam vencer essas eleições para impedirem que seus líderes sejam levados à prisão na Europa, o que está tornando as tensões ainda maiores.

A maior parte dos analistas acha que essas eleições serão turbulentas, apesar de alguns argumentarem que não será tão ruim quanto as últimas.

"As coisas estão diferentes", disse Maina Kiai, proeminente defensor de direitos humanos do Quênia. Por exemplo, ele observou que os kikuyus e kalenjins lutaram uns contra os outros no vale do rio Rift em 2007 e 2008, mas agora muitos membros desses dois grupos estão do mesmo lado, porque seus líderes formaram uma aliança política.

"A violência pode encontrar novas arenas, mas não acho que terá a mesma extensão", disse Kiai.

Também há uma clara consciência do quanto há para se perder. A economia queniana ficou parada depois do caos das últimas eleições. Mas agora se recuperou fortemente, gerando um número estonteante de novas estradas, escolas, hospitais, shoppings, enotecas, lojas de sorvete de iogurte, até de amostras grátis nos supermercados –evidências da posição do Quênia neste continente como abrigo de uma classe média grande e próspera.

Muitas nações da região dependem do Quênia, como demonstrado pelo caos econômico em cascata ocorrido nas últimas eleições, quando multidões bloquearam as estradas do Quênia e provocaram uma alta dos preços do petróleo que chegou até a República Democrática do Congo.

Outra válvula de segurança pode ser a justiça, que agora é considerada muito mais independente, uma das maiores conquistas desde as últimas eleições. O novo judiciário do Quênia é liderado por um antigo prisioneiro político e especialista legal altamente respeitado, Willy Mutunga, o presidente do Supremo que disse que foi ameaçado nesta semana.

A esperança é que, se qualquer disputa eleitoral surgir entre Kenyatta e o outro principal concorrente, Raila Odinga, o primeiro-ministro do Quênia, que diz que foi roubado nas últimas eleições, Mutunga intervirá -antes que as pessoas o façam nas ruas.

Mas o delta do rio Tana continua soando um alto sinal de alerta e há suspeitas que figuras políticas estão alimentando deliberadamente antigas disputas, neste caso sobre a terra.

Um importante político pokomo, que foi assistente de ministro, recentemente foi preso e acusado de incitamento à violência, apesar das acusações terem sido retiradas. A alegação lembrou os casos da Corte Internacional Criminal, que afirma que por trás do caos de 2007 e 2008 havia líderes políticos incitando seus partidários a matarem para ganhos políticos.

Para cima e para baixo no rio Tana, infestado de crocodilos, jovens pokomos e ormas agora estão patrulhando as margens com lanças e espadas enferrujadas. O resultado é um quadro triste, de aldeias etnicamente segregadas, mas paralelas, mergulhadas na mesma pobreza, sofrimento e medo.