sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
Tunísia, o berço da Primavera Árabe, está à beira da tragédia
Berço da revolução que vem abalando o mundo árabe, a Tunísia está passando por momentos difíceis, perigosos e que podem acabar em tragédia. Não era algo inevitável e alguém foi responsável por isso. O assassinato, na quarta-feira (6), de um dos líderes da oposição laica, Chokri Belaid, foi o ponto culminante de uma situação que só vem piorando de um ano para cá.
Advogado de 49 anos, Chokri Belaid era um homem corajoso. Ele liderava o Movimento dos Patriotas Democratas (MPD), membro de uma coalizão de oposição que reunia uma dezena de partidos. Ele foi morto em plena luz do dia, em frente à sua casa, com quatro tiros disparados por dois homens que fugiram de moto.
Esse assassinato político, algo pouco usual para a Tunísia, cristaliza uma oposição cada vez mais frontal entre dois campos: de um lado, os simpatizantes do partido maioritário, o islamita Ennahda, que domina o governo e a Assembleia Constituinte; do outro, os defensores de uma laicidade generosa, temerosos diante da escalada nas provocações e atos de violência perpetrados por vários grupos que agem em nome do islamismo político.
Durante toda a quarta-feira houve confrontos entre a polícia e os militantes da oposição. As manifestações foram violentas. Em várias cidades do interior, os comitês do partido Ennahda foram incendiados. Um policial foi morto.
A raiva vinha fermentando havia muito tempo. Ela é produto de uma crise multiforme. Primeiramente política, com um partido majoritário, o Ennahda, que não soube ou não quis abrir suficientemente o governo, que demorou para marcar uma data para as futuras eleições e, por fim, com uma Assembleia constituinte que não conclui seus trabalhos.
A crise é ainda econômica. A instabilidade política afugenta turistas e investidores estrangeiros. Ela é também social, sobretudo no interior, com o aumento do desemprego entre jovens ociosos e ainda mais revoltados pelo fato de terem acreditado em um futuro promissor, com a queda do regime.
Ainda não há elementos o suficiente para destacar uma ou outra das possíveis pistas no assassinato de Chokri Belaid. Ele pode ter sido obra dos partidários do ex-ditador Ben Ali, expulso do país em janeiro de 2011; é possível enxergar ali o gesto de um grupo salafista, extremistas islâmicos, ou até de uma ala radical e descontrolada de militantes do Ennahda.
A única certeza é que o Ennahda permitiu que se instalasse um clima pernicioso ao tolerar uma incessante série de atos de violência contra todos aqueles que não pensam de acordo com seus cânones. Impotência, inexperiência no governo ou desejo mais ou menos consciente de submeter o país a uma crescente islamização? O resultado está lá: dezenas de mausoléus sufis queimados, recusa em assegurar a proteção dos opositores, agressões perpetradas repetidamente por fundamentalistas armados – e, agora, o assassinato político.
A Tunísia precisará da antiga sabedoria que costumam lhe atribuir para não mergulhar em uma tragédia.
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