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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Máfia japonesa lucra com reconstruções após terremoto de Fukushima


Cerca de dois anos depois da catástrofe nuclear de Fukushima, no nordeste do Japão, e de diversas alegações sobre o envolvimento da máfia japonesa em sua reconstrução, a polícia deteve na quinta-feira, 31 de janeiro, Yoshinori Arai, um yakuza suspeito de ter enviado ilegalmente trabalhadores para as áreas sinistradas. Segundo a polícia, Arai dirige uma gangue sediada no departamento de Yamagata (norte do país) e afiliada ao sindicato do crime Sumiyoshi-kai, o segundo mais poderoso do Japão, com 12.600 membros.

Arai teria enviado diversas vezes trabalhadores diaristas a uma subempreiteira de Yamagata envolvida na descontaminação radioativa de Date, cidade do departamento de Fukushima. Esses trabalhadores teriam recebido apenas a metade dos 20 mil ienes (158 euros) prometidos por dia de trabalho. O restante teria ido para o bolso do grupo de Arai.

Esse caso demonstra que a reconstrução e os bilhões de ienes que ela exige atraem a máfia. O filão é ainda mais interessante porque o meio do crime japonês sofre há vários anos uma perda de suas fontes de renda devido a uma legislação mais repressiva e uma polícia mobilizada contra seus membros. Um decreto de 1º de outubro de 2011 sanciona qualquer pessoa que mantiver ligações ou fizer negócios com membros da máfia.

Em Tohoku, a região acidentada, as gangues estariam envolvidas em graus diversos na maior parte das atividades ligadas à reconstrução, como os trabalhos de demolição e o tratamento dos dejetos. A polícia estaria conduzindo investigações em 37 casos. Em maio de 2012 ela havia detido Makoto Owada, outro chefe da Sumiyoshi-kai, por ter enviado trabalhadores à central nuclear de Fukushima passando por uma empresa de fachada no departamento de Tochigi (nordeste).

Essa presença da máfia, principalmente na gestão da catástrofe nuclear, é verificada há muito tempo. O jornalista investigativo Tomohiko Suzuki fez um livro a respeito em 2011 - "As yakuzas e a indústria nuclear". Para escrevê-lo, ele trabalhou na usina no verão de 2011 durante um mês e meio, fazendo-se contratar por uma empresa local, filial da Toshiba, sem ligação com a máfia, ele explica.

Segundo ele, as yakuzas trabalharam em Fukushima desde o início da catástrofe, participando da luta para limitar os danos. Elas "se encarregaram de encontrar pessoas e enviá-las para o local", visando pessoas endividadas, sem-tetos e pessoas que sofrem de problemas psicológicos. Segundo Suzuki, a prática não data do acidente de Fukushima e envolveria o conjunto do setor nuclear, que teria recorrido a esses serviços para os trabalhos mais perigosos.

Nos primeiros dias do drama, a empresa que explora a usina, a Companhia de Eletricidade de Tóquio (Tepco na sigla em inglês), carente de mão-de-obra, teria pedido aos recrutadores que lhes enviassem "os que não têm medo de morrer".

Tantos elementos haviam levado a Tepco a anunciar, em 19 de julho de 2011, sua intenção de afastar as yakuzas das atividades ligadas à usina. A empresa decidiu fazer suas subcontratadas assinarem um documento afirmando que não tinham qualquer ligação com a máfia. Mas o recurso às empresas de fachada complica as eventuais verificações.

O anúncio da prisão de Arai coincide com o caso envolvendo Tetsuo Nayuki, um importante membro da agência de regulamentação do setor nuclear (NRA) - criada em setembro de 2012, notadamente para "restaurar a confiança no Japão e no estrangeiro na regulamentação" do setor nuclear no arquipélago. Em 22 de janeiro Nayuki transmitiu ilegalmente informações para uma empresa do setor nuclear, a Japan Atomic Power Company (JAPC), sobre as falhas que passam sob a central de Tsuruga, no departamento de Fukui, centro do país.

Enquanto a NRA inspeciona todas as centrais para avaliar os riscos sísmicos, a JAPC desejava tomar conhecimento desse relatório afim de preparar uma contra-argumentação e estar pronta para refutar a divulgação pública dessas informações.

A empresa se defende de qualquer ação de lobby e afirma não ter remetido dinheiro a Nayuki.

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