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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

É quase impossível encontrar prova sólida de benefício na permanência do Reino Unido da União Europeia, diz economista

Primeiro-ministro britânico, David Cameron, passa por mapa da Europa antes de fazer discurso em que anunciou um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia

O primeiro-ministro britânico David Cameron terá outra oportunidade para se apresentar como guardião da prudência fiscal da União Europeia quando os líderes de governo dos 27 países do bloco se encontrarem em Bruxelas na quinta-feira, para uma cúpula especial para decidir o orçamento da UE para os próximos sete anos.

Uma tentativa anterior de acordo fracassou em novembro, por causa dos profundos desentendimentos entre os contribuidores líquidos de um lado, e os recebedores líquidos e instituições da UE do outro.

Os bilhões de euros em pagamentos para Bruxelas são um dos motivos para a UE ser tão impopular no Reino Unido. A ex-primeira-ministra Margaret Thatcher negociou um desconto para seu país nos anos 80, mas o Reino Unido continua sendo o quarto maior contribuidor líquido.

Em 2011, o país pagou cerca de 7,3 bilhões de euros a mais aos cofres da UE do que recebeu de volta na forma de ajuda estrutural. Cameron quer limitar o aumento do orçamento ao reajuste pela inflação – uma posição que é a mais linha dura dentre todos os contribuidores líquidos.

As negociações de orçamento em Bruxelas regularmente provocam um debate nacional no Reino Unido sobre se a participação na UE faz algum sentido. A economia britânica realmente lucra com a UE em termos líquidos, ou fazer parte do clube custa dinheiro? O debate está ocorrendo com paixão ainda maior nas últimas semanas, desde que Cameron anunciou que o Reino Unido realizará um referendo sobre a permanência ou não do país na UE em 2017, caso ele seja reeleito em 2015.

Análise de custo-benefício inconclusiva
Os economistas estão divididos sobre se uma saída do Reino Unido seria de interesse nacional. Várias análises de custo-benefício econômico sobre a participação na UE foram realizadas ao longo dos anos e suas conclusões foram contraditórias.

O Instituto Nacional de Pesquisa Econômica e Social já calculou que uma saída da UE reduziria o PIB britânico em 2% ao ano. Outros pesquisadores veem a participação na UE como um obstáculo para o crescimento, que custa 3% do PIB por ano.

Previsivelmente, os eurocéticos e os apoiadores da UE escolhem as estatísticas que mais lhes convêm. Um argumento popular é de que 3 milhões de empregos britânicos dependem das exportações para o continente.

Apesar desse número ser verdadeiro, seria errado argumentar que esses empregos seriam repentinamente perdidos se o Reino Unido deixasse a UE – porque as empresas britânicas continuariam vendendo seus produtos para a UE. Outros países não membros da UE, como a Suíça e a Noruega, fazem parte da Área de Livre Comércio Europeia. Ninguém passaria repentinamente a impor taxas sobre os produtos britânicos que chegassem ao porto de Calais, na França.

Mas a teoria de que as empresas britânicas floresceriam se fossem liberadas das regras problemáticas da UE é igualmente discutível. O governo britânico diz que aproximadamente metade das exigências regulatórias que afetam direta ou indiretamente as empresas vem de Bruxelas. A diretriz de carga horária de trabalho da UE, que reduziu as horas de trabalho para a maioria dos trabalhadores, é particularmente controversa. Segundo a Câmara de Comércio Britânica, ela custa às empresas britânicas 1,8 bilhão de libras (2,08 bilhão de euros) por ano. Mas essas regras provavelmente seriam substituídas por outras decididas em Londres.

"Todos esses estudos precisam ser tratados com cautela", disse Iain Begg, um professor de economia da London School of Economics. As consequências econômicas de uma saída da UE dependeriam dos arranjos subsequentes acertados pelo Reino Unido com o continente. Nenhuma estimativa confiável de custo é possível, ele disse. Ele acrescentou que provavelmente não teria muito impacto – seja positivo ou negativo. "A influência da UE na economia doméstica é altamente exagerada."

Em 1973, o Reino Unido era o doente da Europa
Mas Ruth Lea, economista-chefe do Arbuthnot Banking Group, está convencida de que a economia britânica se beneficiaria com uma saída da UE. Ela cita um exemplo: segundo a Comissão Europeia, o Executivo da UE, o mercado único aumentou o produto econômico de todos os países membros da UE em 240 bilhões de euros em 2006. No mesmo ano, Günter Verheugen, um comissário da UE na época, estimou que as empresas tinham que arcar com despesas burocráticas que totalizavam 600 bilhões de euros – mais que o dobro do benefício econômico. "A UE não fornece nenhuma vantagem econômica para o Reino Unido", disse Lea.

Ela disse que os incentivos econômicos mudaram nos últimos 40 anos. Quando o Reino Unido ingressou na Comunidade Econômica Europeia em 1973, ele era o doente da Europa. O país costumava admirar o dinamismo econômico do continente, disse Lea. Além disso, as tarifas tinham um papel muito maior naquela época, de modo que o mercado único trazia benefícios reais.

Mas a UE é bem menos atraente hoje, ela prossegue. Lea argumenta que o bloco comercial está se tornando menos importante em termos globais, a zona do euro está atolada em crises e as tarifas não exercem mais seu papel, graças à Organização Mundial do Comércio. O argumento a favor da permanência na UE não é mais atraente, disse Lea. É uma visão compartilhada por muitos britânicos.

A própria Lea reconhece que não há números confiáveis. Nenhum cálculo inclui fatores como a influência política de Londres na UE. E como seria possível medir o futuro comportamento de investimento das empresas que valorizam o Reino Unido como um destino europeu, com acesso ao mercado único?

Há lacunas na análise dos números existentes. Se a Aliança dos Contribuintes Britânicos estimou o custo da política agrícola comum como sendo de 10 bilhões de libras, ela o faz sem levar em consideração o cenário alternativo. "O que aconteceria se o Reino Unido abandonasse a política agrícola comum?" disse Begg. "Os produtores agrícolas britânicos exigiriam a introdução de subsídios nacionais."

Além disso, os padrões trabalhistas e sociais não mudariam muito se a diretriz de carga horária de trabalho fosse abandonada, disse Begg. "Eu não consigo imaginar que queremos nos tornar uma espécie de Hong Kong do Ocidente. Nós seríamos mais parecidos com o Canadá. O Estado de bem-estar social britânico é muito mais antigo do que a UE."

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