Social Icons

https://twitter.com/blogoinformantefacebookhttps://plus.google.com/103661639773939601688rss feedemail

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Os Estados Unidos terão o mesmo destino do Japão?


Se você quiser assustar um economista, faça uma pergunta sobre o Japão. Ele lhe dirá que aquele país é um lugar assustador no qual a estagnação crônica devora até mesmo o estímulo econômico mais forte. Nem a flexibilização quantitativa, nem as recapitalizações bancárias, nem os gastos fiscais foram capazes de reanimar aquela que será em breve a quarta maior economia do mundo.

Como as mesmas medidas também não estão dando resultados no cenário norte-americano, alguns analistas estão começando a temer que os Estados Unidos estejam destinados a amargar as suas próprias décadas perdidas.

O exemplo do Japão é aterrador: o atual produto interno bruto nominal do país é inferior ao de 1992, e os preços dos imóveis tiveram uma desvalorização de 60% em relação ao seu pico, e continuam caindo. Devido à dimensão da sua bolha, o Japão necessitava de uma dolorosa desalavancagem financeira, mas o que realmente choca os analistas é a incapacidade de recuperação demonstrada pelo país mais de 20 anos após o início da crise.

A deflação é o principal fator responsável por isso. No Japão, os preços de quase todas as coisas caem continuamente, o que significa que há pouco incentivo para que o consumidor compre hoje, já que os produtos estarão mais baratos amanhã. A deflação não precisa de muito auxílio para destruir uma economia, mas no caso do Japão esse problema é agravado pelo envelhecimento da população e pelo ritmo lento da inovação: a população japonesa em idade de trabalho começou a encolher em 1995, e o aumento da produtividade cessou logo depois disso.

A probabilidade de que os Estados Unidos passem pela mesma experiência que o Japão é reduzida não só pelo fato de a bolha norte-americana ter sido menor, mas também devido à política inflacionária e ao rápido crescimento da produtividade norte-americana – isso não para mencionar uma população mais jovem. Embora esteja envelhecendo, a população dos Estados Unidos encontra-se no auge da juventude se comparada à do Japão.

As crises econômicas de ambos os países tiveram início com o estouro de bolhas, mas a bolha imobiliária norte-americana tinha menos da metade do tamanho da japonesa: em 1989, a soma de todos os imóveis do Japão correspondia a cinco vezes o valor do produto interno bruto do país, enquanto que no auge da bolha norte-americana essa soma valia menos do dobro do produto interno bruto dos Estados Unidos. As bolhas do mercado de ações foram similarmente distorcidas: Em 1989 as ações japonesas eram vendidas por preços 50 vezes maiores do que o valor de compra enquanto que as do Standard & Poor tinham um valor 17 vezes superior ao preço de compra em 2007.

Apesar de a bolha norte-americana ser menor, a resposta dos Estados Unidos em termos de políticas econômicas foi muito mais intensa do que a do Japão. Os japoneses ficaram oito anos sem recapitalizar os seus bancos após o estouro da bolha. Os Estados Unidos tomaram essa providência em menos de um ano. E se o Japão faz o com que o TARP (Troubled Asset Relief Program, um programa do governo dos Estados Unidos para a compra de ativos e ações de instituições financeiras em apuros) pareça ser um fato positivo, ele faz também com que Ben Bernanke dê a impressão de ser uma figura altamente competente.

Sim, o Banco do Japão foi o primeiro a implementar a flexibilização quantitativa, mas somente após ter estourado a bolha japonesa com altas taxas de juros e depois de ter mantido essas taxas em patamares elevados durante dois anos, enquanto os valores dos imóveis e o Nikkei despencavam. Quando a medida foi finalmente implementada, ela foi acompanhada de uma mensagem implícita: a medida não funcionará, mas nós tentaremos, e se ela funcionar, nós a interromperemos imediatamente. Eles cumpriram a palavra. Toda vez que a economia do Japão exibe sinais de recuperação, por menores que sejam, o Banco do Japão interrompe a impressão de dinheiro a tempo de se assegurar que tal recuperação não progrida.

O presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, entende a importância das expectativas, e ele mostrou que fará tudo o que puder para impedir que haja deflação nos Estados Unidos. Até o momento, isso tem dado resultado: apesar do enorme impulso deflacionário provocado pelo estouro da bolha imobiliária norte-americana, o país continua exibindo uma inflação modesta.

No momento certo a inflação e o crescimento populacional farão com que os preços dos imóveis atinjam um piso. Enquanto isso, o consumo continua sólido e os lucros das corporações encontram-se em um nível recorde. O motor de crescimento econômico dos Estados Unidos pode estar parado, mas ele não encontra-se quebrado.

Mas os norte-americanos não acreditam que haverá tão cedo uma recuperação econômica e eles não esperam se beneficiar muito disso. O índice de confiança do consumidor continua a despencar no abismo, e as expectativas de longo prazo são ainda mais sombrias. Uma pesquisa Gallup recente revelou que o número de norte-americanos que acreditam que as futuras gerações terão um padrão de vida inferior ao deles é maior do que nunca.

E esse clima pessimista é, infelizmente, corroborado pelos dados oficiais: os valores dos salários, em termos de poder de compra real, são piores do que os de 1970. Sob esse aspecto, o pessimismo norte-americano demorou até demais para surgir. Isso pode ser visto mais como uma consequência da erosão gradual da superioridade dos salários norte-americanos em relação àqueles do mundo em desenvolvimento do que de uma japonização súbita do país. E isso não se deve apenas ao fato de os trabalhadores chineses e indianos estarem ganhando terreno; os salários norte-americanos também estão diminuindo em valores reais.

Mas a globalização não é um jogo de soma zero, e o mercado para ideias realmente inovadoras é maior do que nunca. Essas ideias surgem frequentemente nos Estados Unidos, mesmo neste momento, e companhias como a Apple, o Google e o Facebook beneficiam-se de efeitos de rede em uma escala global.

Isso se constitui em uma vantagem fundamental em relação ao Japão, e os superastros dos Estados Unidos continuam a lucrar bastante. Mas todos os demais membros da sociedade norte-americana deparam-se com uma realidade desconfortável: a menos que seja membro da elite geradora de ideia, você será simplesmente um indivíduo em meio à multidão – competindo por salários não só com os seus compatriotas, mas também com o mundo inteiro.

O fato é que os Estados Unidos correm o risco muito maior de continuarem a apresentar um crescimento desigual do que de amargarem, como o Japão, décadas perdidas. O perigo não é tornar-se japonês. Para a maioria da população, ser norte-americano já será algo suficientemente ruim.


* Sheldon Kasowitz e Ethan Devineare são gerentes de um fundo de hedge especializado nos mercados asiáticos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário