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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Servir o Estado de Israel é custoso à identidade árabe de jovens


Reem Haddad, uma árabe no Serviço Nacional de Israel, é uma médica recepcionista em Haifa 

Três jovens mulheres palestinas estavam sentadas no chão em um acampamento de verão esta semana cercadas por Legos e crianças de três anos. Enquanto as crianças brincavam, as mulheres os ensinavam as cores dos blocos, repetindo as palavras em árabe, azraka para azul ou akhdar para verde.

Mas a cena aparentemente simples aqui na Galiléia na verdade está emaranhada em um dos assuntos mais polêmicos que confronta a sociedade israelense: como os árabes reconciliam sua identidade como cidadãos de um estado judeu? Qual é o papel apropriado para uma minoria árabe crescente num estado determinado a ser judeu e democrático?

As jovens mulheres são voluntárias de um programa nacional em Israel, uma alternativa ao serviço militar que vem com os mesmos benefícios financeiros e vantagens para educação futura e emprego. O programa agora é foco de um intenso debate nacional sobre os planos de criação de uma lei que não isentará mais do serviço público algumas categorias de cidadãos. Alguns líderes árabe-israelenses veem o serviço das mulheres como uma traição de sua luta nacional e as chamam de traidoras.

“Eu não negarei nem esquecerei minha identidade”, disse uma das conselheiras, Nagham Ma'abuk, 19, que cresceu em Nazareth, uma cidade ao norte conhecida como capital árabe de Israel. “Mas isso pode me ajudar no futuro. Nós precisamos viver juntos em coexistência. Você não pode determinar a igualdade de acordo com o que é conveniente para você.”

Com o prazo final de 1º de agosto se aproximando para reescrever uma lei invalidada pelo Supremo Tribunal que eximia milhares de estudantes yeshiva da convocação, o governo de Israel e a população estão em tumulto há semanas por conta da questão de como integrar as populações minoritárias do país no serviço militar e programas civis de serviço.

Embora a maior parte da atenção tenha estado voltada para a questão da convocação de homens ultraortodoxos, o tema paralelo do serviço árabe reavivou a difícil questão que já dura décadas, sobre o que significa ser árabe e israelense ao mesmo tempo – cidadãos de um Estado cuja filosofia definidora a maioria considera alienante, na melhor das hipóteses, e normalmente considerados inimigos dentro do território, com uma lista de reclamações sobre discriminação no emprego, na educação e na moradia.

Este estado de coisas não pode continuar, argumentam alguns. “O paradigma de 1948 está ruindo”, diz Elie Rekhess, historiadora de relações árabe-judaicas que se aposentou da Universidade de Tel Aviv e agora é co-presidente do Fórum de Oriente Médio na Universidade Northwestern. “Não é que todo árabe acorda de manhã e diz, 'ah, com que parte da identidade separada por hífen eu vou me identificar hoje?' Mas no que diz respeito à liderança, ela é desafiada pelas contradições e a impossibilidade da situação de ser árabe num estado judeu.”

Quando o moderno Estado de Israel foi criado, há 64 anos, sua Declaração de Independência prometeu “igualdade completa de direitos políticos e sociais para todos os seus habitantes”, e em 1952 a cidadania foi concedida a cerca de 150 mil palestinos que viviam dentro das fronteiras. Hoje, 1,6 milhão de árabes vivem em Israel, compreendendo cerca de 20% da população, com uma renda média de menos de dois terços da renda dos judeus, de acordo com estatísticas compiladas por Rekhess, e uma taxa de pobreza quase três vezes mais alta.

A disputa sobre o serviço nacional dificilmente é a primeira crise de identidade. Muitos cidadãos árabes celebram o Dia da Independência de Israel lamentando o que eles chamam de Naqba – a catástrofe. Eles frequentam escolas separadas, onde no mês passado protestaram contra um novo currículo focado em Menachem Begin e David Ben-Gurion. Até a nomenclatura causou disputas: depois de décadas chamando a si mesmos de árabes-israelenses, que em hebraico soa como árabes que pertencem a Israel, a maioria agora prefere se chamar cidadãos palestinos de Israel.

Uma dúzia dos 120 membros do Parlamento são árabes. Bem como um entre os 15 juízes do Supremo Tribunal. Ele recentemente se recusou a cantar o hino nacional, com suas referências aos “anseios da alma judaica”, provocando a reflexão. Quando um professor beduíno foi escolhido no mês passado como o primeiro presidente não-judeu de uma faculdade, alguns integrantes do campus questionaram como ele poderia sustentar a tradição de contribuições para o estado.

Ehab Helo, 25, estudante de Arquitetura, enfrentou uma versão pessoal do problema há dois anos, quando projetou uma cadeira minimalista que venceu um concurso, mas recusou-se a competir internacionalmente sob a bandeira israelense com sua estrela de Davi.

“Eu disse a eles: 'esta é a bandeira judaica, não a bandeira israelense'”, Helo lembrou-se sentado numa cafeteria na rua Ben-Gurion em Haifa. “Fiquei com raiva porque não tive a oportunidade de ir para a Itália num concurso maior; mas também estou feliz por ter me recusado para ser quem eu sou.”

O atual foco é o serviço nacional, com uma proposta que deve ser submetida ao gabinete no domingo e que inclui o objetivo de dobrar até 2016 o número de árabes que hoje participam – 2.400 – , ainda pequeno em relação aos 30 mil que podem participar a cada ano. (Os palestinos nunca foram obrigados a servir o exército isralense, embora cerca de 250 tenham se alistado no ano passado. Os drusos, outra minoria árabe, estão sujeitos à convocação, enquanto os beduínos, que também são isentos, tendem a se alistar em maior número.)

Muitos que apoiam a expansão ou até o serviço obrigatório para árabes notam que cerca de três quartos dos atuais voluntários árabes servem em instituições comunitárias árabes, como o acampamento de verão de Nazareth. Como soldados, eles recebem pequenos pagamentos mensais e uma soma maior no final do trabalho que pode ser usada para educação, casamento, hipoteca ou abertura de empresas.

O professor Sammy Smooha, da Universidade de Haiva, que estudou o tema por anos, disse que o apoio para o serviço nacional caiu entre os cidadãos palestinos, mesmo que a participação tenha aumentado dez vezes desde 2005-2006. Quarenta por cento dos jovens árbares disseram no ano passado que estariam dispostos a servir, menos do que os 53% de 2009, e 62% do público árabe apoiam o programa, menos do que os 78% de 2007.

“Você deve comparar isso com os negros nos EUA durante a 2ª Guerra Mundial”, diz Smooha. “Por que eles queriam servir? Porque se identificavam com o estado e viam isso como um veículo para mudar seu status. Os líderes árabes não veem dessa forma. Eles veem isso como uma forma de repressão dos árabes em Israel.”

Um grupo líder da comunidade árabe recentemente realizou um concurso de pôsteres em oposição ao programa. Entre os inscritos, havia um pé cheio de terra com a legenda: 'Serviço Nacional: um negócio sujo”, e uma mulher sem cabeça num uniforme do exército com o slogan: “Serviço Civil: Uma Forma de Apagar a Identidade”.

Hanin Zoabi, um parlamentar de Nazareth, chamou a proposta de expandir o serviço de “uma armadilha”.

“Para que nós recebamos nosso direito natural, precisamos ser leais ao país', disse ela em uma entrevista. “Eles estão falando sobre dividir o fardo. Todos os fardos do país estão sobre minhas costas. Seis milhões de judeus estão vivendo na minha terra. Pedimos para Israel retirar a definição de estado judeu, e talvez então ele se transforme num país democrático.”

Em Wadi Nisnas, um bairro de Haifa – onde a placa da Rua Hadad observa, em hebraico, que ela é o lar das famílias árabes mais antigas de Israel – quatro adolescentes treinando na banda improvisada do acampamento de verão na quarta-feira (11) se pronunciaram “contra, contra, contra e contra” o serviço nacional para os árabes.

“É contra o nosso povo”, disse Rozeen Kanboura, 18, que trabalha no McDonald’s. Estamos traindo nossa terra natal, nossas origens, nossa história.”

Ayan Abunasra, bem articulada para seus 13 anos, disse: “Eu não me sinto parte deste país”.

“Coloque-se no nosso lugar”, disse ela. “Você vai servir um país que ocupou sua terra e que provocou a morte dos seus tataravós?”

Momentos mais tarde, ela e outros se colocaram à frente de duas filas de crianças, 15 delas com tambores vermelhos em volta da cintura, e uma garota pequena segurando um coelho de pelúcia. Uma bandeira palestina voou de um apartamento acima de suas cabeças.

Eles são voluntários, assim como Ma'abuk em Nazareth – só que sem nenhuma conexão com o Estado e nenhum dos prós e contras envolvidos.

2 comentários:

  1. Se ser um árabe-israelense causa tanto ódio indignação a eles, que estão vivendo num Estado judeu, por que então não desertam para os países "compatriotas e irmãos de sangue" árabes e palestinos?

    Ninguém questiona a identidade árabe ou muçulmana dos vizinhos de Israel. Por que Israel não pode ter sua identidade judaica? Com todos os defeitos, Israel ainda dá uma goleada nos países islâmicos em democracia e diversidade. Veja que tratamento têm os judeus em países muçulmanos, isso nos que têm algum judeu.

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    1. A identidade judaica sempre foi preservada na região. Os árabes sempre foram amigos dos judeus, mas os judeus do dia para noite começaram a vislumbrar o roubo das terras árabes o que teve seu ápice com o "Al-Nakba". Sobre o tratamento recebido pelos judeus nos países muçulmanos, você não queria que eles fossem tratados como amigos depois de terem se apossado das terras palestinas e de promover um genocídio palestino, né? Mesmo assim, existem países que dão guarita para os judeus, caso do Irã.

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