O fim do conflito armado na Líbia vai permitir que arqueólogos britânicos voltem ao sudoeste do país, de onde tiveram de sair em fevereiro passado e onde exploram os restos de uma antiga e importante civilização, a dos garamantes, ainda pouco conhecida. Nesta fase da exploração, a equipe dirigida por David Mattingly dispõe de novas imagens aéreas e de satélites nas quais identificaram mais de cem vilas fortificadas, algumas com verdadeiros castelos, cuja maioria data dos primeiros cinco séculos de nossa era. O projeto de pesquisa é financiado pelo Conselho Europeu de Pesquisa (ERC na sigla em inglês) com 2,5 milhões de euros durante cinco anos, e também conta com a colaboração de organizações líbias e internacionais.
"Esses sítios foram ignorados durante o regime de Gaddafi", explica Mattingly, da Universidade de Leicester, que desde 1997 trabalha na região. "Os garamantes eram muito civilizados, viviam em grandes aldeias fortificadas como agricultores nos oásis. Era um Estado organizado com cidades e povoados, uma linguagem escrita e tecnologias avançadas. Foram pioneiros em estabelecer oásis e abrir rotas de comércio pelo Saara. Essa civilização é chave para que as crianças líbias conheçam sua história."
"As imagens de satélite nos permitiram cobrir uma grande superfície. As provas indicam que o clima não mudou desde então e podemos ver que neste lugar onde nunca chove havia muitas construções e se cultivava a terra", diz Martin Sterry, da mesma universidade, que analisou e interpretou as imagens.
Alguns dos novos restos descobertos que já foram estudados diretamente são de castelos cujas paredes em ruínas se elevam mais de 4 metros, nos quais se podem identificar moradias e cemitérios, além de poços e sistemas de irrigação subterrâneos ao seu redor. Além disso, há uma rica variedade de pinturas rupestres em toda a área.
Desde a invasão italiana da Líbia, nos anos 1930, estão sendo estudados intermitentemente os restos nesta área remota do país, ao redor da antiga cidade de Garaman (hoje Germa), mas só nos últimos anos se pôde calibrar a grande importância das ruínas e começar a reconstruir o estilo de vida e a cultura dessa civilização perdida, muito mais avançada e significativa na história do que indicavam as fontes clássicas.
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