Gustavo Petro |
Sua vitória confirma a particularidade de Bogotá: pela terceira vez consecutiva, a capital elegeu um prefeito de esquerda, ao passo que a Colômbia permanece enraizada à direita. A Unidade Nacional, coalizão do presidente Juan Manuel Santos (centro-direita), venceu as eleições no interior.
No dia 1º de janeiro de 2012, Gustavo Petro assumirá a liderança de uma metrópole em plena crise. O último prefeito eleito de Bogotá, Samuel Moreno, do Polo Democrático (esquerda), está em detenção provisória, acusado de corrupção.
A má gestão esvaziou os cofres e as obras iniciadas nessa cidade de 8 milhões de habitantes estão há meses paralisando o trânsito. “Os desafios que nos esperam são imensos”, ressaltou Petro, no domingo à noite.
Ex-membro do Polo Democrático, Petro havia apoiado a candidatura de Moreno em 2004. E foi sob as cores do Polo Democrático que ele concorreu na eleição presidencial de maio de 2010 (obteve 9% dos votos). Mas Petro decidiu deixar o partido alguns meses mais tarde, quando as suspeitas de corrupção sobre a equipe municipal se tornaram uma certeza. O Polo Democrático não lhe perdoou essa “deserção”.
“Petro sempre manteve relações difíceis com a esquerda sectária, que é evasiva e ainda se recusa a condenar abertamente a luta armada”, lembra um de seus aliados. “Para a direita dura, ele continua sendo um guerrilheiro – e, portanto, um terrorista. Para a esquerda radical, é um vendido”.
Depois de brilhantes estudos, Gustavo Petro militou dentro do M-19 (Movimento do 19 de abril, de extrema esquerda), uma guerrilha urbana nascida nos anos 1970. Ele conheceu a clandestinidade e a prisão, mas afirma nunca ter usado uma arma. Em 1989, o M-19 aceitou se desmilitarizar em troca de uma anistia e de uma Assembleia Constituinte. A nova Constituição de 1991 ampliou os direitos cívicos dos colombianos e abriu o jogo político. Petro se tornou deputado, e depois senador.
Grande orador, ele foi o primeiro a denunciar as ligações entre políticos e milícias paramilitares de extrema direita. Ele se tornou o principal opositor do presidente Álvaro Uribe, que governou com mão de ferro entre 2002 e 2010.
A vitória de Petro é uma derrota amarga para o ex-chefe de Estado, que decidira apoiar Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, candidato de um Partido Verde que de ambientalista não tem praticamente nada (ele obteve 25% dos votos).
“Sou filho do processo de paz e da Constituição de 1991”, lembrou Gustavo Petro, no domingo à noite, sob estrondosos aplausos. Seus partidários querem ver em sua vitória “um passo na direção da paz na Colômbia”. Poderá a eleição de um ex-guerrilheiro a prefeito da capital convencer as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, extrema esquerda), a última grande guerrilha da América Latina, a abandonarem as armas e se voltarem para a ação política? É uma incógnita.
Petro colocou a defesa do meio ambiente e a luta contra a segregação social no centro de seu programa. Encorajado por sua vitória, ele quer fazer dos “Progressistas” um partido nacional. Seus detratores se preocupam vendo chegar ao comando de Bogotá um homem sem experiência em matéria de gestão urbana.
No país, a campanha eleitoral foi marcada por casos de financiamentos ilegais, listas de eleitores suspeitos, candidatos próximos de paramilitares ou suspeitos de relações com a máfia e compra de votos.
De um total de 100 mil candidatos, 44 foram assassinados. Em muitas circunscrições, as alianças foram feitas por questões locais, sem considerar partidos ou programas.
O objetivo dos candidatos parece ser, muitas vezes, se apoderar dos recursos dos municípios – que, nos departamentos ou nas regiões ricas em petróleo, ouro ou minérios, valem bilhões de pesos.
“A maior ameaça que pesa sobre nosso sistema político é a corrupção. Ela ultrapassou todos os limites nestas eleições”, declarou na véspera da votação Alejandro Ordoñez, procurador encarregado de supervisionar as administrações e os funcionários públicos.
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