Ismail Haniyeh (à esq.), líder do grupo islâmico Hamas, se reuniu com o presidente do Egito, Mohamed Mursi, no Cairo, na quinta-feira (26) |
Ismail Haniyeh, chefe do governo do Hamas em Gaza, foi até o Cairo, na quinta-feira (26), para um primeiro encontro com o presidente egípcio, Mohamed Mursi. Seu antecessor, Hosni Mubarak, nunca havia recebido os líderes do Movimento da Resistência Islâmica, cuja influência ele temia em seu país. O fator simbólico era forte, garantia de uma maior cooperação futura entre Irmandade Muçulmana do Egito e Gaza.
Só que Murad Muafi, chefe do serviço de inteligência egípcio, estava presente, como se para fazer um contrapeso às pressões da confraria sobre Morsi para que se atenue o bloqueio que o Egito impõe à Faixa de Gaza. O sinal é inequívoco: no Cairo, o poder político é dual e, em se tratando de relações com o Hamas, o exército tratará de impor limites.
A data não foi escolhida por acaso: antes de Haniyeh, passaram pelo Cairo Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, e Khaled Meshaal, líder político do Hamas, a quem atribuíram rápido demais uma perda de fôlego desde que ele foi obrigado a deixar Damasco após sua ruptura com Bashar Assad. Ali, é essencial ser realista: a legitimidade do movimento palestino, tanto para o Egito de Mursi quanto para o de Mubarak, é encarnada pelo presidente Abbas.
Desse ponto de vista, o presidente egípcio está em melhor posição de equilíbrio entre os irmãos inimigos do movimento palestino. Mursi precisa de credibilidade internacional e não seria uma vitória desprezível arquitetar essa reconciliação. O Hamas pode ajudar Mursi demonstrando pragmatismo com Abbas, o que Khaled Meshaal começou a fazer ao adotar o vago conceito de “resistência pacífica”.
Novos patrocinadores
Ismaiel Haniyeh mostra, com sua vontade de manter um cessar-fogo com Israel, que ele também está preocupado em melhorar a imagem da marca internacional do Movimento da Resistência Islâmica. Ele informou que, em caso de ataque israelense contra as instalações nucleares do Irã, o Hamas não se sentiria nem um pouco obrigado a abrir uma nova frente contra o Estado judaico.
Os “padrinhos” históricos do Hamas, a Síria e o Irã, estão começando a deixá-lo na mão. Com Damasco, um capítulo foi encerrado. Meshaal foi o primeiro a sentir a tendência, mas essa “deserção” do presidente sírio custou uma relativa deterioração de suas relações com o Irã. O Hamas perdeu seu monopólio no poder em Gaza desde que Teerã passou a armar o jihad islâmico. O Irã, cada vez mais isolado, precisa continuar a ser o ponta de lança, financeiro e militar, do Hamas. Mas não é mais o que acontece.
Além de armas sofisticadas terem entrado em Gaza provenientes da Líbia, o Hamas encontrou novos patrocinadores. Não foi por acaso que Khaled Meshaal escolheu morar em Doha: o Qatar se tornou o defensor da reconstrução da Faixa de Gaza, e o mesmo vale para a Arábia Saudita.
Para o Hamas, essa reaproximação com países sunitas parece mais natural que a aliança com o Irã e o Hezbollah xiitas. Mas o problema parece mais difícil de resolver: o Hamas quer se apoiar no “novo Egito” e aproveitar as generosidades do Qatar e da Arábia Saudita, sem afastar o apoio militar do Irã...
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