É de se prever, portanto, que o Brasil efetivamente tenha um papel crescente e positivo a desempenhar no seio da comunidade internacional
Isso não pode impedir, naturalmente, reflexões sobre o futuro, sobre o mundo e sobre algumas possíveis características da inserção do Brasil no cenário global.
A crise atual do grande capitalismo econômico-financeiro não será eterna, mas ainda não acabou de deixar as suas marcas, entre as quais um vistoso reequilíbrio das relações internacionais, fruto de uma progressiva descentralização do poder político e econômico.
Ainda nesta década, o Brasil poderá ser a quinta ou sexta economia do mundo, superando as diferenças quantitativas com relação à França, à Grã Bretanha e à Alemanha e aproximando-se cada vez mais desse patamar do ponto de vista qualitativo.
Quanto aos aspectos políticos, o mundo poderá ver-se fortemente pressionado por problemas globais cuja resolução, hoje incerta, terá que ocorrer já nos próximos 30 anos. Refiro-me a questões como a mudança do clima, as migrações e os desequilíbrios sociais, a luta contra o terrorismo e a construção de um sistema internacional de tomada de decisões que seja, ao mesmo tempo, mais justo, mais democrático e mais eficaz.
Impedir o fracasso do sistema internacional e buscar seu aperfeiçoamento provavelmente estarão entre as principais tarefas da próxima geração de políticos e diplomatas. Até hoje, as potências principais ainda agem como se suas ações individuais pudessem dar solução aos problemas globais, raciocínio antigo e contraproducente.
Os requisitos de defesa certamente continuarão a existir, mas as ações internacionais têm de ser tomadas pela comunidade das nações e pelos órgãos que a representam legitimamente. É quase absurdo, por exemplo, pensar que a composição do Conselho de Segurança da ONU, que reflete ainda hoje a situação vigente em 1946 -depois do que o mundo passou por seguidas e profundas transformações geopolíticas-, permaneça imutável.
O pessimismo, a perda de vitalidade política, a atitude defensiva quanto à entrada de imigrantes, a virtual ausência de grandes planos de mudança econômica e social e o conservadorismo em geral poderão manter papel proeminente na evolução dos países do Atlântico Norte no futuro previsível.
Nós, no Brasil e na América do Sul, vemos o futuro com otimismo e dinamismo econômico-social. O Brasil -e quem sabe nossa região- desenvolveu um claro consenso sobre as vantagens de gerar o progresso econômico com base no mercado robusto que deriva da ascensão das faixas mais pobres da sociedade. É de se prever, portanto, que o Brasil efetivamente tenha um papel crescente e positivo a desempenhar no seio da comunidade internacional. Sob diferentes aspectos, o nosso país tem as características mais propícias para isso.
Sempre vivemos com os olhos no futuro, e não no passado, e temos firmemente, como nação, características que podem ser vistas como modelares na formação de um mundo novo: a ausência de qualquer desejo de hegemonia e dominação, ao lado da defesa do diálogo e da democracia, da solução pacífica e negociada das controvérsias, da cooperação igualitária, do pluralismo e do caráter revigorador da variedade e da diversidade.
Junto conosco emerge a nossa região, em especial a América do Sul, com que compartilhamos amplamente esses valores. As economias estão ajustadas, a democracia é sólida e nossos povos desejam a inclusão social. Não queremos criar problemas: queremos resolvê-los.
Com progresso e concórdia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário