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sábado, 9 de abril de 2011

Análise: Algo vai muito mal em Israel

Tel Aviv
A fábrica de notícias funciona agora de outra forma. Pelo menos no Oriente Médio. De repente os árabes se transformaram em protagonistas de uma história diferente; os israelenses, por sua vez, continuam sendo os protagonistas da história de sempre. De um lado, revoltas irreconhecíveis contra o despotismo, em clara contradição com os tópicos sobre a passividade e o fatalismo árabes, que podem chegar até o sacrifício pessoal. De outro, na terra disputada entre o Jordão e o Mediterrâneo, as mesmas cenas de ódio e de sangue entre vizinhos que conhecemos nos últimos 70 anos. Se para alguns é uma avaria, uma anormalidade preocupante, para outros é sinal esperançoso de uma nova época.

O eixo do planeta se desloca, mas não só para o Oriente. Israel, país acostumado a ser o umbigo do mundo, fica agora oculto nesse mar de novidades revolucionárias. A ponto de que nem sequer ocupa um lugar secundário na mobilização árabe, depois de ter sido alvo de todo o ódio. As novas gerações estão se emancipando de uma hipoteca que as impedia de designar seus próprios adversários.

Em algum momento, mais cedo que tarde, também Israel será alcançado pelas réplicas do terremoto que sacode todas as sociedades árabes. Será difícil que a ilha democrática sionista, que resistiu armada até os dentes em um oceano de ditaduras, possa subsistir imperturbável em um futuro em que os árabes se descobrem cidadãos e livres.

Por enquanto, os que dobram suas apostas em manter o lamentável estado das coisas são as forças mais reacionárias que jogam nesse tabuleiro: de um lado o Irã dos aiatolás, que quer aproveitar a instabilidade árabe para avançar seus peões e assentar sua hegemonia regional diante de Israel; do outro, os partidários de continuar apertando o cinturão de ferro, para manter a superioridade militar e econômica de Israel em toda a região e sujeitar os palestinos no encerramento de seus bantustões inviáveis. Tudo joga em direções contrapostas: enquanto as transições políticas árabes tendem a moderar posições, nos territórios israelenses e palestinos a velha polarização se tensiona e aguça.

No último ano foi retomada a construção de colônias em território palestino. O terrorismo anti-israelense golpeou com fúria uma extensa família de colonos na Cisjordânia. De Gaza chegam outra vez foguetes de pouca eficácia mas clara e malévola intenção. Também regressam os bombardeios contra militantes palestinos na Faixa. Nas mesas dos estados-maiores militares, mais uma vez se desdobram os mapas da zona controlada pelo Hamas, diante da eventualidade de um próximo ataque. Nada se move no capítulo suspenso e fracassado das conversações de paz, a ponto de que os palestinos fecharam seu escritório de negociação. Cai sob as balas sectárias um célebre ator de dupla identidade judia e palestina em Jenin. A trágica e interminável história de sempre.

E com tudo isso que se desiluda quem pretenda manter posições matizadas, e queira expressar seu amor a Israel e ao mesmo tempo defender os direitos dos palestinos, a legalidade internacional e o sonho de paz. Se se opõe ao governo de Israel se arrisca a opor-se ao próprio Israel; ao sionismo, é claro, mas também à identidade judia, até se transformar em antissemita. Foi o que aconteceu com J Street, um lobby americano que se define como pró-israelense e pró-paz, partidário dos dois Estados vivendo em paz e segurança.

O mesmo aconteceu ao juiz judeu sul-africano Richard Goldstone, presidente da comissão que investigou a operação Chumbo Fundido e autor do relatório que leva seu nome: teve de retificar publicamente as conclusões alcançadas pela equipe de juristas internacionais diante da irresistível pressão pessoal a que foi submetido, incluindo o assédio de piquetes.

A tensão não diminuirá, pelo contrário. O Estado palestino pode se transformar em uma realidade se for reconhecido pela Assembleia Geral da ONU. À diferença do Conselho de Segurança, ali Washington não tem o direito de veto com o qual impedir qualquer votação prejudicial para seu aliado estratégico. Por isso o governo israelense também está travando a batalha diplomática, na qual acaba de conseguir um tento, ao reverter, pelo menos parcialmente, os efeitos demolidores do relatório Goldstone. Depois da retificação, os responsáveis pela operação Chumbo Fundido poderão pelo menos viajar pelo mundo sem medo de encontrar um mandado de detenção internacional.

Pouca coisa diante do que se prepara: Ehud Barak, o ministro da Defesa israelense, anunciou um tsunami político e diplomático para setembro, quando pegará em cheio a réplica do terremoto árabe durante o encontro anual da ONU em Nova York, cidade onde afinal sempre se joga o destino de Israel como nação reconhecida pelas outras nações.

Um comentário:

  1. otimo text informante. tem muito tempo q nao leio algo tao realista e bem escrito sobre a situação israelense. abraços.

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