Andrei Avetisyan |
Andrei Avetisyan, 52, é o embaixador russo para o Afeganistão desde outubro de 2009, depois de ter atuado em Bruxelas junto à União Europeia. Ele se diz preocupado com a retirada das tropas ocidentais.
Le Monde: As tropas estrangeiras estão se preparando para deixar o Afeganistão. Como a Rússia vê esse desengajamento?
Andrei Avetisyan: Não estou muito otimista. A decisão das nações da Otan de deixar o Afeganistão antes do final de 2014 não se baseia na realidade da situação local, mas em outras considerações. A Força Internacional de Assistência à Segurança no Afeganistão (FIAS) [componente militar da Otan no Afeganistão] recebeu ordens por parte do Conselho de Segurança da ONU para combater o terrorismo. Ela deverá relatar em que medida cumpriu essa missão.
Le Monde: É isso que os preocupa?
Avetisyan: A FIAS está deixando o Afeganistão sem ter certeza de que as tropas afegãs estejam realmente prontas para assumir. Todo mundo concorda em dizer que o Exército e a polícia afegãos não são capazes hoje de substituir as forças internacionais.
É verdade que estão sendo feitos esforços. Mas é "pouco demais, tarde demais". Os próprios afegãos se queixam de que esse Exército não foi concebido como um Exército nacional, mas sim como uma força paramilitar. Ele não tem uma verdadeira aviação, nem verdadeiras unidades blindadas.
Le Monde: Que balanço o senhor faz da década que se passou?
Avetisyan: Devemos reconhecer que a guerra, e não o desenvolvimento econômico, dominou esses dez anos. Não houve nem um único grande projeto industrial, nem um único grande projeto agrícola durante essa década. Bilhões de dólares foram gastos, mas eles desapareceram na corrupção e na cadeia de terceirizados.
Falando francamente, as únicas infraestruturas industriais que existem no Afeganistão são herança da era soviética.
Le Monde: Qual foi o principal erro do Ocidente cometido no Afeganistão?
Avetisyan: Foi ter acreditado que podiam solucionar o problema afegão rapidamente e depois ir embora. Após a queda dos talebans, em 2011, os ocidentais pensaram que a questão estava resolvida. A URSS havia cometido o mesmo erro no fim dos anos 1970. Depois, eles se viram atolados cada vez mais profundamente a cada dia em problemas que não conseguiam entender. Por quanto tempo o mundo cometerá o mesmo erro no Afeganistão? Esse país exige uma abordagem diferente. Aqui, é um outro mundo.
Le Monde: A intervenção militar ocidental está seguindo a mesma evolução que a soviética, naquela época?
Avetisyan: É possível identificar muitas semelhanças: a retirada para os centros urbanos em detrimento do interior abandonado à rebelião, o papel dos refúgios insurgentes no Paquistão, a incapacidade de conquistar a população, a criação de milícias locais que não são confiáveis. É o mesmo declive.
Le Monde: Depois de 2014, o senhor prevê um declínio da influência ocidental no Afeganistão?
Avetisyan: Os que vieram do exterior necessariamente vão acabar indo embora. Mas os países da região ainda estão lá, e nós somos dessa região. Não podemos "ir embora". Os países dessa região necessariamente vão se envolver mais. A Organização para Cooperação de Xangai, da qual o Afeganistão é um dos observadores, é uma boa ferramenta. Esses Estados da região unirão suas forças para tomar o lugar deixado pela Otan. Nesse contexto, a estratégia da Rússia é o desenvolvimento econômico. Queremos recuperar as estruturas industriais herdadas do período soviético.
A estabilidade do Afeganistão depende do desenvolvimento econômico. Para nós, essa é a única maneira de se livrar das duas ameaças que nos preocupam: o terrorismo e o narcotráfico.
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