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terça-feira, 10 de julho de 2012

Controvérsias dificultam processo de reorganização do serviço militar de Israel


Recrutas israelenses 

Por um lado, as questões que estão agitando o sistema político israelense são pragmáticas: quantos homens ultraortodoxos e cidadãos árabes deveriam ser convocados pelo serviço militar, por quantos anos e como aqueles que resistem devem ser penalizados?

Mas o debate sobre esses detalhes esconde um mais fundamental e incontrolável sobre a evolução da identidade nesse Estado ainda jovem, onde um "exército do povo" por muito tempo tem sido um princípio definidor, e sobre a crescente divisão entre suas tribos.

Foi isso que levou a ampla coalizão do premiê Binyamin Netanyahu à beira do colapso nos últimos dias. O governo está se aproximando de um prazo final, 1º de agosto, para substituir uma lei que prevê dispensas de alistamentos a milhares de homens que estudam em yeshivás, que o Supremo Tribunal considerou ilegal, em fevereiro.

O líder de um comitê nomeado por Netanyahu – e desbandado na última semana – para preparar uma lei substitutiva divulgou um relatório de 100 páginas que convocava 80% dos ultraortodoxos a cumprirem serviço militar até 2016, e multas de aproximadamente US$ 25 mil para aqueles que não cumprissem.

Shaul Mofaz, o líder do Partido Kadima cuja surpreendente aliança com Netanyahu dois meses atrás criou uma inédita maioria de 94 cadeiras no parlamento de 120 membros, disse que ele deixaria a coalizão em poucos dias caso o trabalho do comitê não formasse a base de uma nova lei. Mas facções religiosas e de direita também prometeram abandonar a coalizão se sanções pessoais fossem incluídas ou se árabes não fossem convocados também.

"É uma possibilidade de guerra civil entre setores", disse Yedidia Stern, que comanda um programa sobre religião e Estado no Instituto de Democracia de Israel, e participou do comitê como encarregado de reescrever a proposta de lei.

"O que está em jogo são duas culturas, duas civilizações", disse Stern, referindo-se aos ultraortodoxos, conhecidos como haredim, e outros judeus aqui. "Essas duas civilizações costumavam viver em certa paz porque uma pensava que a outra acabaria desaparecendo alguma hora. Hoje acho que todos perceberam que os dois lados estão aqui para ficar, e precisamos decidir qual será a identidade na esfera pública".

O que está em questão não são tanto as necessidades pragmáticas das forças armadas, onde integrar um grande número de haredim promete atrapalhar mais do que ajudar, mas sim um ressentimento crescente sobre quem serve ao Estado e quem colhe suas recompensas.

No ano passado, cerca de 17% dos haredim de 18 anos de idade entraram para o Exército, em comparação com os cerca de 75% de outros judeus; outros 14% de haredim e 8% de cidadãos árabes se alistaram para serviço civil. No total, pouco mais da metade dos israelenses agora cumprem serviço militar, bem diferente da ideia geral que se tem de que há um alistamento universal.

Como as forças armadas são a porta decisiva para o emprego aqui, existem também algumas profundas implicações econômicas: cerca de 56% dos haredim vivem na pobreza, e a renda média anual em sua comunidade é aproximadamente metade da norma nacional, com muitas de suas grandes famílias dependendo de assistência social, auxílios à moradia e subsídios para o estudo em yeshivás.

Se as tendências demográficas determinam o futuro, faz sentido que essa tensão que vem cozinhando em fogo brando há tanto tempo esteja atingindo um ponto de ebulição. Embora os haredim correspondam a menos de 10% dos 7 milhões de cidadãos de Israel, e os árabes a 20%, suas altas taxas de natalidade significam que cerca de 46% das crianças de hoje vêm de dois grupos, um crescimento que está "desafiando a fórmula básica" da sociedade israelense, de acordo com Aluf Benn, editor do jornal com tendência à esquerda "Haaretz".

"Esses grupos não querem uma fatia maior do bolo, eles querem uma receita diferente", disse Benn em uma entrevista. "Se Israel se define como um Estado democrático judaico, os árabes eliminariam a parte judaica, e os ultraortodoxos pelo menos em seus sonhos se livrariam da democracia. Eles respeitam a autoridade dos rabinos."

Einat Wilf, um dos cinco legisladores que participaram do comitê, disse que a solução não era um serviço militar universal, mas sim uma aceitação de que "o exército do povo" é uma ficção – e uma revisão apropriada dos benefícios.

"Precisamos aceitar o fato de que 64 anos atrás eles não queriam que o Estado acontecesse, e eles ainda não têm fé nas estruturas do Estado", disse Wilf, referindo-se aos cidadãos ultraortodoxos e árabes. "Solidariedade é uma via de duas mãos. O Estado garantirá a todos o mínimo absoluto, mas para além disso, o Estado recompensará as pessoas que dão, não somente as pessoas que recebem."

Estava previsto para que Netanyahu se encontrasse com líderes de cada partido em sua coalizão na última quinta-feira para discutir as possibilidades para um acordo de legislação. Um assessor que o primeiro-ministro acreditava que tanto os haredim quanto os árabes deveriam servir, embora os árabes fossem fazer trabalho civil e não militar, algo apoiado por mais de 60% deles segundo pesquisas de opinião. Netanyahu também acha que "aqueles que cumprem serviço militar deveriam receber benefícios econômicos e as pessoas que não cumprem, não recebem", disse o assessor, autorizado a falar somente sob condição de anonimato.

Embora um rabino haredi, Avraham Eisenstein, tenha emitido uma declaração dizendo que nenhum aluno de yeshivá cumpriria serviço militar, "querendo ele ou não", um líder do partido ultraortodoxo Shas indicou uma disposição em aceitar os princípios, se não as especificações, do comitê.

"A praticabilidade de se implementar qualquer lei depende de ela ser disseminada e de processos que ocorrem lentamente, não de uma só vez", disse o líder Ariel Attias, em uma entrevista de rádio. "Queremos que ocorram processos e estamos dispostos a isso, ainda que alguns deles sejam muito dolorosos, mas não finja que isso é ser legal”.

Stern, um dos cinco especialistas que trabalharam no comitê nas últimas seis semanas, observou que, mesmo sob a antiga legislação, "é possível ver os inícios de mudança".

No ano passado, ele disse, 1.282 haredim entraram para a Força de Defesa Israelense e outros 1.090 se alistaram para Serviço Civil, em comparação com um total de 305 que se alistaram em 2007, no total; árabes geralmente não servem na FDI, mas sua participação no Serviço Civil aumentou quase dez vezes, de 250 em 2007 para 2.400.

"Uma vez que a maioria usar uniformes da FDI em Bnei Brak, em Yerushalayim, em todos esses guetos haredi, acho que a FDI protegerá a sociedade israelense como uma só sociedade de uma maneira crucial", disse Stern. "Esta é uma missão para a FDI, para ajudar a manter a coesão de nossa sociedade".

2 comentários:

  1. O que eu vou falar espero que não seja mal interpretado não é preconceito e sim análise do que acontece, quando se falam em forças armadas em países com divisões tão claras quanto desses 3 grupos falados no texto, um governo não pode se dar ao luxo de arriscar colocar em suas forças armadas pessoas de grupos não confiáveis, como vemos em várias revoluções, são geralmente desses grupos que saem a maioria disparada dos desertores, Israel deve evitar que os Haredim e árabes sirvam suas forças armadas ou colocar o mínimo possível deles pra dizer que tem e fazer o politicamente correto, e muito arriscado para integridade de Israel fazer o que outros países fizeram e depois pagar o pato, que se diga agora a Síria, os sunitas são por acaso confiáveis ao estado sírio no momento? O governo israelense deve estar pensando nisso.

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  2. Porque esses grupos que não se sentem identificados com a forma que o país está sendo dirigido, são exatamente quem se une a países estrangeiros em conspirações, hoje pode parecer loucura uma conspiração em Israel, será que daqui algumas décadas será loucura? Não se sabe não é, não tem porque pagar pra ver.

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