Usina nuclear de Bushehr |
As denúncias de preparativos israelenses para um ataque às instalações nucleares iranianas estão vindo de uma fonte improvável: Meir Dagan, herói de guerra e ex-diretor da agência de inteligência estrangeira israelense. O homem espera impedir o que acredita ser uma verdadeira catástrofe, mas suas ações irritaram profundamente o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Meir Dagan voltou a falar abertamente. Ele está de pé no palco do Clube Comercial e Industrial de Tel Aviv, um lugar discreto para uma questão tão importante. Se Israel deve atacar as instalações nucleares do Irã? Dagan, 66, que foi diretor da Mossad, a agência de inteligência estrangeira israelense, acha que não.
Novamente, ele faz uma advertência, com as mesmas palavras de antes: "Temos que pensar no que aconteceria no dia seguinte". Ele disse várias vezes que um ataque teria horríveis consequências para Israel –que seria um desastre de proporções inimagináveis.
Na última quarta-feira (2), poucas horas antes da apresentação de Dagan, houve informes que caças israelenses tinham conduzido exercícios na ilha italiana da Sardenha. O programa de treinamento incluía atacar alvos distantes, conduzir reabastecimento em voo e evitar mísseis antiaéreos. Uma trilha de vapor vertical marcou os céus naquela tarde, enquanto os militares testavam o novo míssil balístico Jericó 3, que presumivelmente pode levar ogivas nucleares a até 4.500 km.
Ao mesmo tempo, o jornal "Guardian" de Londres informou que o governo do primeiro-ministro David Cameron estava planejando enviar navios de guerra, armados com mísseis Cruise, em rota para o Irã.
Na manhã seguinte, sirenes soaram na área metropolitana de Tel Aviv. As pessoas saltaram de seus carros em pânico e correram para se abrigarem nos refúgios. Elas temiam que a guerra já tivesse começado, mas era apenas um exercício.
Um ataque em muitas frentes
Tais ocorrências dão origem a uma série de questões: poderia ser uma coincidência? Israel está preparando um ataque, ou essa agitação de armas é apenas uma guerra psicológica? Ou será para pressionar o mundo -os EUA e a Europa em particular- dizendo que, se não agirem, Israel agirá?
A Agência Internacional de Energia Atômica, baseada em Viena (Aiea), confirmou, pela primeira vez, que o Irã está fazendo experimentos tecnológicos que servem apenas a um propósito: fabricar uma bomba atômica.
Esta seria a hora ideal para Israel promover sanções mais duras. De fato, não se pode eliminar que uma manobra diplomática esteja em curso –e de fato, parece provável. Mas isso não significa que Israel não esteja, ainda assim, preparando um ataque.
Pelo contrário, é muito possível que Israel esteja estabelecendo uma base política e militar para um ataque preventivo. Israel acredita que tem, no máximo, entre 9 a 12 meses para deter o programa nuclear do Irã. Os EUA estimam algo entre 18 a 21 meses. De qualquer forma, não é muito tempo.
Especulação crescente
O atual debate em Israel, se deve ou não lançar um ataque, é mais aberto do que jamais foi. Esse debate não poderia ser parte de um blefe, porque certamente não ajuda o primeiro-ministro perante o público que, subitamente, quer ter opinião sobre as coisas.
É claro que os jornalistas sempre especularam sobre a possibilidade de um ataque, mas agora os políticos, militares e membros da inteligência estão se unindo ao coro de pessoas fazendo advertências públicas. O ministro do interior israelense, Eli Yishai, disse que essa operação o está impedindo de dormir –mas retirou sua declaração no dia seguinte. O jornal israelense "Yedioth Ahronoth" publicou uma matéria sob a manchete "Pressão Atômica". A primeira frase, sugestivamente, perguntava: "Terão o primeiro-ministro e o ministro da defesa decidido entre eles atacar as instalações nucleares do Irã?"
Uma advertência súbita e aterrorizante
De fato, essa é a principal questão. E a resposta pode estar com Meir Dagan, homem que tirou esse debate das salas fechadas das agências de inteligência e levou-o aos holofotes públicos.
Por mais de oito anos, Dagan foi o homem mais silencioso de Israel –era a mais alta autoridade da Mossad, onde era conhecido como "o homem com a faca entre os dentes". Mas desde 6 de janeiro de 2011, Dagan vem falando abertamente.
Em seu último dia no cargo, Dagan convidou jornalistas israelenses pela primeira vez para a sede da Mossad, que não tem endereço oficial e não está em nenhum mapa. Então, ele anunciou que os iranianos iam desenvolver uma bomba atômica até o meio da década, mas somente se nada fosse feito. Ele disse que seriam necessários outros três anos antes de o Irã desenvolver uma ogiva nuclear. Assim, eles teriam uma bomba em aproximadamente 2018, uma data que deixaria qualquer ataque hoje sem sentido.
Mesmo que Israel atacasse imediatamente, isso não deteria o programa nuclear Iraniano, argumentou Dagan. Pelo contrário, os iranianos ficariam mais motivados do que nunca a se armarem e perseguirem um curso militar, enquanto Israel, sem dúvida, "pagaria um preço terrível, insuportável". Ele disse que o Irã e a Síria, junto com o Hamas e a Hezbollah, as milícias terroristas que estes países patrocinam, fariam chover mísseis no país, do Norte ao Sul, matando milhares de pessoas. "Como podemos nos defender contra tal ataque?", perguntou Dagan, acrescentando: "Não tenho uma resposta para isso."
Uma advertência pública
O principal censor militar de Israel estava sentado ao lado de Dagan. Quando a apresentação terminou, a autoridade disse aos jornalistas que não tinham permissão de publicar nada do que ouviram. Desta vez, não era o chefe da Mossad que tinha que ser protegido do público. Em vez disso, era o público que tinha que ser protegido do chefe da Mossad.
Essa foi uma ocorrência inteiramente sem precedentes em Israel. O diretor de uma agência de inteligência expondo seus temores, porque desconfia do governo, teme que este possa se arriscar em uma guerra desnecessária e porque aparentemente ele acredita que essa decisão já foi ou está prestes a ser tomada.
Com suas declarações, Dagan trouxe à luz a disputa secreta entre agências de inteligência, os militares e os políticos sobre a questão, que é tão essencial à sobrevivência de Israel. E mais, se for verdade o que Dagan disse e repetiu em suas subsequentes aparições surpresa, então o primeiro-ministro e seu ministro da defesa de fato pretendem atacar o Irã.
Traidor ou herói?
Apesar da censura, as palavras de Dagan acabaram chegando aos jornais e causaram sensação. Dagan agora está fazendo declarações sobre quase todas as questões políticas. Ele chamou a libertação de mais de 1.000 prisioneiros em troca por Gilad Shalit, um soldado israelense que estivera preso pelo Hamas por mais de cinco anos, um "grande erro". Ele criticou o governo por não negociar com os palestinos, por permitir que as relações com a Turquia se deteriorassem e por isolar ainda mais Israel. Mas, acima de tudo, ele advertiu várias vezes sobre os riscos de ataques aéreos contra as instalações nucleares iranianas.
Desde que começou a falar, alguns viram Dagan como herói, enquanto outros o viram como inimigo de Estado. O governo, por outro lado, o considera um traidor e um louco, e as pessoas próximas ao primeiro-ministro o acusam de sabotagem e sustentam que ele está tentando se vingar por ter sido despedido do cargo de diretor da Mossad. Ele foi forçado a entregar seu passaporte diplomático e uma série de políticos de direita exigiu que fosse julgado. "Se pudéssemos prendê-lo, o teríamos feito", disse um alto oficial militar.
De acordo com o site de notícias israelense Ynet, Benny Begin, membro do Knesset, parlamento israelense pelo Partido Likud, de centro direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, chama as ações de Dagan de “brecha de confiança perigosa, beirando a megalomania” e acrescenta: “É simplesmente desprezível”. O vice-primeiro-ministro, Moshe Ya’alon, chamou-as de tentativa de golpe.
De sua parte, Netanyahu está lutando para dissipar a impressão de que ainda há tempo para impedir a fabricação de uma bomba. O primeiro-ministro israelense considera a noção de uma bomba iraniana comparável ao Holocausto. De fato, ele não teme nada mais do que a ideia que o mundo possa aprender a viver com uma bomba atômica nas mãos dos aiatolás. Mesmo quando era líder da oposição, ele pediu em uma série de ocasiões que os norte-americanos tomassem medidas –como pode ser lido nos documentos diplomáticos vazados pelo WikiLeaks. Ele alegou que aquele era um momento histórico –e que os líderes mundiais tinham que tomar decisões históricas.
Agora parece que esse momento pode ter chegado –e que Dagan está tentando impedir precisamente que isso aconteça.
Impedir outro Holocausto
Quem é Dagan, o homem que foi mestre dos espiões israelenses por tantos anos? Será um denunciador corajoso –ou alguém que está cheio da política? Como alguém como ele, um notório chefe da Mossad, torna-se o principal crítico do governo? E mais importante, qual é a veracidade de suas advertências?
Dagan nasceu em janeiro de 1945, no piso de um trem de carga gelado que ia da Sibéria para a Polônia. Aos 26 anos, ele era comandante de uma unidade militar israelense de elite e era conhecido por não fazer prisioneiros. Ele recebeu uma medalha por tirar uma granada de um terrorista com uma mão e o estrangular com a outra. Para ele, ser mais forte é uma questão de sobrevivência.
Durante seu mandato na Mossad, ele manteve uma fotografia em seu escritório de um idoso judeu barbado usando um lenço de preces. O homem está ajoelhado, os braços levantados e um oficial da SS aponta uma arma contra ele. “Este homem era meu avô”, Dagan dizia aos visitantes. “Olho para esse retrato e prometo que farei tudo em meu poder para assegurar que algo assim não volte a acontecer”.
Contudo, é só indagar no memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, que se descobre que uma série de famílias alega ser aparentada do homem na foto. Mas Dagan acredita firmemente em sua história. É seu elo pessoal com o Holocausto –e ele o vê como lembrete constante do que a bomba atômica iraniana pode significar para Israel. Neste sentido, ele parece Netanyahu, que vê o presidente Mahmoud Ahmadinejad como um novo Hitler.
Diferentes meios
Tanto Dagan quanto Netanyahu adotaram como missão de suas vidas impedir o Irã de adquirir armas nucleares, mas eles têm estratégias e prazos diferentes para essa meta. Netanyahu quer atacar antes que seja tarde. Seu modelo são dois ataques aéreos de sucesso –o de 1981, contra o Iraque, e o de 2007, contra a Síria. Nos dois casos, os regimes não retaliaram.
Dagan diz que um ataque militar deveria ser usado apenas como último recurso, ou “somente quando a espada estiver em nossas gargantas”. Ele acredita que um ataque geraria uma guerra regional sem fim. Como chefe da Mossad, ele travou uma guerra nas sombras para adiar o momento em que a bomba seria construída. Ele alcançou isso com a ajuda do vírus Stuxnet, acidentes suspeitos e a “eliminação de forças importantes”, como Dagan descreveu em conversa privada. Há uma “deserção branca”, diz ele, com cada vez menos cientistas iranianos dispostos a contribuir com seu trabalho como parte do programa nuclear.
A ideia é adiar a fabricação da bomba até que o regime governante em Teerã seja derrubado –e Dagan acredita que precisamente isso é o que está prestes a acontecer. Agora, porém, ele está com medo que Netanyahu puxe o gatilho e arruíne seu plano.
Afinal, esperar não é o forte de Netanyahu. Por mais de 10 anos, ele vem advertindo sobre o Irã, e não acredita que a guerra indireta de Dagan possa impedir o Irã de adquirir a bomba.
Algumas altas autoridades militares e políticas chegaram ao ponto de acusar Dagan de tentar ganhar tempo para os iranianos. Mas Dagan defende sua estratégia. Ele diz que sente que é sua obrigação advertir o público. Qualquer um que ordene um ataque, alega, decide sobre o destino de gerações futuras. Essa decisão não pode ser feita em pequenos círculos, acrescenta. E com isso ele quer dizer: não por esses políticos.
Silenciar os críticos
Para Dagan, Netanyahu é incapaz de guiar Israel e fracassou em todas as frentes. Israel nunca esteve tão forte militarmente e com líderes políticos tão fracos. Dagan conta que, enquanto trabalhava com Netanyahu, em nenhum momento o primeiro-ministro transmitiu qualquer objetivo político ou militar concreto. Apenas em relação ao Irã, Netanyahu tem uma opinião –e uma meta. Para alcançar essa meta, Dagan acusa Netanyahu e o ministro da defesa, Ehud Barak, de tentarem silenciar todos os críticos. Os dois políticos querem tomar a decisão sem envolver o resto do governo, alega Dagan. E ele vê essa forma de fazer as coisas como legalmente problemática.
De fato, foi por isso que ele e o general Gabi Ashkenazi, chefe das forças armadas israelenses (IDF) de 2007 a 2011, foram removidos de seus cargos durante os primeiros meses deste ano, diz ele, e Yuval Diskin, diretor do Shin Bet, agência interna de inteligência, não teve permissão de sucedê-lo como diretor da Mossad. De fato, eles foram substituídos por indivíduos com opiniões menos críticas a um ataque ao Irã e com menos experiência para tomarem uma postura firme contra tal medida.
Dagan chama isso de complô, um movimento clandestino dos políticos contra as agências de inteligência. “Diskin Ashkenazi e eu tivemos sucesso em impedir todas as aventuras perigosas”, diz ele, acrescentando que agora não há ninguém mais para fazer isso.
Essa versão é defendida por muitos oficiais, membros da inteligência e políticos que defendem Dagan em tons similares. “Ouça-os, em todos os campos”, diz Tzipi Livni, líder da oposição no Parlamento e presidente do Partido centrista Kadima. Críticas abertas eram raras em Israel, mas não é mais o caso.
Danny Yatom e Efraim Halevy, ex-chefes da Mossad, dizem que Dagan está certo em falar –e que ele aparentemente tem boas razões para tanto. “O público deve ouvir sua opinião sobre o Irã”, diz Yatom. Os que conhecem Dagan –particularmente os generais e ex-colegas- confirmam que ele acredita no que fala. Eles dizem que Dagan não está interessado em uma carreira política nem buscando qualquer benefício próprio.
Esforços para deter um ataque
Por um longo tempo, os americanos também tiveram medo que Israel cumprisse sua ameaça de atacar. Na primavera de 2008, o então presidente norte-americano George W. Bush voou para Israel para uma visita surpresa. Ele pediu para se reunir com o então primeiro-ministro Ehud Olmert e seu ministro da defesa, Ehud Barak, e nenhum dos dois sabia a razão do encontro. “Preciso que vocês prometam que não usarão o período de transição entre o meu governo e o de meu sucessor para atacar o Irã”, teria insistido Bush, aparentemente altamente preocupado.
Uma visita similar foi feita em outubro pelo secretário de defesa dos EUA, Leon Panetta. Todos os passos contra o programa nuclear Iraniano devem ser coordenados com a comunidade internacional, foi sua advertência aos líderes israelenses. Advertência tão enfática, de fato, que parecia que as agências de inteligência norte-americanas sabiam sobre preparativos para um ataque.
Dagan adiou ou impediu um ataque? Talvez algum dia seja possível responder a essa pergunta, ou talvez nunca saibamos a resposta. O que é certo, porém, é que nada mina um ataque secreto mais do que falar sobre ele. Menachem Begin, primeiro-ministro israelense de 1977 a 1983, cancelou a primeira operação aérea contra o reator do Iraque Osirak após o então líder da oposição Shimon Peres descobrir a respeito. Os pilotos já estavam sentados em seus caças. Um mês depois, eles destruíram o reator.
“Perdoem-me”, diz Dagan, “mas eu vou continuar falando a cada oportunidade”. Ele acrescenta que as autoridades não deveriam tentar impedi-lo, pois é um bom advogado e tem boa memória.
otima materia, sou apenas um simples curioso, queria a opniao de quem estar ligado em conflitos no OM, Israel vai atacar o Irã? se alguem acha que sim...esse ano ainda?
ResponderExcluirInteressante...a matéria inteira parece ser uma peça de inteligência,provavelmente MOSSAD/CIA, que mais desinforma do que informa, puro Psyop...
ResponderExcluirIsrael não "bala" para atacar o Irã.
ResponderExcluirDagan, uma voz lúcida em Israel. O povo de Israel deveria escutar mais estas pessoas lúcidas, antes que seja tarde demais.
ResponderExcluirParece que Benjamin Netanyahu quer ser o primeiro a apertar o gatilho contra o Irã. Um líder que não está disposto a ouvir opinião do seu povo, com certeza está preste a cometer um grande erro.
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