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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Espiã russa Anna Chapman vira celebridade em seu país

Anna Chapman
A ex-espiã russa Anna Chapman, presa nos Estados Unidos e enviada de volta à seu país numa troca de agentes com a Rússia, está tirando vantagem de sua sensualidade. O ex-espião Vladimir Putin a recebeu de braços abertos e ela está no caminho para se tornar uma estrela.

O restaurante Starlite fica num pequeno parque do centro de Moscou, a dois minutos do monumento ao lendário poeta Vladimir Mayakovsky. O restaurante serve filé e batatas fritas, e as paredes são decoradas com capas da revista “Life” dos anos 60 e uma placa de automóvel do Estado norte-americano de Michigan. Uma televisão exibe o canal CNN.

Anna Chapman, a espiã com imagem de Bond-girl, escolheu almoçar num restaurante que a faz lembrar de sua antiga vida, dos quatro anos estimulantes que ela passou nos Estados Unidos antes de ser presa pelo FBI em junho e trocada por espiões norte-americanos na Rússia.

O Starlite é um pouquinho dos Estados Unidos no meio de Moscou, e um ponto de encontro comum para pessoas que se sentem em casa em mais de um mundo. Um sírio com passaporte norte-americano pede um hambúrguer em uma das mesas. As agências de inteligência ocidentais acreditam que ele seja o braço direito de Viktor Bout, um notório traficante de armas. O Starlite tem a reputação, justificada, de ser totalmente monitorado pela inteligência russa.

Tirem as mãos da nossa Anna

Chapman está sentada no canto mais distante do terraço. Ela usa um vestido justo, e seu rosto parece pálido em contraste com seus cabelos ruivos. Ela está no fundo do ambiente. “Uso óculos de sol e um chapéu na rua”, diz ela.

E com razão. A Rússia foi consumida por um culto à personalidade de Chapman desde sua volta. Os tabloides publicam páginas e páginas de confissões de amor de seus antigos namorados. Em sua cidade natal, Volgogrado, conhecida como a “Cidade dos Heróis” por causa de seu papel na 2ª Guerra Mundial, alguns membros do conselho municipal propuseram transformar a jovem de 28 anos em cidadão honorária.

O jornal local está divulgando um concurso para escolher a música mais bonita escrita para Anna. A letra que está em primeiro lugar diz: “A América espiona todo mundo, e seus inimigos não dormem em paz. Eles procuram bin Laden, mas o que nossa garota tem a ver com isso? Tirem as mãos da nossa Anna.”

Um rosto para o sentimento antiamericano


Chapman se tornou um fetiche para um país ressentido, incorporando a profunda antipatia que a maioria dos russos sente pelos Estados Unidos. Acima de tudo, o culto a Anna ajuda a disfarçar a reputação gravemente abalada das agências de inteligência, que estão infectadas com os mesmos problemas que afligem o país inteiro: o nepotismo, a corrupção e a ganância.

O chefe da inteligência estrangeira russa, por exemplo, passa os finais de semana relaxando numa casa de campo numa propriedade de 10 mil metros quadrados. Seu salário anual de US$ 178 mil não é suficiente para pagar pela casa, nem tampouco por seu apartamento de 587 metros quadrados em Moscou. Os russos sabem bem desses números, porque o presidente Dmitry Medvedev obrigou os chefes das agências de inteligência a quebrar o sigilo sobre seus bens.

Anna, parecendo cuidadosa ao se sentar no Starlite, personifica a miséria do país. Ela não é nenhuma mestre espiã, nenhuma criação da KGB, temida, em parte, por sua eficiência. Ela é uma interna atraente, não uma guerreira.

Uma nova Mata Hari?

“Meu site estará no ar e funcionando em breve”, diz ela. “As informações de contato de meus relações públicas estarão lá. Não posso falar sobre o meu tempo nos EUA”. As instruções foram dadas provavelmente por seus assessores.

Mas eles aparentemente não a impediram de capitalizar com sua história. Ela já posou para a revista masculina “Zhara” (“Calor”) no Hotel Baltschug Kempinski em Moscou.

A editora diz que as fotos são “reveladoras” e promete que “os misteriosos olhos de Anna levarão os homens à distração. Ao lado de Mata Hari, Anna é simplesmente a espiã mais sensual do mundo.”

A “Zhara” é propriedade da News Media Russia, a editora de tabloides mais bem sucedida do país. Um conhecido do primeiro-ministro Vladimir Putin é dono da maior parte das ações da companhia.

Recebida por Putin de braços abertos

Putin, que também foi agente, recebeu calorosamente Chapman e os outros nove espiões expulsos dos Estados Unidos, e até cantou antigas canções de luta com eles. A mídia especula se Chapman concorrerá a algum cargo público nas eleições do ano que vem.

Ela não seria a primeira agente a se sentar no parlamento russo, a Duma. Andrey Lugovoy foi segundo colocado na lista de candidatos do ultranacionalista Vladimir Zhirinovsky para as eleições do parlamento. Acredita-se que Lugovoy seja um dos suspeitos pelo assassinato de Alexander Litvinenko, um ex-agente russo que fugiu para o Reino Unido e foi envenenado com polônio radioativo 210 – acusações que Lugovoy, é claro, nega.

Anatoly Korendyasev, deputado que representa a Volgogrado nativa de Chapman no partido Rússia Unida de Putin, está prestes a se aposentar. Chapman, ao que parece, será uma substituição ideal, porque a cadeira continuará na família, por assim dizer. Korendyasev também foi um agente de inteligência; na verdade, ele teve até a patente de general.

O cientista político Andrey Mironov propôs estabelecer um museu Chapman em sua antiga escola. Tatyana Badyeshko, diretora da Escola Secundária nº 11, lembra-se bem de sua aluna mais famosa. Ela diz que era uma menina respeitável, mas – como é de se esperar – tinha uma sede de aventura. “Talvez tenha sido isso que a envolveu na espionagem”, diz a diretora. “Mas tudo o que Anna fez foi por amor à sua terra natal.”

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