Noruega apresenta a nova cara da direita populista

Himanshu Gulati é presidente do grupo de jovens do Partido do Progresso (FrP)

Da Índia, o país de seus pais, Himanshu Gulati hoje só tem a visão de um visitante de passagem. A de suas viagens a Nova Déli, uma vez ao ano, e dos poucos meses que ele passou frequentando a faculdade de cinema em 2006. O verdadeiro país de Gulati, 25, com seu cabelo cor de piche, pele escura e rosto rotundo, é a Noruega. Um país cujos valores e identidade ele defende, na condição de presidente do grupo de jovens do Fremskrittspartiet, o Partido do Progresso (FrP), populista e anti-imigrantes, cujos ministros governarão ao lado dos conservadores pela primeira vez na História.

A composição desse governo "puxado para a direita" deve ser revelada nos próximos dias, após a demissão oficial do primeiro-ministro trabalhista, Jens Stoltenberg, na segunda-feira (14). O posto de primeiro-ministro já está prometido à conservadora Erna Solberg e o Ministério das Finanças à líder do FrP, Siv Jensen. A Noruega se torna assim o terceiro país da Europa depois da Áustria, em 1999, e da Itália, em 2001, onde uma direita populista de tendência anti-imigrantes conseguiu entrar no governo.

"Nós não somos 'contra' os imigrantes, mas sim a favor de 'menos' imigrantes", retifica Himanshu Gulati, devorando um prato de massa no TGI Friday's da rua Karl-Johan, no centro de Oslo. "Precisamos ter uma política mais rigorosa, senão a Noruega vai afundar", afirma o jovem.

Em um país rico, sem dívida, sem déficit, abundante em petróleo, onde a crise europeia não passa de uma abstração, Gulati se preocupa com o custo que esses estrangeiros vindos da Somália e do Leste Europeu trazem ao seu Estado-providência. "Muitos chegam aqui, trabalham só alguns meses e recebem subsídios, para eles e seus filhos. Nós somos ricos, mas se mantivermos esse ritmo, dentro de cinco a dez anos nos tornaremos como a Grécia", ele acredita.

É verdade que com 12,4% de residentes de origem imigrante em 2011, contra 9% na França, segundo a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômicos, o país é um refúgio para quem busca emprego ou asilo. Mas, com um índice de desemprego pouco maior que 3%, dificilmente se poderia acusar o "estrangeiro" de estar roubando o trabalho dos noruegueses. Gulati suspeita que haja números ocultos. Segundo ele, existiria uma forte proporção de não-ativos – preguiçosos? – entre a população em idade de trabalho. Entre os somalis, por exemplo.

Com seu ar de empresário, o jovem, que se diz "libertário" no sentido anglo-saxônico, garante que os estrangeiros são bem-vindos em Oslo. Ele afirma que sua política só visa melhorar a integração das populações estrangeiras para o bem-estar de todos. Como deveres, os recém-chegados precisam respeitar os valores noruegueses, a igualdade entre homens e mulheres, entre outros, e as leis. Só que o presídio de Halden, na fronteira com a Suécia, está repleto de detentos vindos do Leste Europeu, assinala o jovem.

"Quando vimos Gulati pela primeira vez na TV, dois ou três anos atrás, não conseguimos acreditar. Pensamos que ele era do gênero daqueles que, uma vez no topo do muro, derrubam a escada", brinca Heming Olaussen, dirigente do movimento anti-União Europeia Nei til EU, que compartilha com o FrP a ideia de fazer uma avaliação dos acordos de Schengen.

Hoje, o jovem prodígio faz parte do cenário político. Eloquente e hábil debatedor, ele costuma ser colocado em destaque pelo FrP. "Para eles, ele é um pequeno tesouro", observa Martin Uleberg, um estudante da Universidade de Oslo, mais à esquerda. Um argumento de peso para calar aqueles que gostariam de classificar o Partido do Progresso de racista e/ou de extrema direita. Essa associação se baseia sobretudo na filiação ao FrP de Anders Behring Breivik, o autor do massacre de Utoya em julho de 2011.

Esse rótulo não é bem visto no país do Prêmio Nobel da Paz. Além disso, são muitos os eleitores de origem estrangeira que, assim como Gulati, se deixaram seduzir pelo FrP. Em 2009, o partido registrou o segundo melhor desempenho entre a população de origem imigrante, marcando ao mesmo tempo pontos entre os jovens.

Esses não ouviram o discurso de tom chauvinista do FrP. Eles só escutaram sua política econômica, seu lado "sonho americano", valorizando mais a astúcia do que a solidariedade, o individualismo mais do que a coletividade. Isso porque se esquecermos as gafes anti-islamismo de certos membros, o FrP também se pretende, cada vez mais, um partido liberal, anti-impostos. Sua líder, Siv Jensen tem até uma estátua de Margaret Thatcher em seu escritório.

A essa geração enamorada de liberdade, que não conheceu a Noruega de antes do petróleo, a esses pequenos comerciantes irritados, a loira dirigente promete menos impostos, menos burocracia, mais dinheiro e mais escolha. Suas promessas consistem em reduzir os pedágios nas estradas, reduzir o preço do álcool ou facilitar o acesso aos tratamentos nos hospitais privados, às custas do Estado.

"Os noruegueses agora estão acostumados com a opulência", explica o cientista político Bernt Aardal, da Universidade de Oslo, "isso os tornou mais intolerantes. Eles pensam: como isso é possível, em um país tão rico, não ter tudo? Fazer fila no hospital? Rodar por estradas malconservadas?"

E qual seria o financiamento de todas essas medidas? Evidentemente buscar além dos 4% anualmente autorizados pela lei no fundo soberano norueguês, o cofrinho do país repleto de petrodólares, destinado às aposentadorias das gerações futuras. O partido conservador se recusou a acabar com esse tabu. Mas o FrP acertou em cheio ao prometer aos eleitores que acabaria com isso e os deixaria aproveitarem um pouco mais, desde já, sua riqueza.

Em Oslo e outros lugares, essas palavras convenceram em alguns casos, mas também perturbaram. A ideologia liberal desorienta o país do Estado-providência. E ainda que tenha dado o que falar, o FrP obteve menos votos nas últimas eleições do que em 2009. Afinal, sua presença no governo se deve sobretudo aos convites de Erna Solberg. O FrP aceitou, ainda que o exercício do poder possa lhe custar caro.

Dentro de um governo minoritário, os conservadores, como o Partido do Progresso, deverão entrar em um acordo com os democratas-cristãos e os liberais, que fazem parte da maioria parlamentar mas não quiseram participar do Executivo por medo de se comprometer com os populistas.

De acordo com os especialistas, ao se obrigar dessa forma a inevitáveis concessões, o FrP poderia se queimar. Antes era contra o sistema e agora é parte integrante do jogo político. O suficiente para ser varrido o mapa? Seus detratores sonham com isso. Um deles explica que a mitologia norueguesa diz que, para se livrar de um troll, é preciso expô-lo à luz do dia.