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sexta-feira, 13 de julho de 2012

Kim Jong-un envia sinais cautelosos de reforma na Coreia do Norte


Os jovens norte-coreanos repentinamente passaram a vestir roupas chiques, os homens passam gel em seus cabelos como os atores sul-coreanos e os mercados privados apresentam horários de funcionamento mais flexíveis. Será que essas diferenças minúsculas sinalizam uma mudança de curso por parte do novo líder do país, Jim Jong Un?

Kim Jong-un 
Ele reconheceu abertamente o fracasso do lançamento de foguete em abril, realizou um discurso de 20 minutos pela televisão, abre seu casaco nos dias quentes durante as visitas a quartéis e fábricas e até mesmo deixa seus subalternos ocasionalmente abraçá-lo. De fato, cerca de seis meses após se tornar o “Grande Líder” da Coreia do Norte, Kim Jong-un está se distanciando do estilo de governo de seu falecido pai.

Para Kim Jong-il, reconhecer um fiasco embaraçoso, fazer aparições na televisão e se aproximar das pessoas seria impensável. Mas seu filho parece muito mais despreocupado, aparecendo em público com uma mulher ao seu lado e comparecendo a um evento de gala que contava com atores fantasiados como personagens da Disney.

Ainda é cedo demais para julgar se o homem jovem corpulento com corte de cabelo estranho será um reformista neste Estado quase religioso. Também não se sabe se ele pode ou deseja se libertar do círculo de elite de parentes e militares que o cercam. Mas há sinais minúsculos indicando que esse pode ser o caso. Os mercados privados em Pyongyang agora têm horários de funcionamento mais flexíveis e houve até mesmo críticas abertas à má administração de um parque de diversões.

Os visitantes ao país isolado relatam que os norte-coreanos – ou pelo menos aqueles que vivem na privilegiada capital, Pyongyang – estão saindo em público vestindo roupas mais modernas. Eles também veem estudantes usando roupas elegantes e homens jovens que usam gel em seu cabelo, ao estilo dos cantores e atores sul-coreanos. Nos mercados privados, roupas importadas também se tornaram populares, como o tradicional vestido “Hanbock” em forma de sino, que é usado com corte ligeiramente diferente e cores mais vivas na Coreia do Sul.

As pequenas mudanças no cotidiano dos norte-coreanos são resultado do crescente volume de informação que se infiltra no país por meio de DVDs, CDs, vídeos e pen drives a respeito da vida no exterior – e particularmente sobre a vida na Coreia do Sul, o Estado vizinho inimigo.

Mas grande parte dessa informação vem na verdade de outra vizinha: a China. Um grande número de coreanos com passaporte chinês vive ao longo da fronteira entre os dois países e cultiva relações familiares e de negócios dentro da Coreia do Norte.

Além disso, as pessoas que cruzam a fronteira ilegalmente também trazem informações. Soldados podem estar protegendo a fronteira antes porosa ao longo dos rios Yalu e Tumen de modo mais vigilante do que antes, mas os trabalhadores norte-coreanos continuam atravessando para a China para trabalhar por algumas semanas como diaristas.

O fluxo de informação não pode ser detido
Os filhos de funcionários norte-coreanos privilegiados com licença para viajar também estocam DVDs e CDs no exterior. Novelas sul-coreanas, gravadas e distribuídas para seus conterrâneos pelos coreanos que vivem na China, são particularmente populares. Dizem que o sucesso de Hollywood de 1997, “Titanic”, é um dos favoritos dos norte-coreanos.

Apesar de rádios particulares serem proibidos e os distribuídos oficialmente não estarem equipados para captar emissoras estrangeiras, o Estado permite aos norte-coreanos ter aparelhos de DVD e até mesmo os produz em uma fábrica em Pyongyang. “Além disso, nós compramos aparelhos de DVD de contrabandistas; desde que você registre o aparelho não é ilegal, porque... as autoridades permitem que sejam assistidos discos russos e chineses traduzidos”, disse um refugiado norte-coreano ao site “Daily NK”, acrescentando que muitos também usam pen drives.

O Estado permite que as pessoas tenham computadores, apesar de qualquer um que os tenha precisar registrá-los e esperar que a polícia cheque o disco rígido à procura de qualquer material supostamente subversivo. As autoridades até mesmo criaram uma força-tarefa especial, o Escritório 27, para esse propósito, apesar de não se saber quão bem-sucedido ele é. Outra divisão, o Grupo 109, estaria supostamente encarregada de erradicar DVDs e CDs com conteúdo “impuro”.

Ainda assim, há uma coisa que os norte-coreanos não são autorizados de jeito nenhum: acessar a internet. Até mesmo universidades e institutos de pesquisa usam apenas redes privadas restritas e ter autorização para visitar sites estrangeiros é apenas um privilégio excepcional.

Mudando as táticas de propaganda
Como a população norte-coreana não pode mais ser mantida completamente isolada de informação do exterior, os líderes do país mudaram suas táticas de propaganda. Esforços anteriores se concentravam em retratar a Coreia do Sul como um local de fome e miséria, com milhares de pessoas desempregadas vivendo nas ruas. Mas agora uma nova versão predomina: apesar de próspera, a Coreia do Sul é uma sociedade sem alma, atolada em poluição ambiental, crime e desigualdade.

“Até 2000, as pessoas acreditavam que a Coreia do Sul era um país muito pobre”, um refugiado teria dito para Andrei Lankov, um especialista em Coreia do Norte da Universidade Kookmin, em Seul. “Mas então as pessoas passaram a assistir aos filmes sul-coreanos. Agora apenas os estudantes do primário acreditam que a Coreia do Sul é pobre.”

Ao ser perguntado se toda essa nova informação poderia desestabilizar o regime em Pyongyang ou até mesmo provocar uma revolução, Lankov se mostrou cético. “A disseminação de conhecimento sobre o mundo exterior deixará os norte-coreanos mais desconfiados de seu governo. Mas isso não significa uma ação imediata contra o governo.”

Por outro lado, ele acrescentou: “Em 5 a 10 anos, a maioria da população norte-coreana saberá que vive em um Estado muito pobre e incomumente repressivo”.

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