Social Icons

https://twitter.com/blogoinformantefacebookhttps://plus.google.com/103661639773939601688rss feedemail

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O urso e os 'dois dinossauros' do setor energético na Rússia'

Assim como o Vladimir Putin das fotos de propaganda, a Rússia está estufando o peito na Ucrânia e de arma em punho na Crimeia, exacerbando o temor dos europeus que dependem de seu gás e de seu petróleo.


Mas é preciso mesmo tremer diante de um país, normalmente simbolizado por um urso, que não é a superpotência energética descrita por alguns, ainda que ele possua as maiores reservas do planeta?

Seu orçamento e suas exportações, artificialmente inchados pelos petrodólares da gigante do gás Gazprom e do colosso petroleiro Rosneft, sofrem de um perigoso vício em hidrocarbonetos, enquanto sua indústria de petróleo e gás, herdada da era soviética e corroída por brigas de clãs, é incapaz de compensar seu atraso em relação às suas concorrentes ocidentais.

"Quem decide a política energética russa?" É a questão levantada sem rodeios por Pavel K. Baev, pesquisador associado do Brookings Institute e do IFRI (nstituto Francês de Relações Internacionais).

Putin, que é o árbitro supremo pairando acima do "Triângulo político-energético governo-Gazprom-Rosneft", está ao mesmo tempo preocupado e assoberbado pelas mudanças, rápidas demais para seu gosto, do mundo da energia: gás de xisto americano, expansão das energias renováveis, concorrência do gás natural liquefeito, redução do uso de combustíveis fósseis para combater o aquecimento global, liberalização do mercado europeu que ameaça o monopólio da Gazprom sobre os gasodutos.

Interferência política
O senhor do Kremlin tem dificuldades para dominar essas transformações. Baev acredita que isso levou a seu "desengajamento" das questões energéticas e deu mais margem de manobra à Gazprom e à Rosneft, que querem crescer dentro do setor uma da outra: a Gazprom no petróleo, e a Rosfneft no gás.

O desengajamento de Putin é relativo. Assim que voltou para o Kremlin, em maio de 2012, ele criou uma comissão sobre a energia que responde diretamente a ele e cujo homem forte não é ninguém menos que Igor Setchin, um "siloviki" (vindo dos serviços de segurança), próximo de Putin e presidente da Rosneft. Essa instância faz o papel do governo e influencia nas escolhas estratégicas.

Em matéria de estratégia, o Kremlin tem sacrificado a modernização do setor de energia a curto prazo, a manutenção das receitas orçamentárias. O "czar" não hesita em tributar as empresas de energia, reduzindo sua capacidade de investimento.

"A interferência politica é a causa principal da evidente incapacidade dos dois gigantes de colocar ordem em suas prioridades", resume Baev. Os dois pesos-pesados, aparentemente poderosos, não estão se preparando para o futuro, por falta de diretivas claras do Kremlin, que deixa livre a concorrência entre eles.

A Gazprom não está se adaptando bem às revoluções no mundo das energias. Isso irrita Putin, mas este não chega ao ponto de demitir o fiel e incansável Alexei Miller, nomeado presidente da "mãe de todas as corporações públicas" desde que Putin foi eleito ao Kremlin pela primeira vez em 2000.

O colosso perdeu sua forma triunfal de 2008 e sua capitalização diminuiu em dois terços após cinco anos. O que ele faz com os bancos e a mídia, senão exercer um controle que beneficie Putin? E por quais razões, se não políticas, ele insiste nesse faraônico projeto South Stream (16 bilhões de euros), o gasoduto gigante destinado a contornar a Ucrânia e cuja rentabilidade é cada vez mais duvidosa?

Estratégias autodestrutivas
Rosneft está um pouco mais em conformidade com os critérios que prevalecem no Ocidente. Ao comprar a TNK da BP em 2012, ela se tornou a maior companhia petroleira mundial cotada na Bolsa devido ao volume de sua produção.

Uma grande operação, complementada pela parceria estratégica com a americana ExxonMobil para explorar o ouro negro do Ártico russo.

Infelizmente, os investidores e as agências de classificação de risco continuam desconfiados de certas operações, como o financiamento dos oleodutos para abastecer a China, e de diversificações na indústria de fertilizantes ou construção naval – também para agradar a Putin.

Nesse jogo político, a Rosneft corre o risco de se tornar um avatar da Gazprom, lento, pesado e afastado do núcleo de seu setor.

No entanto, os dois "dinossauros" estão resistindo ao apetite predador do governo central. Eles se recusaram a entregar parte dos dividendos aos cofres do Estado.

Apoiados por outros poderosos lobbies públicos (Sberbank, ferrovias, indústria da defesa), eles comprometeram a privatização do setor defendida pelo primeiro-ministro, Dmitri Medvedev.

Mas Baev está convencido de que as duas companhias estão "firmemente determinadas a aplicar estratégias autodestrutivas."

O desempenho medíocre do setor da Energia é "uma das principais explicações para a estagnação econômica na qual o país está mergulhado", analisa o pesquisador do Brookings.

Sem as receitas e os dividendos que ele paga ao Estado acionista, o governo não poderá mais responder ao descontentamento social, que inevitavelmente vai crescer com a recessão anunciada pelo Banco Mundial para 2014 (-1,8%) e 2015 (-2,1%) em caso de "intensificação das tensões políticas" em torno da Ucrânia. E fará vacilar o poder autocrático de Putin.

Nenhum comentário:

Postar um comentário