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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Crimeia oferece vitrine para forças armadas atualizadas da Rússia

Os soldados que protegem as entradas da base militar ucraniana cercada daqui, ao sul da capital, Simferopol, tinham pouco em comum com seus antecessores de ações militares russas do passado.

Eles eram magros, em forma e sóbrios. Poucos pareciam ser recrutas. Seus uniformes estavam impecáveis e seus novos capacetes contavam com óculos escuros de proteção.

E havia outro indicador de um exército passando por uma atualização: unidades compactas de rádio criptografado distribuídas para pequenas unidades, inclusive para os soldados cumprindo um dever rotineiro como turnos de guarda ao lado dos veículos com metralhadoras. Os rádios são um sinal do esforço abrangente de modernização iniciado cinco anos atrás por Vladimir Putin, que revitalizou as capacidades militares convencionais da Rússia, assustando alguns de seus antigos países vassalos no Leste Europeu e forçando a OTAN a reavaliar sua antiga visão da Rússia pós-soviética como uma potência nuclear com força limitada em solo.

Por toda a Crimeia nas últimas semanas, a nova vanguarda das forças armadas russas esteve em exibição, com suas fileiras compostas por soldados que não tentaram comprar dispensa ou escapar de outra forma do serviço militar. A embriaguez em público antes era comum, assim como a indecisão tática e soldados que pareciam incapazes de correr mais de um quilômetro, muito menos rapidamente.

Mas não foi assim na Crimeia. Após a campanha do Kremlin para atualizar as forças armadas, incluindo melhorias no treinamento e equipamento, além de, notadamente, grandes aumentos no soldo, os resultados puderam ser vistos em campo. Eles ficaram evidentes não apenas no comportamento dos soldados russos, mas também na velocidade com que ocuparam a Crimeia com violência mínima.

O investimento do Kremlin, disseram analistas, ressuscitou as forças armadas russas, que agora mostram que podem colocar em campo uma força competente, até mesmo formidável, e proteger tanto o país quanto projetar poder nos países vizinhos.

"O desenvolvimento das forças armadas russas ocorre em duas grandes tendências, primeiro o fortalecimento das forças nucleares estratégicas, dando garantia de que nenhum país no mundo tentará atacar a Rússia", disse Aleksandr Golts, um analista militar independente em Moscou.

"Segundo, o desenvolvimento dessas rápidas forças de intervenção", ele disse, "para lidar com qualquer tipo de conflito local, como na guerra contra a Geórgia, ou esta operação na Ucrânia ou em qualquer lugar".

"Como resultado das reformas", acrescentou Golts, "a Rússia tem agora superioridade absoluta sobre qualquer país no espaço pós-soviético".

Um oficial ocidental que analisa as forças militares na região disse que as diferenças em relação ao passado foram notáveis. "Nos parece que eles agora são muito mais profissionais", disse o oficial, falando sob a condição de anonimato, por não estar autorizado a falar em público. "É impressionante."

A transformação das forças armadas tem sido uma prioridade pessoal de Putin, que como primeiro-ministro, de 2009 a 2012, e mais recentemente ao retornar à presidência, supervisionou bilhões de dólares em novos gastos militares. As forças armadas foram uma das poucas áreas do orçamento russo que receberam grandes aumentos de gastos, juntamente com os preparativos para as Olimpíadas de Inverno em Sochi, a Copa do Mundo de 2018 e melhorias no sistema ferroviário, que também é um ativo militar.

Desde o início de 2012, o soldo da maioria dos militares aproximadamente triplicou, para entre US$ 700 e US$ 1.150 por mês para soldados e sargentos –um valor respeitável em termos russos. O Kremlin também expandiu os benefícios de habitação e educação.

Em um discurso para os oficiais militares em fevereiro, logo depois da aprovação dos aumentos, Putin declarou: "Eu sempre acreditei que os militares deveriam ser mais bem remunerados, como sempre foi o caso na Rússia, que especialistas capacitados nas esferas econômica ou de administração, ou outros setores civis".

O aumento espetacular nos gastos militares, que deverá crescer de cerca de US$ 80 bilhões neste ano para cerca de US$ 100 bilhões em 2016, mesmo enquanto a economia exibe sinais de recessão, foi um dos principais motivos para o respeitado ministro das Finanças da Rússia, Aleksei L. Kudrin, que foi creditado por ter conduzido a Rússia em segurança pela crise financeira de 2008, ter deixado o governo em 2011.

Putin não pede desculpas. Ele tem destacado repetidamente que a reconstrução das forças armadas é crucial para o futuro da Rússia.

Por sua direção, uma estratégia militar abrangente, envolvendo múltiplas agências, foi desenvolvida pela primeira vez, com metas ambiciosas que incluem manter todas as unidades em prontidão de combate permanente e atualização dos sistemas de armas.

Como comandante-em-chefe, Putin também presidiu exercícios de treinamento sem precedentes, incluindo a maior mobilização em tempos de paz –cerca de 160 mil soldados no Extremo Oriente da Rússia no verão de 2013– e uma série de simulações no oeste da Rússia em preparação a potenciais ameaças ao longo das fronteiras com a Europa e o Cáucaso.

"Nossa meta é criar forças armadas modernas, ágeis e bem equipadas, capazes de responder rápida e adequadamente a todas as ameaças potenciais, garantir a paz, proteger nosso país, nosso povo e nossos aliados, e o futuro de nosso Estado e de nossa nação", disse Putin em uma reunião com os líderes militares em fevereiro de 2013.

A tomada relâmpago das instalações estratégicas e o cerco às bases militares na Crimeia, incluindo a base em Perevalnoye, forneceram uma exibição clara das novas capacidades das forças armadas russas.

Isso contrastou muito com a breve guerra com a Geórgia em 2008, quando a Rússia sobrepujou seu adversário muito menor em uma área minúscula, mas também revelou o estado lamentável de suas próprias forças –problemas que remontavam às duas campanhas militares na Tchetchênia. (Na Geórgia, veículos militares russos eram vistos com frequência quebrados nas estradas, com soldados xingando ao lado deles.)

"Acima de tudo, havia problemas de comunicação, porque a comunicação é a base da gestão das tropas", disse Mikhail Khodaryonok, editor-chefe do "Correio Militar-Industrial", um semanário voltado às forças armadas russas.

"Os problemas de comunicação eram tão óbvios que fortes medidas foram tomadas para melhorar todos os tipos de comunicação, inclusive as confidenciais", disse Khodaryonok.

A melhora estava visível até mesmo nas menores unidades na Crimeia. Aqui em Perevalnoye, muitos soldados em guarda contavam com rádios criptografados –um equipamento há muito usado pelos soldados americanos, mas apenas recentemente fornecido às unidades convencionais russas.

O oficial ocidental disse que a ampla distribuição dos rádios criptografados sugere mais do que aquisição. Isso também pode significar que oficiais russos não-comissionados agora contam com maior liberdade tática e maior tomada de decisão, um tipo mais profundo de reforma, capaz de tornar as unidades russas mais ágeis e eficazes.

"Trata-se de um dispositivo bastante empoderador para o exército russo", disse o oficial.

Os rádios são uma parte de uma reforma mais ampla das forças armadas por Putin: a substituição do equipamento carregado pelos soldados individuais, Conhecido como programa "Ratnik" –da palavra russa para "guerreiro"– a atualização inclui novos capacetes, jaquetas com placas à prova de balas, óculos balísticos, uniformes e equipamento de comunicação e navegação, assim como miras com visão noturna e térmica para as armas de fogo.

Aparentemente copiado das atualizações de equipamento visíveis nos soldados ocidentais no Afeganistão e Iraque por mais de uma década, o kit Ratnik ainda não foi plenamente disponibilizado em campo. Mas muitos de seuscomponentes característicos eram evidentes na Crimeia, incluindo os uniformes, capacetes, óculos, coletes e joelheiras.

Nas estradas, também era possível ver as forças russas instalando plataformas de guerra eletrônica, incluindo o novo Tigr-M e a estação de interferência R-330Zh, capaz de bloquear sinais de telefone por satélite e GPS.

Como muitos dos veículos militares russos visíveis na crise, esses veículos contrastavam dos vistos na Geórgia e no Norte do Cáucaso, já que contavam com pintura nova e novos pneus, assim como pareciam estar em excelente estado.

Apesar dos analistas dizerem que agora há melhor equipamento e treinamento por todas as forças armadas russas, alguns alertaram contra tirar uma conclusão muito ampla com base nas forças na Crimeia, muitas das quais faziam parte de unidades de elite que foram as primeiras a se beneficiarem com a reforma.

"É certamente um avanço em comparação à situação em 2008, mas quão longe foi esse avanço nós ainda não sabemos", disse Dmitri Gorenburg, um analista sênior do Centro para Análises Navais, um grupo de pesquisa com sede na Virgínia financiado pelo governo americano. "As forças armadas russas agora são uma ameaça convencional à OTAN? Eu acho que não. Eu não acho que já tenha ocorrido uma grande melhora. Mas isso pode acontecer mais à frente."

Gorenburg notou que as tropas russas não enfrentaram nenhuma oposição e que não ocorreram combates. "Basicamente, elas tomaram instalações e prédios de tropas que não receberam ordens ou que foram ordenadas a não resistirem", ele disse. "Não ocorreu combate de fato."

Khodaryonok, o editor do "Correio Industrial-Militar", disse que demorará até que a campanha de modernização se espalhe por todas as forças armadas. Todavia, ele disse, os militares obtiveram avanços extraordinários.

"Tudo está em ordem", ele disse. "Não há mais vexames como tanques e blindados de transporte quebrados na estrada e armamento datado."

Mais importante, ele disse, os militares conseguiram fazer tudo funcionar. "A maior realização, na minha opinião, é como a gestão foi organizada", ele disse. "A rapidez e sigilo da operação. Não houve vazamento de dados."

"O período de decadência foi totalmente superado", ele disse. "E as forças armadas do país estão em ascensão."

5 comentários:

  1. Esse é o presidente que eu queria ter! Imagino que o povo Russo, pelo menos a maioria concorda com isso também...

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    1. Putin enriqueceu e muito, ilicitamente, na Rússia. Esse é o presidente que você queria? Não me espanta que temos tanta corrupção. Para vocês, oferecer o pouco já o suficiente.

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  2. Grande avanço para a Rússia....

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  3. Uma pegunta, vocês acham que a Russia esta abaixo de uma ditadura?

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