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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Como silenciar a direita israelense

Sheldon Adelson 
No mês passado, o bilionário americano Sheldon Adelson comprou um pequeno jornal religioso de direita em Israel, o "Makor Rishon", por 17 milhões de shekels, cerca de US$ 5 milhões. Ao fazer isso, Adelson agora não é apenas um importante agente na cena jornalística de direita de Israel: ele é o único grande agente. Isso pode ser uma boa notícia para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o político favorito de Adelson. Mas é uma má notícia para a esfera pública de Israel.


O domínio por Adelson desse segmento da imprensa israelense começou logo depois do retorno de Netanyahu ao poder em 2009. Em 2011, o "Israel Hayom" de Adelson se tornou o jornal de maior circulação do país, com aproximadamente 1,5 milhão de exemplares, ultrapassando o "Yediot Ahronot", que por anos dominou o mercado israelense.

Isso estava fadado a acontecer. O "Yediot Ahronot" cobra pelo jornal; o "Israel Hayom" é gratuito. Para muitos leitores, que querem um jornal apenas para folhear, sem se preocupar muito com seu conteúdo ou ideologia, o "Israel Hayom" é uma boa opção. Exceto por um pequeno detalhe: em toda edição, em toda oportunidade, ele sempre toma partido do primeiro-ministro.

Muitos israelenses, especialmente na esquerda, viram os olhos diante do "Israel Hayom". Afinal, ele é o jornal mais lido, controlado por um magnata americano dos cassinos e que apoia Netanyahu. Ele representa um pesadelo para os partidos de oposição e para outros donos de jornais, que não contam com os bolsos profundos de Adelson. As emoções e a retórica fervem nesse assunto. Um dos principais colunistas do "Yediot Ahronot" escreveu sobre a "exibição horrenda suprema da riqueza de um supermagnata". O "Israel Hayom" se refere ao "Yediot Ahronot" como sendo "o império do mal".

Mas os rivais de Adelson reagiram tolamente ao seu domínio recente; eles tentam obrigá-lo legalmente a cobrar pelo "Israel Hayom". Sete membros do Knesset (o Parlamento israelense) assinaram um projeto de lei em março pedindo a proibição de jornais gratuitos. O argumento declarado deles é a defesa da "liberdade de imprensa", mas trata-se de um argumento duvidoso. Eles querem enfraquecer um jornal que torna a vida mais difícil, política e comercialmente, para os críticos de Netanyahu.

Não se trata apenas de uma batalha entre a oposição de esquerda e um apoiador de Netanyahu de direita. É uma batalha que está acima de alianças políticas, o que a torna mais complicada, porém muito mais consequente.

Na semana passada, irrompeu uma troca de insultos entre o "Israel Hayom" e o ministro da Economia de direita, Naftali Bennett, do partido Lar Judeu. (Bennett é um parceiro da coalizão de Netanyahu, mas também um adversário político jurado).

Bennett chamou o jornal de Adelson de "Pravda" (principal jornal soviético) e apoiou abertamente a legislação anti-Adelson. Ele também se aproximou do Publisher do "Yediot Ahronot", Arnon Mozes, apesar da linha editorial do "Yediot" estar à esquerda de Netanyahu e Bennett estar à direita do primeiro-ministro. Mas tanto Mozes e Bennett não gostam do primeiro-ministro e do jornal que o apoia de forma acrítica.

O ministro da Economia está especialmente furioso com a compra do "Makor Rishon". O jornal era, até a semana passada, território de Bennett. Ele nunca o apoiou tão obsequiosamente quanto o "Israel Hayom" apoia Netanyahu. Mesmo assim, ele é a voz da direita radical: a comunidade sionista-ortodoxa, pró-assentamentos, a qual Bennett pertence. Os leitores do jornal são seus eleitores. Mas Adelson, ainda ávido após ter capturado a maioria dos leitores de direita de Israel, foi atrás do jornal pequeno voltado ao eleitorado de Bennett.

A tentativa pelos críticos de Netanyahu de restringir legalmente um jornal por causa de seus pontos de vista e seu sucesso contradiz princípios sagrados da liberdade de expressão. Portanto, a legislação proposta contra Adelson e o "Israel Hayom" é vergonhosa e perigosa.

Mas a tomada por Adelson da esfera jornalística conservadora de Israel – sua corrente sanguínea de ideias – também é profundamente problemática. Ele tomou um campo ideológico e o transformou em um pessoal.

Eventos recentes são um exemplo: um acordo diplomático proposto estava na mesa, que incluía a dolorosa libertação da prisão de prisioneiros palestinos, supostamente em troca do acordo com os Estados Unidos para soltura de um espião israelense preso, Jonathan Pollard.

Apenas um jornal vibrante e independente de direita, um que não se sentisse compelido a sempre apoiar Netanyahu, poderia apresentar o argumento necessário contra esse acordo. Mas com Adelson controlando tanto o "Israel Hayom" de massa quanto o pequeno "Makor Rishon", não está mais claro que a oposição da direita contará com um megafone para contestar as políticas de Netanyahu.

Os representantes de Adelson prometeram aos redatores preocupados no "Makor Rishon" que a independência deles não seria comprometida. Mas os redatores entendem, como todo mundo, que Adelson não comprou o jornal para o possível lucro minúsculo que possa obter com ele. Ele quer algo mais.

Em um mundo ideal, os legisladores retirariam sua proposta insalubre que forçaria o "Israel Hayom" a cobrar por seus exemplares, e Adelson voltaria atrás em sua compra do "Makor Rishon", ameaçadora para a dissidência.

Mas no mundo real, a única forma de restringir a conquista por Adelson da imprensa de direita de Israel e assegurar um confronto saudável de ideias na direita é competir com ele com a criação de outros jornais e encontrar outros ricos para financiá-los. Certamente, Adelson e Netanyahu, ambos defensores veementes do livre mercado, não se oporiam a essa proposta.

(Shmuel Rosner é o editor político do "The Jewish Journal" e membro do Instituto de Políticas para o Povo Judeu)

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