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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Der Spiegel: Ex-dono das ilhas Senkaku critica governo japonês por não lutar o suficiente por propriedade


As Ilhas Senkaku estão no centro de um conflito entre o Japão e a China, uma vez que ambos reivindicam as minúsculas formações rochosas. As ilhas pertenciam a uma rica família japonesa, que recentemente às vendeu ao governo. Um dos membros da família disse à Spiegel que Tóquio deveria ter feito mais para defender a soberania japonesa.

Hiroyuki Kurihara passa a mão pelo mapa náutico pendurado sobre a parede do escritório de sua firma de arquitetura em Tóquio. Por fim, ele aponta para cinco pontos minúsculos no azul do mar do Leste da China, a sudoeste do Japão: as Ilhas Senkaku, rochosas e inabitadas. As ilhas abrigam cachoeiras e cabras, mas não muito mais que isso.

Até recentemente, a maioria das Senkaku pertencia aos Kurihara. "Por mais de 40 anos, guardamos as ilhas para o nosso país", diz Kurihara,"mas agora ficamos velhos". Na semana retrasada, a família vendeu três das Senkaku para o governo japonês pelo equivalente a US$ 26 milhões. Kurihara, 65, agora acha que isso foi um erro. Ele preferiria ter causado um protesto ainda maior.

Entretanto, tal como foi feito, o acordo imobiliário desencadeou a disputa mais quente em décadas com o maior vizinho do Japão: na China, manifestantes depredaram empresas japonesas e atearam fogo em fábricas, e Pequim enviou barcos de patrulha para a área - onde a guarda costeira japonesa foi convocada para manter os chineses sob controle. "Será que a Ásia de fato pode entrar em guerra por causa disso?", perguntou a revista semanal inglesa "The Economist" no título sobre uma foto das minúsculas ilhas.

A China reivindica as ilhas, às quais se refere como Ilhas Diaoyu, e se sente provocada por sua venda para o governo japonês. Estranhamente, entretanto, foi exatamente este o conflito que o Japão tentou evitar. "Nosso governo perdeu muitas oportunidades de defender nossa soberania", diz Kurihara amargamente.

Recomendando a linha dura
Há oito anos, Kurihara transferiu a propriedade de duas das Senkaku que pertenciam a ele para seu irmão Kunioki, 70. Nas famílias conservadoras do Japão, diz ele, é sempre o filho mais velho que administra a propriedade. Portanto, foi o irmão mais velho, Kunioki, um rico dono de propriedades, que tomou sozinho a decisão de vendê-las.

Durante anos, entretanto, Hiroyuki Kurihara agiu como um tipo de porta-voz para o irmão mais velho, que não tem telefone celular, nunca aparece em público, e nunca aparece na mídia japonesa porque ele aparentemente tem medo de ataques. Se estivesse nas mãos do Hiroyuki mais novo, o clã teria vendido as ilhas para a capital japonesa, que atualmente é administrada pelo governador Shintaro Ishihara, 79.

Ishihara, um populista e nacionalista de direita, está recomendando uma linha dura com a China. Os chineses o veem como uma figura antagonista - enquanto que no Japão é visto amplamente como um homem que defende os interesses do país. Ishihara poderia ter construído um depósito refrigerado para conservar atum e um pier massivo na ilha, diz Kurihara. Nós teríamos fixado as reivindicações japonesas no concreto. "Ishihara tem uma estratégia para defender as ilhas contra as incursões chinesas", diz Kurihara.

A China, por sua vez, sustenta sua reivindicação com documentos que datam da Dinastia Ming (1368 a 1644). Além disso, as ilhas ficam na plataforma continental da costa da China.

"Um trampolim para fora do continente"
Kurihara assistiu a reportagens de televisão mostrando como cerca de mil barcos de pesca chineses se dirigiram às Ilhas Senkaku. Às vezes parecia que os barcos de patrulha de ambas as potências navais estavam prestes a colidir uns com os outros.

Kurihara acha isso terrível. "É possível ver claramente que o Japão fica como uma espécie de trampolim para fora do continente", diz ele, apontando para um mapa náutico. Isso se dá principalmente graças à sua cadeia de ilhas, que se estende quase até Taiwan, diz ele. "O Japão é o maior obstáculo para a expansão no Pacífico - e deve irritar imensamente os chineses", diz Kurihara. Agora, eles desmascararam os agressores, ele argumenta.

Kurihara lutou por décadas para conseguir atenção para sua causa. "Nós japoneses não temos consciência da necessidade de proteger nosso próprio território", argumenta.

De 1972 em diante, os Kuriharas gradualmente adquiriram quatro das ilhas de outro clã, a família Koga, que não tinha filhos e havia operado uma fábrica de processamento de peixe no arquipélago. Em 1972, os EUA devolveram a administração das ilhas Okinawa, que foram ocupadas durante a 2ª Guerra Mundial, para Tóquio - e desde então as Senakaku estiveram sob controle japonês.

Um bom inquilino
Mas então a China continental e Taiwan reivindicaram as ilhas: no final dos anos 60, especialistas da ONU descobriram o potencial de depósitos de petróleo nas águas em torno das ilhas. Entretanto, o governo de Tóquio colocou sua confiança numa promessa feita durante uma visita de Deng Xiaoping, o reformista chinês que liderou a China para a economia de mercado, ao Japão em 1978. Deng indicou que a China não faria nada para desafiar a reivindicação do Japão sobre as ilhas naquele momento. Na época, o líder chinês estava ansiosamente tentando conquistar os japoneses por causa de sua experiência industrial - e por fábricas de produção, como as que foram queimadas recentemente durante os protestos.

Mas enquanto isso, os chineses ultrapassaram os japoneses como nação industrializada, e o equilíbrio de poder se reverteu. Além disso, a China agora tem uma fome enorme por recursos naturais.

"A longo prazo, nossa família não poderia ter protegido as ilhas Senkaku da China", diz Kurihara. Portanto, diz ele, a família estava negociando com o nacionalista japonês Ishihara - até que o governo interviu. Ele pressionou o irmão mais velho, Kunioki, e comprou as ilhas - com uma exceção.

A ilha de Kubajima pertence a uma das mulheres da família Kurihara. Ela encontrou um bom inquilino lá que garante a segurança do rochedo: as forças armadas japonesas arrendaram Kubajima como área de treinamento para treinar bombardeios.

Um comentário:

  1. "Será que a Ásia de fato pode entrar em guerra por causa disso?", perguntou a revista semanal inglesa "The Economist" no título sobre uma foto das minúsculas ilhas.
    Ou os ingleses são cínicos ao ponto de formularem esta questão, ou é uma insitação ao conflito mesmo!
    Quem entende de soberania,riquesas naturais e necessitades territóriais, sabe que não se trata apenas "disso" Ainda mais de duas nações que ainda possuem "pendências"!

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