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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Le Monde: Com a crise, presidente francês ignora a Europa em seus planos de governo

François Hollande

Pensar sempre nela; falar, jamais. Vale tanto para a França sobre a Europa quanto para a Alsácia sobre a Lorena, entre 1870 e 1918. O assunto é tabu e convém não dizer nada sobre isso para a população francesa. Assim, François Hollande cuidadosamente evitou falar sobre a Europa quando apresentou na TF1, no dia 9 de setembro, sua "agenda da recuperação" para 2014, que deveria estabelecer o direcionamento da primeira parte de seu mandato de cinco anos.

No entanto, é de fato a agenda europeia que tem ditado a ação do presidente da República. O euro está em suspense, a França também. Se a crise se agravar, ela poderá ter o mesmo destino da Itália, atacada pelos mercados financeiros. Se ela se acalmar, também poderá ter o destino da Itália, com os mercados descobrindo que a saúde econômica francesa não deve nada à Península, segunda maior potência industrial do continente.

Se o presidente se esquiva do assunto da Europa, é porque é incapaz de constituir uma perspectiva política. É um contraste singular com François Mitterrand, que em 1983 escolheu, após dois anos de erros econômicos, a solução do rigor. Antes a Europa que o socialismo: François Mitterrand então ancorou sua política em uma dupla perspectiva, a francesa e a europeia.

A Europa, que segundo o Tratado de Roma deveria formar uma "união cada vez mais estreita entre os povos europeus", era uma utopia, mas uma utopia de consequências bem concretas, que deveria permitir que a França se modernizasse. Assim, em 1986, o Ato Único estabeleceu como perspectiva a realização do grande mercado em 1992. Em seguida, o Tratado de Maastricht lançou o movimento na direção do euro, que deveria ser criado na melhor das hipóteses em 1997 e no mais tardar em 1999, e forçou os países candidatos a fazerem convergir suas políticas econômicas.

Esse método da contagem regressiva, que também permitiu organizar a extensão para os países do Leste em 2004, caducou. A Europa se deparou com seus fracassos e sua crise de legitimidade, confirmada em 2005 pelo duplo "não" dos franceses e dos holandeses à Constituição Europeia. A crise do euro, que atesta a incapacidade pelo menos provisória da Europa de proteger os povos e lhes assegurar a prosperidade, só confirmou essa desconfiança.

Para François Hollande, uma solução consistiria em se inspirar na última tentativa de utopia europeia, a chamada agenda de Lisboa. Lançada em 2000 em plena bolha da internet, essa agenda deveria fazer da Europa "a economia do conhecimento mais competitiva e mais dinâmica do mundo" até 2010. Não foi estabelecida nenhuma regra, e a questão se perdeu, com a notável exceção do chanceler Gerhard Schröder, que decidiu, em 2002, nacionalizar a ambição de Lisboa lançando sua própria agenda para 2010. Sem a Europa. Na Alemanha, mas com o sucesso que já conhecemos.

Poderia François Hollande seguir seu caminho? Seu discurso na TF1 tinha toques schröderianos. No entanto, o chanceler apresentava um objetivo de longo prazo unanimemente compartilhado em seu país: restaurar a competitividade da Alemanha, para voltar a fazer dela uma exemplar nação industrial e exportadora.

François Hollande não está nessa situação. Ele não tem nenhum projeto legítimo de longo prazo que possa reivindicar, o que explica a fragilidade de seu discurso. O presidente apresenta, então, sua agenda de reforma como um parêntese de dois anos, um momento difícil de passar, que depois permitirá ter "uma sociedade mais solidária". Mas nada se diz sobre o futuro da França dentro da Europa e da globalização. Na crise, a maioria dos países em dificuldades tem adotado o modelo de reformas à maneira alemã. Voluntariamente ou obrigados. E essa escolha valerá para a França.

É a análise do ex-premiê Jean-Pierre Raffarin. "Em dado momento, pedirão aos franceses que escolham entre os Pirineus e o Reno, ou serem como os alemães ou os espanhóis", garante o senador da UMP do departamento de La Vienne. O alinhamento com a Alemanha foi em janeiro o eixo temporário da campanha presidencial de Nicolas Sarkozy. Depois de ter desprezado a política que ele considerava sacrificial de Berlim, fez dela um modelo a ser copiado. O argumento logo foi abandonado, em razão de seu efeito mais do que mitigado sobre as intenções de voto. Ele é ainda mais difícil de vender para um presidente de esquerda.

Nesse contexto, François Hollande está tácito, tanto no plano nacional quanto no europeu. Do lado europeu, o presidente espera que a União vença a barreira de obstáculos que se encontra diante dela, com sua litania de planos de resgate, de eleições e de veredictos constitucionais, permitindo que afinal os investidores retomem o caminho para o sul da Europa. Ele espera que essa trégua europeia lhe permita recuperar uma pequena margem de manobra nacional para cumprir sua agenda de dois anos.

Só depois disso a Europa poderá se tornar uma perspectiva defensável: quando ela provar sua eficácia, superando a crise. Será, então, hora de pensar em uma nova legitimação do projeto pelas populações. Os franceses estão obcecados por repetir a experiência dos referendos europeus. Mas a questão se tornará inevitável, quando as regras terão mudado tanto que as autoridades alemãs não terão outra escolha a não ser consultar sua população.

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