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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Abdul Hakim Mujahid: Quando eu era um Teleban


Diplomata defende governo de grupo islâmico no Afeganistão, nega abusos e repressão a mulheres e critica as ações dos EUA

Abdul Hakim Mujahid 
Ao se apoderar do governo afegão, em 1996, o grupo armado Taleban escolheu Abdul Hakim Mujahid para a ingrata missão de representar o novo regime. Ele teve escritórios informais na ONU e em Washington, mergulhou na clandestinidade em 2001, depois do 11 de Setembro, e retornou ao país em 2005.

Ocupei vários cargos diplomáticos no governo taleban e sei o quanto ele se esforçou para levar segurança ao Afeganistão após as guerras e melhorar a vida das pessoas.

Comecei a apoiar o Taleban em 1995, um ano antes de sua chegada ao poder. Eu já era diplomata, carreira que escolhi após me formar em direito islâmico e ciência política.

Quando os combatentes chegaram ao governo, fui nomeado embaixador no Paquistão, um dos únicos países que reconheciam nosso Estado, o Emirado Islâmico do Afeganistão -os outros eram Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Em 1997 fui morar nos EUA, na condição de representante informal do Taleban junto à ONU em Nova York e junto ao governo americano em Washington, onde eu era responsável por assuntos consulares para os afegãos instalados no país.

Embora não existisse relação oficial com os EUA, o Departamento de Estado me recebia calorosamente. Tive encontros em nível bastante elevado, até mesmo com subsecretários de Estado.

Depois do 11 de Setembro, decidi voltar ao Afeganistão, contrariando os americanos, que queriam que eu ficasse nos Estados Unidos para manter algum canal de diálogo com o Taleban.

Cheguei em Cabul dias antes da invasão [por EUA e aliados contra a Al Qaeda]. Logo em seguida fui para o Paquistão, onde permaneci durante anos.

Muita gente me pergunta se não foi um erro o Taleban dar abrigo a Osama bin Laden. Acontece que ele havia sido um valioso combatente na nossa luta contra os soviéticos [que ocuparam o Afeganistão de 1979 até 1989], e o Taleban não podia impedi-lo de ficar no país se ele quisesse.

O problema é que havia um descompasso [no comando do governo] entre pouquíssimas pessoas que sabiam dos campos de treinamento de Bin Laden e a grande maioria que não sabia. Nosso trato com ele não lhe permitia usar nosso território para lançar ataques contra quem quer que seja.

O mulá Omar [líder histórico do Taleban, até hoje em fuga], com quem estive algumas vezes, era um homem muito determinado e corajoso, mas devo admitir que ele tinha um pensamento mais religioso do que político.

MAL-ENTENDIDO
O Taleban sempre quis ter relações normais com o resto do mundo, mas houve um mal-entendido com os países ocidentais.

Eles não entenderam que o nosso governo levou ao poder a cultura rural, refletindo os valores tradicionais e religiosos do nosso povo.

Em todo caso, não só nunca houve abusos sistemáticos contra a população como estávamos empenhados em prover a todos os afegãos os direitos humanos reconhecidos pelos ensinamentos islâmicos.

Eram tempos difíceis, com a economia arruinada pela guerra. Fazíamos de tudo para que, apesar dos magros recursos e das sanções, todo mundo vivesse de maneira digna.

Também nunca houve política contrária às mulheres. Apenas estávamos querendo protegê-las num contexto ainda marcado pela guerra civil [1992-96].

Qualquer um que pesquisar a legislação daquela época perceberá que nunca existiu nenhuma lei proibindo mulheres de trabalhar ou estudar.

Implementar a sharia [lei islâmica] nunca foi um problema, já que isso é que os afegãos querem.

Até hoje os juízes no governo são clérigos islâmicos, não magistrados formados em universidades britânicas.

NEGOCIAÇÕES DE PAZ
Voltei do Paquistão em 2005, quando o presidente Hamid Karzai me chamou para participar das conversas com os remanescentes do Taleban, que estão prontos a formar um governo de união nacional.

O Afeganistão só irá melhorar quando os estrangeiros saírem de vez.

As pessoas estão cansadas das barbaridades cometidas pelos americanos e da péssima gestão do país. Isso alimenta a rejeição aos invasores.

Nenhuma guerrilha sobrevive sem apoio popular.

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