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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Der Spiegel: Merkel quer manter a Grécia na zona do euro pelo menos até as eleições alemãs de 2013

Angela Merkel

Angela Merkel deu uma reviravolta surpreendente em sua política em relação à Grécia. A chanceler alemã agora quer impedir que Atenas deixe a zona do euro a todo custo -mesmo que isso signifique interpretar os números do próximo relatório da troika. Para a líder alemã, é essencial evitar as consequências de uma saída da Grécia antes das eleições nacionais do ano que vem.

Mantras são frases curtas, que são repetidas incessantemente, com propósitos meditativos. Podem ser falados, cantados, sussurrados, recitados mentalmente ou até escritos e comidos.

A chanceler alemã recentemente optou pela variedade falada, que é a forma convencional. O mantra de Angela Merkel consiste de uma curta frase em alemão. A tradução seria: "Estamos esperando o relatório da troika". Ela repete isso toda vez que há uma oportunidade -como há duas semanas, quando o primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, visitou Berlim.

Não é preciso ser um físico quântico para entender a manobra de Merkel: a chanceler quer comprar tempo. Ela espera acalmar o público em geral e os mercados financeiros, notoriamente nervosos, por meio da repetição meditativa -e por fim criar a impressão que de fato importa o que a troika vai concluir durante sua missão à Grécia.

Mas não importa. Na realidade, Merkel já tomou sua decisão. Depois de uma longa hesitação, ela assumiu a posição ao lado do presidente francês, François Hollande, e da Comissão Europeia. O relatório da troika -que consiste da Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu e que partiu em sua missão em busca de fatos na semana passada- sem dúvida vai concluir que a Grécia pode permanecer na zona do euro.

Nova determinação
Se isso acontecer, mais dinheiro poderá voltar a fluir para a nação balcânica endividada neste outono. Se a vontade da chanceler for realizada, não haverá um terceiro pacote de ajuda à Grécia, que teria que ser aprovado pelo parlamento alemão, o Bundestag.

A nova determinação de Merkel de resgatar a Grécia é uma reviravolta notável para a chanceler. Até recentemente, ela estava disposta a abandonar o país se não cumprisse seus compromissos. Mas agora, ela considera a partida da Grécia da zona do euro arriscada demais. Os membros da chancelaria em Berlim temem que tal resultado possa gerar um efeito dominó, como o causado pela falência do Lehman Brothers, em setembro de 2008. Na época, o colapso do banco de investimentos de Nova York fez toda a economia global mergulhar em um caos. Só na Alemanha, a economia encolheu em 5% e centenas de milhares de pessoas perderam seus empregos.

Mas os custos políticos também são altos demais para Merkel. Seus assessores temem que, se a Grécia se retirasse da zona do euro, eventualmente seria necessário criar uma "união da dívida" para estabilizar países problemáticos como Itália e Espanha. A situação seria paradoxal: a Alemanha adotaria uma linha dura com a Grécia, mas subsequentemente talvez tivesse que aceitar a emissão conjunta de bônus do euro, à qual os eleitores alemães se opõem.

Geladeira
A enorme pressão política nesta direção é exemplificada pela decisão controversa do BCE, na última quinta-feira (6), de comprar, se necessário, quantidades ilimitadas de bônus soberanos de Estados membros da zona do euro em dificuldades.

Assim, a chanceler se convenceu e continuará levando a situação erraticamente como sempre. Por enquanto, o problema vai ficar na geladeira e será reavaliado depois das eleições do Bundestag em 2013 -quando terminará o atual pacote de ajuda.

Está claro, porém, que provavelmente será preciso décadas para a Grécia se modernizar. "A Grécia é um país oriental", disse o ex-presidente da França Valéry Giscard d'Estaing em entrevista ao "Spiegel".

Os riscos e possíveis efeitos colaterais da abordagem de Merkel são óbvios. Quando a Grécia receber mais dinheiro, aumentará o perigo do governo em Atenas adiar as prometidas reformas. E não seria a primeira vez.

"Pressão máxima"
Quando o primeiro-ministro grego, Samaras, visitou Berlim recentemente, ele ficou sem saber o grau de mudança de opinião dos alemães. Em vez disso, Merkel anunciou internamente que era necessário continuar a exercer "pressão máxima" sobre o primeiro-ministro para que possa implementar as reformas exigidas. Ao mesmo tempo, ela elogiou seu colega em Atenas. Merkel disse que Samaras está desempenhando um "papel histórico" para seu país, acrescentando que ficou muito impressionada com o que ele tinha a dizer: "Temos que dar uma chance a ele".

E Merkel quer que ele receba essa chance em breve. Seu plano pede que o relatório da troika apresente a situação na Grécia como menos desastrosa do que se esperava, um pré-requisito necessário para o desembolso da próxima parcela de empréstimo. "Temos que encontrar uma solução", instruiu Merkel à sua equipe na semana passada.

Quem está hesitando diante da ideia de pintar um retrato mais cor de rosa do que a realidade da situação da Grécia são os enviados da diretora do FMI, Christine Lagarde. Merkel, porém, acredita que eles eventualmente concordarão com sua estratégia. Os estatutos do FMI podem ser estritos, mas os acordos com os devedores -neste caso, a Grécia- oferecem um grande espaço de manobra.

Esse adoçamento da realidade pode ter sucesso graças ao método comum no mundo dos negócios, no qual os parâmetros de um modelo são mudados até que o resultado desejado seja produzido.

Alteração das variáveis
A essência do relatório da troika é a chamada análise de sustentabilidade da crise. Ela calcula as condições que seriam necessárias para reduzir a dívida da Grécia para o nível quase tolerável de 120% do Produto Interno Bruto até 2020. Os que conhecem a troika por dentro dizem que esse cálculo pode ser muita coisa, menos uma previsão científica precisa.

Apenas uma variável precisa ser mudada para produzir o resultado desejado. Os especialistas da troika têm experiência nesse quesito. Em fevereiro, quando o grupo de ministros das finanças da zona do euro, chamado Euro Group, decidiu sobre o último programa para a Grécia, seus membros passaram quatro horas conduzindo cálculos antes de alcançarem uma razão dívida para PIB de 120%. É um exercício facilmente repetido.

Assim, a troika poderá se certificar que os gregos fizeram progresso.

Dentro deste cenário, as carências inevitáveis seriam minimizadas como faltas temporárias, apesar de lamentáveis, do plano -e que devem ser aturadas como parte do atual segundo programa de resgate. Afinal, as carências não podem ser grandes demais, pois isso tornaria necessário um terceiro programa de resgate.

E isso é algo que deve ser evitado a todo custo. Um terceiro pacote, como os alemães já indicaram para seus parceiros europeus, não teria chance alguma de ser aprovado pelo Bundestag. Como resultado não há dinheiro adicional para a Grécia. Em vez disso, Berlim pretende alterar o atual programa de resgate -o segundo- para fazer parecer que a Grécia está conseguindo pagar suas contas, ao menos por enquanto.

Empurrar para frente
Mas como? Uma possibilidade seria assim: se os gregos precisarem de mais dinheiro no outono, a parcela de pagamento será aumentada de acordo com a necessidade, e transferências posteriores seriam reduzidas. Essa abordagem apresentaria uma vantagem decisiva para a chanceler. Ela só se tornaria aparente em 2014, quando o programa de resgate expirar, mas isso já seria muitos meses após a eleição do Bundestag.

As propostas de mendas ao atual pacote de resgate não exigem aprovação do Bundestag. A chanceler ainda assim pretende submeter as mudanças à votação pelo parlamento. Merkel teria dito a assistentes próximos que continua confiante que conseguirá convencer a maioria a aprovar as emendas, quando chegar a hora.

Apesar de a maior parte dos membros do parlamento rejeitarem a ideia de um terceiro pacote de assistência, eles também relutam em apoiar medidas que resultem na saída da Grécia da zona do euro -e Merkel acredita que isso certamente aconteceria se o atual programa não sofrer emendas.

Além disso, parece que o relatório crucial da troika será adiado. O prazo original para sua conclusão era até o final de agosto, e a próxima parcela de fundos seria aprovada em setembro. Na semana passada, entretanto, as autoridades em Bruxelas disseram que o destino da Grécia provavelmente só seria decidido no início de novembro -em parte por consideração com os EUA.

O presidente Barack Obama não está inclinado a permitir que sua reeleição seja abalada por um agravamento da crise do euro. Fontes em Bruxelas dizem que a postergação do relatório não é um problema, porque o governo em Atenas tem dinheiro suficiente para aguentar até lá.

Novos afetos
Observadores atentos já notaram a mudança aparente da chanceler há duas semanas. Merkel, cujo pai era pastor na Alemanha Oriental comunista, subitamente descobriu um afeto profundo pelas pessoas abatidas na Grécia. Ela expressou compaixão e empatia pelo "sofrimento de muitos na Grécia" e disse que isso "faz o coração sangrar".

Até então, considerava-se que Merkel e seu ministro das finanças, Wolfgang Schäuble, defendiam a "teoria da corrente". De acordo com esta teoria, a união monetária é uma corrente na qual cada país individual é um elo. Como a Grécia é o elo mais fraco, se partisse, a corrente ficaria mais forte.

Desde o verão, contudo, a maioria dos assessores de Merkel passou a defender a "teoria do dominó", que postula que a união monetária não se tornaria mais forte se a Grécia saísse. Pelo contrário: se a Grécia caísse, poderia levar um país após o outro.

Teóricos do dominó argumentam que o impacto na economia, no crescimento e no emprego seria catastrófico e incalculável. Mas uma coisa continua clara: se a Grécia cair, a Alemanha terá que pagar -e a conta chegará a quase 62 bilhões de euros (em torno de R$ 150 bilhões). Esta é a soma colossal que os gregos e seu banco central devem aos alemães. Toda essa quantia seria perdida.

Dominós em queda
E isso não seria o final da história. Para proteger os países financeiramente fracos como Portugal e Irlanda, além de Espanha e Itália, centenas de bilhões de euros teriam que ser mobilizados. Mas como? Há três possibilidades: pacotes de resgate maiores, bônus de euros ou um tipo de seguro mútuo. Mas independentemente do instrumento utilizado, no final seria muito mais caro para a Alemanha se a Grécia deixasse a zona do euro.

Os teóricos do dominó venceram no final. Tudo que se move na direção de uma união de dívidas é um pesadelo para a chanceler. Ela sabe que a maioria dos alemães rejeita os bônus do euro e não quer assumir as dívidas de outro país, e isso poderia ameaçar sua reeleição no ano que vem.

Além disso, a teoria do dominó nos círculos de Merkel recebeu o apoio de um homem que tendeu a se colocar na oposição a chanceler nas últimas poucas semanas: Jens Weidmann, presidente do banco central Alemanha, o Bundesbank. Weidmann, que foi assessor econômico de Merkel, agora também acha que seria melhor para a Alemanha, no longo prazo, se a Grécia permanecesse na zona do euro.

Por outro lado, um dos mais importantes aliados de Merkel ainda continua defendendo a teoria da corrente. O ministro das finanças, Wolfgang Schäuble, indicou a seus colegas do Euro Group que considera a saída da Grécia como um risco aceitável.

Durante uma visita à Holanda, Schäuble teria dito ao seu colega holandês, Jan Kees de Jager, que essa era a única forma de convencer os eleitores alemães a manter o resto da comunidade unida e de fato subsidiar países como Espanha e Itália com programas de ajuda que durarão anos. À primeira vista, essa posição pode parecer contradizer a imagem de Schäuble como europeu dedicado. Mas na realidade, ele quer reforçar o euro como projeto político reduzindo o tamanho da zona da moeda comum.

"Cenário mais amplo"
Merkel tem outra opinião. De acordo com seus assessores, ela está de olho no "cenário mais amplo". A chanceler acha que a UE não pode permitir que a democracia falhe em um Estado membro. A chanceler salienta que a Grécia faz parte da Otan e é um aliado importante no Mediterrâneo oriental -uma região que tem suficientes problemas do jeito que está.

Mas Merkel também vê a política interna como parte integral do cenário mais amplo. Sua nova abordagem leniente pode permitir que ele chegue às eleições em setembro do ano que vem sem a turbulência da saída da Grécia da união monetária. Em troca, ela está preparada a correr altos riscos.

Se tudo funcionar, a mudança nos pagamentos das parcelas não terá consequências sérias dentro do segundo programa de resgate. Ela está adiando o problema grego para o futuro. Se tiver sorte, os gregos terão voltado a andar com as próprias pernas e precisarão de menos dinheiro por causa das reformas feitas em seu país.

Se não tiver sorte, Merkel estará tapando buracos criando novos em outros lugares -e pode tudo acontecer quando as eleições do Bundestag tiverem terminado.

Outra possibilidade é que a economia grega se saia tão mal que o dinheiro acabe antes do pacote de resgate expirar. Esse seria o pior cenário para Merkel. Ainda assim, ela está conscientemente assumindo esse risco. Ela o considera administrável –diferentemente da saída grega da zona do euro.

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